Pedro do Coutto
Reportagem de Manoel Ventura, O Globo desta quarta-feira, coloca em destaque a mais recente medida do Ministério de Minas e Energia para enfrentar a crise causada pela queda do nível das represas no país e, em consequência, a necessidade de se recorrer às termelétricas.
Já vimos que a mobilização das termelétricas acarretará um aumento nas tarifas industriais, comerciais e domiciliares em cerca de 20%, parcela que será adicionada ao aumento recentemente fixado pela Eletrobras. Isso de um lado demonstra que os consumidores serão, mais uma vez, as vítimas de sempre, especialmente os domicílios, uma vez que a indústria pode repassar o aumento ao comércio.
NO FINAL DA LINHA – Já o comércio e o setor de serviços podem repassar o aumento para os consumidores. No final da linha dessa transmissão injusta, o peso recairá sobre as famílias por uma omissão pela qual não são responsáveis.
O Ministério das Minas e Energia quer agora antecipar a entrada em operação de unidades que não são relacionadas mas que se presume aptas a funcionar, e também expandir as linhas de transmissão porque a escassez de água não atinge todas as regiões e, assim, pelo menos na teoria, poderia a energia potencialmente existente ser transportada para as áreas carentes através das linhas de transmissão.
O almirante Bento Albuquerque, titular do MME, está entrando em contato com empresas detentoras de geração de energia e também com as companhias responsáveis pela construção de linhas de transmissão para que operem efetivamente e possam compensar as quedas de produção que estão ocorrendo na área hidrelétrica.
MOBILIZAÇÃO – O que não se compreende é que só agora a Eletrobras, que integra o Ministério de Minas e Energia, tenha que se mobilizar para permitir uma produção adicional que compense os recuos do momento. Mas a pergunta que se faz, independentemente da situação de emergência, é o fato de o governo Bolsonaro, com mais de dois anos de ação, não ter se preocupado com o problema da transmissão, o que é uma omissão grave, porque o exemplo no país já existe.
Por que somente agora, quando há uma escassez preocupante, o governo se mobiliza em acionar soluções que demandam longo prazo, como é o caso do surgimento de novas linhas de transmissão?
Pelo texto da reportagem, supõe-se que existam usinas que foram concluídas, mas não estão produzindo. Se estivessem, não haveria a necessidade de a Eletrobras dirigir um apelo para que passassem a produzir um bem tão essencial que é o da energia elétrica.
FALTOU SERIEDADE – De outro lado, a recomendação para se acelere as linhas de transmissão tem que levar em conta as distâncias e o que foi feito em matéria de linha da transmissão ao longo dos dois últimos anos, além do que deixou de ser feito em períodos anteriores. Não é fácil estender linhas de transmissão abrangendo milhares de quilômetros. Por que o programa não foi levado a sério nas duas últimas décadas?
Como sempre, o peso inflacionário causado pela omissão é transferido para os que nao têm culpa alguma pela situação de emergência ou pela falta de chuvas. O fenômeno das chuvas não pertence à tecnologia instalada no país.
MAIA E LULA – No O Globo de ontem, Malu Gaspar e Mariana Carvalho publicam matéria revelando que o deputado Rodrigo Maia, ex-presidente da Câmara Federal, depois de uma reunião que manteve no Palácio da Cidade do Rio, a qual estiveram presente o prefeito Eduardo Paes e a deputado Glady Hoffmann, presidente do PT, anunciou a sua disposição de colaborar na campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.
Rodrigo Maia encontrou-se sem espaço no DEM e vai se alinhar em outra legenda. Essa outra só pode ser uma das que se dispõe a participar da campanha do ex-presidente, pois se assim não fosse, Maia não poderia engajar-se na campanha. Portanto, ele terá que buscar uma sigla compatível com a sua disposição de participar da próxima campanha em 2022 quando terá que renovar o seu mandato nas urnas do Rio de Janeiro.
PRESSÃO – Não será difícil eleger-se, já que marcou a sua atuação quando presidiu a Câmara dos Deputados. E se afastou inclusive por pressão do Planalto. Por falar no Palácio do Planalto, estava na pauta de ontem da Câmara um projeto destinado a reger fatos ilegais que se destinem a punir agentes públicos, entre eles, portanto, os deputados, pela prática de atos ilegais.
Na minha opinião, o fato parece incrível porque uma das emendas apresentadas reduz os casos de legalidade. Passa a prever punição apenas aos que manifestarem intenção de praticar atos ilegais. Como pode ser isso ? A pratica ilegal é sempre intencional. É realmente surpreendente a atitude de parlamentares que no fundo estão advogando previamente em causa própria.