Carlos Newton Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)
Jair Bolsonaro é um político que fez carreira com apoio de integrantes das Forças Armadas, Polícias civis e militares e Corpo de Bombeiros. Desde o início, em 1989, na Câmara de Vereadores do Rio dedicou-se praticamente a essa atividade de defender os salários e direitos dessas corporações. Era um parlamentar no estilo de Delfim Neto, Roberto Campos e Lula da Silva, que praticamente não integravam comissões nem apresentavam projetos. Em 28 anos na Câmara, Bolsonaro apresentou apenas meia dúzia de projetos, um deles, importantíssimo, sobre impressão do voto na urna eletrônica, virou lei do tipo vacina e não “pegou”.
A diferença era de que Bolsonaro de vez em quando discursava, fazia apartes desafiadores, enquanto Delfim Netto, Roberto Campos e Lula da Silva fugiam dos microfones das comissões e do plenário.
UM POLÍTICO DE VERDADE – Nessas três décadas, Bolsonaro aprendeu muito sobre o modus operandi dos políticos, aprimorou-se na arte de vender ideias e dizer exatamente o que os outros querem ouvir. Transformou-se num político de verdade, aproveitou um momento em que a política brasileira era “um deserto de homens e ideias”, como dizia Oswaldo Aranha, e lançou-se à Presidência.
Soube captou o sentimento de repulsa à política criado pela Lava Jato, beneficiou-se muito com as indecisões de Ciro Gomes, que sonhava (?) ter apoio do PT, e assim Bolsonaro ganhou uma eleições histórica, sem ter partido, dinheiro e apoio de grandes lideranças, que não acreditavam nele, como o pastor Everaldo Pereira, presidente do PSC, que lhe negou legenda, inventou Wilson Witzel no Rio de Janeiro e hoje está pregando na cadeia.
Bolsonaro, que tem o nome de Messias, já afirmou diversas vezes que se considera um enviado do Deus. Até aí tudo bem, cada um com a sua crença. O que não pode é querer alterar a realidade. A
gora, o ministro da Economia, Paulo Guedes, caiu em desgraça porque teve a ousadia de avisar Bolsonaro que não se pode quebrar a “regra de ouro” do Orçamento, porque o presidente cometeria crime de responsabilidade e responderia a processo de impeachment.
A “regra de ouro” é o mecanismo constitucional que proíbe o governo de fazer dívidas para pagar despesas correntes, como salários, benefícios de aposentadoria, contas de luz e outros custeios da máquina pública.
Foi para não descumprir a regra que o governo pediu ao Congresso um crédito suplementar de R$ 248 bilhões para despesas essenciais em 2021 – a serem obtidos com a emissão de títulos do Tesouro.
Guedes cometeu um erro terrível. Bolsonaro não quer ouvir notícias ruins. Daqui para a frente, o ministro vai ser torrado implacavelmente. O erro maior, porém, é do próprio Bolsonaro. Será obrigado a substituir Guedes por um ministro amestrado e complacente que o conduzirá a quebrar a “regra de ouro” e se candidatar ao impeachment antes da ansiada reeleição. E assim la nave va, cada vez mais fellinianamente.
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P.S. – O substituto ideal de Guedes seria Henriques Meirelles, que já provou saber enfrentar crises. Mas o presidente não pode convidá-lo, porque Meirelles foi o criador da “regra de ouro” e não aceita descumpri-la. (C.N.)
P.S. – O substituto ideal de Guedes seria Henriques Meirelles, que já provou saber enfrentar crises. Mas o presidente não pode convidá-lo, porque Meirelles foi o criador da “regra de ouro” e não aceita descumpri-la. (C.N.)