Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - O novo presidente dos Estados Unidos chama-se Barack Obama, jamais Mandrake. Não fará mágicas. É preciso olhar de longe a posse do quadragésimo-quarto presidente americano. Para começar, registrando que ele não mudou de nome, apesar de o antecessor, George W. Bush, haver mudado para Dr. Silvana, aquele cientista louco, arqui-inimigo da Humanidade.
Não se podem esperar milagres de Obama. Não serão encerradas da noite para o dia as guerras externas dos Estados Unidos, no Afeganistão e no Iraque. Muito menos será celebrada a paz no Oriente Médio. A América Latina continuará não sendo prioridade para o governo de Washington e nem as relações com Cuba serão normalizadas por um passe de mágica. A base militar de Guantánamo vai demorar a ser desativada, ainda que as torturas lá praticadas se interrompam. A recessão econômica permanecerá e poderá até mesmo aumentar, bem como custará a criação dos prometidos quatro milhões de empregos. O Protocolo de Kioto não será assinado.
Apesar disso, não deve ser pessimista a visão do mundo sobre os Estados Unidos. O novo presidente representa, acima de tudo, a vontade de enfrentar cada uma dessas questões. Trata-se de um bom começo, ainda que monumentais obstáculos se levantem diante de todas elas. Estará Obama disposto a bater de frente com a máquina? Nem pensar. Não teria sido eleito, antes, e não governaria, agora, nessa disposição.
Daqui de baixo da linha do Equador, resta-nos desejar que ele seja feliz em seus propósitos de mudanças, mas sem contarmos com milagres. Melhor será que nos apoiemos em nossas próprias forças.
Enfim, uma resposta à altura
Demorou, mas as lideranças sindicais acordaram, tanto faz se pressionadas por suas bases ou, mesmo, contra a vontade. Por um dia os operários do ABC paulista paralisaram suas atividades na maioria das fábricas da região. Em ordem, como precisa ser passeatas, saiu de uma montadora para outra, demonstrando às empresas que nem só de capital elas podem viver. O trabalho representa fator fundamental em qualquer equação econômica.
Foi um alerta. Um aviso de que se permanecer o processo de demissões em massa, o prejuízo acabará dividido, atingindo tanto o trabalho quanto o capital. Não se fala em greve geral, por enquanto, esperando-se que os empresários abandonem a postura unilateral de receber ajuda do governo e continuar demitindo. Apesar disso, as greves gerais acontecem de quando em quando. A maior delas, no final dos anos setenta, liderada pelo Lula, desarmou o próprio regime ditatorial então vigente.
O MST anuncia novas invasões
Começou em Sarandi, no Rio Grande do Sul, mais um encontro anual do Movimento dos Sem Terra. Desta vez, celebrando 25 anos de sua criação. Mais de dez mil manifestantes debaterão a questão agrária por uma semana. Demonstrarão inconformidade diante da política de reforma agrária do governo e, como tem acontecido, transformarão retórica em ação. Traduzindo: vem por aí nova temporada de invasões de propriedades rurais, esperando-se que apenas as improdutivas. Isso, porém, ninguém pode garantir, tendo em vista experiências anteriores.
Para o presidente Lula, um novo ciclo de violência no campo seria o que de pior poderia acontecer, já que o operariado urbano se agita em luta contra as demissões em massa praticadas pelas empresas com dificuldades econômicas.
Já se disse que o MST, em termos políticos, constitui um dos fatores mais importantes acontecido nas últimas décadas. Difere dos movimentos operários liderados pela CUT por dispor de acentuado sentido ideológico. Melhor faria o governo se agilizasse ou até revolucionasse sua política de reforma agrária, única forma de garantir a paz no campo. Transformar camponeses sem terra em proprietários rurais ainda parece a melhor solução.
Espera-se a reação de Aécio Neves
A pergunta que se fazia ontem no mundo político era de que maneira Aécio Neves reagirá à cooptação de Geraldo Alckmin por José Serra. Foi um golpe de mestre do governador paulista convidar para secretário de Desenvolvimento o adversário que ajudou a derrotar na disputa pela prefeitura de São Paulo.
Alckmin parecia comprometido com a candidatura do governador mineiro no âmbito do PSDB e até se propunha a percorrer o País na companhia dele, defendendo a realização de prévias junto às bases tucanas. Agora, Aécio certamente perde a colaboração e até a simpatia do ex-candidato à presidência da República, que se dirá “serrista desde criancinha”. De Belo Horizonte, espera-se a réplica, podendo até mesmo significar o reatamento do namoro do governador com o PMDB. Caso ele se manifeste em favor das candidaturas de Michel Temer, na Câmara, e de José Sarney, no Senado, alguma coisa estará sinalizando.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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