Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Comentários de gente importante prestam-se a diversas interpretações. Em especial em se tratando de presidentes da República. Quem quiser que discorde, mas torna-se necessário dissecar o que disse esta semana o presidente Lula, a respeito do terceiro mandato. Claro que começou pelo repúdio, afirmando que seria contra a democracia cogitar de sua permanência no poder e até jurou, mais uma vez, passar o governo ao sucessor no primeiro dia de janeiro de 2011.
No entanto... No entanto, é bom atentar para a frase complementar, que, mais do que um complemento, pode transformar-se no principal: "(...) não é hora de falar em eleição, estou no primeiro ano do segundo mandato, a economia vai bem, o País está crescendo e o povo, satisfeito".
Entenderam? Pois é. Quando chegar a hora de falar em eleição, caso a situação nacional permaneça estável, como o próprio presidente acentuou, não será a oportunidade de incluir o terceiro mandato nas considerações político-eleitorais?
É aqui que mora o perigo. Desencadearam a proposta antes da hora. Plantaram fora de época, apesar de identificarmos, faz muito, a preparação das sementes para o plantio. Quando o PT se convencer do óbvio, ou seja, que para preservar o poder não terá outro candidato senão o Lula, surgirá a constatação já anunciada: a economia vai bem, o País está crescendo e o povo, satisfeito... Para que mudar? Como arriscar esse paraíso tropical diante da possibilidade de os tucanos voltarem ao Palácio do Planalto?
Que preço Morales vai cobrar?
O presidente Lula vai a Canossa. De modo estranho, tendo em vista a necessidade premente ditada pela crise no gás, a data foi marcada para 12 de dezembro, quer dizer, daqui a um mês e uma semana. O imperador Henrique IV, do Sacro-Império Romano Germânico, humilhando-se, ficou três dias exposto à neve e à chuva, aguardando o papa Gregório VII recebê-lo. Agora, o prazo será maior, felizmente sem neve, apenas ao sol e ao sereno.
A pergunta se faz sobre o preço a ser cobrado por Morales para atender Lula, que viajará a La Paz de chapéu na mão. Dependeremos da boa vontade do presidente boliviano para aumentar o repasse de gás para o Brasil. Nem se fala da exigência já apresentada por Morales, semanas atrás, ao embaixador brasileiro na Bolívia, de que ou a Petrobras investe horrores naquele país ou será posta para fora.
Investir horrores significa a ampliação de nossos investimentos na extração, produção e transporte do gás boliviano - coisa que corre por exclusiva responsabilidade do Brasil, desde o começo. Senão, nada feito, ou seja, em vez de aumentar, Morales reduzirá o volume do produto exportado. E aumentando seu preço. Isso depois de haver nacionalizado refinarias implantadas pela Petrobras em seu território, sem falar na parafernália da extração, no gasoduto e em demais investimentos feitos com nossos recursos, hoje encampados pelo governo da Bolívia.
Haveria alternativa? Pelo jeito, não, afastando-se por absurdo e por inviável o uso da força. Ainda há dias importante oficial-general brasileiro lembrava, em tom de humor, não saber sequer se dispomos de gasolina para nossos tanques chegarem à fronteira, quanto mais para invadir e, principalmente, para manter a invasão. Por certo que os bolivianos dispõem de menos condições ainda para resistir.
Felizmente, passou o tempo das soluções armadas, mas nem por isso torna-se mais fácil resolver a equação. Resta-nos baixar a cabeça e aceitar as condições que Morales imporá? Qual a garantia de que o singular presidente cumprirá qualquer acordo a ser celebrado?
Eis aí mais um efeito maléfico dessa tal globalização praticada desde os tempos do sociólogo. Por incrível que pareça, a razão pode estar com o tonitruante general Ernesto Geisel. Quando presidente da República ele botou para fora de seu gabinete o tecnocrata que sugeria investimentos maciços da Petrobras em território boliviano. Perguntou apenas: "E depois, vamos invadir para garantir nossos interesses?"
As empresas? Ora, as empresas...
Salta outra vez de banda o pesado ministro da Defesa, ao acentuar que a responsabilidade pelo novo apagão aéreo não é do governo, mas das empresas. Disse serem elas a dedicar poucos recursos à manutenção das aeronaves. Mas o que tem feito o poder público para enquadrar e exigir das empresas o cumprimento de suas obrigações? Leniência é o mínimo a constatar.
Prometeu Nelson Jobim que de agora em diante agirá com força, frente às empresas. Por que não agiram antes, ele e seus antecessores? Faz tempo que o usuário dos transportes aéreos recebe das empresas o mesmo tratamento dado aos escravos, nos navios negreiros. Amontoados nos aeroportos durante horas e até dias, os passageiros não recebem informações, obrigam-se a permanecer em filas intermináveis, são servidos com barras de cereal e acomodam-se nas aeronaves como se estivessem nos porões das fétidas caravelas. Sem falar na possibilidade de não chegarem ao destino...
Fonte: Tribuna da Imprensa
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