Renan Calheiros (PMDB-AL) informou a algumas das principais lideranças do Senado, governistas e oposicionistas, que vai renunciar à presidência da Casa. Desistiu da idéia de renovar o pedido de licença de 45 dias, que vence no próximo dia 26 de novembro. Abdicará ao comando da Casa antes dessa data. Em troca do gesto, espera obter a preservação de seu mandato.
O senador vai a julgamento no plenário do Senado, pela segunda vez, na próxima quinta-feira (22). Gostaria de renunciar à presidência no dia seguinte, quando a absolvição já estivesse no embornal. Foi aconselhado, porém, a bater em retirada antes de subir o cadafalso. Sob pena de açular os ânimos da oposição, receosa de que, livre da cassação, Renan atreva-se a reocupar o gabinete de presidente.
A iminência do novo julgamento provocou em Renan Calheiros uma curiosa metamorfose. Antes, comparava-se ao coco –“Para tirar o coco, não basta balançar o pé que ele não cai. Quem quiser, vai ter que subir no pé e retirar o coco com as próprias mãos.” Agora, soa num timbre que revela humildade inaudita.
Nos diálogos que manteve nas últimas horas, Renan diz coisas assim: “Estou há três anos cumprindo esse papel [de presidente do Senado]. Chega. Não quero mais saber disso. Se tiver oportunidade, no que ainda me resta de mandato, vou tentar me recuperar do que sofri politicamente com todo esse episódio.”
Alertado acerca das intenções de Renan, o presidente interino do Senado, Tião Viana, pôs-se a preparar a sucessão interna. Em consulta que fez à assessoria da Casa, foi informado de que, confirmando-se a renúncia, terá de convocar eleições para a escolha do substituto de Renan em exíguos cinco dias.
Ou seja, se Renan renunciar até a próxima quarta-feira (21), véspera de seu julgamento no plenário, Tião terá de preparar a eleição para a semana seguinte. Assim, a votação da emenda da CPMF, prevista para dezembro, já ocorreria sob nova direção. Algo que fez acender a luz amarela no Palácio do Planalto.
Lula e seus operadores políticos trabalham discretamente para livrar Renan da cassação. Imagina-se que, se tiver o mandato passado na lâmina, o senador pode causar ao governo problemas adicionais. Não teria dificuldades para arrastar meia dúzia de votos contra a CPMF. Algo que, numa votação de placar apertado, pode significar a rejeição à prorrogação do tributo.
O Planalto gostaria de ver José Sarney (PMDB-AP) acomodado na presidência do Senado. Sarney quer. Mas condiciona o envolvimento na empreitada a uma unanimidade que parece inexeqüível. Parte do PSDB, à frente Arthur Virgílio (AM), líder do tucanato, acena com a hipótese de erguer barricadas no plenário contra uma eventual candidatura de Sarney.
Mesmo no PMDB, o nome de Sarney não atravessa olimpicamente toda a bancada. Um bom naco de peemedebistas considera o senador algo personalista. Diz-se que, diferentemente do que fazia Renan, prioriza nos contatos com o governo os seus próprios interesses, em detrimento das reivindicações da bancada.
Afora Sarney, há uma penca de nomes alternativos: José Maranhão (PMDB-PB) é o preferido de Renan. O que leva parte da oposição a rejeitá-lo. Edison Lobão (PMDB-MA), aliado de Sarney, tenta erguer-se como espécie de terceira via. No início da próxima semana, PSDB e DEM discutirão a posição a adotar. No cesto das duas legendas há nomes como o de Pedro Simon (PMDB-RS), para o qual o Planalto torce o nariz, e Garibaldi Alves (PMDB-RN), mais aceitável aos olhos de Lula.
Escrito por Josias de Souza
Fonte: Folha Online
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