Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Por que a Petrobras, imperialmente, sem prevenir ninguém, cortou em 17% o fornecimento de gás para o eixo Rio-São Paulo? A desculpa foi variada: empresas estavam gastando mais do que o estipulado nos contratos; a seca reduziu a produção de energia hidrelétrica; é preciso garantir a geração das usinas de energia movidas a gás; o sistema de distribuição está prejudicado; as indústrias cresceram muito...
Na verdade, tudo parece supérfluo. Trata-se, a economia de gás, de algo bem mais profundo, ligado à segurança nacional. A causa chama-se Bolívia, principal fornecedora do produto para o Brasil. O presidente Evo Morales vem ameaçando botar a Petrobras para fora de seu território. Dia sim, outro também, fala em aumentar o preço e em reduzir o volume de gás exportado para nós. Até já suprimiu a entrega para Mato Grosso. Pelo jeito, a decisão da Petrobras terá sido uma decisão de governo, acima e além da tecnocracia da empresa.
Em suma, a questão é grave. Não se justifica, por certo, a velha sina de que sempre sofrem os mais fracos. No caso, os motoristas de táxi que converteram seus carros de gasolina para gás, estimulados pelo preço mais baixo. Também não há explicação para a imprevidência da Petrobras, que até há pouco desenvolvia junto às indústrias campanha em favor do uso do gás. Por enquanto, não se fala em cortar nas residências particulares, mas um plano elaborado pelas distribuidoras prevê que escolas e hospitais não sofrerão redução.
Há duas semanas, o presidente Lula aceitou a sugestão de encontrar-se o mais breve possível com seu colega boliviano. Depois, adiou a perspectiva, por conta da crise política verificada do lado de lá, na região de Santa Cruz de La Sierra. Agora, estaria revendo a revisão, admitindo-se que no correr do mês possa viajar a La Paz. A idéia é polir arestas e resolver o contencioso energético.
Indaga-se da possibilidade de a redução agora promovida pela Petrobras determinar mudança nos planos presidenciais. As luzes no semáforo energético nacional mudaram do verde para o vermelho, sem passar pelo amarelo.
Sem sinistrose, mas...
Sinistrose à parte, porque o País, apesar de tudo, continua crescendo, mas é bom atentar para os mais recentes acontecimentos. A crise no leite nos envergonha e logo estará causando o retraimento dos importadores do mundo inteiro. Ignora-se há quanto tempo a população vinha sendo envenenada, por conta da ganância dos atravessadores. Surge agora a crise no gás, levando a Petrobras a cortar em 17% a distribuição do produto, atingindo não apenas as indústrias do eixo Rio-São Paulo, mas também o pequeno consumidor, como os motoristas dos táxis movidos a gás.
Os juros do cheque especial ultrapassaram 150% e o cimento sofreu aumento de 45%, interrompendo sonhos de expansão na construção civil. Retornou o apagão aéreo, que o ministro da Defesa anunciou estar superado. Basta observar o que acontece nos aeroportos. Atrasos, cancelamento de vôos, passageiros condenados a permanecer horas a fio nos aeroportos ou dentro das aeronaves, antes da decolagem, falta completa de informações e tudo o mais.
Enquanto isso, o governo levanta fantasmas, como o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, admitindo a alta nos juros, e o ministro da Fazenda ameaçando com aumento de impostos - tudo se a CPMF não for prorrogada. Convenhamos, se não é o inferno zodiacal, pois o aniversário de Lula já passou, andamos perto do aniversário da República. Tomara que o dia 15 chegue logo.
Sob pressão
Não deixa de ser estranho que, de repente, o presidente Lula tenha proposto o aumento de R$ 4 bilhões nas verbas para a saúde. Estranho mas ótimo, é claro, porque quanto mais recursos para o destroçado sistema, melhor. Se foi tão fácil assim destinar a quantia para minorar as agruras do cidadão, por que ela não constou da proposta orçamentária há pouco aprovada pelo Congresso?
O governo parece só funcionar sob pressão. Para ver prorrogada a CPMF, e sem fazer milagres, o poder público resolve dedicar mais dinheiro para atender as necessidades da saúde pública. Tomara que cada mês o Senado venha a criar um novo caso com o Executivo diante de seus projetos.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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