Carta capital 05/07/2007 às 09:37
Liberdade de imprensa?
Imparcial?: No Zero Hora, corrupção tucana é ilustrada com foto de Lula O jornal gaúcho Zero Hora publicou uma matéria falando sobre a ameaça de cassação do mandato do governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB). Curiosamente, na foto que ilustra a matéria, quem aparece em destaque é....o presidente Lula. Da Carta Maior Os editores dos grandes veículos de comunicação acreditam piamente ? ou dizem acreditar ? que praticam um jornalismo isento, objetivo e imparcial. Rebatem energicamente qualquer crítica sobre seu trabalho, procurando jogar no colo de quem faz a crítica a ?ameaça à liberdade de imprensa?. Quando são surpreendidos em delito, quando a hipocrisia se revela concretamente, silenciam e apostam na pouca repercussão das vozes que apontam a nudez do rei. Um exemplo disso ocorreu neste domingo (1°), na edição do jornal Zero Hora, de Porto Alegre. O jornal do grupo RBS publicou uma matéria sobre ameaça de cassação que paira sobre o governador da Paraíba, o tucano Cássio Cunha Lima, acusado de distribuir cheques na campanha eleitoral de 2006. O detalhe curioso é que a foto que ilustra a matéria traz em primeiro plano....o presidente Luiz Inácio Lula da Silva! O texto da matéria não faz nenhuma referência ao presidente da República e fala da crise institucional gerada na Paraíba a partir da decisão do Ministério Público daquele Estado, pedindo a cassação de Cássio Cunha Lima (PSDB). Como explicar então a imagem em primeiro plano de Lula ilustrando a matéria? Difícil, para ser generoso, encontrar um critério editorial para entender a decisão. Olhando para a edição do jornal em seu conjunto talvez surja uma explicação. Duas páginas após a matéria envolvendo governador tucano, um artigo de meia página do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso adverte para ?a sensação de impotência diante de tanto descalabro? no país. ?A indignação com a corrupção advém de sua impunidade?, filosofa FHC, que não chega a mencionar o caso de seu correligionário ameaçado de ter o mandato cassado na Paraíba. Ainda na mesma edição, uma matéria de duas páginas destaca ?a Fantástica Fábrica de Sucessos de Aécio Neves?. O texto derrama-se em elogios à gestão tucana de Aécio em Minas Gerais, dizendo que ela ?projeta o governador para 2010?. A ?terra do choque de gestão? é apresentada como modelo para o Brasil. Como se fosse um jogo de armar, logo antes dessa matéria, outras duas páginas são dedicadas à crise financeira no Rio Grande do Sul, perguntando pelo melhor caminho para a sua superação. O leitor vira a página e dá de cara com a ?Fantástica Fábrica de Sucessos de Aécio Neves?. Vira mais duas páginas e lê a matéria do governador da Paraíba com a foto de Lula em destaque. Mais duas e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dá suas receitas para superar a crise moral do país. Tudo isso em uma mesma edição. O diretor de Redação de ZH, Marcelo Rech, expõe, também na edição dominical, a sua visão sobre o que é o bom jornalismo e a liberdade de imprensa: ?Cabe à imprensa assegurar os espaços para todos os lados e não se intimidar. À opinião pública, cabe avaliar as diferentes informações e opiniões, e delas extrair suas conclusões?. Seguindo a regra sugerida por Rech, qual a conclusão que deve ser extraída a respeito de um jornal que, entre outras coisas, publica uma matéria negativa sobre um governador do PSDB com a foto de um petista em destaque (petista que, por acaso ? ou não ?, é o presidente da República)? E que cerca essa matéria com várias páginas exaltando as idéias do ex-presidente e do modo tucano de governar. Onde está mesmo o ?espaço para todos os lados?? Onde estão as ?diferentes informações e opiniões? que constituiriam a máxima do bom jornalismo? Considerando o princípio da liberdade de expressão, um veículo de comunicação tem o direito de publicar textos, sons e imagens que julgar apropriados para seus propósitos. O problema é quando os propósitos são ?soterrados por mantos de silêncio?, para usar uma expressão do diretor de redação de ZH, ao defender a liberdade de expressão. Ele escreve: ?O direito de espernear e criticar, inclusive a imprensa, é legítimo. Essa é uma das maravilhas da liberdade de expressão. É a mesma liberdade, aliás, que tanto irrita autoridades dos três poderes que gostariam de ver informações, opiniões e debates soterrados sob mantos de silêncio?. Outra ?maravilha da liberdade de expressão? não é mencionada por Rech: a de manter um mínimo de coerência nas escolhas editoriais. Publicar um texto com uma denúncia envolvendo um líder político de um partido X, com uma foto onde o destaque é um líder do partido adversário de X não parece ser exatamente uma ?maravilha de escolha?. Maravilha seria o editor de ZH explicar aos leitores por que decidiu destacar a imagem de Lula em uma matéria onde o envolvido em denúncias é um governador do PSDB. Maravilha seria explicar aos leitores quais são os critérios editoriais adotados na definição de textos e fotos. Maravilha seria assumir explicitamente qual o ideário político defendido pelo jornal, ao invés de fazer uma hipócrita apologia da isenção. Alguns dos maiores jornais do mundo fazem isso há muitos anos, o que garante ao leitor um mínimo de transparência acerca do lugar a partir do qual o jornal em questão está falando.O caso em questão, onde a imagem de Lula na matéria sobre Cássio Cunha Lima vale por mil palavras, revela, na verdade, dois problemas que ultrapassam o tema da falta de transparência: falta de seriedade e sensação de impunidade. Em nome das ?maravilhas da liberdade de expressão?, tudo é permitido, mesmo publicar uma denúncia contra Pedro e publicar em destaque uma foto de João
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