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quinta-feira, setembro 13, 2007

Abstenções governistas salvam Renan

BRASÍLIA - A abstenção de seis senadores, o trabalho explícito das lideranças governistas a seu favor - a começar pelas do PT - e as ameaças explícitas feitas em plenário aos colegas levaram ontem o Senado a absolver o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), no processo que pedia sua cassação por quebra de decoro. Quarenta senadores votaram pela absolvição, 35 pediram a cassação, e 6 se abstiveram.
Na prática, 46 senadores salvaram Renan e passaram por cima do parecer dos senadores Marisa Serrano (PSDB-MS) e Renato Casagrande (PSB-ES) aprovado no Conselho de Ética por 11 votos a 4. Em um dos primeiros telefonemas dados para um amigo, logo depois de encerrada a sessão, Renan disse apenas: "Sobrevivi". Foram 5 horas e 30 minutos de sessão, tecnicamente secreta - já que houve entra e sai de deputados autorizados a acompanharem o julgamento - e com momentos de tensão, negociação e absoluta tranqüilidade.
A sessão teve jeito de peça de teatro dividida em dois atos. No primeiro, um cenário desfavorável a Renan, onde a cassação era dada como certa. Em um segundo tempo, o corpo-a-corpo da líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), e do senador Aloizio Mercadante (PT-SP), para convencer colegas da bancada a aderirem a Renan.
A oposição atribuiu a absolvição de Renan diretamente ao PT, mas não falou nada sobre os votos que seus parlamentares devem ter dado ao senador para conseguir o placar folgado. "Foram seis absolvições e seis era o número de senadores do PT que dizia votar conosco", afirmou o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).
Na mesma linha, o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) acusou os petistas de se omitirem em prol do presidente do Senado. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (PSDB-AM), foi mais duro e chegou a chamar de "delinqüentes" os que se isentaram da votação. "O resultado foi deplorável, porque seis resolveram fazer o voto sujo, o voto bem calhorda da abstenção", disse.
Renan foi inocentado mesmo não tendo conseguido se defender da acusação de ter recebido recursos da empreiteira Mendes Júnior para pagar despesas pessoais da jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha de três anos fora do casamento. No decorrer do processo, tampouco conseguiu explicar a evolução de seu patrimônio bem acima dos rendimentos salariais declarados à Receita Federal.
Ameaças
Durante a sessão, Renan chantageou os colegas ameaçando tornar público fatos relacionados à vida deles. Segundo relato de senadores, Renan partiu para o ataque direto contra a ex-senador Heloisa Helena (AL), presidente do PSOL - o partido responsável pelo pedido de investigação contra ele -, e contra os senadores Jefferson Peres (PDT-AM) e Pedro Simon (PMDB-RS).
Dirigindo-se diretamente a Heloisa Helena, que momentos antes fizera o papel de advogada de acusação, Renan disse que a ex-senadora sonegou o pagamento de impostos em Alagoas. "Deve mais de R$ 1 milhão. Tenho um documento aqui que prova isso. E nem por isso eu o usei contra a senhora", acusou, ao se defender da tribuna.
Heloisa Helena rebateu: "É mentira, mentira", gritou. As intimidações continuaram. O alvo seguinte foi Jefferson Péres. "Eu poderia ter contratado a Mônica (Veloso) como funcionária do meu gabinete, mas não o fiz." Péres ouviu calado.
Pedro Simon, um dos mais contundentes defensores da saída de Renan da Presidência, também não escapou. Olhando diretamente para ele, Renan afirmou: "A Mônica Veloso tem uma produtora. Eu poderia ter contratado a produtora dela para fazer um filmete e pendurar a conta na Secretaria de Comunicação do Senado. Eu não fiz isso." A exemplo de Péres, Simon ficou calado.
Novos processos
A absolvição de Renan ontem não encerra as suspeitas que pesam sobre ele. O peemedebista é alvo de outros processos - um que deve ser arquivado e que se refere à suposta ajuda à Schincariol (ele é acusado de ter favorecido a empresa junto ao INSS e à Receita Federal) e a mais grave aponta sua participação na compra de um jornal diário e duas emissoras de rádio, em nome de laranjas, em parceria com o ex-deputado e usineiro João Lyra.
Renan ainda pode ser alvo de nova investigação se a Mesa Diretora acatar pedido de apuração da denúncia de que ele participaria de um esquema de coleta de propina nos ministérios comandados pelo PMDB. O resultado da votação, apesar de livrar Renan da perda do mandato, fragiliza ainda mais a legitimidade de sua permanência na Presidência do Senado.
O presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), afirmou que a continuidade de Renan no comando da Casa só contribuiu para a "degeneração" do Senado. "A crise continua. Meu receio é a desmoralização do Senado." Já o principal defensor de Renan, o senador Almeida Lima (PMDB-SE), saiu que era só riso do plenário.
"Eu não falei, não falei que venceríamos", comemorou lembrando os jornalistas das estimativas vitoriosas que sempre fez. No Conselho de Ética, Tasso e Almeida Lima protagonizaram cenas de bate-boca com troca de farpas e acusações chulas.
Apesar da absolvição de Renan, a renúncia do peemedebista do cargo ainda é esperada por boa parte dos senadores, como forma de acabar com a crise no Senado que, entre outras coisas, pode inviabilizar a votação da CPMF. Ele, porém, continua resistindo à idéia, alegando que sem o poder assegurado pelo cargo ficaria fragilizado para enfrentar novas denúncias.
Fonte: Tribuna da Imprensa

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