Tribuna da Bahia Notícias-----------------------
O relator do segundo processo contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador João Pedro (PT-AM), sinalizou ontem que deverá arquivar as denúncias contra o peemedebista que trata de irregularidades em negociações com a empresa Schincariol. Irritado, o petista não detalhou como fundamentará seu relatório. Ele disse apenas que apresentará o parecer no começo da próxima semana. João Pedro afirmou ainda que não vai associar a denúncia com a acusação anterior —na qual Renan foi acusado de utilizar recursos de construtora para pagar despesas pessoais. Renan foi absolvido na primeira acusação. “Embora seja o mesmo senador [Renan Calheiros] envolvido, vou trabalhar para não misturar as investigações”, disse o petista. Em seguida, ele afirmou que não pretende ampliar mais as investigações porque já concluiu seu relatório que está pronto para ser apresentado ao Conselho de Ética. O processo relatado por João Pedro trata da denúncia de que Renan teria beneficiado a empresa Schincariol junto ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e grilado terras em Alagoas em parceria com seu irmão, o deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL) - que está sendo investigado no Conselho de Ética da Câmara. Porém, o relator afirmou que não tomará depoimentos de representantes da Schincariol nem de outros citados nas acusações. Segundo ele, os dados que possui são suficientes. “Isso aqui [o Conselho de Ética do Senado] não é CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito]. O Conselho de Ética é limitado neste sentido”, afirmou o petista. O terceiro processo pede a investigação da denúncia de que Renan teria usado laranjas para comprar rádios e um jornal em Alagoas. O PSOL já protocolou uma quarta representação na Mesa Diretora do Senado, em que acusa Renan de ter participado de um esquema de desvio e lavagem de dinheiro em ministérios chefiados pelo PMDB.
Senado discute fim do voto secreto após absolver Calheiros
O Senado volta a discutir a PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que propõe o fim do voto secreto em todas as sessões do Congresso. A retomada desse debate ocorre logo depois da sessão secreta do plenário do Senado que absolveu, na quarta-feira, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), da acusação de quebra de decoro. A absolvição de Renan, numa sessão secreta, gerou polêmica e críticas de vários setores da sociedade. Renan foi absolvido com 40 votos favoráveis, 35 pela cassação e 6 abstenções. Ontem, senadores de seis partidos elaboraram uma lista de reivindicações para normalizar a pauta de votações da Casa. Entre as reivindicações do grupo está a retomada da discussão da PEC que acaba com o voto secreto —de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS). O presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, Marco Maciel (DEM-PE), designou ontem o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) como relator da PEC. Segundo a Agência Senado, Paim disse que a proposta deve começar a ser discutida na próxima semana. Além dos senadores de oposição, parlamentares da base aliada e amigos de Renan também defenderam o fim do voto secreto. Esse é o caso do senador Gilvam Borges (PMDB-AP).
Rotary Club desaprova absolvição
O Rotary Club da Bahia, através do seu presidente Nelson Bittencourt Mendonça, enviou ontem correspondência ao presidente do Senado, Renan Calheiros, condenando a votação e a sessão secreta em que o parlamentar foi absolvido do processo de cassação do mandato. No documento, o Rotary Club da Bahia manifesta “veemente desaprovação ao modo pela qual se procedeu à deliberação do parecer da Comissão de Ética do Senado no processo de cassação do ilustre senador Renan Calheiros”. Para o Rotary, “ as imagens e as notícias dessa questão de relevante interesse nacional, amplamente divulgadas nos meios de comunicação, evidenciaram intolerável restrição à transparência do processo da deliberação do Senado Federal, que sempre se engrandeceu, ao longo de sua história, pelo acesso do público aos debates e votações”. Num outro trecho da mensagem, o Rotary Club da Bahia afirma que seus membros “sentiram-se no dever, como organização da sociedade civil que tem como missão fundamental a preservação da ética, de contribuir para que o episódio não sirva de estímulo, de exemplo, de subterfúgio à conduta republicana, nestes tempos em que a crença nos valores essenciais à dignidade, à cidadania e à ética carece tanto de estímulos e de exemplos edificantes”.
Conhecimento, burocracia e desenvolvimento
As últimas avaliações dão conta de que o Brasil cresce a taxas ligeiramente superiores às prognosticadas no início do ano. Deveremos chegar em 2007 a 5% de crescimento econômico, contra os 4,5% previstos. Se não é grande coisa, quando comparado ao crescimento de outras nações emergentes, como China, Índia e Rússia, pelo menos passamos a crescer no mesmo nível da média mundial, depois de vários anos abaixo. Essa boa notícia vem a lume na seqüência da publicação de uma pesquisa realizada pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), em que o Brasil aparece com uma baixíssima produtividade média dos seus trabalhadores, inferior inclusive aos países sul-americanos e a alguns países africanos. Só para que se tenha uma idéia comparativa, enquanto os Estados Unidos lideram o ranking, com sessenta e quatro mil dólares anuais de produção média por trabalhador, o Brasil patina nos quatorze mil dólares, produtividade inferior a alcançada em 1980, há longos vinte e sete anos, informação que levou muita gente a supor resultar esses dados de algum erro estatístico, tendo em vista a sensível melhoria tecnológica experimentada pelo nosso sistema produtivo nas duas últimas décadas. Para ser assim tão baixa, seria necessário que nossos trabalhadores apresentassem um nível quase indigente de treinamento e conhecimento na execução de suas tarefas, tendo em vista, sobretudo, a elevação dos valores de nossas exportações para mercados consumidores sofisticados, aonde não se chega sem qualidade competitiva. De qualquer modo, convém assinalar que o percentual de nosso PIB destinado ao treinamento profissional é inferior ao de todos os países que apresentam rendimento operacional por indivíduo superior ao brasileiro, fato que está a sugerir a urgência de aumentarmos a intensidade do esforço no aperfeiçoamento da mão-de-obra nacional, numa época em que o conhecimento figura como o insumo mais importante na competitividade e no crescimento econômico dos povos. Para alcançar esse desiderato, o setor público e o privado são igualmente convocados a priorizar esse item na elaboração de suas agendas. Uma análise comparativa do que se realiza, no particular, entre as diferentes regiões do País, vai evidenciar que as mais pobres são precisamente aquelas que apresentam o menor empenho no treinamento de sua mão-de-obra. E o problema não se origina, como se pode supor à primeira vista, da disparidade nos índices de riqueza regionais, mas da natureza da mentalidade reinante. Até porque, é rara a organização, pública ou particular, que não disponha, em seus próprios quadros, de pessoal habilitado a levar a efeito a melhoria da produtividade dos companheiros de trabalho, mediante a prática enriquecedora da troca de experiências, informações e habilidades. A simplificação dos trâmites burocráticos é outro ponto que está a merecer correções urgentes se quisermos melhorar os níveis de produtividade geral. Quando se pensava que a burocracia paralisante que estiola nosso sistema produtivo seria varrida da vida brasileira, depois da cruzada liderada pelo saudoso Hélio Beltrão, constatamos, decepcionados, que ela aí está, vigorosa como sempre, firme no seu empenho em criar dificuldades para gerar facilidades, quase sempre espúrias, defendidas pelos espertos que enriquecem às custas da ingenuidade popular, em nome dos mais sagrados princípios éticos. A burocracia excessiva que nos domina serve, acima de tudo, para alimentar o cortejo dos escândalos que assoberbam a alma do brasileiro. Nem tudo, porém, está perdido. Na semana passada, o ministro baiano Geddel Vieira Lima deu importante passo, ao introduzir modificações na estrutura operacional do Ministério da Integração Nacional, reduzindo em noventa por cento o vai-e-vem burocrático que emperrava a execução das obras constantes do PAC, nas áreas sob sua gestão. Nada impede que façamos a nossa parte, tanto em âmbito municipal quanto em nível de governo estadual, para o bem estar e felicidade geral das gentes. Joaci Góes é empresário e escritor. joacigoes@uol.com.br
Fonte: Tribuna da Bahia
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