MACEIÓ - A presidente nacional do PSOL, Heloisa Helena, chamou ontem, em Maceió, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), de "delinqüente" e "vagabundo" e disse que ele não tem moral para acusá-la de nada. As declarações foram em resposta à denúncia feita por Renan, que afirmou que Heloisa é processada pela Receita Federal por um débito do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) no valor de quase R$ 1 milhão.
A suspeita foi lançada quarta-feira, durante a sessão de votação da cassação dele, que foi absolvido por 40 votos a 35, além de 6 abstenções. "Esse delinqüente, esse vagabundo, não tinha o que fazer diante da denúncia que fiz contra ele no Conselho de Ética, de receber ajuda financeira de um lobista da construtora Mendes Júnior para pagar suas despesas pessoais; vem num momento tenso, aproveitando a crise moral que paira sobre o Congresso, querer me acusar de sonegação de imposto", reagiu ela.
Segundo Heloisa, a acusação de Renan não passa de uma provocação, com o objetivo de confundir a opinião pública. No entanto, a presidente nacional do PSOL confirmou que responde a um processo na Receita. "O meu problema com o Fisco é por conta a verba de gabinete que eu recebia quando era deputada estadual", revelou, acrescentando que vários deputados de Alagoas e parlamentares de outros estados também enfrentam essa mesma questão com o Fisco.
"Essa cobrança está sendo contestada na Justiça, porque a Receita Federal entende que a verba de gabinete que eu e outros deputados recebíamos deveria ser declarada e ninguém nunca declarou, porque não usava esse dinheiro como renda", afirmou. "Já o senador Renan agiu, exatamente, de forma diferente. Incluiu a verba de gabinete que recebeu do Senado na sua declaração de rendimentos para tentar justificar que tinha condições de pagar uma pensão de R$ 12 mil à mulher que teve uma filha dele", ressaltou.
De acordo com Heloisa, a dívida dela com a Receita é contestada no Supremo Tribunal Federal (STF). "É processo que se arrasta na Justiça, que nós ganhamos em algumas instâncias, perdemos em outras, mas estamos recorrendo", acrescentou.
Lula
A presidente nacional socialista disse ainda que "houve um conluio, articulado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para salvar o mandato de Renan, que tanto serviço sujo prestou ao Palácio do Planalto, protegendo mensaleiros e sanguessugas ligados ao governo".
Para Heloisa, autora da denúncia contra o presidente do Senado no Conselho de Ética, a absolvição dele revela o "verdadeiro balcão de negócios que se transformou o Congresso". A presidente do PSOL afirmou também que "dá nojo ver tanta hipocrisia, tanta desfaçatez entre os parlamentares governistas", que ajudaram a absolver Renan.
No entanto, a ex-senadora do PSOL de Alagoas afirmou que "a luta continua" para "mostrar" ao Brasil que o senador do PMDB de Alagoas não merece continuar a exercer o mandato e muito menos a presidir o Senado. Heloisa lembrou que Renan ainda responde a outros três processos, dois frutos de suspeitas do PSOL e um do DEM.
O senador do PMDB é acusado de favorecer a Cervejaria Schincariol numa negociação de dívida com o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS); de usar laranjas para comprar empresas de comunicação no estado, e de arrecadar propina de ministérios dirigidos por ministros indicados pelo partido.
Outros processos
Para a ex-senadora do PSOL, o senador do PMDB, apesar de absolvido, ainda tem muito o que explicar. "Ele ainda precisa se livrar de uma série de acusações que tramitam contra ele no Conselho de Ética do Senado, por tráfico de influência, falsidade ideológica, recebimento de propina, enriquecimento ilícito, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha", destacou.
Segundo Heloisa, Renan se livrou de uma, mas não escapará das outras ações por falta de decoro parlamentar. A ex-senadora declarou que o Senado precisa se recompor, reavaliar a conduta, "sob pena de continuar sendo desmoralizado, servindo de chacota junto à opinião pública".
Heloisa deixou claro que ainda tem fé na Justiça e nos atos dos homens de bem. A ex-senadora estava no interior de Alagoas, onde chegou na madrugada de ontem, vinda de Brasília. Heloisa concedeu uma entrevista ao programa "Cidadania", da "Rádio Jornal", que pertence ao ex-deputado João Lyra (PTB-AL), principal rival do senador no estado.
Fonte: Tribuna da Imprensa
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