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terça-feira, junho 19, 2007

A Transposição das águas do Velho Chico e as estratégias de manipulação

Por Roberval Carmona
Da primeira vez que se falou da transposição das águas do São Francisco foi o maior alvoroço social. Padres fizeram jejum em protesto, grupos se mobilizaram contra a idéia. Conseguiram adiar o início das obras. Mas a transposição das águas do velho Chico já pode ser considerada um fato consumado.
Técnicas utilizadas pelos poderosos para tornar aceitável a transposição das águas do São Francisco. A ESTRATÉGIA DA DEGRADAÇÃO Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, é suficiente aplicar progressivamente, em "degradado", sobre uma duração de 10 anos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas tem sido impostas durante os anos de 1980 a 1990. Desemprego em massa, precariedade, flexibilidade, reassentamentos, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haviam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de forma brusca. A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO Uma outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo "dolorosa e necessária", obtendo a aceitação pública no momento para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, por que o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, por que o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que "tudo irá melhorar amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Em fim, isto dá mais tempo ao público pata acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento. Um exemplo recente: a passagem para o Euro e a perca da soberania monetária e econômica tem sido aceitos pelos países Europeus em 1994-1995 para uma aplicação em 2001. Outro exemplo: os acordos multilaterais da ALCA (o FTAA) que os Estados Unidos tem imposto desde 2001 aos países de todo o continente americano (Central e Sul da América) apesar de suas reticências, concedendo uma aplicação e vigência diferida para 2005. CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES Este método também é chamado "problema-reação-solução". Se cria um problema, uma "situação" prevista para causar uma certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos. http://www.cuidardoser.com.br/estrategias-da-manipulacao.htm O problema da seca no Nordeste é um problema político, não um problema técnico. A transposição das águas não vai resolver o problema, vai agravá-lo ainda mais.
Fonte: CMI Brasil

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