Por Gerhard Grube 09/06/2007 às 03:15
É o novo nome para o ultrapassado "preço do progresso".
Antigamente, comentava-se a destruição, que os mais diversos empreendimentos causavam ao meio ambiente e às pessoas, dizendo-se simplesmente: "É o preço do progresso". Se algo de bom estava sendo construído, algo de ruim era inevitável acontecer. Hoje em dia não se fala mais assim, seria irresponsabilidade expressar-se dessa maneira. Com a conscientização ambiental nada mais pode causar prejuízo, nem ao ambiente nem às pessoas. Mudaram-se as palavras, a frase atualmente é: "Desenvolvimento sustentável". Mas a destruição é a mesma. Isto é, muito pior, por causa da maior eficiência tecnológica do ser humano. Disfarçada agora pelos eufemismos, leis e palavreado, criados para iludir as pessoas. Como se a natureza pudesse ser enganada com essas mentiras. Na televisão vi um documentário sobre as construções de usinas hidrelétricas e suas conseqüências ambientais e sociais. Documentário, muito bem produzido, feito pelo MAB, (Movimento dos Atingidos por Barragens). Naturalmente enfatizaram bastante o problema daqueles que são desalojados pela inundação de suas terras e o impacto sobre a vida animal e vegetal nestes locais. Sem dúvida os argumentos são válidos, é impossível continuar destruindo o planeta, até que tudo se acabe! Por outro lado é indiscutível o benefício que a energia elétrica traz para a sociedade. Sem a qual praticamente já não podemos mais viver como pessoas, principalmente nas grandes cidades. Sem ela as indústrias também não poderiam funcionar. Indubitavelmente, o país não pode parar! Um impasse, os órgãos responsáveis pela liberação dessas obras ficam no meio de um fogo cruzado muito forte. Nesta difícil disputa acaba perdendo sempre a parte mais fraca que é a sociedade local e o meio ambiente. Fingimos existir uma preocupação quanto a estes aspectos, mas a obra cedo ou tarde acaba sendo implementada. Pessoas são desalojadas, o lugar é degradado e algumas espécies extinguem-se. Um prejuízo localizado, com benefício difuso para a totalidade. Que nem se apercebe que houve prejuízo e nem lhe interessa. Como se diz, é o preço do progresso. Viver sem energia elétrica é ruim, e com ela, também. Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. E isto não tem como ser evitado, nem mesmo amenizado. Apesar dos estudos de impacto ambiental procurarem minimizar os danos, o progresso invariavelmente fala mais alto. A grande preocupação é espantar o fantasma da falta de energia. Estima-se a demanda que deve acontecer e procura-se concretizar os meios necessários para suprir esta demanda. Isto não pode deixar de ser feito, pois energia elétrica não pode faltar, nunca! Mas a demanda em si não é questionada. Nunca é colocada em dúvida se a energia está sendo bem ou mal utilizada. Como se a demanda fosse benéfica sempre e inocente sempre em seus propósitos. Como se o mau uso da energia não causasse nenhuma escassez energética. Assume-se sempre que qualquer consumo seja justificado, simplesmente pagando-se a tarifa. A produção de alumínio, e muitas outras indústrias são enormes consumidores de energia elétrica. Energia que, para ser de custo reduzido, os consumidores residenciais são obrigados a pagar tarifa mais elevada. O alumínio e outros produtos são então exportados, a preço de banana. E o lucro dessas empresas nem fica no Brasil, vai para fora também. Que vantagem a Maria leva, desperdiçando energia dessa maneira? O ar condicionado sem dúvida é uma comodidade. Mas um devorador de energia. Tanto é que poucas pessoas o têm em suas residências. Não pelo preço do aparelho em si, é mais por causa da enorme conta de luz que significa. Empresas fazem uso intensivo do ar condicionado, pois agrada aos clientes é bom para os negócios, imprescindível quase. Mesmo assim continua sendo apenas uma comodidade, devoradora de energia. Mas não é só a energia elétrica que é tratada dessa maneira. Combustíveis fósseis também. A preocupação é exclusivamente suprir a demanda. Não importa como os hidrocarbonetos sejam utilizados. Seja para movimentar máquinas e transportar cargas e pessoas eficientemente ou simplesmente para desperdiçá-los nos incoerentes e absurdos automóveis. Automóvel que nunca é sequer cogitado reduzir-se a sua utilização. Mesmo levando em conta os inúmeros problemas que causa à sociedade e ao ambiente. Obrigatoriamente os combustíveis têm que estar disponíveis nas bombas de gasolina, a custo reduzido. Para então serem queimados irracionalmente. A água é essencial à vida e para praticamente todos os empreendimentos humanos. É outro recurso que deve ser barato e existir em abundância. Quando então o desperdício é enorme. Já o próprio fornecimento, desperdiça uns trinta por cento da água tratada em vazamentos, antes que ela chegue ao consumidor (que paga também por essa água não consumida). Nem teria cabimento economizar algo cujo preço é centavos a tonelada. Campanhas para conscientizar a população no sentido de economizar água, são totalmente inúteis. A não ser quando existe real possibilidade que ela venha a faltar e é feito o racionamento. Ou o preço seja tão alto que as pessoas tenham dificuldade em pagar. Fala-se muito em reciclagem. Fala-se bastante, mas faz-se muito pouco. Os que praticam a reciclagem são principalmente os excluídos da sociedade, que sobrevivem miseravelmente daquilo que os outros jogaram fora. E se não fosse eles, ninguém faria nada. Nunca a própria geração do lixo é questionada. Se lixo existe, evidentemente é porque ele foi produzido, e depois jogado fora. Reciclar vai ser sempre uma solução menos eficiente, mais trabalhosa e mais poluente do que simplesmente deixar de produzir lixo. Mas a geração de lixo é intocável, não se mexe, não se discute. Fazer isso atrapalharia os negócios, seria totalmente antidemocrático. Compra-se uma caneta esferográfica, um isqueiro, usa-se e joga-se no lixo. Os produtos são embalados, vistosas embalagens, mais para convencer o consumidor do que para proteger o produto, quase nada mais é vendido a granel. As embalagens jogam-se fora, no lixo. Tudo está ficando cada vez mais descartável, cada vez menos são consertados quando quebram. É embutida nos produtos a obsolescência planejada, fica mais em conta comprar um novo do que consertar o velho. As geladeiras não duram mais trinta anos, duram cinco. Quando então caem fora de moda, e são substituídas por modelos mais atualizados. Ninguém mais remenda roupas desgastadas pelo uso. Lâmpadas são trocadas por tempo de utilização, mesmo que não estejam queimadas. Perecíveis são jogados fora pela data de vencimento, não por estarem estragados. Dá menos trabalho atuar assim, jogar fora é mais lógico do que usar até o fim. Contei outro dia as gavetas e portas dos móveis em minha casa. A maioria mais ou menos entupida com coisas que raramente são usadas e muitas quinquilharias. Contei sessenta! Tudo isso foi retirado da natureza, trabalhado, processado e consumiu energia. E um dia vai para o lixo, quase sem ter sido utilizado. A liberdade de desperdiçar, de subutilizar, de consumir coisas desnecessárias, nunca é questionada. Não existe freio, é só pagar o preço que é exigido, e tudo se justifica. E aqueles que consomem pouco (porque são forçados a isso), os pobres, são criticados, olha-se para eles com desprezo. São chamados de vagabundos e preguiçosos, pois não conseguiram "vencer na vida". Não lhes é possível consumir inutilidades, como fazem a "gente de bem" e as "pessoas de sucesso". São por isso menos gente. Assim são as coisas. Poderia ser diferente, mas não é. Por isso precisamos cada vez mais recursos materiais e energia. Que são desperdiçados vão para o lixo e poluem o meio ambiente. Por isso precisamos cada vez mais construir hidrelétricas, despejar os moradores do lugar e extinguir espécies animais e vegetais. É o preço do desperdício.
Fonte: CMI Brasil
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