Por Caros Amigos 07/06/2007 às 17:35
As matérias que o leitor encontra daqui em diante procuram traçar um perfil da atual Polícia Federal, instituição que tem empolgado o país. Quase todo dia um espetáculo inédito na televisão: gente da alta roda algemada e levada para a cadeia. Melhor que novela, cenas inimagináveis há não muito tempo atrás.
Máscara Negra põe o Brasil às claras Esse é o nome do edifício do Departamento de Polícia Federal, em Brasília, coração e cérebro da instituição. Vamos ver o que há lá dentro que tanto ajuda a prender tanta gente, principalmente os colarinhos brancos. por João de Barros Máscara Negra é o apelido do edifício de dez andares localizado no setor de autarquias que é sede da Polícia Federal em Brasília. Ganhou o apelido logo após a inauguração no governo do general Ernesto Geisel, em 1977, por causa dos vidros escuros que recobrem a fachada. Fazia sentido. No regime militar, a Polícia Federal era um órgão de repressão política usado pelo sistema para caçar subversivos, infiltrar-se nas organizações populares e censurar livros e filmes, entre outras atribuições. Uma "caixa preta", onde trabalhavam homens conhecidos por "chuta-portas" - como diz a nova geração de policiais federais - por causa dos métodos hostis de abordagem que costumavam aplicar. O Máscara Negra não mudou. Ainda exibe hoje as mesmas salas do subsolo onde os policiais assistiam aos filmes que seriam censurados, assim como não foram trocadas as placas que identificavam a turma da tortura - está lá a do execrado DOPS - Departamento de Ordem Política e Social, que funcionava no sexto andar. O que mudou foi a atuação da Polícia Federal. O orçamento aumentou. Passou de 1,848 bilhão de reais no último ano do governo FHC para 3,458 bilhões este ano. O número de policiais saltou de 7.000 para pouco mais de 13.000. "No governo Fernando Henrique Cardoso, a idéia do Estado mínimo repercutia na polícia mínima. Nossos carros não eram mais abastecidos pelos postos de gasolina; hoje têm ar condicionado. A idéia era: a polícia tem de cuidar do que cai na mão dela, não tem de correr atrás. Os policiais, além de não terem um centavo de aumento, ficaram oito meses sem receber diária: viajavam, faziam a investigação com o próprio dinheiro e não recebiam de volta. Com a chegada do advogado criminalista Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça do primeiro mandato do governo Lula, é que a Polícia Federal começou a mudar. Ele sentiu que havia um grupo de policiais com boa condição pessoal, com potencial para investigar e decidiu investir", diz Marcos Wink, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef). Operações especiais A eficiência das investigações aumentou. A cocaína apreendida pulou de 9,1 toneladas em 2002 para 15,7 toneladas em 2005. O número de pessoas libertadas do trabalho escravo subiu de 1.741 em 2002 para 3.993 no ano retrasado. O número de inquéritos policiais foi de 1.027 em 2002 para 18.641 em 2005. Houve 119.000 operações de rotina no governo Lula. Porém, o que chama a atenção - pelos nomes que ganham e pela quantidade de policiais destacados para cada diligência ? são as operações especiais, que saltaram de nove em 2003 para 42 em 2004, 67 em 2005 e 178 no ano passado. A maior delas foi a Operação Dilúvio*, em agosto de 2006, deflagrada em oito Estados brasileiros e nos Estados Unidos. Após investigação de quase dois anos, a ação desarticulou um esquema de fraudes no comércio exterior, arquitetado por um punhado de empresários, onde havia de tudo: fraudes, sonegação, falsidade ideológica e documental, evasão de divisas, cooptação de servidores públicos. Contou com a participação de 950 policiais federais e 350 servidores da Receita Federal, que prenderam 102 pessoas e cumpriram mais de duzentos mandados de busca e apreensão, no Brasil e nos EUA. (...) *após o fechamento da edição, a PF deflagrou a Operação Navalha, que em 17/5 prendeu 46 suspeitos em 9 Estados, entre eles um ex-governador (José Reinaldo Tavares, PSB-MA), dois prefeitos (Luiz Carlos Caetano, PT-BA e Nilson Aparecido Leitão, PSDB-MT) um deputado (Pedro Passos Júnior - PMDB-DF), assessores e funcionários públicos. Segundo a PF, também está envolvido no esquema o atual governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT). As investigações da operação, que tiveram início em novembro do ano passado, revelaram um megaesquema de desvio de recursos públicos por meio de fraudes em obras de eletrificação rural, saneamento básico e manutenção de rodovias. ______________________________________________________ Parceiros na lei por Marina Amaral A evolução da Polícia Federal evidencia-se aos olhos da população e do Ministério Público, que depende da eficiência de suas investigações para mover ações e processar criminosos. Não é uma parceria fácil: entre as atribuições constitucionais de procuradores e promotores está o controle externo da atividade policial, ou seja, a fiscalização da polícia Em 29 anos de polícia, Marcos Wink, presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, nunca viu coisa igual: durante as operações-padrão da PF nos aeroportos para exigir o cumprimento de um acordo salarial, os policiais foram aplaudidos por passageiros que aguardavam em longas filas a minuciosa inspeção. A imagem dos homens de preto derrubando uma parede falsa na casa do sobrinho do bicheiro Capitão Guimarães e a exclamação do jovem agente - "muita grana, moleque!" -, quando aparece o dinheiro camuflado, ainda estavam frescas. Converso com Wink no dia 18 de abril, três dias depois de o Fantástico, da TV Globo, exibir esse vídeo, gravado pelos policiais durante a Operação Furacão, no Rio de Janeiro. Mais do que os bens apreendidos com a máfia dos caça-níqueis e bingos (20 milhões de reais em dinheiro e jóias, além de 51 carros de luxo), reluzem as prisões dos figurões: entre os 25 detidos havia dois desembargadores e um juiz - este, o único dos três a confessar participação no esquema de venda de informações privilegiadas e liminares favoráveis à máfia -, um procurador regional da República e três delegados da PF. O sobrenome de um dos quatro advogados presos, Virgílio Medina, também chamou a atenção: ele é irmão do ministro do Superior Tribunal de Justiça, Paulo Medina (hoje afastado do cargo), e negociava liminares milionárias - suspeita-se que com ajuda do irmão ministro - com os prepostos dos três grandes bicheiros cariocas presos (pela segunda vez) nessa operação: Aílton Guimarães Jorge, o "Capitão Guimarães"; Antônio Petrus Kalil, o "Turcão", e Aniz Abraão Davi, o "Anísio". "Nunca antes no Brasil tantos poderosos caíram juntos", anunciava a apresentadora Glória Maria antes de exibir o vídeo gravado pela PF. (...)
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