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quarta-feira, junho 13, 2007

Lula estabelece mais um recorde

Por: Augusto Nunes

O jornalista Ruy Castro navegava distraídamente pela internet quando localizou, nas águas da Wikipédia, uma "lista de escândalos de corrupção no Brasil". Ao conferir o achado, topou com uma relação de 222 episódios ocorridos entre 1974, no início do governo Ernesto Geisel, e a primeira quinzena deste junho, já na segunda etapa da era Lula.
Na edição do dia 11, o colunista da Folha de S.Paulodivulgou as marcas alcançadas pelos sete servidores da nação. A competição é liderada por Luiz Inácio Lula da Silva, com 101 ocorrências. Vai superar o recorde com a entrada da Operação Xeque-Mate na procissão de pecadores, que ainda exibe no último andor a Operação Navalha.
Com bom desempenho, mas longe do campeão, aparecem em seguida Fernando Henrique Cardoso (44 pontos), Itamar Franco (31), Fernando Collor (19), Ernesto Geisel (10), João Figueiredo (11) e José Sarney (seis). No acervo de Sarney, ressalvou Ruy Castro, não figura a farsa da licitação para as obras da Ferrovia Norte-Sul, desmascarada pelo jornalista Janio de Freitas. Outra omissão relevante suprime do legado de Figueiredo a bomba detonada no estacionamento do Riocentro por terroristas fardados.
Nas páginas reservadas aos governos militares, o autor do levantamento ignora a fronteira que separa casos políticos e casos de polícia. As ocorrências do governo Geisel, por exemplo, misturam o Caso Atalla e o Caso Lutfalla - genuínos monumentos à corrupção erguidos por bandos de figurões federais, políticos ladrões, mafiosos no comando de partidos, caciques regionais e empresários bandidos - com assassinatos hediondos (Caso Vladimir Herzog e Caso Manoel Fiel Filho) ou projetos políticos que mudariam o país para melhor, como "a abertura política".
Tais falhas se tornam desprezíveis diante da relevância de constatações reafirmadas, com minúcia e consistência, pela lista da Wikipédia. Na ditadura ou na democracia, seja o presidente militar ou civil, rouba-se muito no Brasil. As quadrilhas federais sempre encontraram meios de saquear os cofres públicos. Pecam sem remorso, violam as leis sem sobressaltos por saberem que a impunidade aqui prevalece desde o desembarque da primeira caravela.
A leitura da lista avisa que as coisas vão mal: a turma toda está por aí, gastando fortunas tungadas do povo. E confirma que, no Brasil, o que está ruim sempre pode piorar. A Polícia Federal passou a investigar e prender com competência e rigor, dirão os devotos de Lula. Mas ninguém é condenado, replicam os fatos. Nem mesmo amigos e parentes do chefe escapam da mira dos investigadores, lembrarão os bons companheiros. Está provado que Lula não tem nada com isso.
Ele nunca sabe de planos criminosos em andamento. Consumados, exige provas. Confrontado com montanhas de evidência, avisa que espera a decisão da Justiça. Mas absolve liminarmente meliantes de estimação.
Foi assim com José Dirceu, Antonio Palocci, Delúbio Soares, Silvio Pereira, José Genoino, João Paulo Cunha, Severino Cavalcanti e tantos outros mensaleiros. Foi assim com o tesoureiro portátil Paulo Okamotto, o churrasqueiro particular Jorge Lorenzetti, o padroeiro Roberto Teixeira. E assim sempre será: Lula é amigo dos amigos.
É também homem de família, e por isso reage com desdém ou indignação a histórias mal contadas envolvendo doações em dinheiro que beneficiaram parentes próximos. Foi assim com a filha Lurian e o filho Lulinha. Assim tem sido com o irmão Vavá, que transformou carteira de identidade em gazua.
O Brasil inteiro sabe disso há dois anos. Menos Lula.
Fonte: JB Online

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