Reinaldo Azevedo
"Não há nenhum pensamento importante que a burrice não saiba usar, ela é móvel para todos os lados e pode vestir todos os trajes da verdade. A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem"Robert Musil em O Homem sem Qualidades
No Globo deste domingo, ficamos sabendo um pouco mais do que o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) talvez insista em chamar de sua “vida privada”. Será mesmo? E, reitero, trata-se de mais um assunto pelo qual a revista Contigo não se interessaria porque se ocupa de outro tipo de artista. Leiam trecho de reportagem de Alan Gripp. Volto depois:Primo e irmão adotivo do presidente do senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Dimário Cavalcante Calheiros causou alvoroço ao denunciar ao Ministério Público Federal que foi usado como laranja pela própria família na compra da Fazenda Cocal, em Murici, berço político dos Calheiros. Agora, novas evidências lançam suspeitas sobre a negociação.Uma escritura da propriedade de mesmo nome, emitida pelo cartório de imóveis do município, em janeiro de 2006, diz que as terras pertenciam, naquele ano, à agricultora Marlene Gomes da Silva. Mas documentos obtidos pelo GLOBO revelam que Marlene, na verdade, era uma ex-empregada doméstica da fazenda, morta nove anos antes, em 1997.A Cocal é uma faz propriedades adquiridas pelos Calheiros e anexadas à principal fazenda da família, a Santa Rosa. Na entrevista ao GLOBO da última terça-feira, o gerente das fazendas da família afirmou que a Cocal pertence a Renan Calheiros, embora, oficialmente, não faça parte da declaração de bens do senador.Também em entrevista ao jornal, Dimário Caheiros disse que Renan participou diretamente da negociação e deu a ordem para a compra da Cocal. Ex-gerente das fazendas da família, Dimário descobriu, em 2005, que era dono, no papel, da propriedade de 108 hectares. Ele denunciou o Ministério Público que nunca a adquiriu. Outro primo de Renan, Antônio Gomes Vasconcelos, acusou Renan e seu irmão, deputado Olavo Calheiros (PMDB-AL), de usarem laranjas para adquirirem fazendas e, com o auxílio do cartório de Murici, “aumentarem” o tamanho das terras.(...)A certidão que atribui a propriedade da Fazenda Cocal a Marlene Gomes da Silva foi emitida meses depois das primeiras denúncias feitas por Dimário. Contrariando o padrão dos registros de bens, o documento não traz informações sobre o tamanho e os limites da propriedade, nem o valor do negócio. Procurada na terça-feira, a tabeliã Maria de Lourdes Ferreira, que assinou a certidão, não foi encontrada no cartório.(...)As suspeitas de que laranjas foram transformados em donos de grandes pedaços de terra surgiu depois que o Ibama iniciou um levantamento da situação fundiária da Estação Ecológica do Murici, que fica em região de Mata Atlântica. O órgão ambiental pretende desapropriar fazendas para executar plano de recuperação ambiental da reserva. Para isso, pagará indenizações milionárias.Diante do registro nebuloso das propriedades, o trabalho do Ibama foi interrompido.Procurado, Renan não retornou a ligação. Durante a semana, a assessoria do senador informou que os bens dele estão todos declarados no Imposto de Renda.
Para ler íntegra, clique aqui. (É preciso se cadastrar)VolteiA questão se resolve facilmente. A fazenda está em nome Marlene, já morta? Como seu marido morreu também, e eles deixaram seis filhos, o Ibama pode desapropriar a Cocal e entregar o dinheiro aos herdeiros do casal. Renan Calheiros não deve ficar triste, já que, segundo o que está no papel, as terras pertencem mesmo à sua ex-empregada. Mais: nem a Receita Federal sabe que a propriedade é dele.Lembro-me, de novo, da fala do senador Romeu Tuma e de sua declarada vontade de absolver. Eu entendo, já disse. Alma generosa como a dele sempre vê partido o coração quando diante de uma pessoa da altitude de Renan, que vem a ser, como é mesmo?, o pai da filha da “gestante anônima” — quer dizer, da ex-gestante, a jornalista Mônica Veloso.A história é cabeluda do começo ao fim. Mas não duvidem: Renan deve ter uma boa explicação pra ela.
Fonte: VEJA online
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