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quinta-feira, setembro 01, 2022

O general de passeata virou tuiteiro




Em uma campanha curta, os políticos têm pressa, a mesma urgência de quem passa fome no País

Por Marcelo Godoy (foto)

Campanha eleitoral é tempo de candidato comer buchada de bode e abraçar crianças em comunidades pobres. Em 2022, ela se tornou também o momento em que general vira tuiteiro. A rede social é o novo Clube Militar, o local em que oficiais fazem política, como descobrira o ex-comandante Eduardo Villas Bôas.

Agora foi a vez de Walter Braga Netto. Desde segunda-feira, o lacônico oficial se converteu em um loquaz tuiteiro. O candidato a vice dos sonhos de Jair Bolsonaro, por não dar palpites nem ameaçá-lo, apresenta-se como um mineiro “alinhado aos valores conservadores e ao liberalismo econômico do presidente”. Na rede social, todos têm pressa – a concorrência é enorme para capturar o eleitor. O novo tuiteiro do Planalto já conta com 87 mil seguidores e 13 publicações. “Foi com muita honra e orgulho que recebi a missão de ser candidato a vice-presidente, a mais desafiadora e importante dos meus 65 anos de vida.”

Até então, o ex-ministro da Defesa era um dos generais de passeata do bolsonarismo, esse novo tipo da política nacional. Nos anos 1960, Nelson Rodrigues capturou a imagem do “padre de passeata”, que só olhava para os céus para saber se devia sair com guarda-chuva. O general de passeata é parecido: ele só olha para o alto para saber quando o “tempo vai fechar”.

Enquanto alimentava pastores mais preocupados em salvar o governo do que almas, a administração Bolsonaro criou esse novo personagem. São figuras como Eduardo Pazuello, o especialista em logística cujas desventuras Émile Zola tornou um clássico ao retratar, em La Débâcle, o exército francês de 1870.

Essa turma gosta de datas comemorativas, como o 31 de março. E crê que o 7 de Setembro em Copacabana reviverá, cem anos depois, a marcha dos 18 do Forte. Ela acredita que a salva de tiros, programada pelo Exército durante o comício de Bolsonaro, esconderá os maltrapilhos que emboscam clientes nas padarias do bairro, parte dos 33 milhões que vivem a fome da pobreza extrema no Brasil. Quase todos os candidatos à Presidência já anunciaram planos para acabar com essa chaga. Cada um tem um caminho. Bolsonaro também tem o seu: negar a existência dos esfomeados.

Seu vice tuitou ontem sua visita a Sinop (MT) e fez promessas ao agronegócio. “O Brasil contribui com a #segurançaalimentar do mundo”, escreveu. Nenhuma palavra sobre a fome no País. Em uma campanha de 45 dias, um político tem pressa para se fazer conhecer. Os famélicos, como dizia o sociólogo Hebert de Souza, o Betinho, igualmente têm pressa. Quando uma barriga ronca, nada mais importa, além da própria fome. Os que se alimentam do poder também sabem disso. 

O Estado de São Paulo

Rússia interrompe abastecimento de gás para a Europa



País alega que medida visa manutenção de turbina

Apesar da justificativa de manutenção, um pronunciamento do porta-voz do Kremelin cita sanções

A Rússia anunciou nesta quarta-feira (31) a interrupção do fornecimento de gás para a Europa por meio do gasoduto Nord Stream1. O Kremelin afirma que a decisão ocorre porque o sistema de fornecimento precisa de manutenção da única turbina em atividade neste momento. 

Segundo a Gazprom, empresa russa de energia, a suspensão do serviço é temporária e deve se estender até a madrugada de sábado (3). Durante esses dias, nenhum gás irá ser fornecido à Alemanha. 

Desde as primeiras horas desta quarta-feira, os fluxos para a Europa estão zerados, segundo dados do site da operadora do Nord Stream1. As informações são da Agência Brasil.

Apesar da justificativa de manutenção, o porta-voz do Kremlin afirmou nesta terça-feira (30) que as sanções recentemente aplicadas contra a Rússia estão impedindo as exportações para a Europa. "Existem garantias de que, além dos problemas tecnológicos causados pelas sanções, nada está atrapalhando o abastecimento", disse.

Diário do Litoral

***

Rússia interrompe novamente fluxo de gás para Alemanha

Estatal russa alega trabalhos de manutenção no gasoduto Nord Stream 1 e diz que interrupção deve durar três dias. Governo alemão questiona justificativa, mas diz estar preparado.

A estatal russa Gazprom interrompeu novamente nesta quarta-feira (31/08) o fornecimento de gás para a Europa Ocidental através da Alemanha pelo gasoduto Nord Stream 1, alegando trabalhos de manutenção. O fluxo de combustível, segundo a empresa, deve ser retomado no próximo sábado.

O presidente da Agência Federal de Redes de Energia da Alemanha (Bundesnetzagentur), Klaus Müller, afirmou que a argumentação da Gazprom é "tecnicamente incompreensível", mas disse que a Alemanha está agora mais bem preparada do que quando o fornecimento pelo gasoduto foi interrompido em julho.

Segundo ele, as instalações de armazenamento de gás estão quase 85% cheias. Além disso, a Alemanha vem reduzindo paulatinamente sua dependência do gás russo, que representou 55% do consumo do país em 2021 – essa parcela foi reduzida para apenas 9,5% em agosto. As importações de gás da Noruega e da Holanda agora têm mais peso no consumo do país.

A Alemanha acusa Moscou de usar a energia como "arma", enquanto a Rússia insiste que as interrupções se devem às sanções aplicadas após a invasão russa da Ucrânia.

Ao responder uma pergunta a respeito da retomada do fornecimento de gás, o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, disse que "há uma garantia de que, com exceção dos problemas técnicos causados pelas sanções, nada interfere no fornecimento". Ele acrescentou que países ocidentais "impuseram sanções contra a Rússia, que não permitem manutenção e trabalhos de reparo normais".

O fluxo de gás foi paralisado na manhã desta quarta-feira, mostraram dados da Rede Europeia de Sistemas de Transmissão de Utilidades de Gás (Entsog). Em seguida, a Gazprom anunciou que o trabalho planejado em uma estação de compressão já havia começado.

Fornecimento reduzido

Em julho, a estatal russa já havia interrompido por dez dias o fornecimento de gás para a Alemanha. Na época, a empresa também atribuiu a medida a trabalhos de manutenção.

Entretanto, desta vez o atual trabalho de manutenção foi anunciado com menos de duas semanas de antecedência e está sendo realizado pela Gazprom, não pela Nord Stream AG.

A Gazprom vinha enviando diariamente cerca de 33 milhões de metros cúbicos de gás para a Alemanha via Nord Stream 1, correspondente a 20% da capacidade máxima do duto. A razão informada pela Rússia para a redução do fluxo é a manutenção de uma turbina da Siemens, que segundo Moscou não pode ser entregue à Rússia por causa das sanções ocidentais, o que Berlim refuta.

Na noite de terça-feira, a Gazprom já havia interrompido completamente as entregas ao grupo francês Engie. A razão para isso, segundo a companhia russa, seriam pagamentos pendentes, de acordo com a empresa. Depois que sanções foram impostas à Rússia, Moscou também cortou completamente o fornecimento para a Bulgária, Dinamarca, Finlândia, Holanda e Polônia e reduziu os fluxos através de outros dutos.

Momento de tensão

As interrupções do fluxo via Nord Stream 1 pressionam os países europeus enquanto eles se apressam para encher seus tanques de armazenamento de gás antes do inverno, com receio de que a Rússia possa interromper o fornecimento completamente.

A mais recente interrupção no fluxo de gás ocorre em um momento em que o mercado de energia já está tenso, com reflexos nos preços do gás no atacado. Com os meses de inverno se aproximando, os consumidores na Europa estão cautelosos por causa dos altos preços de energia. Países como a França alertaram que o racionamento é uma possibilidade.

Os líderes da UE apelaram aos cidadãos para reduzirem o uso de energia. Muitos europeus estão cortando voluntariamente seu consumo de energia, limitando o uso de aparelhos elétricos, e empresas europeias também tomaram medidas para reduzir o uso de energia.

Governo alemão diz estar preparado

O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, afirmou na terça-feira que o país está bem preparado para enfrentar uma possível escassez de energia caso a Rússia reduza ainda mais o fornecimento de gás. "Seremos capazes de lidar muito bem com as ameaças que enfrentamos da Rússia, que está usando o gás como parte de sua estratégia na guerra contra a Ucrânia", disse.

Espera-se que a Alemanha em breve anuncie uma decisão sobre a ampliação da vida operacional de suas três usinas nucleares restantes.

Existem também planos para reduzir a dependência alemã do gás russo e substituir as importações até meados de 2024. Em Lubmin, onde o Nord Stream 1 chega à costa, estão em andamento preparativos para construção de terminais de gás natural liquefeito (GNL) para receber importações do insumo de outros países, como dos Estados Unidos. 

Deutsche Welle

Da balbúrdia à "farra dos pastores": educação sob Bolsonaro




Agenda ideológica, omissão e falta de coordenação e diálogo deram a tônica da gestão da área nos últimos quatro anos, marcada por escândalos e dança das cadeiras no MEC, apontam especialistas.

Por Ana Paula Lisboa

Marcada por escândalos e uma série de trocas de ministros, a gestão da educação no governo do presidente Jair Bolsonaro trouxe retrocessos principalmente por inação e falta de coordenação, o que se tornou mais desastroso durante a pandemia, apontam especialistas e representantes do movimento estudantil ouvidos pela DW Brasil. A ideologia, avaliam, ficou mais no discurso do que na ação.

"Em nível federal, foram quatro anos de uma gestão trágica, e isso sem contar as denúncias de corrupção", afirma Gabriel Corrêa, gerente de Políticas Educacionais da organização da sociedade civil Todos pela Educação.

O Ministério da Educação sob Bolsonaro é acusado de ter como marca registrada a falta de diálogo com estudantes, sociedade civil e governos locais. "Desde o primeiro dia, temos tentado apresentar demandas estudantis, mas não há abertura. O mandato de Bolsonaro inteiro foi com a gente fazendo manifestação em frente ao MEC, e o MEC não dando nenhuma resposta", diz Bruna Brelaz, aluna da Faculdade Autônoma de Direito (Fadisp) e presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Protestos também foram organizados durante outros governos. A diferença, aponta ela, é que, em outras gestões, "os ministros, mesmo com divergências, tinham o respeito de receber os estudantes". 

"Bolsonaro não vê a educação como elemento central para o desenvolvimento da nação. Todas as gestões de ministros da Educação comandadas por ele foram de corte de verbas e ataque a universidades. São gestões corruptas que desviam recursos para viabilizar uma reeleição", denuncia Brelaz. "Nós consideramos que o Bolsonaro é o inimigo nº 1 da educação e dos estudantes."

'Para Bruna Brelaz, presidente da UNE, "Bolsonaro é o inimigo nº 1 da educação e dos estudantes"

A falta de diálogo, ressaltam a UNE e o Todos pela Educação, também era a tônica na relação com secretários de educação, algo que trouxe prejuízos maiores durante a pandemia de covid-19.

"Nesse contexto [da pandemia], a gente viu um MEC arrumando conflito com estados e municípios, completamente omisso em suas atribuições de coordenar a resposta à pandemia", critica Corrêa, que é economista e mestre em educação pela Universidade de São Paulo (USP).

"Num país como o Brasil, grande e desigual, a atuação federal é muito importante para reduzir assimetrias. Sem essa coordenação e diálogo, cada estado e município faz de um jeito, uns abrem escola mais cedo, outros não", afirma. Além de prejudicar a aprendizagem, o longo fechamento de escolas preocupa especialistas por agravar problemas como a evasão.

Guerra cultural

Na avaliação de Corrêa, sob Bolsonaro a educação foi instrumentalizada para manter a fidelidade de eleitores com motivações ideológicas. "A estratégia de promover uma falsa e pretensiosa guerra cultural vem pela necessidade de inflamar uma base de apoiadores mais convictos e mostrar que Bolsonaro está fazendo o que prometeu”, comenta.

"Afinal, o presidente ganhou a eleição dizendo que o problema era o Paulo Freire, o 'kit gay'… Falar contra universidades, dizer que as escolas estão sexualizando as crianças, por exemplo, é estratégia para agradar essa base", analisa. "E quando você coloca, no MEC, gestores para fazerem isso, serão pessoas que não sabem operar a máquina pública e nada sai do lugar."

Focado em combater "problemas irreais" a partir de determinadas convicções, o MEC acabou não dialogando com estados e municípios nem fazendo "nada de concreto", mesmo no que tinha a ver com a pauta ideológica, o que pode ter barrado mudanças significativas em programas consolidados, considera Corrêa.

"O governo é tão incompetente que não conseguiu mexer nem nas políticas que queria mexer. No Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o presidente estava preocupado com algumas poucas questões que falavam de fato histórico do qual ele discorda e há denúncias de que houve censura em alguns itens, mas isso não afetou a qualidade do exame", comenta.

'Tentando agradar eleitores de Bolsonaro, ministros se guiaram pela pauta ideológica, avalia Gabriel Corrêa, do Todos pela Educação'

Dança das cadeiras

As constantes trocas de ministros — quatro ocuparam o cargo desde 2019 (Ricardo Vélez Rodríguez, Abraham Weintraub, Milton Ribeiro e Victor Godoy) e um só não tomou posse porque mentiu no currículo (Carlos Decotelli) — e secretários no MEC tiveram como resultado uma gestão fragmentada. "Não tem visão e continuidade", observa Corrêa.

Professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB), Remi Castioni concorda que "o MEC se perdeu em algumas agendas" e, em meio a constantes trocas, não tinha a estabilidade necessária para lidar com os desafios da área. Ele considera que houve certa melhora mais recentemente, após a saída de Abraham Weintraub, quando acredita que "houve diminuição da agenda de costumes” na educação.

"Embora o ministro que assumiu, o Milton Ribeiro, tenha sido pego em conversas nada republicanas envolvendo tráfico de influências na destinação de emendas parlamentares, um conjunto de técnicos assumiu funções nas secretarias de educação básica e ensino superior", comenta o economista e pesquisador de políticas públicas e gestão da educação, fazendo referência ao escândalo que ficou conhecido como "farra dos pastores".

Maiores avanços foram desconectados do MEC

De acordo com Corrêa, com implementações positivas isoladas, a omissão e a má gestão do MEC deixaram uma lacuna na área, o que forçou a atuação mais firme de outras entidades, "na tentativa de suprir essa falta de coordenação e evitar ainda mais retrocessos".

Ele e Castioni citam, entre as instituições que tiveram atuação de destaque no período, o Congresso Nacional, o Conselho Nacional de Educação (CNE), o Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), movimentos sindicais, além de organizações da sociedade civil e do terceiro setor, como o próprio Todos pela Educação.

'Segundo especialistas, MEC foi omisso ao coordenar a educação, algo mais grave durante a pandemia, o que motivou atuação mais forte de outras entidades'

Castioni e Corrêa enxergam o novo Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) como um dos principais avanços da educação nacional dos últimos tempos. E o protagonismo inédito do Congresso brasileiro, com a Frente Parlamentar Mista da Educação, foi fundamental para, a contragosto do governo federal, regular o fundo, com a Lei nº 14.113/2020, que o tornou permanente.

Castioni observa que o CNE também teve protagonismo como nunca antes "ao liderar um processo de retomada das escolas, uma vez que o próprio MEC se omitiu".

Nos últimos anos, o CNE também aprovou normas importantes, a exemplo das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica (resolução nº 2/2019) e a Matriz Nacional Comum de Competências do Diretor Escolar (que ainda precisa ser homologada pelo MEC).

Ensino superior de lado

Castioni enxerga mais progressos e articulações na educação básica do que na superior. A primeira passará a ter mais recursos por meio do novo Fundeb, mas não existe equivalente para a segunda, que, além de ter tido cortes orçamentários, vê-se limitada pela Emenda Constitucional (EC) nº 95/2016, do teto de gastos.

A presidente da UNE aponta como maiores falhas da gestão Bolsonaro no âmbito das universidades federais "o corte de mais de R$ 400 milhões de verbas discricionárias" e "colocar em xeque a democracia e a autonomia universitária", ao nomear cerca de 20 reitores que não venceram as eleições internas nas instituições.

"E isso tudo está interligado com o viés ideológico do governo, que já começou dizendo que na universidade só tinha balbúrdia, e o próprio Bolsonaro desrespeitando o movimento estudantil, dizendo que os CAs [Centros Acadêmicos] eram 'ninho de rato'", relembra.

'Orçamento da educação básica ganha reforços com o novo Fundeb, enquanto verbas para universidades federais continuam problemáticas'

Brelaz e Castioni salientam que os cortes orçamentários também impactam as bolsas-permanência para alunos de baixa renda, fundamentais para garantir a permanência deles no ensino superior público.

Brelaz critica também ações implementadas no Programa Universidade para Todos (Prouni) e no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) sem diálogo com o movimento estudantil. No primeiro, ela condena a inclusão de estudantes da rede particular sem bolsa por "afastar o aluno de escola pública para colocar na fila outros que teriam mais condições de pagar".

No Fies, a possibilidade de renegociação de dívidas aberta para cerca de 1 milhão de inadimplentes seria um avanço parcial. "Não houve perdão, mas renegociação. Queríamos que esses estudantes fossem perdoados", diz a presidente da UNE.

Desafios para o próximo governo

Independentemente do resultado das eleições, quem assumir a pasta da Educação em 2023 enfrentará vários desafios. O governo atual deixa o MEC e suas autarquias enfraquecidos.

A melhoria da aprendizagem é outro obstáculo. Brelaz defende que a próxima gestão priorize, como projeto de curto prazo, um plano para recuperação emergencial da educação por causa da pandemia.

"Temos acompanhado o preocupante aumento da evasão dos estudantes do ensino fundamental, principalmente nos anos finais, e médio", constata.

Castioni indica que há "um conjunto de definições muito importantes e que precisam ser implementadas" no próximo governo. Entre elas, ele cita a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o Novo Ensino Médio — aplicado em 26 unidades da Federação e a ser implementado na Bahia em 2023 — e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica.

Contatado pela DW Brasil, o MEC não se manifestou até o fechamento desta reportagem.

Relembre quem foram os ministros da Educação sob Bolsonaro

    Ricardo Vélez Rodríguez, de janeiro a abril de 2019. Movido por interesses ideológicos, queria patrulhar o conteúdo do Enem e mudar a forma como a ditadura era ensinada.

    Abraham Weintraub, de abril de 2019 a junho de 2020. Seguidor de Olavo de Carvalho, criava conflitos com diversos setores, fazia discursos contra universidades, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF), e acabou sendo alvo de inquérito do STF.

    Carlos Decotelli, junho de 2020. Nem chegou a tomar posse depois de ter sido pego mentindo no currículo sobre formação e atuação em faculdades do Brasil, da Argentina e da Alemanha.

    Milton Ribeiro, de junho de 2020 a março de 2022. Pastor presbiteriano que foi pego dando preferência no repasse de recursos para prefeitos que negociassem com pastores da Assembleia de Deus. Chegou a ser preso pela PF e responderá por corrupção.

    Victor Godoy, desde abril de 2022. Era o nº 2 durante a gestão de Milton Ribeiro e assumiu para substituí-lo. 

Deutsche Welle

Talibã celebra um ano da retirada das tropas dos EUA




Regime que governa o Afeganistão comemorou o que chama de "Dia da Liberdade" com um desfile de veículos militares estrangeiros capturados.

O Talibã comemorou nesta quarta-feira (31/08) o primeiro aniversário da retirada do Afeganistão das tropas lideradas pelos Estados Unidos. Os governantes de fato do Afeganistão comemoraram a tomada de Cabul com cânticos de vitória e um desfile que exibiu equipamentos deixados para trás pelas forças internacionais. Os meios de comunicação estrangeiros não tiveram acesso ao evento.

Pelo Twitter, um porta-voz do regime talibã desejou aos afegãos um feliz "Dia da Liberdade". Em um comunicado separado, o governo disse que o dia marcou "a liberdade do país da ocupação americana".

"Tantos mujahideen [combatentes] foram feridos [ao longo dos anos], tantas crianças ficaram órfãs e tantas mulheres ficaram viúvas", escreveu.

Grupos de combatentes do Talibã marcharam, enquanto helicópteros sobrevoavam o local, mostrou a televisão estatal.

Veículos militares apreendidos na guerra ou deixados para trás durante a retirada das tropas estrangeiras em 2021 foram exibidos como parte das comemorações. Na noite de terça-feira, houve queima de fogos de artifício em Cabul.

Faixas comemorando as vitórias contra os EUA, a União Soviética e o Reino Unido também foram estendidas na capital afegã. As tropas soviéticas deixaram o Afeganistão em 1989 após um conflito de nove anos, enquanto o Império Britânico travou três guerras no Afeganistão nos séculos 19 e 20.

'Combatentes do Talibã desfilaram em Cabul como parte das comemorações'

Talibã reitera exigências

No dia do aniversário da retirada das últimas forças lideradas pelos EUA, o governo talibã reiterou suas exigências para ser reconhecido internacionalmente como o governo legítimo do Afeganistão.

"A experiência dos últimos 20 anos pode ser um bom guia. Qualquer tipo de pressão e ameaças sobre o povo do Afeganistão nos últimos 20 anos falhou e aumentou a crise", disse o Talibã em comunicado.

O regime afirmou na declaração que o Emirado Islâmico do Afeganistão, nome oficial do estado administrado pelo Talibã, é o "governo legítimo do país e o representante da corajosa nação afegã".

O Talibã pediu à comunidade internacional que permita um governo islâmico independente no Afeganistão, que tenha "interação positiva com o mundo".

A comunidade internacional pressiona para que o Talibã respeite os direitos humanos, sobretudo das mulheres. No ano passado, quando tomaram novamente o poder, os islamistas prometeram uma versão mais branda do regime linha-dura que caracterizou seu primeiro comando do Afeganistão, de 1996 a 2001.

Mas a promessa dos talibãs não foi cumprida, principalmente no que diz respeito aos direitos das mulheres. Muitas restrições de liberdade às afegãs foram reimpostas pelo grupo. O Talibã fechou escolas secundárias para meninas, impediu mulheres de exercerem vários cargos e obrigou jornalistas e apresentadoras de telejornais a cobrirem os rostos, por exemplo.

A partida das forças dos EUA em 31 de agosto de 2021 marcou o fim da guerra mais longa de Washington. Cerca de 66 mil soldados afegãos e 48 mil civis foram mortos durante o conflito de duas décadas, bem como mais de 2,4 mil soldados americanos.

Deutsche Welle

Um homem como nenhum outro: Gorbachev desmontou um império.




Comunista convicto que queria melhorar o sistema, o líder soviético protagonizou o milagre do desmanche do comunismo com violência mínima. 

Por Vilma Gryzinski

Como acabaria o mundo da história contrafactual? O mundo em que Mikhail Gorbachev não se tornaria o chefe da cinzenta e enferrujada liderança soviética? Sem o homem que começou tentando reformar um sistema que mandava foguetes para o espaço mas não conseguia produzir televisões que não explodissem na cara de cidadãos do maior império da Terra?

Ninguém pode responder – e o estado de alerta em que Vladimir Putin colocou o planeta ao liberar ameaças constantes de guerra nuclear não nos deixa exatamente num lugar tranquilo.

Mas não podemos esquecer do prodígio que foi o fim quase que totalmente pacífico de um mundo que terminou quando Gorbachev pediu uma caneta emprestada – a sua não funcionava – e assinou a dissolução da União Soviética, a utopia distópica criada por Vladimir Lênin que não chegou aos 70 anos.

A noite de 25 de dezembro de 1991 foi melancólica em Moscou, ao contrário da euforia quase incrédula que cercou a autolibertação do colar de satélites soviéticos no incrível ano de 1989.

Em 9 de novembro daquele ano, Gorbachev tinha ido dormir com o Muro de Berlim em pé. Acordou com a monstruosidade, símbolo de tudo o que havia de errado com o comunismo, derrubada. O destino já havia sido selado quando o homem com a mancha vermelha na testa, um hemangioma comparado à “marca da Besta”, ouviu um grito se erguer entre as pessoas que haviam ido ver como seria o encontro do propagador da glasnost com o mais ortodoxo dos líderes comunistas, o alemão Erich Honecker.

“Gorbi, Gorbi, hilf uns”.

“Ajude a gente”.

A União Soviética tinha 338 mil militares na Alemanha Oriental. O Exército Vermelho tinha sido treinado para chegar em “uma semana” a Berlim se houvesse uma guerra. Os mísseis nucleares soviéticos apontavam para todos os adversários, próximos ou distantes, táticos ou estratégicos.

Foi por causa de Gorbachev que nenhuma dessas forças foi usada, com resultados inevitavelmente tétricos, ao decidir que a Hungria de 1956 e a Checoslováquia de 1969 não se repetiriam. Ele estava fora do negócio de manter países vassalos à força e conseguiu manter na linha todo o imenso aparato de segurança que sustentava o totalitarismo.

Houve uma tentativa de golpe em agosto de 1991, quando Gorbachev passava férias na Crimeia, mas um certo Boris Ieltsin arrebatou uma pequena multidão ao subir num tanque em frente ao Parlamento e a reação fracassou.

Gorbachev ganhou o Prêmio Nobel da Paz e, durante alguns anos, correu o risco de cair no descrédito. Foi morar na Alemanha, para tratar a mulher Raisa, fez publicidade para a Louis Vuitton e enlaçou Sharon Stone numa festa em Londres.

Ao contrário dos ex-vassalos, que conseguiram fazer com sofrimento mínimo a transição do comunismo para regimes democráticos com economias abertas, os russos penaram. O mundo que Gorbachev havia desmanchado foi substituído por um vale-tudo em que os muito espertos faziam negócios espetaculares e o resto da população via trabalho, serviços públicos, aposentadorias e orgulho nacional arrastados na lama.

Gorbachev se tornou uma figura detestada pela maioria dos russos. A democracia ao estilo ocidental não prosperou e Vladimir Putin, que havia passado a noite da queda do Muro queimando documentos na estação da KGB em Dresden, iniciou uma carreira política que o levou ao delírio imperial de hoje.

Gorbachev ficou firmemente ao lado dele. “Estou absolutamente convencido de que Putin defende atualmente os interesses da Rússia melhor do que ninguém”, disse em visita à Alemanha depois da anexação da Crimeia.

Em retribuição, Putin deverá homenageá-lo, relevando a famosa definição sobre o fim da União Soviética como “a maior catástrofe geoestratégica do século XX”.

Para quem prefere a liberdade e a democracia, com todos seus tantos defeitos, foi o maior milagre de um século em que os russos talvez tenham sofrido mais do que todos os outros povos, incluindo os que oprimiram.

Revista Veja

'Blob': a extraordinária criatura que nos obriga a questionar se somos a espécie mais inteligente




Uma criatura amarela que mora na floresta e não tem cérebro, mas é capaz de pensar

Por Becky Ripley e Emily Knight

Que tal começarmos com um teste rápido.

Você está perdido em uma enorme loja que parece um labirinto e não sabe como sair dela. A quem você pede ajuda?

Pergunta 2: Você está redigindo um documento de política para assessorar o governo dos Estados Unidos sobre como governar suas fronteiras nacionais. Onde você procura conselhos?

Última pergunta: Você precisa desenhar um mapa da teia cósmica, como você faz isso?

Existem, é claro, várias respostas para essas perguntas, mas em todos os casos você poderia ser inspirado por um organismo: o bolor limoso, que também pode ser conhecido por muitos nomes diferentes.

Sendo cientificamente preciso ele não é exatamente um bolor...

"O bolor é uma divisão do mundo dos fungos, mas o bolor limoso é na verdade um protista (não é um animal, planta ou fungo) - é essencialmente uma célula gigante", diz o biólogo Merlin Sheldrake, autor do livro Entangled Life, que aborda o tema.

O bolor limoso é um plasmódio, ou seja, uma célula que contém muitos núcleos. Então, ao contrário da maioria dos organismos unicelulares, você não precisa de um microscópio para vê-lo.

E essa única célula é capaz de tecer vastas redes exploratórias feitas de tentáculos semelhantes a veias que podem se estender até um metro.

A estrela entre todos

Existem cerca de 900 espécies de bolor limoso, mas vamos nos concentrar no Physarum Polycephalum, que literalmente quer dizer "bolor de várias cabeças". Ele também é conhecido como "blob" (referindo-se ao clássico filme de 1958 The Blob).

'Clássico filme The Blob serviu de inspiração para nomear popularmente o bolor limoso'

Por que os cientistas do mundo estão tão empolgados com essa espécie em particular?

"Ele se tornou um organismo emblemático de resolução de problemas. É fácil de cultivar e cresce rápido, o que é uma das razões pelas quais tem sido tão bem estudado", explica Sheldrake.

"Mas acima de tudo, seus comportamentos são extraordinários."

Ele pode fazer todos os tipos de coisas.

"Explorar, resolver problemas, adaptar-se a novas situações, tomar decisões entre cursos alternativos de ação - e tudo sem cérebro!"

Como ele faz isso?

"O Physarum é sensível ao gradiente químico, então pode crescer em direção a sinais químicos ou ficar longe dos pouco atraentes".

"Primeiro, ele tende a crescer em todas as direções ao mesmo tempo. E então, quando encontra comida, ele se retrai e forma as conexões entre suas fontes de alimento."

É um pouco como se você estivesse no deserto e precisasse procurar água. Você tem que escolher apenas uma direção para caminhar.

O Physarum Polycephalum pode "andar" em todas as direções ao mesmo tempo até encontrar alimentos; depois encolhe os ramos que não encontraram nada e fortalece os que encontraram, através de uma série de contrações químicas.

'Em um experimento memorável, "blob" aprendeu a "ignorar" os químicos colocados para bloquear seu caminho para a comida. Esse comportamento sugere uma forma primitiva de memória, e ninguém sabe como ela realiza essa façanha'

"Nunca deixa de me surpreender que eles possam usar essas contrações para fazer esse tipo de cálculo analógico, para integrar informações sem precisar de um cérebro. Que sua coordenação ocorra em todos os lugares ao mesmo tempo e em nenhum lugar em particular."

Uma rede ferroviária no Japão

Tudo isso significa que o "blob" é capaz, em termos humanos, de resolver problemas, fazer redes, navegar em sistemas e labirintos com uma eficiência incrível.

Há um estudo japonês icônico de 2010, quando o Physarum traçou a rede ferroviária da Grande Tóquio, e para isso precisou somente de uma pequena placa de Petri e um punhado de aveia.

Segundo os estudos, o Physarum adora aveia, é a sua comida preferida.

"Então, eles modelaram a área da Grande Tóquio colocando copos de aveia nos centros urbanos e depois o lançaram. Ao longo de algumas horas, havia formado uma rede eficiente que conectava os copos de aveia, e essa rede parecia muito com a rede de metrô existente na área da Grande Tóquio", detalha o estudo.

O Physarum havia estabelecido, em questão de horas, uma rede eficaz que levou décadas para ser feita na vida real.

O "blob" no universo

Após o estudo de Tóquio, experimentos com Physarum Polycephalum decolaram em todo o mundo, para projetar novas redes de transporte urbano ou encontrar rotas eficazes de evacuação de incêndio, até mesmo mapear a teia cósmica... o que parece estranho, mas ocorreu.

Uma equipe de cientistas fez uma simulação digital traçando as localizações das 37.000 galáxias conhecidas.

Então, um algoritmo inspirado no "blob", adaptado da placa de Petri para trabalhar em três dimensões, foi liberado em um banquete virtual onde as galáxias estavam representadas por pilhas de copos de aveia digital, por assim dizer.

A partir daí, o algoritmo produziu um mapa digital em 3D da teia cósmica subjacente, visualizando os fios em grande parte invisíveis de matéria que os astrofísicos acreditam que unem as galáxias do universo.

Eles compararam com dados do Telescópio Espacial Hubble, que detecta traços da teia cósmica, e descobriram que tudo combinava em grande parte.

Portanto, parece haver uma estranha semelhança entre as duas redes, a rede de "blob" formada pela evolução biológica e as de estruturas no cosmos criadas pela força primordial da gravidade.

'Os astronômos apelaram à criatividade ao tentar rastrear a indescrítivel teia cósmica, a coluna vertebral do cosmos'.

Os "blobs" acadêmicos

Vamos voltar para a dura realidade daquele pequeno ponto azul no espaço que é o nosso mundo.

O Physarum também pode nos ajudar com problemas que vão além do mapeamento e da criação de redes, como para coisas humanas mais complexas, como formulação de políticas e governança.

"De certa forma, os Physarum são economistas, em termos de alcançar um ótimo universo", diz o filósofo experimental Jonathon Keats.

Em 2018, ele foi ao Hampshire College, em Massachusetts, EUA, com uma ideia.

"Propus que os "blobs" fossem nomeados como professores visitantes, com a ideia de ter um grupo desses especialistas no campus para refletir sobre alguns dos problemas mais desafiadores do mundo."

Foi o primeiro programa acadêmico do mundo para uma espécie não humana e foi chamado de Consórcio Plasmodium.

Os polycephalies de Physarum se tornaram estudiosos, com direito a escritório.

"Não tem janelas, mas os "blobs" não gostam muito de luz, então do ponto de vista deles foi bom, e logo que eles se instalaram lá, pudemos começar."

Eles modelaram os problemas humanos de maneira que os blobs pudessem "entendê-los" para obter sua perspectiva imparcial.

"Os Physarum são superorganismos: eles são um apesar de serem muitos. Portanto, eles são mais objetivos do que nós quando se trata de assuntos humanos."

Eles começaram com as questões usuais de rede e mapeamento, distribuição e transporte, antes de passar para algumas preocupações políticas maiores, "desde políticas de drogas até questões de nosso uso de recursos", observa Keats.

O muro de Trump

Talvez os experimentos mais polêmicos tenham sido aqueles que exploraram a política de fronteira internacional.

"Criamos um mundo simplificado, que é realmente o que qualquer um faz quando está criando qualquer tipo de modelo (os economistas fazem isso o tempo todo)."

"O que fizemos foi pegar uma das condições mais fundamentais: um lugar tem alguma coisa, outro lugar tem outra coisa, e cada lugar quer proteger o que tem contra o outro."

Eles usaram dois recursos essenciais para os "blobs", proteína e açúcar, e os espalharam em uma placa de Petri, cada um em um lado oposto, e tentaram com uma parede entre eles e também sem ela, deixando Physarum descobrir o que fazer com esses recursos.

"Eles não apenas sobreviveram, mas prosperaram no caso de não haver muro e floresceram mais na área de fronteira", explica o pesquisador.

"Então escrevemos uma carta para Kirstjen Nielsen, que era a Secretária de Segurança Nacional nos EUA na época, e também enviamos para as Nações Unidas e muitos outros órgãos governamentais, dizendo a eles que as fronteiras não são uma boa ideia e que devemos superar o medo para reconhecer como ter fronteiras abertas beneficia a todos."

Absurdo?

É claro que esses problemas internacionais multifacetados não podem ser reduzidos a algumas poucas placas de Petri.

Mas o ponto é que esses experimentos são deliberadamente exagerados para nos desafiar a pensar de novas maneiras.

"O consórcio Plasmodium é, em certo sentido, absurdo. As pessoas riem quando ouvem que os "blobs" montaram um grupo de especialistas em colaboração com humanos em uma universidade nos Estados Unidos porque simplesmente não é assim que as coisas são feitas."

Mas acho que também há algo muito sério por trás disso. O Physarum têm uma inteligência excepcional, então precisamos incorporar algumas das ideias que obtemos ao observar como eles se comportam, pensando em nós mesmos de maneiras que não tínhamos feito antes", declara o pesquisador.

Esse é o aspecto mais atraente de tudo isso. Que um organismo sem cérebro pode nos ensinar a ser mais objetivos, a pensar mais a longo prazo, e que pode abordar um problema de uma maneira que simplesmente não pensaríamos.

E no caso de alguns enigmas, como mapear o cosmos, pode ser mais rápido do que a gente.

Tudo isso põe em dúvida nossas definições humanas de inteligência.

'Do fundo de nossas hierarquias, Physarum é considerado um desafio que tem sido cada vez mais estudado'

"Nossa visão hierárquica da inteligência com humanos no topo da Grande Pirâmide revela o narcisismo de nossa espécie", afirma Sheldrake.

"Pensar sobre o mundo sem usar a nós mesmos como o padrão pelo qual todos os outros seres vivos devem ser julgados pode ajudar a amortecer algumas das hierarquias que sustentam o pensamento moderno", completa.

Essas hierarquias significam que nós, Homo sapiens, temos uma opinião incrivelmente alta de nós mesmos, e isso tem nos ajudado a chegar longe.

Mas talvez isso já tenha cumprido o seu propósito.

"Acho que nós, humanos, temos a necessidade de acreditar em um tipo de superioridade. Essa alta autoestima tem sido o motor da dominação. Temos sido capazes de fazer mais e isso é um resultado de acreditar que podemos mais", aponta Keats. .

"Mas estamos chegando a um limite, ao ponto em que essa forma de pensar está piorando o mundo para nós e para outras espécies. Então é hora de repensar."

E um catalisador para esse repensar é o Physarum Polycephalum, um protista de uma única célula sem cérebro que fica na parte inferior dessa hierarquia, de onde pode abalar todo o sistema.

BBC Brasil

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