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sábado, julho 02, 2022

Vacina contra a gripe pode reduzir em 40% o risco de desenvolver Alzheimer




Em estudo com dois milhões de pacientes com 65 anos ou mais, houve uma redução de risco de desenvolvimento do mal de Alzheimer nos que se vacinam anualmente contra a gripe. Excelente notícia.

Por Eli Vieira

As pessoas que receberam pelo menos uma dose da vacina contra a gripe têm 40% menos chance de desenvolver a doença de Alzheimer ao longo de quatro anos, segundo uma nova pesquisa.

O estudo, assinado por cientistas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Texas, em Houston, comparou o risco de incidência da doença entre pessoas com e sem vacinação prévia contra o vírus influenza em quase dois milhões de pessoas com 65 anos ou mais. Além da boa amostra, o estudo também tem um bom intervalo, compreendendo uma década, entre 2009 e 2019.

A vacinação contra a gripe em adultos mais velhos "reduz o risco" de desenvolver Alzheimer ao longo de vários anos, e esse possível efeito protetor aumenta com o número de anos que uma pessoa recebeu uma vacina anual, disse um dos signatários do estudo, Avram Bukhbinder, em comunicado.

Os pesquisadores consideraram que pesquisas futuras devem avaliar se esta vacina também está associada à taxa de progressão dos sintomas em pacientes que já apresentam demência de Alzheimer.

Estudos anteriores já tinham encontrado uma diminuição do risco de demência associada à exposição prévia a várias vacinas na idade adulta, incluindo tétano, poliomielite e herpes, além da gripe e outras vacinas.

O estudo, publicado na revista científica Journal of Alzheimer's Disease, analisou dois grupos pareados, cada um formado por 935.887 pessoas, um vacinado contra a gripe e outro não.

Os participantes foram acompanhados por quatro anos e nas consultas de acompanhamento verificou-se que cerca de 5,1% dos pacientes vacinados contra a gripe desenvolveram a doença de Alzheimer, em comparação com 8,5% dos não vacinados.

Esses resultados, segundo a equipe, "destacam o forte efeito protetor da vacina contra a gripe também contra a doença de Alzheimer. No entanto, os mecanismos subjacentes a este processo requerem um estudo mais aprofundado".

O líder do estudo, Paul Schulz, afirmou que "uma vez que há evidências de que várias vacinas podem proteger contra a doença de Alzheimer, pensamos que este não é um efeito específico da vacina contra a gripe".

O sistema imunológico é complexo, e alguns distúrbios, como a pneumonia, podem ativá-lo de forma a piorar a doença de Alzheimer, mas outros podem fazê-lo de forma diferente, e um deles protege contra essa doença, acrescentou.

"Claramente", disse ele, "precisamos aprender mais sobre como o sistema imunológico piora ou melhora os resultados desta doença". Diferentes estudos já fizeram associação de menor risco do Alzheimer a vários hábitos, como tomar café e exercer atividades intelectuais. É importante notar que esses estudos, inclusive o de Schulz, apontam coisas que ocorrem juntas, sem se comprometer com a relação causal entre elas. O hábito de tomar vacinas de um idoso pode estar correlacionado a outras características que seriam as verdadeiras causas do efeito protetivo.

Além disso, à medida que mais tempo passa desde a introdução da vacina contra a Covid-19 e que mais dados de acompanhamento se tornam disponíveis, Bukhbinder afirmou que valerá a pena investigar se existe uma associação semelhante entre ela e o risco de enfermidade de Alzheimer. Importante notar que, das vacinas produzidas e utilizadas em larga escala contra a Covid, somente a Coronavac usa a tecnologia tradicional que também é usada nas vacinas anuais contra gripe.

O que exatamente causa o Alzheimer ainda é um mistério, tanto quanto os mecanismos de causa e consequência em hábitos e tratamentos que podem baixar o risco de desenvolvê-lo. Uma hipótese em consideração é que as pessoas que desenvolvem esse tipo de demência, que afeta a memória, têm um mal funcionamento de uma proteína do cérebro conhecida como beta amiloide.

Gazeta do Povo (PR)

Bolsonaro é premiado por sua incompetência

 




Por Vera Magalhães (esq.)

Quando historiadores forem analisar o governo Jair Bolsonaro, um dos fatores sobre o qual terão de se debruçar é o fato de como a incompetência extrema do presidente e de seus auxiliares é constantemente premiada com colheres de chá que acabam por premiar a falta de planejamento.

A aprovação de afogadilho de um enorme cheque em branco eleitoral para o presidente distribuir grana viva às vésperas da eleição, ao arrepio flagrante da Constituição, da lei eleitoral, da Lei de Responsabilidade Fiscal e do teto de gastos é só a mais recente dessas incompreensíveis ajudas que Bolsonaro, mesmo deixando claras suas piores intenções, consegue receber de todos, inclusive da oposição.

Foi assim com a PEC que promoveu a pedalada descarada nos precatórios, que nada mais são que dívidas transitadas em julgado; com a mais recente emenda que promoveu uma tunga no ICMS de Estados e municípios apenas para conter o faniquito do presidente para baixar o preço dos combustíveis de forma terceirizada, e que, como previsto não foi efetiva; com as sucessivas e inimagináveis intervenções na direção da Petrobras, que acontecem sem que ninguém tente impedir, entre outros episódios recentes e mais remotos.

Agora o Senado acaba de dar lastro ao desespero eleitoral de Bolsonaro, fornecendo a ele uma vantagem econômica absurda em relação aos adversários. Como cria uma narrativa chantagista de que se trata de combater a fome, a insegurança alimentar e a perda de renda provocada com a inflação — como se todos esses flagelos reais não fossem obra continuada justamente da inoperância do governo e de sua capacidade de planejar medidas de longo prazo — o governo consegue fazer com que  um rombo de R$ 40 bilhões para promover benesses eleitoreiras seja aprovado praticamente por unanimidade, com beneplácito inclusive do PT.

É uma condescendência inédita, que pode vir a se mostrar um erro político fatal. Qual a segurança que os partidos que se dizem opositores aos arbítrios de Bolsonaro têm de que incluir milhares de beneficiários de um auxílio turbinado artificialmente justamente no período eleitoral não vai resultar, sim, em crescimento das intenções de voto no presidente?

A curva da popularidade de Bolsonaro enquanto pessoas morriam diariamente na casa do milhar no auge da pandemia subiu, justamente porque o auxílio emergencial foi injetado na veia dos mais pobres.

Introduzir na disputa eleitoral tamanho instrumento de abuso de poder econômico é uma irresponsabilidade que o Legislativo comete, cooptado pela mensagem populista de que existe uma emergência hoje, como se a Guerra da Ucrânia não tivesse sido deflagrada há meses, como se a inflação não consumisse a renda dos brasileiros fortemente desde o ano passado, mais acentuadamente.

Bolsonaro nunca reconheceu de público o fato de que o Brasil voltou ao mapa da fome. Justamente porque isso é um atestado da falência de seu governo em promover o mínimo de equidade social.

Mas agora usa essa chaga para conseguir uma carta branca que, não fosse o grito da imprensa e de uns poucos expoentes mais corajosos de uma oposição anestesiada, teria sido ainda mais escancarada, abrindo brecha, inclusive, para medidas de exceção para além das econômicas.

O PT e os demais partidos de oposição, não é a primeira vez que assinalam, parecem dar Bolsonaro como cachorro morto. Alguém que se lança de forma tão despudorada em um vale-tudo eleitoral não pode ser desconsiderado. Ele não está, sequer, disposto a reconhecer a derrota caso ela seja confirmada nas urnas. Isso mostra o que está resoluto a perpetrar até lá. Sempre com um empurrãozinho de quem deveria justamente pará-lo.

O Globo

Tensão pré-eleitoral




Com ex-ministro preso e presidente da CEF atacando moças, Bolsonaro prepara planos B e C

Por Eliane Cantanhêde (foto)

O presidente Jair Bolsonaro está no seu inferno astral, ou com tensão pré-eleitoral, empilhando notícias negativas, uma em cima da outra, o tempo todo. É aquela história: o candidato à reeleição tem vitrine, caneta, verbas, cargos e puxa-sacos, mas também é vidraça. Tem de responder pelo que acontece.

Não bastassem inflação, gasolina, diesel, gás e 33 milhões de famintos, temos o assassinato de Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira jogando luzes na implicância de Bolsonaro com indígenas e o ex-ministro Milton Ribeiro preso pela PF. Além de revelar que o presidente pôs os dois pastores vigaristas no MEC e lhe passou informação privilegiada sobre a busca e apreensão.

Agora vêm os relatos de mulheres sobre ataques, mãos bobas e convites indecorosos do ex-presidente da Caixa Econômica Federal Pedro Guimarães, bolsonarista roxo e arroz de festa nas tais lives de quintafeira e em viagens dentro e fora do País. Se Bolsonaro já faz piadas sexistas e grosseiras com o presidente de Portugal, imagine-se com o machão amigo.

O governo sabia que Pedro Guimarães tivera problemas num banco privado por assediar as moças e que, já em 2019, ele pulou numa funcionária em plena garagem da CEF. A preocupação do Planalto não foi com o fato, foi saber se havia algum vídeo ou testemunha. Fazer pode, mas sem deixar rastros...

Aliás, a deputada bolsonarista Carla Zambelli – uma mulher – repete o mantra de que “não há provas”, “é só cortina de fumaça”, assumindo a versão do próprio Guimarães na carta de demissão, em que ele se diz alvo de “perversidades”, “situação cruel” e “rancor contra o governo”. Coitadinho.

Como nos casos de Abdelmassih e de João de Deus, a lista de vítimas de Guimarães tende a aumentar depois de a primeira quebrar o silêncio. E Bolsonaro vai mal no eleitorado feminino, quis Michelle Bolsonaro na campanha, é pressionado para pôr a ministra Tereza Cristina como vice e nomeou Daniella Marques na CEF. Nada, porém, apaga o assédio cafajeste de Guimarães a funcionárias da Caixa e a condenação de Bolsonaro por machismo contra a jornalista Patrícia Campos Mello.

Por essas e outras, governistas criam o pacotaço da reeleição: cheque em branco de R$ 40 bilhões para Bolsonaro comprar votos, contrariando a lei eleitoral e explodindo de vez o teto de gastos. Se não resolver, o plano C já está pronto, “just in case”. Ao repórter Felipe Frazão, o 01, senador Flávio Bolsonaro, disse que é “impossível” conter um levante de bolsonaristas se o pai perder: “Como a gente tem controle sobre isso?”, indaga. Mais do que lavar as mãos, soa como autorização. 

O Estado de São Paulo

A conivência de Bolsonaro - Editorial




Acumulam-se escândalos no primeiro escalão do governo. Em nenhum deles, Bolsonaro defendeu o cumprimento da lei, facilitou a transparência ou colaborou com a Justiça

Os casos de suspeitas de crimes envolvendo o primeiro escalão do governo de Jair Bolsonaro apresentam uma grande – e preocupante – similaridade. Em todos, não foram os órgãos de controle da administração federal que trouxeram o problema à tona. Em todos, o presidente da República, sempre tão radical no discurso contra o crime, amenizou, em detrimento da defesa da lei, a conduta dos amigos. Em todos, descobriu-se que o governo sabia previamente da existência de indícios, mas optou por não agir. E sempre, entre os envolvidos nos diversos escândalos, havia gente muito próxima ao presidente da República.

O caso mais recente é escandaloso. Acusado por diversas funcionárias da Caixa Econômica Federal de todo tipo de assédio sexual, Pedro Guimarães era uma das pessoas mais vistas ao lado do presidente da República. Participou de várias lives de Bolsonaro. Acompanhou o presidente em diversas viagens. Era parte do núcleo íntimo presidencial. As suspeitas precisam ser investigadas, mas desde já dois fatos são significativos: (i) ninguém que acompanha o dia a dia do poder em Brasília ficou surpreso com as denúncias; e (ii) a Caixa já tinha conhecimento de suspeitas de crime. Conforme o próprio banco informou, o canal interno de denúncias da Caixa havia recebido relatos de assédio por parte de Pedro Guimarães.

No entanto, apesar de tudo isso, o caso tornou-se inaceitável para o governo Bolsonaro apenas quando foi revelado pela imprensa. Até então, era um não problema, com Pedro Guimarães desfrutando de toda a confiança de Bolsonaro, sendo inclusive um dos cotados para ser o vice na chapa de Bolsonaro à reeleição. Diante disso, e do silêncio de Bolsonaro, incapaz de condenar toda forma de assédio sexual e de afastar o amigão Pedro Guimarães, é lícito supor que o indigitado não teria perdido o emprego se não estivéssemos em ano eleitoral.

Esse caso, que por si só já é altamente constrangedor, não é o único em que Jair Bolsonaro adotou uma atitude de conivência com as suspeitas de crime. No ano passado, o presidente da República teve seu então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, investigado por corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e facilitação de contrabando, em razão de suspeitas de facilitação de exportação ilegal de madeira para os Estados Unidos e a Europa. Em nenhum momento, Bolsonaro defendeu o cumprimento da lei ambiental brasileira. Limitou-se apenas, quando a permanência de Ricardo Salles se tornou politicamente inviável, a aceitar o pedido de demissão.

Durante a CPI da Pandemia, várias suspeitas de mau uso de dinheiro público no Ministério da Saúde vieram à tona. Em vez de se colocar em defesa da lei, Bolsonaro sempre se pôs ao lado dos amigos. No caso relativo às negociações para a compra da vacina Covaxin, tal foi a passividade do presidente que um inquérito foi aberto para investigar possível crime de prevaricação. Depois, a investigação foi encerrada, mas não porque se concluiu que Bolsonaro atuou na defesa da lei, e sim porque a Procuradoria-Geral da República, sempre tão camarada com Bolsonaro, entendeu que o presidente da República não tinha o dever de agir naquela situação.

No caso do Ministério da Educação, o comportamento foi o mesmo. Diante das graves suspeitas reveladas pela imprensa, em vez de assegurar condições para uma investigação isenta, Bolsonaro disse que colocava “a cara no fogo” pelo então ministro da Educação. Depois, quando a operação da Polícia Federal foi deflagrada, alegou que tinha exagerado na defesa do pastor. Mas ainda teve o descaramento de dizer que tráfico de influência, crime previsto no Código Penal pelo qual Milton Ribeiro é investigado, era algo comum, sem maior importância.

Em todos os casos, Bolsonaro teve a mesma reação. Em nenhum deles defendeu o cumprimento da lei, facilitou a transparência ou colaborou com a Justiça. Sua resposta foi sempre negar os indícios, desqualificar o trabalho de quem não se subordina a seus interesses e desviar o tema com outras pautas. Vale lembrar que, até hoje, o presidente da República não esclareceu os 21 cheques de Fabrício Queiroz na conta de sua mulher.

Não se combate a corrupção, ou qualquer outro crime, dessa forma. Agir assim é preparar o terreno para novos escândalos.

O Estado de São Paulo

Boné sem cabeça




A conversão de Alckmin é uma forma de demência ainda não examinada por cientistas. 

Por Augusto Nunes 

Alguém sabe de algum torcedor famoso do Vasco que, aos 70 anos, virou dirigente do Flamengo? Ou de alguém que fez algo parecido com o Palmeiras e o Corinthians, ou que trocou o Grêmio pelo Inter? Claro que não: uma coisa dessas só acontece com cérebros em pane, e é tão desonrosa quanto a capitulação sem luta. A mesma regra vale para o mundo político brasileiro, sobretudo depois que Lula dividiu o país em “nós” e “eles”. Em São Paulo, por exemplo, a aguda polarização entre petistas e antipetistas proíbe que um grão-tucano quase septuagenário abandone o ninho para adorar a estrela vermelha — ou que ocorra o contrário. Transformar-se em adorador do inimigo que abominou a vida inteira configura uma forma de demência ainda não catalogada por cientistas. É o que vem demonstrando a bizarra metamorfose de Geraldo Alckmin.

Acordos eleitorais, não custa reiterar, existem desde a primeira disputa pelo poder travada por homens das cavernas. Mais: como aliados dispensam compromissos do gênero, essa espécie de acordo só faz sentido quando se destina a unir indivíduos ou grupos divergentes. Mas um acerto entre forças até então desavindas, como ensinou Tancredo Neves, tem de ser feito em torno de princípios — e, portanto, exige concessões recíprocas. A conversão do ex-governador já quase setentão à seita que tem em Lula seu único deus ignorou essas verdades irrevogáveis — além de mandar às favas a ética, a moral e os bons costumes. Foi uma genuflexão abjeta, uma vigarice de ruborizar o mais debochado negociante de votos.

Interessado em amainar a desconfiança de eleitores avessos a fantasias radicais, disposto a seduzir quem hostiliza a teimosa inclusão no programa de governo de seculares ideias de jerico, o ex-presidiário animou-se com a sugestão apresentada por Márcio França e Gabriel Chalita: completar a chapa com um candidato a vice-presidente sem quaisquer vestígios de esquerdismo no currículo. Católico praticante, Geraldo Alckmin consolidara a imagem de antipetista, democrata, liberal, moderado, amante da cautela e de entendimentos em voz baixa. E os tiroteios retóricos do passado? Na campanha presidencial de 2006, por exemplo, Alckmin acusou o adversário de “corrupto” e “chefe da roubalheira”. Lula revidou com palavras de igual calibre. Nada de mais, disseram em coro os dois pistoleiros. Eleição é assim mesmo.

Para provar que as ofensas haviam sido revogadas, o chefão do PT ofereceu ao paulista de Pindamonhangaba a vaga de vice e ordenou aos devotos que chamassem de “companheiro” o adversário que a seita apelidara de “Picolé de Chuchu”. Sete anos menos idoso que Lula, Alckmin contentou-se com a esperança biológica: da mesma forma que ganhou o cargo de governador com a morte de Mário Covas, em 2001, por que não sonhar com outra ajuda da mão do destino, agora em escala federal? O acordo foi fechado sem que se alterasse uma única e escassa vírgula do programa do PT. Lula nada perdeu. Continua o mesmo. Alckmin perdeu o respeito dos que nele enxergavam uma opção antipetista. Perdeu a vergonha. E tornou-se outro, infinitamente pior que o anterior.

“O mais estranho é que ele está feliz como pinto no lixo”, contou-me um amigo depois de jantar com o Alckmin modelo 22. “Você precisa ouvi-lo falar de Lula. É um elogio atrás do outro. É pura admiração, coisa de tiete.” O tucano que não engolia o PT elegeu-se governador de São Paulo três vezes. Sempre derrotando candidatos da seita, tornou-se o político que por mais tempo governou o maior Estado brasileiro. Hoje estafeta de Lula, é pouco provável que conseguisse uma vaga na Câmara de Vereadores da cidade onde nasceu. O vice escolhido para roubar eleitores tucanos vai ficando parecido com veteranos petistas.

Desde a formalização do noivado, o agora integrante do Partido Socialista Brasileiro diz e faz o oposto do que disse e fez desde 2001, quando se instalou no Palácio dos Bandeirantes. Vivia recitando que foi um dos fundadores do PSDB. Agora simpatiza com velharias socialistas. No primeiro discurso ao lado de Lula, qualificou de “maior líder da História do Brasil” o homem que desde 2002 acusava de larápio. Há menos de quatro anos, berrava na campanha eleitoral que era preciso impedir que o delinquente condenado pela Justiça voltasse à cena do crime. No momento, sonha com uma sala no palácio que funcionou como sede da quadrilha. Num recente sarau pluripartidário, fingiu com movimentos labiais que sabia cantar o hino comunista cujos primeiros versos exortam os desvalidos de todo o mundo à ação armada: “De pé, ó vítimas da fome!/De pé, famélicos da terra!”.

Até 2018, reiterava em todos os discursos que o PT não lança candidatos; lança ameaças. Hoje faz o que pode para concretizar o perigo. Declarava-se inconformado com a agressão sofrida por Mário Covas em 1998, quando já lutava contra o câncer que, três anos mais tarde, transformaria em governador um vice ainda imerso no semianonimato. “Mário Covas sempre foi meu mentor e modelo”, afirmou incontáveis vezes um Alckmin que já não há. Covas não escondia o que pensava. O que estaria ouvindo o discípulo de araque se o mestre tivesse vivido para vê-lo no papel de puxadinho do bordel inimigo?

A patética façanha desta semana garantiu a Alckmin, previsivelmente, alguns centímetros nas primeiras páginas e um punhado de segundos nos telejornais: apareceu numa cidade do interior paulista com um boné do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra — o mesmo MST que, nos tempos de tucano, acusava de agitar os campos com invasões criminosas e insolentes pontapés no direito de propriedade. O antigo Alckmin aprendeu faz tempo que um golpe do destino pode instalar no governo de São Paulo uma cabeça despovoada de ideias. O Alckmin companheiro de João Pedro Stedile parece achar que nem precisa usar o crânio despovoado de cabelos para virar vice de Lula. Basta cobri-lo com um boné de terrorista e aprender com José Dirceu como é exatamente a pose do guerreiro do povo brasileiro — em guerra contra o imperialismo ianque. No Brasil, também para o ridículo não existem limites.

Revista Oeste

Os riscos às contas públicas de PEC que turbina gastos sociais em ano eleitoral




O Senado aprovou nesta quinta-feira (30/6) a PEC (proposta de emenda à Constituição) que abre brecha para que o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) fure o teto de gastos e turbine programas sociais a pouco mais de três meses das eleições. A PEC segue agora para a Câmara dos Deputados.

Por Leandro Prazeres, em Brasília

Se aprovada pelos deputados, seu impacto nos cofres públicos pode chegar a R$ 41,2 bilhões.

Apelidada de "PEC Kamikaze", ela propõe o reconhecimento do estado de emergência, o que, em tese, daria respaldo legal para o governo criar benefícios em ano eleitoral. A Lei Eleitoral proíbe essa prática como uma medida para evitar a competição desigual entre os candidatos. Por outro lado, a legislação também prevê que em situações de emergência, a criação de benefícios ou aumento de gastos seriam permitidos.

Na justificativa apresentada pelo relator da PEC, senador Fernando Bezerra (MDB-PE), a situação de emergência seria justificada pelo aumento no preço dos combustíveis e da inflação.

O governo defende a medida afirmando que ela é importante para diminuir o impacto da alta da inflação sobre as pessoas mais vulneráveis. A PEC prevê criar benefícios para caminhoneiros autônomos de R$ 1 mil por mês até dezembro deste ano (o "voucher caminhoneiro"), um auxílio para taxistas, aumenta de R$ 400 para R$ 600 o Auxílio-Brasil (zerando a fila para o benefício), dobra o valor do Auxílio Gás, compensa Estados pela gratuidade do transporte público de idosos, dá subsídios para a produção do etanol por meio de créditos tributários, entre outras medidas.

A proposta, no entanto, é discutida no momento em que Bolsonaro aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto mais recentes, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Além disso, segundo pesquisa do Instituto Datafolha divulgada em março deste ano, 68% dos entrevistados atribuem a ele a responsabilidade pela subida dos preços dos combustíveis.

Economistas ouvidos pela BBC News Brasil, porém, alertam que PEC apoiada pelo governo pode ter efeitos negativos na economia no curto, médio e longo prazos. Entre eles estão: o aumento das despesas públicas, desconfiança do mercado sobre a política fiscal; pressão sobre a taxa de juros; aumento da inflação; e dificuldades fiscais para quem quer que assuma o governo em 2023.

Aumento das despesas públicas

O aumento das despesas públicas é o risco mais imediato identificado pelos economistas ouvidos pela BBC News Brasil. Segundo eles, os R$ 41,2 bilhões acima do teto de gastos comprometem significativamente a política fiscal do país.

"Somando os R$ 42 bilhões dessa PEC com o impacto de R$ 100 bilhões do projeto que alterou o ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços), temos uma ação de cerca de R$ 150 bilhões. E essa conta tende a crescer ainda mais. Talvez sejamos o país que esteja gastando mais no mundo para enfrentar a crise dos combustíveis, mas falta qualidade do gasto", diz Leo Cézar, economista, consultor do Senado e um dos idealizadores do Instituto Fiscal Independente (IFI).

'Para economista-chefe da gestora de ações Ryo-Asset e ex-diretor do IFI, Gabriel Barros, custo inicial da PEC estimado em R$ 41,2 bilhões pode ser ainda maior'

Para o economista-chefe da gestora de ações Ryo-Asset e ex-diretor do IFI, Gabriel Barros, o custo inicial da PEC estimado em R$ 41,2 bilhões pode ser ainda maior porque o reconhecimento do estado de emergência cria uma brecha legal para que o governo possa fazer mais gastos não previstos inicialmente.

"Esse estado de emergência abre a possibilidade de o governo ampliar, ainda mais, os gastos previstos na PEC. E são gastos de difícil controle social. Ou seja, a gente só vai saber o total gasto pelo governo quando o Tribunal de Contas da União (TCU) for analisar a gestão das contas públicas federais", explica.

Desconfiança do mercado

O segundo risco apontado pelos economistas é o aumento da desconfiança do mercado em relação à política fiscal do país. Eles argumentam que, nos últimos meses, essa confiança já vinha sendo erodida por conta de uma outra PEC, a dos precatórios, aprovada no ano passado e que abriu um espaço extra no orçamento do governo que pode chegar a R$ 104 bilhões. Em grande medida, a PEC possibilitou o pagamento em caráter emergencial do Auxílio-Brasil de R$ 400.

Para Gabriel Barros, a proximidade entre as duas PECs diminui a confiança do mercado no governo.

"Estamos emendando a Constituição a cada seis meses. Isso cria uma incerteza adicional em um ano que já é sensível por conta das eleições e o mercado passa a olhar o Brasil com menos certeza sobre como as contas públicas serão geridas", diz.

Para o coordenador do centro de gestão e políticas públicas do Insper, André Marques, a "PEC Kamikaze" cria instabilidade no mercado e gera distorções que o Brasil já viveu no passado.

"A gente já teve algo parecido quando Dilma Rousseff mexeu na tarifa de energia elétrica para que a população tivesse um ganho momentâneo. O resultado é que esse ganho se transformou em prejuízo no futuro e o mercado reagiu diminuindo investimentos no setor, por exemplo", diz.

Pressão inflacionária e nos juros

A pressão sobre a inflação e os juros, dizem os economistas, é consequência direta da desconfiança do mercado na capacidade de o governo ajustar suas contas. Para 2022, a meta de inflação do país estava prevista em 3,5% com tolerância de 1,5 ponto percentual.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação acumulada em 2022 até maio segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já é de 4,78% e, nos últimos 12 meses está em 11,73%. Segundo o Banco Central (BC), a estimativa é que a inflação acumulada de 2022 chegue a 8,8%.

A taxa básica de juros estipulada pelo Banco Central, a Selic, está em tendência de alta. Em janeiro de 2019, ela era de 6,5% ao ano. Agora, ela está em 13,25%.

"Se o governo aumenta os gastos de forma descontrolada, o governo vai precisar pagar mais juros para financiar sua dívida. O mercado começa desconfiar da capacidade de pagamento do governo. Isso cria uma pressão sobre a taxa de juros, afasta investimentos no setor produtivo e pode reduzir a atividade econômica", opina Gabriel Barros.

Dificuldade fiscal a partir de 2023

Os especialistas alertam, também, que PEC deverá impor dificuldades fiscais para quem quer que assuma o governo federal a partir de 2023.

'Especialistas alertam, também, que PEC deverá impor dificuldades fiscais para quem quer que assuma governo federal a partir de 2023'

"Um dos pontos mais complicados é que ela prevê um aumento de gastos para além de 2022. Ela prevê zerar a fila do Auxílio-Brasil e coloca o valor do benefício em R$ 600. É um cenário muito difícil para qualquer governante mudar. Imagine o custo político de, em janeiro de 2023, você dizer ao eleitor mais pobre que ele vai perder esse benefício", diz Gabriel Barros.

Na avaliação de André Marques, além do custo político de manter esses gastos impostos pela PEC, há um prejuízo prático nas contas públicas. O raciocínio, segundo ele, é simples: se gastos sem lastro estão sendo feitos agora, vai faltar dinheiro no futuro.

"Quem quer que vença as eleições terá menos recursos para tocar as políticas públicas necessárias. Essa escassez de recursos pode afetar todas as áreas, mas especialmente as mais sensíveis como educação, saúde e assistência social", avalia o economista. 

BBC Brasil

Aborto. Religião. Democracia.




A Lei tem de tolerar aquilo que à ética não é suportável, e mesmo aquilo que à ética se opõe para a manutenção da sua neutralidade religiosa. Para que o Estado não se torne uma força coerciva. 

Por Eugénia de Vasconcellos (foto)

Para que cada um de nós tenha liberdade religiosa, o Estado tem de ser laico. E questões intrinsecamente pessoais, portanto, sujeitas a moralidade íntima, não devem configurar a saúde pública. Um exemplo: uma criança filha de pais Testemunhas de Jeová precisa de uma transfusão de sangue ou morre, mas os pais não autorizam a transfusão. Se a guarda dessa criança não for rápida e temporariamente retirada aos pais, e se o juiz não decidir pela administração do sangue, a regra em vigor é religiosa, não científica, e ditada por um preceito religioso. O valor supremo não é a vida da criança, é a salvaguarda do pecado. Se isto parece bem a um crente, parece mal a um não crente.

Para que tenhamos liberdade de expressão, uma das bases do pluralismo e da democracia, o Estado tem de ser laico. Um exemplo: a fátua que decretou a morte de Salman Rushdie pareceu bem ao Ayathollah Khomeni como a muitos iranianos, há 30 anos. Para os assassinos da redação do Charlie Hebdo fez-se justiça. Para os não fundamentalistas como para os não crentes cometeu-se um crime hediondo, um massacre.

Há, em 2022, seis teocracias, ou se preferir, seis Estados teocráticos no mundo: Afeganistão; Irão; Mauritânia; Arábia Saudita; Iémen; Vaticano – o Sudão deixou de o ser em 2019.

Num Estado teocrático o poder político é exercido por um líder que representa um deus ou uma divindade ou um grupo de divindades, e esse líder governa como deus sob a forma humana, como acontecia no Japão, ou no Egipto antigo, e/ou através dos seus representantes, o clero. Numa teocracia as leis derivam das leis religiosas ou preceitos religiosos e o primeiro objectivo é estar ao serviço de deus, ou dos deuses, das quais emanam, não da população. De igual forma, os cidadãos devem estar ao serviço de deus. São Estados opressivos onde a diferenciação não é permitida, as regras são rígidas e as penalizações duríssimas.

Os talibãs governam a partir da Xária, um sistema de leis religiosas islâmicas. Recentemente, no Afeganistão, o uso da burca voltou a ser obrigatório. Isto já depois da proibição de uma mulher sair de casa sozinha, ou de frequentar o ensino a partir de um determinado nível de escolaridade, ou de poder ter um emprego. A Xária sujeita a mulher não apenas ao seu deus mas ao homem. E ser apedrejada é uma possibilidade penal. Na Mauritânia, o ateísmo é ilegal e pode ser punido com a morte. Na Arábia Saudita, uma monarquia religiosa absoluta e, em simultâneo, uma teocracia, há polícia religiosa, segregação entre homens e mulheres no espaço público, e também aqui, os direitos das mulheres, debaixo da Xária, são poucos. Tal como no Iémen. No Vaticano, a última teocracia cristã do mundo, o Papa é o equivalente de um monarca absoluto, e a população deste Estado, de pouco mais de 800 pessoas, é na sua quase totalidade clero. Mas ainda que este Estado seja apenas uma pequena cidade, é daqui que emana o cânone legal para toda a Igreja Católica no mundo. Em comum há o facto de todos estes Estados se sustentarem pelo dogma e pela sua própria ideologia.

Nos Estados democráticos o governo é do povo, pelo povo; com respeito pela Carta dos Direitos Humanos; dirigido para o bem comum, os interesses comuns; eleições livres com representatividade do eleitorado; instituições transparentes, independentes, responsáveis e responsabilizáveis ao serviço de todos; com auto-fiscalização das instituições de poder e decisão e fiscalização entre si, para garantir a manutenção da liberdade, independência, e a alternidade. A democracia exige uma imprensa livre e a intervenção da sociedade civil.

O pluralismo democrático é tão cultural como religioso. O cimento que permite a união na diferença é a Lei, tanto quanto as interdependências sociais e comerciais. Assim, a conduta exigida pela Lei não pode ser determinada pela conduta exigida pelas diferentes religiões. Ainda que os Estados democráticos sejam permeáveis à religião, têm de garantir a liberdade para os que praticam uma religião, da mesma forma que têm de garantir a liberdade para os que praticam outra, e para os que não praticam qualquer religião, por muito que este exercício se revele exigente e o seu equilíbrio precário.

A relação entre a democracia e a religião tem de ser pensada. Ou melhor, tem de ser repensada, já que a própria religião entrou no basismo partidário e pressiona os poderes políticos. Mais. A cidadania é uma ética. A sua base é tanto religiosa como secular.

Enquanto eleitores escolhemos os valores que mais nos representam. Em todas as matérias, também nas de decisão moral. O aborto e a eutanásia são potenciais de tensão e conflito, mesmo institucional. E, na verdade, a neutralidade religiosa, que é institucionalmente desejável nas democracias, pode ser igualmente indesejável quando rasga os direitos humanos. E vice-versa: quando grupos religiosos se unem para defender causas que salvaguardam os direitos humanos, por exemplo, a luta contra a pena de morte. Nestes casos agradecemos essa falta de neutralidade. Ou quando, em regimes não democráticos, grupos religiosos pugnam pelos direitos humanos. O oposto disto também acontece. A Igreja Ortodoxa da Rússia, um Estado sem neutralidade religiosa, apoia Putin; por todo o lado, e a despeito do patriarcado, circulam imagens de bênção de armas, convertendo, em última análise, a invasão russa da Ucrânia numa acção santificada. A educação, ou se preferir, os curricula tendem a ser um outro ponto de tensão. Em Portugal, têm sido notícia os dois irmãos de Famalicão que têm chumbado por falta de assiduidade às aulas de Cidadania e Desenvolvimento depois de os pais terem declarado objecção de consciência. Outro ponto de tensão é a isenção de alguns impostos para as igrejas, como, por exemplo, o IMI, IMT, IRC – não surpreende, assim, a criação de mais de mil novas igrejas, no nosso país, em 15 anos.

Torna-se claro que em democracia é muito difícil definir os limites da liberdade. E, mais difícil, equilibrar a liberdade, a liberdade religiosa, e a identidade como conjunto de valores e práticas. Tendemos a pensar Portugal como um país Católico. Não é. E legalmente temos um princípio de igualdade para todas as religiões, quer concordemos ou não. Catolicismo, cientologia e islamismo, por exemplo, são iguais perante a Lei. Pessoalmente, não acredito na dianética, não me sinto um thetan, nem acredito em Xenu; discordo do uso do hijab fora do espaço religioso, seja na via pública, nas escolas, no desporto ou na praia. Isto não significa que pretenda proibir a cientologia ou o islamismo. Mas, de certeza absoluta, significa, pelo menos, que não quero nem vou adoptar as suas regras e preciso que o Estado me garanta que ninguém me vai obrigar a adoptá-las. De igual forma pensarão os cientologistas e os islâmicos em relação aos católicos. E os ateus pensarão da narrativa cristã o mesmo que eu penso de Xenu, o que ainda assim não será tão mau quanto o que penso sobre o hijab. Não considero que todas as religiões tenham o mesmo peso na nossa história e cultura ou contribuído de igual forma para o conjunto de valores que regem a ocidentalidade democrática. Assim mesmo, espero do Estado neutralidade religiosa.

Pessoalmente defendo, como tantos, felizmente somos milhões, que a Lei tem de tolerar aquilo que à ética não é suportável, e mesmo aquilo que à ética se opõe para a manutenção da sua neutralidade religiosa. Para que o Estado não se torne uma força coerciva. Da liderança moral não espero o mesmo do que da liderança política: espero da Igreja Católica oposição pública ao aborto. Tal como espero do Estado a garantia da liberdade de expressão para a Igreja Católica ainda que o mesmo Estado garanta a não criminalização do aborto.

Sei, como sabemos todos, que algumas religiões, ou os seus princípios, enformam a Lei mais do que outras. O ocidente é, essencialmente, pensamento greco-romano e cristão, e este é outro ponto de tensão numa sociedade aberta. Mas a sociedade é aberta por ser enformada pelos valores greco-romanos e da cristandade.

Para concluir: sou e serei sempre contra qualquer regra civil, partidária, ou religiosa que anule a democracia; promova a assimetria de poder entre o homem e a mulher; subalternize a mulher — mesmo as regras da minha própria religião. E nunca aceitarei a criminalização do aborto nem da eutanásia, que, reforço, em minha opinião, devem ter os seus limites definidos pela medicina e pela biologia e com o máximo respeito pela vida. E jamais aceitarei justificações, a propósito desta ou de qualquer outra questão, que abram a porta à perda de direitos conquistados num «fio inquebrado de séculos» da sua ausência.

“I’m tired of this separation of church and state junk.”

Lauren Boebert went full theocracy, and proclaimed, “The church is supposed to direct the government” per the founding fathers. pic.twitter.com/XW5nXZZ6r8

— PatriotTakes ???????? (@patriottakes) June 27, 2022

Lauren Boebert, a congressista republicana apoiada por Trump que venceu as primárias no Colorado, faz tábua rasa da Constituição norte-americana e advoga a subordinação do Estado à igreja.

PS: Recomendo a leitura de Democratic Authority and the Separation of Church and State, Oxford University Press, 2011, de Robert Audi.

Observador (PT)

Otan de volta à guerra fria - Editorial




Ainda que tardiamente, os países da Otan, ao que parece, abandonaram as ilusões e estão adotando estratégias para dissuadir nova agressões russas e enfrentar ameaças da China

Quando a Otan publicou seu último “Conceito Estratégico”, em 2010, a Europa estava em paz e falava-se em “parceria estratégica” com a Rússia. A bonança adquiriu tons de complacência. O então presidente dos EUA, Barack Obama, chegou a caçoar de preocupações dos republicanos com a Rússia: “Alô, os anos 80 estão chamando, querem sua política externa de volta”. Há pouco, o sucessor de Obama, Donald Trump, chamou a aliança militar ocidental de “obsoleta”, e o presidente francês, Emmanuel Macron, disse que ela padecia de “morte cerebral”.

Uma das consequências foi a estratégia “fio de ativação” (tripwire) após a Rússia invadir a Ucrânia em 2014 – pequenos batalhões posicionados no Leste para ativar respostas, mas sem a participação das grandes potências. Pouco antes da Cúpula da Otan, encerrada ontem, a primeira-ministra da Estônia advertiu que, com os atuais planos, as repúblicas bálticas seriam “riscadas do mapa”. O resultado da Cúpula foi o reconhecimento de que, de fato, estes planos eram insuficientes. Agora, a Otan retomou a doutrina da guerra fria.

Muitos historiadores veem a 1.ª e a 2.ª Guerras como duas cenas de um mesmo conflito separadas por uma paz frágil. Ao que parece, a 1.ª guerra fria estava separada da 2.ª por 30 anos de globalização. O retorno se traduziu em quatro anúncios: forças em estado de alerta sete vezes maiores; a primeira base permanente dos EUA no flanco Leste; o convite à Finlândia e Suécia; e um novo “Conceito Estratégico” em que a Rússia figura como “a ameaça mais significativa e direta”.

A prioridade é mostrar ao presidente russo, Vladimir Putin, que o artigo 5.º da Aliança, segundo o qual a agressão a um membro agride todos, é crível. Isso exigirá que os 30 membros cumpram o compromisso de investir 2% do seu PIB em defesa. Hoje, só 9 cumprem a meta, e 19 têm apenas “planos claros” de atingi-la em 2024 – mas a procrastinação, que até agora era a regra, precisará se tornar exceção.

Outras lições da velha guerra fria terão de ser reaprendidas. Mas a nova também traz novos desafios. A Otan adverte para a opacidade das intenções da China; suas “operações híbridas e cibernéticas maliciosas e sua retórica e desinformação confrontacionais”; o controle de setores-chave da indústria, tecnologia, infraestrutura e fornecimento; o uso da economia para criar dependências; a expansão sem transparência de arsenais nucleares; e, finalmente, “a parceria cada vez mais profunda” com a Rússia.

Diferentemente da antiga guerra fria, uma repetição da estratégia de separação entre a Rússia e a China é implausível. As ameaças na Europa e na Ásia estão cada vez mais conectadas. A participação de países do Pacífico, como Japão, Coreia do Sul ou Austrália (todos convidados para a Cúpula), em estratégias de dissuasão da Rússia é tão importante quanto a participação dos ocidentais na dissuasão da China.

As batalhas na Ucrânia são o palco desse drama global. Ironicamente, a reação defensiva da Otan pós-invasão se parece exatamente com a ação ofensiva que Putin acusava e usou como pretexto. Previsivelmente, a Cúpula servirá como um novo pretexto para que ele se vitimize – e prepare novas ameaças.

Putin buscará conquistar o máximo de territórios na Ucrânia para declarar vitória e conclamar o Ocidente a aceitar seus termos em troca de alívio para a fome, a escassez de energia e as ameaças nucleares. Mas apaziguar tiranos é má estratégia. Quanto mais sucesso ele tiver, mais beligerante se tornará. A Ucrânia enfrentará uma agressão permanente e novas agressões serão efetivadas com as mesmas armas, incluindo crimes de guerra e ameaças nucleares. A melhor maneira de evitar outras guerras é vencer esta, com a manutenção das sanções e mais armas para que a Ucrânia possa negociar uma paz condizente com a sua soberania.

Analogamente, a melhor maneira de evitar uma 3.ª guerra mundial é abandonar as ilusões e admitir que – ao menos enquanto Putin estiver no poder e não se viabilizar uma arquitetura de segurança construtiva com a China – o mundo vive uma 2.ª guerra fria.

O Estado de São Paulo

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