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quinta-feira, junho 02, 2022

Cortes podem acentuar viés antissocial do orçamento - Editorial




O orçamento desse que pode ser seu último ano de governo, manejado pelo Centrão, é um desastre e poderá ficar ainda pior com novos cortes

Movido a rompantes, o presidente Jair Bolsonaro não para de criar problemas evitáveis para si próprio. Os dilemas do bloqueio do orçamento são frutos do amadorismo do presidente, que mais uma vez pensou em privilegiar forças policiais - desta vez a Polícia Rodoviária Federal - com um reajuste salarial. Instigou a fúria do funcionalismo, que iniciou greves. Então Bolsonaro levantou a ideia de conceder 5% para os servidores - desagradando a todos. Até o início da noite de ontem, estava em dúvida se reajustava o funcionalismo ou aumentava o ticket refeição dos servidores em R$ 600.

O detalhamento do contingenciamento orçamentário depende dessas definições. Já há R$ 1,7 bilhão reservados para os policiais rodoviários e, segundo decreto publicado no Diário Oficial de ontem, contingenciamento de R$ 8,2 bilhões e outro, “preventivo”, de R$ 5,5 bilhões, para conceder os 5% ao funcionalismo - se essa for mesmo a solução final. A necessidade de bloqueio situa-se então entre R$ 14 bilhões e R$ 16 bilhões para acomodar essas duas intenções, mais os recursos necessários ao Plano Safra e pagamento de precatórios.

Se optar pelo reajuste de 5%, dificilmente os bloqueios fugirão aos padrões das prioridades do presidente. A julgar pela escolha dos titulares das pastas e pelo comportamento deles, Educação, Saúde e Ciência e Tecnologia passam longe das preocupações de Bolsonaro e perderão ainda mais recursos do que já perderam no atual governo, que fez o que pôde para destruir essas três áreas.

Quando enxerga a nação, o presidente parece ver apenas a pátria fardada. O Ministério da Educação teve um corte total de R$ 3,18 bilhões no orçamento de 2022, o segundo maior entre todos os ministérios. A diminuição de recursos deixou à míngua vários programas educacionais, menos o das escolas cívico-militares, que vem aumentando de tamanho e cujas dotações passaram de R$ 18 milhões para R$ 64 milhões, figurando entre as 10 maiores despesas discricionárias do ministério, ainda que somem só 0,15% das escolas públicas (O Globo, 14 de maio). A expectativa agora é de novo enxugamento de R$ 3,2 bilhões.

Como diretriz para os cortes em ano eleitoral, o presidente definiu que as emendas parlamentares são intocáveis. Até o fim do ano, serão R$ 16,8 bilhões, com liberação de quase R$ 14 bilhões até o mês de outubro, quando os brasileiros irão as urnas. Não se sabe se as emendas do relator, não mencionadas no decreto do Diário Oficial, terão o mesmo tratamento.

O Congresso também elevou os repasses para as transferências diretas entre parlamentares e municípios, conhecidas como “cheque em branco”. Elas competem em astúcia e falta de transparência com as emendas secretas. Seu montante este ano equivale ao corte no orçamento da Educação, R$ 3,2 bilhões, livres de compromissos (O Estado de S. Paulo, ontem). O destinatário pode gastar o dinheiro como quiser, em pleno período eleitoral, sem que seja submetido a priori a qualquer fiscalização de qualquer órgão público. Os casos que se conhecem seguem a trilha usual - envio de verbas para familiares e parentes no comando de prefeituras.

Seria natural que a questão dos salários do funcionalismo, congelados há dois anos, fosse equacionada em 2023. Com sua obsessão por cativar policiais e militares, Bolsonaro mobilizou contra si a elite do funcionalismo público, que já recebe salários muito acima do que os dos contribuintes que os pagam.

As bases de apoio de Bolsonaro, de qualquer forma, poderiam esperar mais, pois que são bem remunerados e não podem ser demitidos. Levantamento do economista Daniel Duque, do Centro de Liderança Público, mostrou que entre 2012 e o primeiro trimestre de 2022, isto é, em uma década, os militares tiveram aumento real de 29,6% (O Estado de S. Paulo, 29 de maio), os maiores depois dos professores municipais, beneficiados pela criação de um piso salarial. Em terceiro lugar entre os maiores reajustes estão os policiais e bombeiros estaduais, com 25%. Boa parte desse avanço ocorreu na atual gestão.

Bolsonaro ignora preocupações sociais e desdenha a educação, apontada por 10 entre 10 especialistas como fundamental para o crescimento do país e de sua produtividade. Seu governo cortou em 35,5% as verbas da defesa civil, para prevenir catástrofes como as do Recife, por exemplo. O orçamento desse que pode ser seu último ano de governo, manejado pelo Centrão, é um desastre e poderá ficar ainda pior com novos cortes.

Valor Econômico

Assédio institucional contra a Petrobras




Bolsonaro vê empresa como rival na pré-campanha

Por Fernando Exman (foto)

Foi no município de Candeias, a 50 quilômetros de Salvador, que o então presidente Getúlio Vargas pronunciou-se sobre a criação da Petrobras.

Era 23 de junho de 1952, e o Congresso ainda discutia o projeto enviado pelo Executivo meses antes. Vargas enfrentava questionamentos em relação ao caráter nacionalista da proposta, que acabou por ser sancionada apenas no fim do ano seguinte: mais especificamente, no dia 3 de outubro de 1953. A Petrobras completará 69 anos um dia depois do primeiro turno de uma eleição que pode ser determinante para o seu futuro.

Naquele discurso de 1952, Vargas aproveitou uma visita à região produtora de petróleo do recôncavo baiano para explicar o modelo escolhido para a empresa.

Primeiro, relembrou que fora na Bahia anos antes, em 1939, que pela primeira vez jorrou petróleo no Brasil. O feito ocorreu depois de inúmeras sondagens, mas a produção dele resultante era apenas suficiente para atender a uma pequena parcela da demanda local. As reservas baianas chegaram a produzir 5 mil barris por dia no fim de 1951.

“Com essa produção, ainda estamos muito longe de atender às necessidades do país, que consome, em média, 130 mil barris diários, prevendo-se que, em 1953, esse consumo atingirá 170 mil”, completou Vargas, que dificilmente poderia imaginar que aproximadamente 70 anos depois o Brasil produziria 2,9 milhões de barris de petróleo por dia.

Ele já planejava intensificar as pesquisas na “Amazônia, em outros Estados do Norte e na bacia do Paraná”. No mesmo dia, sinalizou a conclusão da primeira refinaria do país, na Baixada Santista, e novos investimentos em pesquisa e exploração.

Para tanto, explicou, seria necessária a criação de uma empresa para dar unidade e eficiência às ações nesta área. Somado a isso, defendeu a instituição de novas fontes de receita por meio da tributação das atividades do setor.

“O projeto de incorporação da Petróleo Brasileiro Sociedade Anônima, ou, mais simplesmente, Petrobras, visa captar, para o desenvolvimento da indústria brasileira do petróleo, as fontes de receita de que necessita e a centralização de iniciativas que lhe é indispensável”, afirmou. Parte desse dinheiro seria paga pelos proprietários de automóveis.

Na sua visão, a proposta em tramitação garantia o controle do Estado em um setor estratégico sem prejudicar a liberdade de ação industrial e comercial de uma empresa que precisaria ter “bastante flexibilidade, dinamismo, autonomia de ação e máxima capacidade de expansão industrial”. “A Petrobras será, na verdade, o próprio governo agindo no campo da indústria petrolífera, tal como já o faz na indústria do aço, através da Companhia Siderúrgica Nacional. E isto sem prejuízo do concurso do capital privado, através das subscrições compulsórias de todos os proprietários de veículos automóveis”, destacou o mandatário, para quem o formato da proposição impediria condutas indesejáveis de grupos financeiros estrangeiros ou nacionais na companhia.

Foram criadas limitações a subscrições de ações com direito a voto. Estabeleceu-se, também, que o presidente e os diretores da Petrobras deveriam ser nomeados pessoalmente pelo presidente da República. E o presidente da empresa tinha poder de veto sobre as decisões do conselho de administração. “Ela [Petrobras] dará o petróleo do Brasil aos brasileiros e tornará possíveis os recursos financeiros vultosos de que necessitamos para explorar uma das maiores fontes de riqueza da civilização”, acrescentou Vargas.

Desde então, muito mudou. Em 1997, por exemplo, a Petrobras perdeu de vez a atribuição de executar o monopólio estatal que a legislação lhe garantia. E ao longo dos anos foi sofrendo mudanças em sua estrutura, repleta de subsidiárias, que um dia chegou a ser chamada de “sistema Petrobras”.

Em 1999, a companhia adotou um novo estatuto a fim de se adequar à lei das sociedades anônimas e às inovações impostas pela nova regulamentação do setor. Anos depois, já no governo Luiz Inácio Lula da Silva, anunciou a descoberta de petróleo na camada pré-sal. Sua produção cresceu. Muito.

Entre os pontos mais baixos da sua trajetória, viu-se a eclosão do escândalo do “petrolão” e o controle de preços, feito durante o governo Dilma Rousseff. Após o impeachment, foi adotada a política de preços baseada na paridade nas cotações praticadas no mercado internacional - ponto que tem gerado ataques diários do presidente Jair Bolsonaro à Petrobras.

Tudo indica que a estatal permanecerá no centro do debate político. E não só porque é mais do que provável que os desmandos investigados pela Operação Lava-Jato retornem à pauta quando adversários questionarem a lisura de Lula e seu partido, o PT. Mas, também, devido ao fato de Bolsonaro ter escolhido a Petrobras como principal adversária neste período de pré-campanha eleitoral.

O presidente da República e seu grupo consideram a inflação o maior desafio para a reeleição, sobretudo a alta dos preços dos combustíveis. Para combatê-lo, demonstram disposição de forçar mudanças na composição do conselho de administração da Petrobras, na política de preços da empresa e até mesmo privatizá-la. Como a desestatização total pode levar muito tempo, fala-se, agora, em fatiar a companhia para induzir maior concorrência.

Se aquele discurso de Vargas pode hoje ser visto como um marco nas discussões da criação da empresa, é possível prever que alguma declaração de Bolsonaro possa figurar nos livros de história como o prenúncio do fim da Petrobras como ela é hoje. Isso, claro, se o governo não estiver apenas “blefando”.

Em sua já conhecida estratégia de criar inimigos com o objetivo de evitar debates que o constranjam, o presidente Jair Bolsonaro já atacou outros Poderes e as urnas eletrônicas. Agora, é a Petrobras que sofre o assédio institucional vindo do Palácio do Planalto e de parte da base aliada.

Valor Econômico

Promessas fake assombram Bolsonaro




Por Vera Magalhães (foto)

O caos que Jair Bolsonaro promove no Brasil não afeta só a vida dos mais pobres, a economia, a imagem do país no exterior, a resiliência da democracia e direitos e liberdades vários. Vira e mexe acontece, também, de essa esculhambação geral atingir o próprio Bolsonaro. Quando isso ocorre, o que se vê é um homem em franco desespero, sem saber como lidar com as próprias limitações. E aí o risco é para todos os brasileiros.

Tirado das cordas em que se enfiou com sua gestão temerária da pandemia, graças à vacina que tanto tentou boicotar e à ajuda do Centrão, Bolsonaro mirou alguns outros truques para voltar a crescer nas pesquisas: de um lado aprofundar o ataque ao sistema eleitoral e estimular o antipetismo irracional, e de outro fazer “mandrakarias” fiscais para turbinar o Auxílio Brasil, tentar segurar o preço dos combustíveis e fazer média com o funcionalismo, sobretudo com as categorias de policiais federais, por meio de reajustes.

O segundo braço da estratégia naufragou por completo até aqui. O Auxílio Brasil se mostrou, como já apontavam os economistas e especialistas em políticas públicas, um programa mal desenhado, sujeito a desvios, com logística capenga e, pior, cujo acréscimo de valor em relação ao Bolsa Família foi rapidamente corroído pela inflação.

O resultado é que, segundo o mais recente Datafolha, 69% dos beneficiários o consideram insuficiente, a rejeição a Bolsonaro (45%) entre os que recebem o pagamento é maior que no conjunto da população, e 66% dos cadastrados afirmam que o programa não terá influência sobre seu voto.

No caso dos combustíveis, o capitão troca presidentes da Petrobras e ministros em série, sem perspectiva de provocar alguma redução consistente nas bombas de postos e no botijão de gás. Pior: o Banco Central sinaliza que a inflação está fora de controle e disseminada por amplos setores da economia e que o choque de juros deverá continuar.

Por fim, há o papelão do presidente nos acenos aos servidores federais. Impossibilitado de conceder reajuste expressivo aos policiais, que gostaria de levar para seu palanque, sob pena de paralisar setores vitais da administração pública, Bolsonaro está feito barata tonta: não sabe mais se adianta conceder um reajuste linear de 5% que não lhe trará um eleitor e só ampliará a antipatia geral, mas também corre o risco de, diante de tantas idas e vindas, passar a sofrer boicote da máquina pública (o que os bolsonaristas amam chamar de deep state, de que se pelam de medo).

Para alguém que todos os dias planta teorias da conspiração contra as urnas eletrônicas e adora incitar insubordinação nas polícias militares contra os governadores, não deixa de ser irônico que Bolsonaro possa ter a si mesmo, aos filhos e aos aliados do Centrão como reféns de policiais e auditores fiscais, transformados em inimigos pela sua completa inaptidão para a governança e pela mania de mentir e prometer coisas sem ter condições de cumpri-las.

O quadro acima é uma evidência de quanto a agenda eleitoral atabalhoada de um presidente incidental tem potencial para bagunçar o ambiente da vida nacional em múltiplas e importantes camadas.

A sangria provocada pela sanha eleitoreira de Bolsonaro na Petrobras ainda demorará a ser calculada — da perda de valor da companhia aos gastos com indenizações de executivos demitidos sem nenhum respeito nem liturgia.

Que ele experimente doses cada vez maiores do próprio veneno e fique exposto como está ao menos é didático para que aqueles que espantosamente ainda aprovam este governo inepto — de parlamentares beneficiados pelo sequestro do Orçamento a empresários alheios à realidade do resto da população — entendam o custo alto a que sujeitam o Brasil.

O Globo

Por que Bolsonaro não vai participar de debates




Bolsonaro no aeroporto da Pampulha, em BH

Presidente, candidato à reeleição, se espelha em ocupantes do Palácio do Planalto que usaram a mesma estratégia para conseguir segundo mandato

"Os estrategistas do presidente Jair Bolsonaro (PL) pesaram os prós e contras e consideraram que a ausência do presidente nos debates do primeiro turno não causará grandes estragos", informa Denise Rothenburg, do Correio Braziliense. 

"Até porque o adversário que mais bem pontua hoje nas pesquisas de opinião, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez a mesma coisa em 2006, quando concorreu à reeleição", afirma o Blog da Denise.

- Kertzman: Para não passar vergonha, Bolsonaro fugirá de debates. Lula é o próximo

"Logo, avaliam os bolsonaristas, o petista não poderá chamar de “ato antidemocrático”. Afinal, agiu assim lá atrás e, agora, quer um número reduzido desses encontros entre os candidatos", conclui a jornalista. 

E prossegue: "Fernando Henrique Cardoso também não foi a debates em 1998, alegando que estava muito ocupado cuidando da crise econômica que assolava o país. Ambos se reelegeram. FHC, em primeiro turno, numa eleição sem debates.

Quem está no poder ou lidera as pesquisas sabe que será atacado e, por isso, prefere se ausentar. Pior para o eleitor. 

Agora, sem Bolsonaro e com Lula escolhendo os debates de que participará, será a chance dos outros candidatos se apresentarem ao eleitor e tentar quebrar a polarização. Uma dessas janelas foi a sabatina de ontem, do Correio."

Estado de Minas

Popper, as teorias conspiratórias e os pedantes.




Um popperiano teria a humildade de dizer “eu não sei” a respeito de muitas coisas relativas ao Fórum Econômico Mundial. O pedantismo dos letrados, ou um comodismo igual ao dos canadenses, torna incômodo esse tipo de apreciação. 

Por Bruna Frasolla (foto)

Recentemente pediram a Jordan Peterson que explicasse como Justin Trudeau e ele olharam para os caminhoneiros canadenses e explicasse como ambos viram coisas tão diferentes. Afinal, Jordan Peterson pedira aos caminhoneiros que mantivessem a cabeça erguida, pois são um exemplo para o mundo, enquanto que Justin Trudeau dissera que “isso tem que acabar”, porque os caminhoneiros agrediam a população canadense ao exibirem suásticas e bandeiras dos confederados. Peterson respondeu que a diferença entre ambos residia em ele próprio ser honesto e Trudeau ser um mentiroso; um narcisista que montou uma personagem e diz coisas nas quais não acredita. O que o intrigava era: como Trudeau ainda tinha apoio após decretar um estado de emergência que deixava o país indiscernível de uma ditadura.

Peterson foi ao Twitter ver o que os apoiadores de Trudeau pensavam: eles acreditavam que os caminhoneiros eram subsidiados por russos e trumpistas com o fito de acabar com a democracia canadense. Muito bem, e por que eles acreditavam nisso? Por que os russos e os trumpistas estariam tão interessados no Canadá assim? De todo modo, Trudeau resolveu o problema, isto é, salvou a democracia, sentando porrada em todo mundo, congelando contas bancárias e suspendendo liberdades civis. Por que os canadenses acreditam nessa coisa sem pé nem cabeça? Peterson comenta: “Eu não sei qual é o tipo de mundo no qual eu existo, onde essas coisas estão acontecendo. […] Por que os canadenses engolem isso? Penso que eles se defrontam com uma escolha dura. Em meu país, por 150 anos, podíamos confiar nas instituições básicas: podíamos no governo (não importava o partido político no comando), podíamos confiar nos partidos políticos […], podíamos confiar na mídia […]. Nada disso é verdade agora, então os canadenses são convidados a fazer uma escolha dura: […] ou todas as suas instituições estão quase irrecuperavelmente corrompidas, ou os caminhoneiros foram financiados por republicanos de direita dos Estados Unidos. Ora, ambas são absurdas. Dá para escolher a que não abale todo o seu senso de segurança. Então eu acho que é isso o que a maioria dos canadenses fez”.

O mundo em que vivemos

Todo o imbróglio dos caminhoneiros foi iniciado pela pandemia. Pensando bem, todo mundo no Ocidente teve que fazer uma escolha parecida com a dos canadenses. No começo da pandemia, quando surgiu a questão da cloroquina, para mim mal era uma questão. Recém eleito, Bolsonaro ficava numa babação pra cima de Trump que me matava de vergonha. Além disso, políticos de um modo geral gostam de dar soluções simples que lhe dispensem da tarefa de trabalhar. Assim, quando Bolsonaro apareceu defendendo a cloroquina, achei que fosse mero imitador do extravagante homem laranja. Com o desenrolar dos acontecimentos, porém, me vi obrigada a ficar com a hipótese mais dura do mundo cão. No caso da cloroquina em particular, este jornal mostrou que os cientistas da Fiocruz empenhados em desacreditá-la são caso de polícia. Isso é mundo cão, e isso é o mundo em que vivemos.

Os canadenses têm uma amostra mais privilegiada do que nós, brasileiros, do que seja mundo cão. Desde a pandemia, o Canadá considera que a vida na pobreza é indigna e portanto os que padecem desse mal podem solicitar a eutanásia ao Estado. Os canadenses temem tanto os republicanos dos EUA, mas são os democratas que agora apoiam o uso da escola para induzir doenças mentais em crianças e em seguida castrá-las.

Enquanto isso, o Ocidente se julga muito virtuoso e aponta o dedo para a Rússia, dizendo que Pútin é satanás na terra. É preciso escolher o lado da “democracia” e apoiar um Estado cujo Exército inclui um batalhão abertamente neonazista. É humanitário apoiar a intervenção sobre as regiões russas étnicas para que os neonazistas ucranianos continuem tomando conta delas, mesmo que volta e meia apareçam imagens de gente queimada viva em cruz. Se uma ONG de direitos humanos que denunciou o “massacre do Jacarezinho” neste Brasil de Bolsonaro só denuncia a Rússia, devemos acreditar que a democracia ucraniana viceja. E que massacre étnico e neonazismo estatal sejam compatíveis com essa democracia defendida pelo Ocidente de hoje. Não é de admirar, já que eutanasiar a população improdutiva e estimular aborto em minorias raciais é coisa de nazista mesmo.

Explicação psicológica das teorias conspiratórias

Mas deixemos a Ucrânia quieta; vamos focar nos nossos letrados. Há algum tempo vimos que não há nenhuma correlação entre ser um erudito autodeclarado liberal conservador e apoiar as coisas mais iliberais e menos conservadoras. Hoje quero notar que não há nenhuma correlação entre ter lido Popper e saber tratar de teorias da conspiração.

Todo liberal pedante gosta de citar A Sociedade Aberta e os seus Inimigos, de Karl Popper. Nela, o epistemólogo trata de ciência social; mais precisamente, expõe sua tese segundo a qual Platão e Hegel são os grandes patronos dos inimigos da sociedade aberta, a qual ele define como a sociedade em que se pode mudar de governante em paz (uma democracia cujas eleições podem ser fraudadas impunemente não é uma sociedade aberta, portanto).

Entre os inimigos teóricos da sociedade aberta estariam as teorias conspiratórias da sociedade. Uma teoria conspiratória da sociedade se embasa n’ “a opinião de que a explicação de um fenômeno social consiste na descoberta dos homens ou grupos que estão interessados na ocorrência desse fenômeno […] e que planejaram e conspiraram para que ele se desse”. O marxismo vulgar é uma teoria desse tipo, já que o professor de sociologia aponta os culpados e dá a investigação por encerrada, logo passando às diatribes (Popper distinguia o marxismo vulgar do marxismo original. Para ele, Marx tinha uma hipótese capaz de ser levada a sério. Quando suas previsões se mostraram falhas, surgiu uma pseudociência cujo propósito é provar que Marx está certo mesmo estando tendo errado tudo).

Popper acreditava que as teorias conspiratórias surgem naturalmente porque o homem tende a presumir intencionalidade onde não há. A guerra de Troia, para os gregos, podia ser explicada pelas intrigas do Olimpo. Até coisas inanimadas, como a falta ou excesso de chuva, são interpretadas como resultado de alguma divindade ofendida ou revoltada. Assim, quando essa tendência inata a supor intencionalidade aparece na sociedade civilizada, surgem as teorias sociais conspiratórias. O marxismo era o exemplo mais patente da época dele, e hoje há o “pacto narcísico da branquitude” que opera o “racismo estrutural”.

A tentação das teorias conspiratórias seria fatal ao cientista social por violar o propósito principal das ciências sociais: estudar as consequências não-intencionais da ação humana. Por exemplo: um cientista que analisa a segurança pública de uma cidade não dá por encerrada a sua investigação ao saber que as autoridades são bem intencionadas, de modo que vão resolver o problema. As ciências sociais partem justamente da proposição de que o mundo é complexo demais para explicar tudo por meio do planejamento de meia dúzia.

Disso não se seguia que conspirações não existissem: “Ao contrário, elas são típicos fenômenos sociais. Tornam-se importantes, por exemplo, sempre que chegam ao poder pessoas que creem sinceramente numa teoria da conspiração. E os que creem sinceramente que podem trazer o céu para a terra são os mais suscetíveis de adotar uma teoria da conspiração e de se envolverem numa contraconspiração para combater conspiradores inexistentes. É que a única explicação de seu fracasso na produção de seu céu só pode estar nas más intenções do Demônio, que tem interesse especial no inferno. Tramam-se conspirações, não há como negar. Mas […] raramente os conspiradores consumam suas conspirações”.

Popper não dá receita de bolo

Raramente é diferente de nunca. Em outra obra na qual volta ao tema (Conjecturas e Refutações), Popper cita Hitler e Lênin como exceções, isto é, como conspiradores cujas conspirações deram certo. Podemos dizer que Popper tem muita razão: os conspiradores tendem a crer em teorias da conspiração (os Protocolos dos Sábios do Sião e o marxismo vulgar, nos casos citados), e teorias da conspiração fornecem explicações falhas do mundo, dificultando a ação exitosa sobre ele. Das incontáveis conspirações ideológicas que existiram no mundo, apenas uma parcela deu certo. A própria União Soviética ajuda a mostrar isso, já que há mais revolucionários comunistas fracassados do que exitosos. Marxistas foram para a Amazônia crentes que o povo ia aderir à luta! Creio que a lição otimista que podemos tirar de Popper é que os conspiradores são falíveis: mesmo que tenham êxito na sua tomada de poder, uma hora sua própria visão equivocada do mundo os levará ao fracasso.

Mas o mais importante é que tanto a Revolução Bolchevique quanto Alemanha Nazista constituem objeto de pesquisa da ciência social. Ou seja: uma conspiração exitosa não é uma exceção impossível de caber na ciência social. Quem quiser estudar esses fenômenos é obrigado a levar em conta o fato da conspiração. Mas sua explicação não poderá se embasar na opinião de que a intenção de Hitler e Lênin são uma explicação suficiente. A conspiração nazista existiu, mas um cientista social não pode dizer "Hitler era mau como um pica-pau e quis tomar o poder" e dar por encerrada a investigação.

Que fazer hoje?

Os pedantes usam Popper para negar qualquer possibilidade de conspirações exitosas em qualquer grau. Quem empina o nariz e parece calmo faz uma imagem melhor do que quem esbraveja e faz alarde. Isso basta para que os pedantes usem de qualquer texto à mão para dizerem que não há conspiração alguma, apesar das evidências.

Já vimos esse filme antes com o Foro de São Paulo. O Foro tinha até site, mas detratores de Olavo de Carvalho diziam que era teoria da conspiração. Fazia sentido desconfiar das alegações de Olavo de Carvalho, já que o Foro de São Paulo poderia existir e ser malsucedido em suas intenções. De fato, o Foro não alcançou tudo o que pretendia – ainda assim, a conspiração mostrou-se real e bastante danosa. E por mais que os envolvidos tenham enriquecido, é impossível desprezar o papel da ideologia no Foro de São Paulo.

Agora temos o Fórum Econômico Mundial, do Sr. Klaus Schwab, revelando suas mil pretensões de nova ordem mundial, de novo normal, de governança global, de ESG. Uma agenda politicamente correta e neomaltusiana vem sendo imposta de cima para baixo, seja por meio das grandes corporações transnacionais, seja por meio da ONU. A obrigação do popperiano, aqui, seria considerar a conspiração como um fenômeno social típico, questionar o grau da sua eficácia e se perguntar pelo motivo dessa eficácia. E os motivos dessa eficácia não seriam razão suficiente para excluir o aspecto ideológico da conspiração.

Um popperiano teria a humildade de dizer “eu não sei” a respeito de muitas coisas relativas ao Fórum Econômico Mundial. O pedantismo dos letrados, ou um comodismo igual ao dos canadenses, torna incômodo esse tipo de apreciação.

Gazeta do Povo (PR)

Vagabundo




'Não podemos generalizar', disse Bolsonaro sobre a ação criminosa da PRF em SE

Por Mariliz Pereira Jorge (foto)

Jair Bolsonaro ficou fulo da vida quando questionado sobre a ação da PRF no episódio de tortura e assassinato de Genivaldo de Jesus Santos, em Sergipe. Deu chilique básico de gente autoritária, disse que será feita justiça "sem exageros". Não faço ideia do que seja "justiça sem exageros", mas pelo visto é mandar os diretores dispensados da corporação para uma temporada nos EUA.

Genivaldo foi asfixiado em uma viatura. Tudo filmado por uma enorme plateia, mas as perguntas que incomodam Bolsonaro são culpa da mídia que "sempre tem um lado, o da bandidagem". "Não podemos generalizar", disse. Sobre a ação criminosa da polícia, só silêncio. A passada de pano habitual de quem defende que a ditadura deveria ter matado 30 mil.

Senhor Jair, não posso falar por todos, mas há fartos indícios de que a "mídia" queira ver marginal na cadeia. Prova disso, o senhor não sai do noticiário. Então é o senhor que não pode generalizar. Eu, por exemplo, tenho horror a bandidagem, mas não acredito que bandido bom seja bandido morto. Muito menos quem é inocente.

Bandido bom é bandido processado, julgado e condenado. Espero que seja esse o seu destino, de seus filhos e da penca de políticos canalhas que o cercam. Tudo "dentro das quatro linhas da Constituição". Sem exageros, sem tortura, sem sprayzinho de pimenta ou cano de escapamento na cara, mas em cana.

Bandido para o senhor é qualquer pobre, preto, considerado vagabundo pela polícia. O que não falta é bandido de terno, imunidade parlamentar e Deus da boca pra fora. O senhor ficaria horrorizado em saber que tem vagabundo que usa dinheiro público para comer gente, desvia pagamento de funcionário para o próprio bolso, interfere na PF, prevarica, difama o sistema eleitoral, vaza informações sigilosas para atacar o TSE. Veja só, tem vagabundo que se elege presidente e não trabalha.

É bandido da pior espécie, mas não vamos generalizar.

Folha de São Paulo

Ditadura trans: de discriminados a discriminadores e antimulheres




É duro, mas temos que reconhecer que integrantes de uma camada vítima de preconceito extremo mostra intolerância e agressividade.

Por Vilma Gryzinski

Imaginem jovens do topo da elite branca que chamam de “lixo” um imigrante curdo que fugiu de seu país ainda criança quando Saddam Hussein lançou a brutal repressão à minoria no Iraque.

Foi isso que aconteceu com Nadhim Zahawi (foto), secretário da Educação do governo conservador e ex-responsável pela bem sucedida operação para coordenar a criação, a distribuição e a aplicação em massa de vacinas contra a covid.

Ele precisou sair sob proteção de seguranças de uma palestra dada na Universidade de Warwick, a convite da Associação Conservadora.

Cerca de trinta ativistas gritavam que “Zahawi é transfóbico” e o chamaram de “tory scum”, ou lixo conservador.

Entre os manifestantes estava Joel Cooper, filho de altos figurões do Partido Trabalhista. Se o governo mudar, sua mãe, Yvette Cooper, será secretária do Interior. Seu pai, Ed Balls, ocupou o cargo equivalente ao de ministro da Fazenda.

Elegantemente, Zahawi disse que “este estudante foi muito educado comigo. Ele apresentou um argumento razoável a respeito de como as escolas podem ajudar crianças que eu teria prazer em debater. O direito dele à liberdade de expressão também é vital”.

Os vídeos mostram o contrário. Além de ser do Partido Conservador – e milionário criador do instituto de pesquisas YouGov -, o pecado de Zahawi, entre outros, foi dizer que mulher é um ser humano adulto do sexo feminino.

No ambiente atual de intensa rejeição às bases do sexo biológico, isso é um crime sem tamanho. Em nome da inclusão de mulheres trans e homens idem (que continuam dotados do aparato destinado a gerar bebês), chegamos ao extremo oposto em que mulheres biológicas não podem reivindicar esta condição básica.

Zahawi também criticou a “perda de uma acadêmica do calibre” de Kathleen Stock, professora de filosofia que deixou a Universidade de Sussex por causa de uma campanha estudantil contra ela.

Os problemas da professora começaram depois que ela defendeu uma posição que é vista como anátema: espaços onde as mulheres se despem ao dormem não devem abrir acesso irrestrito a mulheres trans que ainda “são do sexo masculino, com genitais masculinos, inclusive as que são sexualmente atraídos por mulheres”.

Kathleen Stock é uma “lésbica de esquerda”, o que não aliviou em nada sua situação. Ao contrário, no universo paralelo que reina nas fronteiras queer, muitas lésbicas são acusadas de discriminação por não sentirem atração sexual por mulheres trans. Ela ainda é incluída na categoria Terf, um xingamento feio: é o acrônimo em inglês para feministas radicais que excluem os trans.

Tem mais alucinações: há mulheres biológicas que têm atração só por outras mulheres, mas se sentem constrangidas a fazer sexo com mulheres trans dotadas e usuárias de seus pênis.

A BBC fez uma reportagem sobre uma mulher que, com medo de ser chamada de Terf, concordou em ir para casa com uma trans, mas não quis saber de mais nada quando viu seu pênis. Não adiantou: a pessoa a estuprou.

Detalhe quase inacreditável: por orientação de seu comitê de diversidade, a BBC mudou o pronome dito pela vítima. Em lugar de “ele” (he/him) usou o plural (they/them). Em português, o equivalente seria empregar elx, uma variação inventada para evitar a flexão de gênero. Ficou assim: “Eu era muito jovem e tinha sofrido lavagem cerebral com a teoria queer, acreditando que (elx) era mulher. Mesmo que cada fibra do meu ser gritasse contra, aceitei ir para casa com (elx). (Elx) usou a força quando mudei de ideia ao ver seu pênis e me estuprou”.

Qualquer pessoa minimamente civilizada concorda que cada um tem o direito de viver a própria vida como quiser e ser tratado com o respeito devido a todos os seres humanos. Não é preciso um grande esforço para entender que os trans podem sofrer discriminações terríveis.

Mas também é evidente que discriminados se transformaram em discriminadores ao negar às mulheres biológicas a sua própria condição, a ponto de eliminar a palavra “mulher” de documentos oficiais, exigindo que sejam tratadas como “pessoas com colo de útero” e outros absurdos. Chega-se assim ao ponto em que estupradores que se declaram do gênero feminino são tratados de “elas”.

O comediante Ricky Gervais demonstrou, humoristicamente, a insanidade dessa forçação de barra num trecho de seu especial para a Netflix em que fala de “mulheres à moda antiga, as que tinham útero” e ironiza as que reclamam, nos casos de violência sexual praticada por trans, que “ele me estuprou”.

“É ‘ela me estuprou’, sua **** burra”.

É claro que estamos falando aqui de uma minoria da minoria da minoria. Existem problemas complexos, como admitir mulheres trans (com a genitália intacta) em espaços como alas femininas de hospitais e prisões. Em abril, uma presidiária trans foi condenada a sete anos por estuprar na área dos chuveiros da notória penitenciária de Riker’s Island, em Nova York, outra presa, mulher biológica.

Não há respostas fáceis, mas eliminar, agressivamente, a palavra e o conceito de “mulher” não é uma delas.

Curiosamente, as mulheres trans querem ser chamadas de mulheres, sem acréscimos. Mas a mesma palavra aplicada a mulheres biológicas é considerada preconceituosa.

Para quem acha deprimente os preconceitos – e os contra-preconceitos -, veio uma história da Ucrânia sobre um casal queer, Olexandr Zhuhan e Antonina Romanova. Eles foram voluntários da Força Territorial, que faz tarefas de apoio aos militares que combatem os invasores russos, e estavam voltando para mais um turno de três meses na frente de combate.

Antonina pede para ser chamada de “ela”, uma combinação original para quem tem barba e cabelo raspado. E conta: “Não sofri agressão nem bullying. Foi um pouco estranho para eles, mas com o tempo, começaram a me chamar de Antonina e alguns até usavam o pronome ela”.

Antonina e Olexandr usam, abaixo da bandeira ucraniana na manga do uniforme, um escudo de unicórnio, símbolo adotado pela turma LBGTQI que está na guerra. Um símbolo do qual podem se orgulhar.

Revista Veja

Negociador russo admite anexação de territórios ocupados já em julho




Um dos negociadores russos nas reuniões com Kiev disse esta quarta-feira que os territórios ucranianos conquistados militarmente pela Rússia vão poder realizar referendos, já em julho, tendo em vista a sua anexação.

"Não quero fazer previsões (...), mas acredito que os territórios libertados farão um referendo mais ou menos ao mesmo tempo, o que é lógico", declarou Leonid Sloutski, presidente do comité de Relações Externas da Câmara Baixa do parlamento russo (Duma), citado pela agência Ria Novosti.

"Conto com que isso possa acontecer em julho", acrescentou o deputado, que integra a delegação russa às negociações de paz com a Ucrânia, paralisadas há semanas.

A Rússia considera "territórios libertados" as regiões ucranianas que têm sido ocupadas em colaboração com os movimentos separatistas: as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, cuja independência Moscovo reconheceu, e as regiões de Kherson e Zaporijia, parcialmente conquistadas desde o final de fevereiro.

Desde a sua ocupação, as administrações sob controlo de Moscovo introduziram o rublo russo como moeda e estão a conceder nacionalidade russa aos seus habitantes e a instalar redes de comunicação russas.

O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, insistiu recentemente que os habitantes desses territórios "devem poder escolher o seu futuro", mostrando-se confiante de que irão escolher a sua autonomia e independência face a Kiev.

A ofensiva militar lançada na madrugada de 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia já matou mais de quatro mil civis e causou a fuga de mais de 14 milhões de pessoas de suas casas, mais de 6,8 milhões das quais para os países vizinhos, de acordo com os mais recentes dados da ONU.

Jornal de Notícias (PT)

O eleitor é um detalhe




Por Claudio Dantas (foto)

Ciro Gomes está certo. É uma covardia inominável com o eleitor que Lula e Jair Bolsonaro não participem de debates, seja na TV, na imprensa ou promovidos por entidades, como a Frente Nacional de Prefeitos.

Nunca antes na história o cidadão pagador de impostos foi tão desrespeitado pelos líderes das pesquisas.

O atual presidente é incapaz de oferecer saídas razoáveis para uma das piores crises econômicas da história. E o ex-presidente, que ameaça voltar, debocha da audiência ao dizer que só explicará sua política econômica depois de eleito.

É inaceitável que candidatos a dirigir a nação não prestem contas aos cidadãos que os sustentam, literalmente. A campanha virou briga de torcida, discursos são recheados de platitudes e postagens na internet buscam apenas ‘lacrar’.

Quem oferece algum plano de discussão é ridicularizado por ambos os lados.

A imprensa, sequestrada pela dinâmica do não debate das redes sociais, também é responsável por não cobrar accountability dos candidatos. Na defensiva, o TSE se perdeu no ativismo antibolsonarista e ajuda a aprofundar a polarização.

Para piorar, assistimos brotar por todo lado pesquisas com resultados tão díspares que é impossível concluir que todos estão certos. No mínimo, estão todos errados. Talvez seja o caso também de cobrarmos um debate entre os donos desses institutos.

Nada do que está acontecendo chega mesmo a surpreender, considerando que a política partidária virou uma corrida do ouro pelo botim do fundão eleitoral, até hoje sem regulamentação que garanta financiamento democrático e acesso de novos quadros.

As legendas se tornaram fábricas que consomem bilhões e nada produzem, sejam propostas de políticas públicas, lideranças ou gestores eficientes. Seus dirigentes enriquecem à luz do dia, vendem candidaturas no mercado negro eleitoral e escolhem quais candidatos receberão fundos públicos.

Precisam ser puxadores de votos para garantir a maior bancada e ter acesso a ainda mais recursos. Em 2018, esse sistema proporcional elegeu apenas 5% da Câmara pelo voto direto, distanciando ainda mais Brasília do resto do Brasil.

O Antagonista

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