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terça-feira, fevereiro 01, 2022

PGR denuncia ministro da Educação ao STF por homofobia




Milton Ribeiro afirmou em entrevista, em 2020, que adolescentes optam pela homossexualidade por pertencerem a "famílias desajustadas". Supremo decidirá se ministro responderá a um processo criminal por homofobia.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou nesta segunda-feira (31/01) o ministro da Educação, Milton Ribeiro, ao Supremo Tribunal Federal (STF), pelo crime de homofobia.

A denúncia foi motivada por uma entrevista que o ministro concedeu ao jornal O Estado de S. Paulo, em setembro de 2020, na qual afirmou que adolescentes optam pela homossexualidade por pertencerem a "famílias desajustadas".

"Acho que o adolescente, que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (...) tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe", afirmou Ribeiro ao jornal.

O ministro brasileiro também disse ver "menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma mulher de fato, com um homem de fato, e caminhar por aí. São questões de valores e princípios".

Preconceito e discriminação

A denúncia, assinada pelo procurador Humberto Jacques de Medeiros, destacou que Ribeiro "praticou o preconceito e a discriminação às orientações sexuais homoafetivas e às identidades de gênero, atribuindo-lhes a condição de anormalidade, bem como de decorrerem de um contexto familiar desajustado".

"Ao afirmar que adolescentes homossexuais procedem de famílias desajustadas, o denunciado discrimina jovens por sua orientação sexual e preconceituosamente desqualifica as famílias em que criados, afirmando serem desajustadas, isto é, fora do campo do justo curso da ordem social", acrescentou o procurador em outro ponto da acusação.

O procurador também registou que o ministro recusou uma oferta de acordo.

Agora, o STF decidirá se Ribeiro, que também é pastor da Igreja Presbiteriana, responderá a um processo criminal por homofobia, equiparado pela lei brasileira ao racismo e punível com até cinco anos de prisão. O relator do caso é o ministro Dias Toffoli.

Na época em que a entrevista foi publicada, após a repercussão negativa, Ribeiro justificou que a fala tinha sido retirada de contexto, mas pediu desculpas.

Deutsche Welle

***

Ministro da Educação é uma anta e foi denunciado ao STF por praticar crime de homofobia

Milton Ribeiro diz que suas palavras foram mal interpretadas

Por Mariana Muniz

A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o ministro da Educação, Milton Ribeiro, por suposta prática de homofobia. Em 2020, ao conceder uma entrevista ao jornal “O Estado de S.Paulo”, o ministro associou a homossexualidade a “famílias desajustadas”. Caso a denúncia seja recebida pelo STF, o ministro pode passar à condição de réu

“Ao afirmar que adolescentes homossexuais procedem de famílias desajustadas, o denunciado discrimina jovens por sua orientação sexual e preconceituosamente desqualifica as famílias em que criados, afirmando serem desajustadas, isto é, fora do campo do justo curso da ordem social”, diz a denúncia apresentada ao STF.

PRECONCEITO – Na denúncia, assinada pelo vice-procurador-geral da República Humberto Jacques de Medeiros, a PGR afirma que ao enunciar que “a questão de gênero’ “não é normal’ e mencionar que “o adolescente que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo”, o ministro da Educação “induz o preconceito contra homossexuais colocando-os no campo da anormalidade”.

“Ao desqualificar grupo humano – publicamente e por meio de comunicação social publicada – depreciando-o com relação a outros grupos em razão de orientação sexual, o denunciado adota um discrímen vedado e avilta integrantes desse grupo e seus familiares, emitindo um desvalor infundado quanto a pessoas, induzindo outros grupos sociais a ter por legítimo o discrímen, por sustentável o prejuízo sem lastro, por reforçado o estigma social, por aceitável a menos valia de pessoas e por explicável a adoção e manutenção de comportamentos de rejeição e mesmo hostilidade violenta a esse grupo humano vulnerável”, afirma a PGR.

PASTOR PRESBITERIANO– Em um dos trechos da entrevista citados pela PGR, Ribeiro, que é pastor da igreja Presbiteriana, declarou:

“Quando o menino tiver 17, 18 anos, ele vai ter condição de optar. E não é normal. A biologia diz que não é normal a questão do gênero. A opção que você tem como adulto de ser um homossexual, eu respeito, não concordo”.

Em outro trecho, o ministro da Educação sugere que o adolescente “muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo (sic) tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe. Vejo menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma mulher de fato, com um homem e caminhar por aí”.

SANÇÃO PENAL – Segundo o vice-procurador-geral da República, as declarações do ministro da Educação representam um “comportamento disruptivo do tecido social”, para o qual a lei e a jurisprudência do STF “respondem com sanção penal”.

A PGR havia pedido a denúncia do titular do MEC ao STF em setembro de 2020. Em outubro de 2020, o ministro Dias Toffoli, relator do caso, acolheu o pedido para que Ribeiro prestasse depoimento à Polícia Federal sobre as acusações de crime.

Na época dos fatos, em uma rede social, o ministro da Educação disse que sua entrevista foi “interpretada de modo descontextualizado”. Ele afirma que não teve a intenção de ” discriminar ou incentivar qualquer forma de discriminação em razão de orientação sexual.”

Nota do blog Tribuna da Internet – O ministro não foi mal interpretado, ele é idiota, mesmo. O sujeito é uma anta de terno e gravata. (C.N.)

O Globo / Tribuna da Internet

França envia fragata para o Mar Negro e a Polónia munições para Kiev




Fragata Auvergne D654 atracada no porto de Odessa, na Ucrânia

A França anunciou, esta segunda-feira, a mobilização de uma fragata para o Mar Negro, um dos epicentros de tensão na crise Ucrânia-Rússia, e a Polónia disse que vai enviar munições defensivas para as autoridades ucranianas.

A fragata francesa deverá passar três semanas no Mar Negro e faz parte do grupo naval do porta-aviões "Charles de Gaulle", que vai estar em missão do Mediterrâneo oriental entre fevereiro e abril, disse a Marinha em Paris, citada pela agência de notícias espanhola EFE.

O "Charles de Gaulle" deixará o porto de origem na terça-feira, para a sua 14.ª missão, com 1200 marinheiros, 22 aviões de combate Rafale, dois aviões de vigilância Hawkeye e dois helicópteros.

O porta-aviões será acompanhado por três fragatas, um navio de abastecimento e um submarino nuclear, mas incluirá também outras unidades de três países da União Europeia (Bélgica, Espanha e Grécia) e dois dos principais aliados da NATO (Estados Unidos e Canadá).

De acordo com a Marinha francesa, como nas suas missões anteriores, o porta-aviões trabalhará para combater a reconstituição das capacidades do grupo terrorista Estado islâmico no Médio Oriente, mas também estará envolvido nos compromissos da França com os países da UE e da NATO.

A França já anunciou que está disposta a enviar "várias centenas" de militares para a Roménia para reforçar o sistema de defesa deste país da Aliança Atlântica que faz fronteira com a Ucrânia e com uma frente marítima no Mar Negro, tendo em conta a tensão crescente com a Rússia.

Em Varsóvia, o chefe do Conselho de Segurança Nacional Polaco (CNS), Pawel Soloch, anunciou o envio de dezenas de milhares de unidades de "munições defensivas" para a Ucrânia.

Soloch disse que esta ajuda poderá ser alargada a material humanitário, de acordo com a EFE.

Segundo Soloch, a decisão foi tomada numa reunião entre o Presidente polaco, Andrzej Duda, e o seu homólogo ucraniano, Volodymir Zelenski, há dez dias, na Polónia.

Soloch confirmou a intenção de Varsóvia de prestar "apoio político, mas também assistência material, tanto na dimensão humanitária como militar" aos seus vizinhos ucranianos.

Sobre o tipo de munições em questão e quando serão enviadas, disse que "isso depende do lado ucraniano", do qual as autoridades polacas esperam uma resposta, embora a Polónia esteja "pronta para enviar a qualquer momento".

O chefe do NCS polaco também se referiu a relatórios sobre uma aliança entre a Ucrânia, a Grã-Bretanha e a Polónia, especificando que "os detalhes ainda estão a ser trabalhados".

Admitiu, no entanto, que a formalização de tal acordo "possa ser anunciada esta semana".

As autoridades polacas não especificaram que tipo de aliança será, nem o seu âmbito e finalidade.

Segundo o Ministério da Defesa polaco, Moscovo mantém "mais de 127.000" soldados estacionados ao longo da fronteira ucraniana desde 2021, o que levou à atual situação de tensão entre a Rússia, os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

A Polónia apelou à NATO e aos Estados Unidos para uma maior presença militar internacional na Europa de Leste para dissuadir a Rússia de atacar a Ucrânia e para atuar como fator de dissuasão.

Os exércitos russo e bielorrusso estão a planear exercícios militares conjuntos perto da fronteira ucraniana num futuro próximo, segundo a EFE.

Jornal de Notícias (PT)

Em meio à crise Rússia-Ucrânia, premiê húngaro visita Putin




Viktor Orbán quer assegurar contratos vantajosos de energia nuclear e gás com a Rússia. Próximo ao Kremlin desde que chegou ao poder, líder húngaro de ultradireita mostra que nem todos na UE têm se afastado de Moscou.

Por Priyanka Shankar

Em visita a Moscou agendada para esta terça-feira (01/02), o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, busca conseguir de Vladimir Putin um crescimento no fornecimento de gás russo a seu país e discutir o progresso do projeto da usina nuclear de Paks, que tem apoio da Rússia. Entretanto, as tensões envolvendo a Ucrânia ofuscam o encontro.

"Obviamente, não podemos evitar falar sobre a situação de segurança na Europa, onde a posição da Hungria é completamente clara. Estamos interessados na paz", disse Orbán em entrevista na semana passada. Ele acrescentou que discutiria negociações de segurança com autoridades da UE e da Otan antes de se encontrar com o presidente Putin.

Daniel Hegedüs, especialista em Europa Central e pesquisador visitante do think tank German Marshall Fund, acredita que o timing desta reunião é simbólico.

"Esta é a 11ª reunião pessoal entre Putin e Orbán, e o momento em que ocorre envia uma mensagem simbólica para Putin, porque mostra a ele que nem todas as nações da UE o evitaram por causa da crise na Ucrânia. Um encontro similar também ocorreu após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014, fazendo com que muitos questionem se a Hungria seria como o cavalo de Troia do Kremlin no Ocidente", afirma, em entrevista à DW.

"Dois coelhos"

"Mas através desta reunião, o primeiro-ministro Orbán está disposto a acertar dois coelhos com uma cajadada só. Por um lado, ele deseja manter a relação especial de seu país com a Rússia. Por outro lado, à luz das próximas eleições húngaras, ele deseja atender às necessidades energéticas de seu país e busca aumentar o volume de fornecimento de gás do Kremlin", acrescenta.

Desde que Orbán assumiu o poder como primeiro-ministro da Hungria, em 2014, ele tem realizado reuniões regulares com o presidente Putin. As negociações sobre o fornecimento de energia sempre foram uma parte fundamental dessas reuniões.

Segundo András Rácz, pesquisador sênior do Conselho Alemão de Relações Exteriores (DGAP, na sigla em alemão), a política multifacetada de Orbán para tornar seu país autossuficiente na produção de energia também beneficia o Kremlin.

"Em 2014, a Hungria assinou um contrato com a empresa estatal russa de energia nuclear Rosatom, para expandir a usina nuclear de Paks na Hungria, construindo dois reatores atômicos. O projeto é financiado por um empréstimo de 10 bilhões de euros da Rússia e é um elemento-chave também para a melhoria das relações comerciais entre Rússia e Hungria", afirma.

"Antes deste acordo, a Rosatom tinha projetos em todo o mundo, menos na UE. Assinar este acordo com a Hungria foi muito importante para a companhia, porque muitos acreditam que se você é bom o suficiente para a UE, você é bom o suficiente qualquer lugar", acrescenta.

Embora o projeto tenha sofrido muitos atrasos, o ministro do Exterior da Hungria, Peter Szijjarto, disse à agência de notícias estatal russa Tass que a Hungria deseja que o projeto "entre na fase de estabelecimento" no primeiro semestre de 2022.

Suprimento de gás

Szijjarto também disse que o aumento da oferta anual de gás seria uma parte fundamental das negociações com Putin, em meio à disparada dos preços da energia na Europa.

Em setembro de 2021, a Hungria assinou um contrato de gás de longo prazo com a Gazprom da Rússia, garantindo que 4,5 bilhões de metros cúbicos de gás russo serão fornecidos à Hungria via Sérvia e Áustria, contornando a Ucrânia.

Mas o contrato de gás irritou as autoridades ucranianas no ano passado. O ministro do Exterior da Ucrânia disse que o acordo foi assinado "para desafiar os interesses nacionais da Ucrânia e as relações ucranianas-húngaras".

'A usina nuclear de Paks, na Hungria, foi construída com apoio da Rússia'

Além disso, em meio ao atual cenário geopolítico na Ucrânia, o encontro de Orbán com o presidente russo causou surpresa na própria Hungria.

A oposição divulgou um comunicado na semana passada, pedindo ao primeiro-ministro que cancele a reunião, explicando que a reunião "envia uma mensagem de que a Otan e os países membros da UE não estão unidos em rejeitar as propostas de Putin".

Oeg Ignatov, analista sênior do International Crisis Group, explica que, embora os principais trunfos de Orbán sejam o pragmatismo e fazer o que é mais benéfico para seu país, ele tem uma relação complicada com a Rússia.

"Só posso dizer que Orbán conseguiu tudo o que precisava da Rússia – um contrato de gás muito favorável. Os termos desse contrato também são melhores do que os de alguns outros compradores de gás russo. Ao mesmo tempo, a Hungria não diverge dos termos da política da UE em relação à Rússia", disse ele à DW.

Interesse em fim das tensões

À medida que as tensões sobre as ações do Kremlin na Ucrânia aumentam, alguns países europeus do grupo Visegrad – Polônia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia – têm apoiado os esforços militares da Otan na Ucrânia. Mas a Hungria ameaçou ficar de fora por causa de muitos desentendimentos anteriores com a Ucrânia.

Entretanto, Ignatov explica que, embora a Hungria e a Ucrânia tenham seus próprios problemas em relação aos direitos dos húngaros que vivem na Ucrânia, não há evidências de que a Hungria tome uma posição diferente da UE em relação à segurança europeia.

Além dos esforços da Otan, os líderes dos EUA e da UE também debatem a imposição de sanções à Rússia, que incluem proibições comerciais e cortes no fornecimento de energia. Hegedüs. do GMF, destaca que enquanto as sanções estão na mesa, para Orbán, mitigar a crise também atende aos seus interesses nacionais.

"A Europa Oriental é altamente dependente do fornecimento de gás russo, e Orbán sabe como uma invasão da Ucrânia pode prejudicar o fornecimento de gás", diz ele à DW. "Além disso, a Hungria tem uma política externa multilateral. Portanto, uma invasão da Ucrânia também colocaria Orbán em uma situação difícil, na qual, como membro da Otan e da UE, ele teria que equilibrar as questões entre o Ocidente e, ao mesmo tempo, ouvir o Kremlin para manter seu relacionamento especial."

Deutsche Welle

Sob Bolsonaro, prevaricação é descuido cívico




Por Josias de Souza

Num esforço para imunizar Bolsonaro contra a desmoralização no caso Covaxin, o governo construiu no ano passado um enredo desconexo. O esforço revelou-se desnecessário. 

A Polícia Federal chegou à inusitada conclusão de que o presidente da República não comete crime de prevaricação quando ignora uma denúncia de corrupção que lhe chega ao conhecimento. 

O chefe da nação pode ser acusado, no máximo, de descumprir um "dever cívico", anotou o delegado federal William Tito Schuman Marinho no seu relatório final. Em pensar que o governo havia elaborado três versões para blindar Bolsonaro!.

O presidente deu de ombros para uma denúncia. Foi levada à biblioteca do Alvorada pelo deputado bolsonarista Luis Miranda e o irmão dele, Luis Ricardo, que flagrou a tentativa de pagamento antecipado de US$ 45 milhões por uma vacina indiana mais cara do que as outras e jamais aprovada pela Anvisa.

Diante do escândalo, o então ministro palaciano Onyx Lorenzoni e o coronel Elcio Franco, número 2 da gestão do general Eduardo Pazuello na Saúde, desqualificaram os irmãos Miranda. Acusaram-nos de usar uma nota fiscal falsa. Não colou. O documento era autêntico.

Alegou-se, então, que Bolsonaro avisou Pazuello sobre os malfeitos. Fez isso às vésperas da saída do general do ministério da Saúde. Não convenceu. Informou-se na sequência que Pazuello encomendou providências ao seu braço direito Elcio Franco, que permaneceria por mais alguns dias na pasta. 

Nessa versão, o coronel teria constatado, com a velocidade de um raio, que não havia irregularidades na compra das vacinas que custariam R$ 1,6 bilhão ao governo. Posteriormente, Marcelo Queiroga, o substituto de Pazuello anunciaria, por irregularidades insanáveis, a anulação do contrato. Esse balé de elefantes revelou-se um gasto inútil de criatividade e energia.

O inquérito policial foi remetido nesta segunda-feira à ministra Rosa Weber, do Supremo. Descerá também à mesa do procurador-geral Augusto Aras. O delegado William Marinho dispensou até o interrogatório do presidente. No final de um processo com mais de 2 mil páginas, anotou que não faz parte do "dever funcional" de Bolsonaro "comunicar eventuais irregularidades de que tenha tido conhecimento" aos órgãos de investigação como a Polícia Federal. 

Se prevalecer essa posição, ficará entendido que todo funcionário público tem o dever de agir quando souber de irregularidades, sob pena de prevaricar. Mas o presidente, servidor número um do país, pode ignorar os malfeitos ao redor. Não será acusado senão de desatenção com o seu "dever cívico". 

Não é que o crime não compensa. A questão é que, quando compensa, é chamado de descuido cívico.

Blog do Josias de Souza

"Partygate" aponta "grave falha" na gestão de Boris Johnson




Primeiro-ministro britânico é investigado internamente e pela polícia por ter promovido festas durante os bloqueios impostos pelo próprio governo para conter a disseminação do coronavírus.

Um relatório interno do governo britânico apelidado de "Partygate" divulgado nesta segunda-feira (31/01) diz que as festas promovidas pelo primeiro-ministro, Boris Johnson, e membros de seu gabinete durante bloqueios impostos pela pandemia de covid-19 representaram uma "grave falha".

Os eventos vieram à tona a partir de dezembro de 2021, desgastando a imagem de Johnson, que vem sendo pressionado a renunciar inclusive por membros do próprio Partido Conservador. Nesta segunda-feira, ele se desculpou no Parlamento. 

A responsável pelo relatório, Sue Gray, concluiu que houve "falhas de liderança e julgamento" por parte do governo e "alguns dos eventos não deveriam ter ocorrido".

Após a divulgação do relatório, a polícia britânica confirmou que está investigando 12 festas realizadas em oito datas ao longo de 2020 e 2021, por potencialmente terem violado bloqueios impostos pelo próprio governo britânico para conter o novo coronavírus.

Críticas no relatório

Como a investigação policial ainda está em andamento, o relatório interno não especifica que regulamentos foram violados. No entanto, Gray fez algumas observações duras e críticas no documento de 12 páginas. 

"Houve falhas de liderança e discernimento por diferentes elementos do Número 10 [da Downing Street, em Londres, gabinete do primeiro-ministro] e do Gabinete [governo] em momentos diferentes. No contexto da pandemia, quando o governo pedia aos cidadãos que aceitassem restrições profundas nas suas vidas, alguns dos comportamentos [...] são difíceis de justificar."

"Alguns dos eventos não deveriam ter sido permitidos. Outros eventos não deveriam ter sido autorizados a ocorrer como ocorreram", censura o texto, ressaltando também "o consumo excessivo de álcool" naquele que é um local de trabalho. 

Segundo o relatório, "pelo menos algumas das reuniões em causa representam uma falha grave em cumprir não apenas os altos padrões esperados daqueles que trabalham no núcleo do governo, mas também os padrões esperados de toda a população britânica na época". 

Pedido de desculpas

Falando ao Parlamento na tarde desta segunda-feira, Johnson pediu desculpas; "Lamento pelas coisas que simplesmente não acertamos e pela forma como este assunto foi tratado. Não adianta dizer isso ou aquilo, estava nas regras.

"Este é um momento em que devemos nos olhar no espelho e aprender. Eu percebo [o problema] e vou corrigi-lo", prometeu. Apesar de reivindicações veementes, Johnson se recusa a renunciar. É necessário que 54 deputados entreguem "cartas de desconfiança" para ativar uma moção de censura interna.

O fato de o relatório interno omitir menções a possíveis crimes foi visto por alguns como uma oportunidade para o premiê conservador de 57 anos "respirar”.

A vice-líder do Partido Trabalhista, de oposição, Angela Rayner, escreveu no Twitter, antes da publicação do documento, que o povo nas ruas sabe que Johnson quebrou as regras: "Ele fez as regras, ele quebrou as regras, ele é inapto para o cargo."

Investigação policial

A investigação policial sobre os 12 incidentes potencialmente criminais teve início após inúmeras alegações e queixas de que a polícia se recusara a analisar os casos anteriormente.

Entre os eventos sob investigação da polícia estão um nos alojamentos privados de Johnson, em 13 de novembro de 2020, quando o assessor Dominic Cummings se demitiu; uma festa de aniversário de Johnson em junho de 2020; e dois encontros na véspera do funeral do príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth 2ª, quando o Reino Unido estava em luto oficial.

A polícia recebeu para análise mais de 300 imagens e 500 páginas de informações. Interrogatórios ainda estão em andamento. 

"Se, após uma investigação, os agentes acreditarem que é apropriado, porque os regulamentos da covid foram violados sem uma justificação razoável, será emitida uma multa. Uma vez que a multa seja paga, o assunto é considerado encerrado", declarou a polícia. 

O "Partygate" causou uma onda de indignação entre os britânicos, impedidos de se encontrarem com amigos e familiares durante meses em 2020 e 2021 para conter a propagação da covid-19. Dezenas de milhares de cidadãos foram multados pela polícia por desrespeitarem as regras.  

Sondagens recentes mostram uma queda na popularidade de Johnson, eleito em 2019 com uma maioria absoluta histórica graças à promessa de concretizar o Brexit. 

Deutsche Welle

O sequestro do Orçamento - Editorial

 




Plano de gastos é refém de parlamentares que exploram pusilanimidade de Bolsonaro

A sanção do Orçamento deste ano reforçou a necessidade de uma reforma que garanta ao Executivo um mínimo de controle sobre o destino do dinheiro público oriundo dos impostos pagos pela sociedade. As despesas obrigatórias, que incluem gastos com servidores públicos e benefícios previdenciários e sociais, representaram mais de 93% dos dispêndios de 2021, segundo o Tesouro Nacional, ante 85% em 2008. A margem de gastos discricionários, cuja escolha deveria caber ao governo, cai ano a ano e tem sido cada vez mais consumida pelo apetite voraz dos parlamentares por meio de emendas, tudo com a animada cumplicidade de Jair Bolsonaro.

O sequestro do Orçamento não é um fenômeno exatamente novo. Tudo começou em 2013, ainda na gestão Dilma Rousseff, quando o Senado aprovou uma proposta que tornou impositiva a execução das emendas parlamentares individuais em um momento de crescente desgaste nas relações entre os Poderes. Na época, o Executivo empenhava as emendas, mas não liberava os pagamentos e privilegiava, evidentemente, as de autoria de congressistas do PT. Enquanto pôde, a base do governo conseguiu segurar o avanço dessa proposta, mas em 2015, assim que Eduardo Cunha assumiu o comando da Casa, a primeira emenda constitucional aprovada pelos deputados foi justamente a do Orçamento impositivo. Numa política de redução de danos, a gestão petista conseguiu assegurar que metade delas fosse destinada à saúde.

Se o início do problema remete a Dilma, a degradação da formulação do Orçamento teve um enorme impulso após a eleição de Bolsonaro. Estimulados pela jactância do ministro da Economia, Paulo Guedes, que se recusou a participar da elaboração da peça orçamentária no fim de 2018, o Congresso fez o que quis do péssimo slogan de campanha “mais Brasil, menos Brasília”, supostamente uma tentativa de descentralizar o uso de recursos pela União e elevar a autonomia de Estados e municípios.

Como não há vácuo de poder, quando alguém se recusa a exercer as funções para as quais foi escolhido – caso de Bolsonaro, que nada produziu na Câmara e hoje é figura decorativa na Presidência –, outros o fazem. Foi o que o Congresso fez em 2019, ao aprovar duas emendas constitucionais que tornaram obrigatória a execução das emendas de bancada, de autoria coletiva, e das transferências diretas a Estados e municípios, conhecidas como “emenda pix” ou “emenda cheque em branco” por sua finalidade indefinida e não sujeita à fiscalização. Não satisfeito, o Legislativo criou ainda, por meio de uma alteração na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), as emendas de comissão e as emendas de relator-geral, base do orçamento secreto, um esquema para assegurar apoio ao governo revelado pelo Estadão. No teatro que vem sendo encenado por Bolsonaro e pelo Congresso há três anos, entre vetos presidenciais mantidos e derrubados, a execução dessas despesas jamais foi bloqueada.

Nesse contínuo processo de degradação, o País chega a 2022 com um Orçamento que tem a cara de Bolsonaro: engessado por despesas obrigatórias e emendas paroquiais de R$ 35,6 bilhões, uma verdadeira orquestra de horrores regida pela batuta de um dos maiores líderes do Centrão, Ciro Nogueira (PPPI). “O Parlamento está muito bem atendido conosco”, disse Bolsonaro, orgulhoso de seu próprio desleixo com o uso do dinheiro público.

De fato, os congressistas não têm do que reclamar. A população que lide com os cortes em saúde, educação e infraestrutura em meio a uma crise em que não há crescimento nem emprego, mas não faltam recursos para comprar tratores superfaturados ou para conceder reajuste às forças de segurança, tudo em nome de votos. Caberá ao próximo presidente o desafio de reconstruir a relação entre Executivo e Legislativo sob outras bases que não a do clientelismo. Sendo a economia a ciência das escolhas e a escassez de recursos uma realidade inexorável, as prioridades devem ser baseadas no interesse da coletividade. Pelo futuro do País, o resgate do Orçamento pelo governo é que deveria ser obrigatório, não as emendas.

O Estado de São Paulo

Disseram que eles não vinham, olhem eles aí

 




Com morte da Lava- Jato, velha guarda quer voltar a Brasília

Por Bruno Carazza*

No primeiro episódio do podcast “Minuto Roraima”, você fica sabendo como milhares de pessoas que trabalharam nos ex-territórios de Roraima, Rondônia e Amapá foram transformados em servidores públicos federais. Na sequência, conhece a história da Polícia Militar do Estado, e de como uma lei aprovada pelo Congresso em 2016 equiparou seus soldos com os do Distrito Federal, os maiores do país. No último programa, são apresentadas as políticas sociais e de transferência de renda da prefeitura da capital, Boa Vista.

O apresentador do podcast se diz responsável por todas essas benesses. Sumido dos holofotes desde o final de 2018, ele ressurge com a imagem renovada, tentando explorar as mídias modernas (está também no YouTube e nas principais redes sociais). Até o famoso bigode foi abandonado.

A audiência de Romero Jucá ainda é baixa, mas o movimento é claro. O “resolvedor-geral da República” quer voltar ao Senado, para a cadeira que ocupou de 1995 a 2018 - quando terminou as eleições num humilhante terceiro lugar, atrás de Chico Rodrigues (aquele do dinheiro no feofó) e do ex-deputado estadual Mecias de Jesus.

2018 foi um ano duro para os políticos tradicionais. Uma onda de indignação popular começou a se formar com os protestos de 2013, ganhou impulso com o impeachment de Dilma Rousseff e se transformou num tsunami com a Operação Lava-Jato. A então chamada “velha política” foi dizimada nas urnas.

Os índices de reeleição ou de obtenção de um novo cargo em 2018 foram os mais baixos do passado recente: apenas 58,3% entre os deputados e míseros 28,6% no caso dos senadores - e olha que eram duas vagas em disputa naquele ano.

Jucá, portanto, não caiu do cavalo sozinho. Outros nomes relevantes da política brasileira também ficaram sem mandatos, de todas as correntes ideológicas, envolvidos ou não em processos criminais. Jorge Viana, Lindbergh Farias, Delcídio do Amaral, Vanessa Grazziotin, Cristovam Buarque, João Capiberibe, Edison Lobão, Eunício Oliveira, Garibaldi Alves, Armando Monteiro, Magno Malta, Roberto Requião, Ricardo Ferraço, Valdir Raupp - para ficar só no “alto clero” do Senado de então.

Na Câmara, a lista de quem ficou a ver navios também é longa, com muitas figuras que ocupavam os cadernos de política dos jornais (e alguns deles também as páginas policiais): José Carlos Aleluia, Benito Gama, Mendonça Filho, Carlos Melles, Cristiane Brasil, Alberto Fraga, Heráclito Fortes, Antônio Imbassahy, Janete Capiberibe, Lúcio Vieira Lima, Leonardo Picciani, Luiz Carlos Hauly, Marco Maia, Marcos Pestana, Osmar Serraglio, Paes Landim, Saraiva Felipe, Ronaldo Lessa, Sarney Filho e Zeca do PT, entre outros.

À época, a carreira de muitos desses políticos foi dada como encerrada. Passados quatro anos, aparentemente a maré virou.

Com a morte da Lava-Jato, dezenas de condenações foram extintas. A decisão do STF de transferir processos de corrupção para a Justiça Eleitoral, menos estruturada do que a Federal, atrasou investigações. E a nova Lei de Impunidade, ops!, de Improbidade Administrativa também vai ajudar a limpar a ficha de muita gente.

Afora esse processo de recuperação judicial de biografias políticas, as condições da competição eleitoral deste ano também favorecem o retorno de velhas raposas.

De um lado, o caótico governo Bolsonaro sinalizou ao eleitorado que esse papo de “nova política” pode não ser tão positivo assim.

Além disso, os partidos chegam a 2022 turbinados com R$ 6 bilhões dos fundos partidário e eleitoral. Esse volume inédito de dinheiro público para fazer campanha é controlado pelos diretórios dos partidos - e essa velha guarda, mesmo sem cargos, ainda tem muita influência em seus redutos eleitorais.

Livres dos processos judiciais e com fartura de recursos para gastar, muitos conseguirão voltar a Brasília - e ditarão as condições de governabilidade do próximo presidente da República.

Para o bem ou para o mal, seja quem for ocupar o Palácio do Planalto a partir de 01/01/2023, é bom ir se preparando para negociar com um Congresso com menos novatos e mais “políticos tradicionais”.

*

Bolsonaro editou na semana passada o Decreto nº 10.948/2022, abrindo um escritório do Ministério da Economia em Washington. O cargo já tem dono: Carlos da Costa, fiel escudeiro de Paulo Guedes desde os tempos do mercado financeiro.

A nomeação marca o início da temporada da distribuição de boquinhas que acontece todo final de mandato - quando presidentes e ministros premiam seus apoiadores mais fiéis com temporadas no exterior à custa do contribuinte.

Atualmente existem 86 postos de adidos e auxiliares militares, 28 adidos agrícolas e 4 adidos tributários, além de dezenas de representações em organismos internacionais; todos com funções pouco claras e quase nenhuma prestação de contas do trabalho exercido.

Num país que já tem um corpo diplomático muito bem selecionado, capacitado e remunerado para tratar de questões econômicas, geopolíticas e comerciais, essas sinecuras para os mais chegados deveriam ser extintas, não ampliadas.

*Bruno Carazza é mestre em economia e doutor em direito, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”. 

Valor Econômico

Vale a pena roubar no Brasil. Vale a pena roubar o Brasil

 




Por Mario Sabino (foto)

Como publicamos, em entrevista ao programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes, Sergio Moro comentou a anulação das condenações de Lula e todo o desmonte das conquistas na luta contra a corrupção. Ele afirmou: “A grande verdade é que o recado que está sendo dado hoje em dia no Brasil, não estou dizendo pelo Supremo, mas pelo contexto, é ‘vale a pena roubar’, ‘o crime compensa’. Eu não concordo com isso.”

Sergio Moro pode não concordar, eu também discordo e imagino que você, leitor deste site, também fique contrariado com tudo a que estamos assistindo, mas a verdade mais evidente que pode ser dita sobre o país é que, sim, no Brasil vale a pena roubar. Mais do que valer a pena, o crime compensa, e como compensa. A realidade é incontornável. Pior: os desonestos são aplaudidos e invejados. Admirados, mesmo.

Boa parte dos logradouros públicos brasileiros tem nome de ladrão — seja ladrão político ou ladrão que comprou político. Todos devidamente homenageados. Tem ladrão de esquerda, tem ladrão de direita, tem ladrão de centro e tem ladrão de muito pelo contrário: roubam os cidadãos de tudo o que é lado, em raro espetáculo de democracia absoluta. Roubam no pequeno dinheiro das verbas de gabinete, nas emendas parlamentares e nos gigantescos contratos governamentais. A Lava Jato foi um ponto tão extraordinariamente fora da curva no caso brasileiro que chamou a atenção do mundo — e sofreu a reação em curso.

A ladroagem é tão explícita que ninguém mais enxerga a ladroagem. Veja-se, por exemplo, as mansões do Lago Sul, em Brasília. Quem com o teto de salário de político, juiz ou funcionário público pode ter uma casa daquelas? Ah, é que o sujeito já tinha patrimônio antes. Uma ova. São muito poucos os que eram ricos antes de se lambuzar com dinheiro público. Ah, mas o dinheiro é da mulher ou do marido, profissionais de sucesso, ou dos filhos, que se provaram gênios da raça. Vão à merda.

Um romano de 2 mil anos atrás, não lembro o nome, disse: “Nenhum homem de bem se torna rico de repente”. O problema não é ser rico, é a locução adverbial. Há muitos “ricos de repente” no Brasil, e não só no meio político. Uma penca de malandros da iniciativa vaso sanitário, também conhecida como privada, aprendeu a fazer ótimos negócios em Brasília e adjacências estaduais ou municipais. Além de abrigar advogados especializados em embargos auriculares, esse ecossistema conta com gafanhotos conhecidos como consultores ou mediadores de crises, cuja tarefa consiste em tirar ladrão dos holofotes da imprensa. Outra chusma especula no mercado financeiro em cima da desgraça alheia. Somos o país da locupletação adverbial.

Sim, vale a pena roubar no Brasil, sempre valeu. Sim, o crime compensa no Brasil, sempre compensou. Mas tudo bem: depois eles, do esgoto público ou da iniciativa vaso sanitário, devolvem uma parte ínfima do que embolsaram, aprovando esmolas assistenciais, promovendo circos para o povo ou patrocinando ações caritativas com o dinheiro do pagador de impostos que surrupiaram. O quadro é emoldurado por aqueles que choram lágrimas de crocodilo em vídeos na internet ou passeiam de helicóptero para ver pobre se ferrando em enchentes que não são desastres naturais, mas desastres de desumanidade em cidades precárias e horrendas. Ah, mas nos Estados Unidos também havia os robber barons, é uma etapa necessária. Vão à merda.

Eu os mando à merda, mas a merda é nossa. Vale a pena roubar no Brasil. Vale a pena roubar o Brasil.

O Antagonista

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