Antonio Santos Aquino
Vi e vivi o período mais atuante de Carlos Lacerda na política até 1968 quando foi alijado do processo político da “Revolução” e depois liderou a Frente Ampla, quando se encontrou com Juscelino em Portugal e com Jango no Uruguai, após ter sido cassado no AI-5. Fora da política, criou a importante editora Nova Fronteira e morreu deixando dúvida em sua filha Cristina, que no jornal “Tribuna da Imprensa” disse suspeitar que seu pai tinha sido assassinado.
Quando da morte do major Rubens Vaz, eu servia com o ministro almirante Benjamin Sodré no Superior Tribunal Militar, aqui no Rio, na Praça da República. Já pensei em escrever um livro contando a verdade verdadeira sobre o assassinato do major Rubens Vaz, dizendo quem verdadeiramente o matou. Tudo o que foi dito e escrito sobre os acontecimentos não relatam a verdade.
ERAM COMUNISTAS – A família Lacerda apoiou a Revolução de 1930. Maurício de Lacerda foi nomeado Embaixador Plenipotenciário para os países do Prata. Os irmãos Paulo e Fernando eram declaradamente comunistas e faziam propaganda ostensiva nas fábricas e no cais do porto. O chefe de polícia era Batista Luzardo, guerreiro gaúcho do partido Libertador (maragato), médico e advogado e também fora porta-voz da Coluna Prestes no Senado.
Luzardo, depois de algum tempo sabendo das queixas e reclamações sobre Paulo e Fernando Lacerda, foi a Getúlio e citou os irmãos de Maurício, perguntando o que devia fazer? (Getúlio sabia de tudo, inclusive da reclamação da Igreja, mas em consideração a Maurício dava “ouvidos de mouco”). Respondeu Getúlio: “Cumpra-se a lei”. Luzardo mandou reprimir os movimentos e houve pancadaria e prisões.
Tem uma versão dizendo que depois de sair da prisão e indo para o Rio Grande do Sul, Paulo enlouqueceu. No livro do brasilianista John W.F. Dulles, o comentário sintético de do médico comunista Leôncio Basbaum fala que Fernando andava sempre enfermo, qualquer coisa do coração, era por pura vocação um obrerista do PC.
ÓDIO DE GETÚLIO – Fernando fala de sua doença e do problema do irmão Paulo, que foi preso em São Paulo e mandado para o Rio Grande do Sul. Por não denunciar ninguém, simularam três vezes seu fuzilamento e dizem que Paulo na terceira vez ficou maluco. Quanto ao ódio que Lacerda tinha de Getúlio, presume-se que tenha sido essa a razão.
Na sua última entrevista para uma jornalista (saiu na Tribuna da Imprensa), perguntado sobre a razão de seu ódio por Getúlio, Lacerda respondeu: “É uma questão particular”. Bem, os fatos aconteceram, mas as versões são diversas.