Aos secretários estaduais Nestor Duarte e Fausto Franco!
Senhor Governador,
Na percepção geral, de sua entrevista, no último domingo, ao programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes, emergiu o seu nome como forte candidato potencial, à Presidência da República, nas eleições de 2022, representando as oposições ao atual governo, em razão do conhecimento que revelou a respeito das questões discutidas, da serenidade nas opiniões que emitiu sobre temas que dividem a sociedade brasileira, da firmeza de posições, nos limites do razoável, da prudência e humildade que devem ser observadas por servidores em posições relevantes. Na contramão da postura passional da direção bolivariana do Partido dos Trabalhadores, ficou claro o seu apoio à Reforma da Previdência, liderando os nove estados nordestinos, desde que observados certos reparos com os quais, segundo se propala, o núcleo duro do Governo Bolsonaro estará de acordo.
A entrevista nos anima a crer que o senhor refletirá e, por último, acolherá o pedido para que reconsidere o propósito de transformar a área do antigo Hospital Juliano Moreira, em Brotas, num necessário centro de imagens avançadas, para elevar o padrão de saúde dos baianos, destinando-a para sediar o Museu da Libertação, pelas razões abaixo expostas:
1- A Chácara Boa Vista, nome original da propriedade em pauta, foi a casa onde, por mais tempo, morou Castro Alves - o maior poeta da língua portuguesa, do Continente Americano e, para muitos, de todos os tempos-, a partir de 1858, quando seus pais para ali se mudaram, deixando a casa da Rua Senhor dos Passos, com o propósito de curar a tuberculose que, no ano seguinte, viria a matar sua mãe, D. Clélia Brasília de Castro Alves. Aí, portanto, foi onde Castro Alves amargou a maior dor de sua genial infância;
2- Foi na Chácara Boa Vista onde Castro Alves concluiu seu livro Os escravos, quando ali se instalou, transferindo-se do Hotel onde se hospedara na praça que hoje leva o seu nome, com a atriz Eugênia Câmara, a grande paixão de sua vida. Castro Alves chegou à Chácara envolto no laurel da triunfal apresentação do drama O Gonzaga, concebido desde o verdor dos treze anos;
3- Foi na Chácara Boa Vista que Castro Alves compôs alguns de seus mais famosos poemas, como A Boa Vista, Sub tegmine fagi, Quem dá aos pobres empresta a Deus, Ao dois de julho, Soneto;
4- Comparadas às homenagens prestadas aos maiores nomes da literatura dos povos, as que a Bahia dedicou a Castro Alves são consideradas modestas, como o batismo com o seu nome de um município; a praça que o governador Seabra batizou com o seu nome, no dia 02 de julho de 1923, centenário da Independência definitiva do Brasil; o Teatro Castro Alves, no Governo Antônio Balbino e o Parque Castro Alves, em torno da casa onde nasceu, criado pelo secretário da Educação, Edvaldo Boaventura, nos governos Luis Viana e João Durval Carneiro, no hoje município de Cabeceiras do Paraguassu;
5- Das quatro casas onde Castro Alves morou em Salvador, a primeira, no Rosário, à Avenida Sete, onde Júlia Fetal se constituiu na mais famosa vítima de feminicídio, no Estado, com uma bala de ouro que lhe atravessou o coração, foi demolida para em seu lugar edificar-se um edifício destituído de qualquer significado; a segunda, na Rua dos Passos, é a única que guarda a memória da presença do poeta, dos oito aos onze anos, graças à dedicação dos seus proprietários; a última, ao lado do Museu de Arte Sacra, no Sodré, antigo Ginásio Ipiranga, onde morreu, às 15,30hrs do dia 06 de julho de 1871, aguarda quem lhe dê vida, lembrando o derradeiro suspiro do incomparável aedo;
6- Além de ser a casa onde Castro Alves viveu a maior parte de sua breve existência, a Chácara Boa Vista pertenceu, originariamente, a um dos maiores traficantes de escravos da história do Brasil, criando com o poeta da libertação curioso e atraente contraste. Só esta singularidade seria suficiente para instalar-se ali o Museu da Libertação, pagando-se uma pequena prestação do irresgatável débito que a Bahia contraiu com os nossos irmãos afrodescendentes;
7- Foi na Chácara Boa Vista, transformada em nosocômio a partir de quando a adquiriu o Estado da Bahia, onde passou internada, na mais completa e apaixonada loucura, Leonídia Fraga, a musa infeliz de Castro Alves, conforme título da obra biográfica sobre ela, escrita pela imortal poeta Miriam Fraga que nos deixou há dois anos. Leonídia Fraga, autodenominada a Noiva, trinta meses mais velha do que Cecéu, apelido do poeta, seu companheiro de infância, amou-o de modo tão apaixonado que enlouqueceu, a partir de sua morte precoce. Em O hóspede, considerado por muitos o mais belo poema lírico da língua portuguesa, Castro Alves deu voz, de modo inédito, ao amor não correspondido que Leonídia nutria por ele. Quando a já septuagenária Leonídia Fraga foi encontrada morta em sua cela, no antigo hospício Juliano Moreira, 57 anos depois da morte do seu amado poeta, a trouxinha da qual não se afastava para nada, continha o original dessa poesia única, bem como outras que a ela Cecéu dedicou, em papéis amassados que nosso desleixo para com a memória dos verdadeiramente grandes deixou que se perdessem;
8- Por derradeiro, um ou mais centros de imagens, de indiscutível importância para a saúde dos baianos, podem ser edificados em qualquer lugar da cidade. Não há outro lugar, porém, em todo o Brasil, que seja minimamente comparável ao Solar Boa Vista para abrigar um Museu de tamanho significado para a preservação da História Cultural da Bahia.
A ideia central é fazer desse tão necessário e já tardio museu o maior repositório das lutas travadas para rompermos os grilhões da escravidão. Além do quanto se puder reunir como testemunho material da chaga da escravidão em nossa história, o registro dos nomes de todos que contribuíram para nossa letárgica abolição, como o Poeta dos Escravos, Zumbi dos Palmares, Luiza Mahin, Luis Gama e escritores que fizeram de nossa matriz africana tema de suas criações literárias, nas mais distintas vertentes epistemológicas, como Luis Anselmo da Fonseca, Gilberto Freire, Luis Viana Filho, Edison Carneiro, Kátia Queiroz Mattoso, João José Reis, Ana Maria Gonçalves, Raymundo Laranjeira, Lidivaldo Britto e muitos outros nomes.
O melhor das modernas técnicas computacionais deve ser incorporado aos elementos tradicionais tangíveis, para fazer desse notável empreendimento fator de grande impacto na estrutura dos inúmeros atrativos que engrandecem nossa terra aos olhos do mundo.
Foi pelo conjunto dessas ponderáveis razões que entidades do porte da Academia de Letras da Bahia, do instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Universidade Federal da Bahia, Academia Baiana de Educação, Academia de Letras Jurídicas da Bahia, Academia de Letras e Artes de Salvador, Ordem dos Advogados do Brasil, Academia de Ciência da Bahia e o Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira decidiram apoiar a ideia de instalar na Chácara Boa Vista, de tão rica história vinculada ao Poeta dos Escravos e à luta pela abolição, o Museu da Libertação,
Nestes termos, pedimos deferimento.
Senhor Governador,
Na percepção geral, de sua entrevista, no último domingo, ao programa Canal Livre, da Rede Bandeirantes, emergiu o seu nome como forte candidato potencial, à Presidência da República, nas eleições de 2022, representando as oposições ao atual governo, em razão do conhecimento que revelou a respeito das questões discutidas, da serenidade nas opiniões que emitiu sobre temas que dividem a sociedade brasileira, da firmeza de posições, nos limites do razoável, da prudência e humildade que devem ser observadas por servidores em posições relevantes. Na contramão da postura passional da direção bolivariana do Partido dos Trabalhadores, ficou claro o seu apoio à Reforma da Previdência, liderando os nove estados nordestinos, desde que observados certos reparos com os quais, segundo se propala, o núcleo duro do Governo Bolsonaro estará de acordo.
A entrevista nos anima a crer que o senhor refletirá e, por último, acolherá o pedido para que reconsidere o propósito de transformar a área do antigo Hospital Juliano Moreira, em Brotas, num necessário centro de imagens avançadas, para elevar o padrão de saúde dos baianos, destinando-a para sediar o Museu da Libertação, pelas razões abaixo expostas:
1- A Chácara Boa Vista, nome original da propriedade em pauta, foi a casa onde, por mais tempo, morou Castro Alves - o maior poeta da língua portuguesa, do Continente Americano e, para muitos, de todos os tempos-, a partir de 1858, quando seus pais para ali se mudaram, deixando a casa da Rua Senhor dos Passos, com o propósito de curar a tuberculose que, no ano seguinte, viria a matar sua mãe, D. Clélia Brasília de Castro Alves. Aí, portanto, foi onde Castro Alves amargou a maior dor de sua genial infância;
2- Foi na Chácara Boa Vista onde Castro Alves concluiu seu livro Os escravos, quando ali se instalou, transferindo-se do Hotel onde se hospedara na praça que hoje leva o seu nome, com a atriz Eugênia Câmara, a grande paixão de sua vida. Castro Alves chegou à Chácara envolto no laurel da triunfal apresentação do drama O Gonzaga, concebido desde o verdor dos treze anos;
3- Foi na Chácara Boa Vista que Castro Alves compôs alguns de seus mais famosos poemas, como A Boa Vista, Sub tegmine fagi, Quem dá aos pobres empresta a Deus, Ao dois de julho, Soneto;
4- Comparadas às homenagens prestadas aos maiores nomes da literatura dos povos, as que a Bahia dedicou a Castro Alves são consideradas modestas, como o batismo com o seu nome de um município; a praça que o governador Seabra batizou com o seu nome, no dia 02 de julho de 1923, centenário da Independência definitiva do Brasil; o Teatro Castro Alves, no Governo Antônio Balbino e o Parque Castro Alves, em torno da casa onde nasceu, criado pelo secretário da Educação, Edvaldo Boaventura, nos governos Luis Viana e João Durval Carneiro, no hoje município de Cabeceiras do Paraguassu;
5- Das quatro casas onde Castro Alves morou em Salvador, a primeira, no Rosário, à Avenida Sete, onde Júlia Fetal se constituiu na mais famosa vítima de feminicídio, no Estado, com uma bala de ouro que lhe atravessou o coração, foi demolida para em seu lugar edificar-se um edifício destituído de qualquer significado; a segunda, na Rua dos Passos, é a única que guarda a memória da presença do poeta, dos oito aos onze anos, graças à dedicação dos seus proprietários; a última, ao lado do Museu de Arte Sacra, no Sodré, antigo Ginásio Ipiranga, onde morreu, às 15,30hrs do dia 06 de julho de 1871, aguarda quem lhe dê vida, lembrando o derradeiro suspiro do incomparável aedo;
6- Além de ser a casa onde Castro Alves viveu a maior parte de sua breve existência, a Chácara Boa Vista pertenceu, originariamente, a um dos maiores traficantes de escravos da história do Brasil, criando com o poeta da libertação curioso e atraente contraste. Só esta singularidade seria suficiente para instalar-se ali o Museu da Libertação, pagando-se uma pequena prestação do irresgatável débito que a Bahia contraiu com os nossos irmãos afrodescendentes;
7- Foi na Chácara Boa Vista, transformada em nosocômio a partir de quando a adquiriu o Estado da Bahia, onde passou internada, na mais completa e apaixonada loucura, Leonídia Fraga, a musa infeliz de Castro Alves, conforme título da obra biográfica sobre ela, escrita pela imortal poeta Miriam Fraga que nos deixou há dois anos. Leonídia Fraga, autodenominada a Noiva, trinta meses mais velha do que Cecéu, apelido do poeta, seu companheiro de infância, amou-o de modo tão apaixonado que enlouqueceu, a partir de sua morte precoce. Em O hóspede, considerado por muitos o mais belo poema lírico da língua portuguesa, Castro Alves deu voz, de modo inédito, ao amor não correspondido que Leonídia nutria por ele. Quando a já septuagenária Leonídia Fraga foi encontrada morta em sua cela, no antigo hospício Juliano Moreira, 57 anos depois da morte do seu amado poeta, a trouxinha da qual não se afastava para nada, continha o original dessa poesia única, bem como outras que a ela Cecéu dedicou, em papéis amassados que nosso desleixo para com a memória dos verdadeiramente grandes deixou que se perdessem;
8- Por derradeiro, um ou mais centros de imagens, de indiscutível importância para a saúde dos baianos, podem ser edificados em qualquer lugar da cidade. Não há outro lugar, porém, em todo o Brasil, que seja minimamente comparável ao Solar Boa Vista para abrigar um Museu de tamanho significado para a preservação da História Cultural da Bahia.
A ideia central é fazer desse tão necessário e já tardio museu o maior repositório das lutas travadas para rompermos os grilhões da escravidão. Além do quanto se puder reunir como testemunho material da chaga da escravidão em nossa história, o registro dos nomes de todos que contribuíram para nossa letárgica abolição, como o Poeta dos Escravos, Zumbi dos Palmares, Luiza Mahin, Luis Gama e escritores que fizeram de nossa matriz africana tema de suas criações literárias, nas mais distintas vertentes epistemológicas, como Luis Anselmo da Fonseca, Gilberto Freire, Luis Viana Filho, Edison Carneiro, Kátia Queiroz Mattoso, João José Reis, Ana Maria Gonçalves, Raymundo Laranjeira, Lidivaldo Britto e muitos outros nomes.
O melhor das modernas técnicas computacionais deve ser incorporado aos elementos tradicionais tangíveis, para fazer desse notável empreendimento fator de grande impacto na estrutura dos inúmeros atrativos que engrandecem nossa terra aos olhos do mundo.
Foi pelo conjunto dessas ponderáveis razões que entidades do porte da Academia de Letras da Bahia, do instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Universidade Federal da Bahia, Academia Baiana de Educação, Academia de Letras Jurídicas da Bahia, Academia de Letras e Artes de Salvador, Ordem dos Advogados do Brasil, Academia de Ciência da Bahia e o Museu Nacional da Cultura Afro-brasileira decidiram apoiar a ideia de instalar na Chácara Boa Vista, de tão rica história vinculada ao Poeta dos Escravos e à luta pela abolição, o Museu da Libertação,
Nestes termos, pedimos deferimento.
Joaci Góes
Artigo publicado na Tribuna da Bahia em 02/05/19