Novo chanceler quer tornou o Brasil um país-satélite dos EUA
Carlos Newton
A diplomacia, conhecida como a arte dos punhos de renda, desde sempre tem suas regras de conduta , discrição e elegância. Como dizia Foster Dulles, secretário de Estado norte-americano de 1953 a 1959, em plena Guerra Fria, “as nações não têm aliados, apenas interesses”. Esta máxima, de grande sabedoria e alcance, vale para qualquer país, a qualquer tempo. O novo chanceler brasileiro, porém, não somente desconhece esta regra da carrière, como faz também questão de quebrá-la, ao propor o alinhamento automático do Brasil aos Estados Unidos.
Nenhum país importante se alinha automaticamente a alguma potência mundial, isso é coisa de país-satélite, como se dizia antigamente. Se insistir nessa política, o ministro Ernesto Araújo vai levar a diplomacia brasileira ao ridículo.
DEFEITOS DE FÁBRICA – Araújo demonstra ter várias características que o inviabilizam para a função de chanceler– é inexperiente demais, fanático religioso demais e prepotente demais. Esses defeitos de fabricação reduzem seu prazo de validade, que pode vencer logo no início da gestão.
O novo chanceler parece desconhecer o crescente protagonismo do Brasil no cenário internacional. E isso começou lá atrás, nos tempos de Getúlio Vargas, que soube levar o país a um impressionante ciclo de desenvolvimento. A produtividade apresenta estagnação desde os anos 1980, quando Brasil mergulhou em crises consecutivas.
O Brasil é importante desde que se tornou a economia que mais crescia no mundo. De 1950 e 1980, houve o chamado “milagre brasileiro”, com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo à média de 7,4% ao ano, taxa sem precedentes. E na maior parte deste tempo, o país esteve sob regime militar, com uma política externa independente, que ajudou a impulsionar o crescimento econômico.
IGNORÂNCIA TOTAL – O novo chanceler escolhido pelos filhos de Bolsonaro demonstra nada saber sobre isso nem se interessar a respeito. Mas os generais que compõem o governo e assessoram Bolsonaro se orgulham do milagre brasileiro e da política externa independente que o regime militar adotou, inclusive levando o país a dominar o ciclo nuclear e ter capacidade de fabricar armas atômicas;
Depois dos governos militares, a economia se retraiu. De 1980 até 2016, o avanço médio anual ficou em 2,2%. Entre 2017 e 2018, caiu para 1%, que significa 0% em termos de renda per capita, porque a população cresceu em 1%.
Mas o ministro Ernesto Araújo desconhece essa realidade concreta. Em artigo publicação na revista norte-americana “The New Criterion, o novo chanceler culpou a falta de fé em Deus pelas dificuldades econômicas do país.
NINGUÉM LEU – Graças ao bom Deus, porém, essa publicação conservadora dos EUA tem pouquíssimos leitores e todos eles são fanáticos religiosos como Ernesto Araújo, não se trata de formadores de opinião. “The New Criterion” roda apenas 7,5 mil exemplares mensais. Deve vender apenas a metade disso, o resto vai para o lixo, na reciclagem de papel.
Os generais estudaram política externa nas Escolas de Estado Maior das três Armas e na Escola Superior de Guerra. Sabem que o Brasil precisa manter a postura independente, sem os erros e excessos cometidos pelos governos petistas no Itamaraty.
Bolsonaro já mostrou que sabe reconhecer erros e recuou no caso da Embaixada em Jerusalém. Mas o neoministro do Exterior não tem esse jogo de cintura e deve insistir na submissão do Brasil aos interesses dos EUA de Trump. Vai bater de frente com os generais e será defenestrado por Bolsonaro, implacavelmente.
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P. S. – O Brasil, quinto maior país em extensão territorial e número de habitantes, está entre as dez maiores economias do mundo. Precisa ser tratado com o devido respeito, em função de sua invulgar importância, e não pode ser país-satélite de nenhuma outra nação. (C.N.)