Publicado em 29 de julho de 2024 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
Há pessoas que verdadeiramente dão sorte na vida. Veja-se o exemplo do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo. Acaba de ser agraciado por um surpreendente golpe de sorte justamente quando estava sofrendo as mais duras críticas de sua carreira, devido ao rigor excessivo com que apimenta suas decisões, inclusive as que são claramente errôneas, como a insustentável prisão preventiva de Filipe Martins, ex-assessor internacional do presidente Jair Bolsonaro.
Moraes acusa Martins de ter fugido para os Estados Unidos, porém já está mais do que provado que ele não saiu de Brasil. A explicação chega a ser comovente – apaixonou-se por uma jovem paranaense, pediu-a em casamento e foi morar em Ponta Grossa, onde foi preso pelos federais na casa do sogro, vejam que é um drama familiar digno de novela das oito.
NO DESESPERO – Moraes e sua força-tarefa policial estavam entrando em desespero, sem provas concretas para processar o ex-presidente Bolsonaro e sua entourage, principal objetivo do Inquérito do Fim do Mundo, aquele que não acaba nunca.
A equipe do Supremo então resolveu fazer mais uma investida da operação Última Milha, que apura compra e uso de software israelense de espionagem pela Agência Brasileira de Inteligência, a Abin. Imitando o chefe de polícia do filme “Casablanca”, Moraes mandou prender os suspeitos de sempre e fazer buscas.
O resultado foi surpreendente, porque os federais descobriram que Alexandre Ramagem guardava provas que poderiam incriminá-lo, ao invés de destruí-las.
PROVAS MATERIAIS – Agora, acabou chorare, como dizia Bebel Gilberto. Enfim, há provas materiais de que o delegado federal Alexandre Ramagem integrava um complô junto com o então presidente da República.
O mais incrível é que Ramagem não participava como subalterno, e sim como mentor, atiçando o então presidente Bolsonaro a comprar aquela briga feia com o TSE e o Supremo, que inicialmente acabou lhe custando uma multa e a inelegibilidade, mas agora pode conduzi-lo à prisão.
“Por tudo que tenho pesquisado, mantenho total certeza de que houve fraude nas eleições de 2018, com vitória do sr. (presidente Bolsonaro) no primeiro turno. Todavia, ocorrida na alteração de votos”, argumentou irresponsavelmente Ramagem, em mensagem a Bolsonaro, como se tivesse alguma prova de fraude eleitoral. E não tinha nenhuma.
MUDOU TUDO – Com essas novas provas, o ministro Moraes enfim tem condições de prazerosamente enquadrá-los como autores de atentado contra o Estado Democrático de Direito (Lei nº 14.197), uma legislação promulgada pelo próprio Bolsonaro, em 1º de setembro de 2021.
Como todos sabem é a lei preferida do ministro Moraes, que revela um prazer inexcedível em aplicá-la, tendo conseguido transformar o Supremo numa verdadeira fábrica de falsos “terroristas”.
Resta saber se Moraes vai realmente tocar isso em frente. Há claras evidências de que diversos oficiais-generais apoiavam entusiasticamente as maluquices de Bolsonaro e Ramagem, inclusive permitindo e incentivando aqueles acampamentos em áreas dos quartéis.
###
P.S. – E aí, o ministro vai prender os líderes civis do golpe e deixar os militares à solta, incluindo o grande mentor Braga Netto? Aliás, Moraes tem problema até para prender Ramagem, que é deputado federal e só pode ser preso com autorização da Câmara. No meio dessa confusão institucionalizada, vida que segue, como dizia João Saldanha. (C.N.)