Merval Pereira
O Globo
Ao se antecipar com a nota de apoio à eleição de Maduro, o PT mostrava que daqui a pouco o governo faria o mesmo. Impossível imaginar que Lula fosse contra PT e Maduro ao mesmo tempo. Se fizesse isso, seria sinal de que mudou completamente, é outra pessoa.
Acredito que o governo estava e está com dificuldade de afirmar que a eleição foi legal, mas ia acabar fazendo isso, como aconteceu na entrevista de Lula nesta terça-feira, até porque ele nunca esteve disposto a negar a vitória do Maduro.
APOIO À FRAUDE – Eu ficaria gratamente surpreso se Lula tivesse uma atitude diferente de dizer que a eleição foi correta e limpa. Sempre duvidei que ele dissesse que Maduro ganhou com fraude.
Além disso, o PT jamais soltaria a nota sem consultar Lula. O partido não tem cacife para confrontar Lula e deixar governo dele em situação delicada.
O mundo todo está se pronunciando contra a eleição e será ridículo se o Brasil não se pronunciar – nem contra, nem a favor – e só achar que a vida continua!
ERRO ESTRATÉGICO – Desde o início achei um erro estratégico de Lula, do ponto de vista do governo, mandar Celso Amorim a Caracas. Porque, ao mandá-lo, ficou praticamente certo que terá que apoiar, a não ser que fosse romper com a Venezuela, algo que nunca esteve em cogitação.
Mas do jeito que as coisas vão, Celso Amorim foi lá para apoiar. Ninguém manda um assessor especial como ele a um país amigo para romper relações.
Por tudo isso, era quase nula a chance de Lula falar alguma coisa diferente do que o PT disse. Mas será que havia quem acreditasse?