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segunda-feira, janeiro 23, 2023

“Lula terá que tomar cuidado, sem baixar a cabeça”, diz especialista em Forças Armadas


Lula demite comandante do Exército – DW – 21/01/2023

Lula tem de se equilibrar e não pode cair em armadilhas

Shin Suzuki
BBC News

A troca no comando do Exército ordenada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva com apenas 20 dias de governo pode ser um caminho para estabilizar as tensas relações com os militares, mas o petista terá que “tomar cuidado extraordinário, sem baixar a cabeça”, diz o cientista social João Roberto Martins Filho, que estuda as Forças Armadas desde a década de 1980.

Ele se refere ao fato de que o bolsonarismo “calou fundo” e permanece com bastante adesão não só no Exército como na Marinha e na Aeronáutica, nos mais variados escalões.

É PRECISO CAUTELA – Para o professor sênior da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é preciso cautela nas avaliações de que o novo comandante, o general Tomás Paiva, tem espírito democrático e sintonia total com Lula.

“Não podemos cair na armadilha de achar que o general Paiva é um dissidente [do alto comando do Exército], que é simpático ao governo petista, que é um democrata. Eu sugeriria que a gente esperasse um tempo para ver, mas acho difícil que ele seja qualquer uma dessas três coisas.”

Na semana passada, dias antes de sua nomeação, Paiva fez um discurso em que classificou de “terremoto político” as invasões de Brasília que vandalizaram a sede dos Três Poderes e pregou respeito ao resultado da última eleição presidencial.

FALA OPORTUNISTA – Martins Filho diz que o general falou “exatamente aquilo que é música para o ouvido do governo atual”. E adverte: “Mas está muito em cima do fato para tirar essas conclusões, é preciso tomar um pouco de cuidado.”

O cientista social destaca que Paiva foi chefe de gabinete do general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército que costuma usar as redes sociais para insuflar movimentos antidemocráticos, inclusive com posts em que colocou dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral após a derrota de Bolsonaro no segundo turno.

No entanto, o professor sênior da UFSCar enxerga que há espaço para retomar a normalização institucional após confrontos com o general Júlio César de Arruda, o comandante do Exército demitido por Lula.

APAZIGUAMENTO – “Todo mundo ficou em suspenso e com a demissão agora parece que o Lula vai normalizando as coisas. É como se ele falasse ‘Eu sou o comandante [o Presidente da República é oficialmente o Comandante Supremo das Forças Armadas]: eu demito, eu nomeio’. E com certeza o alto comando [do Exército] já tinha dado sinais de que ele poderia fazer isso. Acho que o general Paiva consultou os colegas do alto comando e aceitou o cargo.”

Ele diz que existe uma razoável coesão nos comandos militares desde a redemocratização e que não vê evidência de divisões internas atualmente.

Na visão de Martins Filho, também não interessa ao Exército provocar uma nova crise com Lula e a tendência, nesse primeiro momento, é de estabilizar a relação entre as duas partes. “O 8 de janeiro unificou o governo e fortaleceu Lula. Ele teve que cuidar da questão militar precocemente e até agora tem acertado.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG 
– Em boa hora, Armando Gama nos envia essa entrevista do professor Martins Filho. Excelente análise, mas o especialista em Forças Armadas esqueceu de destacar que Tomás Paiva é ligado também ao general frotista Augusto Heleno, com quem serviu no Haiti. Quanto ao discurso “democrático” de Paiva, realmente parece mais um canto de sereia, como diria Ulysses Guimarães. (C.N.)a

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