Lula agiu acertadamente ao demitir o comandante Arruda
Duarte Bertolini
Parece que, finalmente, Lula da Silva convenceu-se de que para ser presidente do pais é preciso honrar o mandato que recebeu nas urnas. Não cabe mais a discussão de fraudes, de fakes news etc. Isto deve ficar para as mentes sedentas de sangue e fofoca, nas redes sociais, para alimentar o gado que se recusa a participar da atividade normal do pais.
Se não podemos confiar em Lula e seus seguidores, certamente devemos temer Bolsonaro e seus cúmplices. Então, neste momento, para mantermos a esperança, devemos confiar que o menos ruim possa fazer algo melhor do que o certamente horrível.
DEVER PRESIDENCIAL – Ora, se o pais todo, exceto os bolsões sinceros mas radicais (lembram desta triste época e afirmação) condenam os atos de 8 de janeiro, é dever da autoridade máxima colocar o pais na normalidade e legalidade o mais rápido possível.
E certamente isto passa por estabelecer limites para a atuação das Forças Armadas. Chega de interferências de todos os lados (fontes militares em off, generais de pijama, ventos da caserna, clubes de oficiais, jornalistas amestrados, blogs mercenários, políticos saudosistas etc., etc.), todos dando pitacos todos os dias, assustando e ameaçando a frágil democracia que tentamos colocar de pé.
O pais certamente não quer a volta dos militares ao poder. Isso ficou claro nas tentativas de Bolsonaro e na indecisão das Forcas Armadas, como um todo, de assumir este papel de triste memória para todos os brasileiros com mais de dois neurônios.
ORÁCULO FARDADO – Como é possível vivermos uma democracia se todos os dias temos que consultar o oráculo fardado, para saber se não estamos ferindo as frágeis suscetibilidades em qualquer ato, por mais comezinho que seja, realizado pelo governo e por extensão, pela sociedade civil?
Como é possível manter no cargo alguém que não condenou publicamente os atos do dia 8? Que não tomou (aparentemente, pelo que sabemos, claro) nenhuma ação para investigar o comportamento de seus comandados na preparação, no ato e nos atos subsequentes? Deveria ter sido demitido ou ter se demitido imediatamente.
Lula fez o correto. Qual a razão do espanto? O grande lema militar não é só a hierarquia, é também obedecer ordens. Como desobedecer ao comandante supremo?
EXEMPLO RECENTE – Bolsonaro não trocou todo mundo mais de uma vez? Mandando embora generais íntegros e com amizades de 40 anos porque não queriam seguir suas tresloucados ordens? E Lula não pode trocar quem se recusa a investigar e tomar ações em relação a tentativa de golpe contra o Estado Brasileiro?
Deveria aproveitar e demitir o ministro da Defesa, Jose Múcio, mas todas as notícias falam que Lula demitiu apenas o comandante do Exército.
UMA INUTILIDADE – Ora, para que serve o Ministério da Defesa? Se não defende a Constituição, a democracia e a hierarquia militar, ou substituam o titular ou extingam o cargo inútil
O Brasil escolheu ser uma democracia. As urnas escolheram Lula. Mesmo que não seja modelo de virtude e represente muitos perigos, cabe à sociedade e seus mecanismos de defesa acompanhar e fiscalizar as ações do governo. Se ele se desviar do caminho democrático e da lisura (pelos menos a suportável), cabe a sociedade dar um basta, como ocorreu com Collor e Dilma.
Se temos que ser eternamente vigiados e tutelados por um poder que detém a força por nós disponibilizada, não merecemos realmente viver numa democracia. Tempos dramáticos nos esperam
