Publicado em 22 de janeiro de 2023 por Tribuna da Internet

General Tomás fez o pronunciamento diante da sua tropa
Pedro do Coutto
Em evento em São Paulo na última sexta-feira, o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, nomeado neste sábado para comandar o Exército, exaltou a democracia, destacou o respeito à Constituição e a vontade das urnas, colocando esses fatores como uma obrigação cívica do Exército brasileiro e das Forças Armadas.
Acrescentou que essa fidelidade tem que se estender ao exercício do mandato do presidente da República, seja ele quem for. O então comandante militar do Sudeste, este é o cargo que exercia, afirmou que “nós, independentemente do governo, vamos cumprir a nossa missão”.
HIERARQUIA – A matéria está publicada na edição de ontem, sábado, da Folha de S. Paulo, onde ele também ressaltou que “ser militar é isso. É ser profissional. É respeitar a hierarquia e disciplina. É ser coeso. É ser íntegro. É ter espírito de corpo. É defender a pátria. É ser uma instituição de Estado. Apolítica, apartidária. Não interessa quem está no comando: a gente vai cumprir a missão do mesmo jeito. Isso é ser militar. É não ter corrente”.
O pronunciamento do general Tomás Miguel Ribeiro Paiva coincidiu com a reunião que o presidente Lula manteve em Brasília, também na sexta-feira, com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, e com o ministro da Defesa, Múcio Monteiro.
O Globo, numa reportagem de Alice Cravo e Jeniffer Gularte, coloca em destaque que o presidente da República e as Forças Armadas concordam em punir militares que participaram dos atos golpistas. Múcio Monteiro considera o episódio, depois da reunião, uma página virada na história do país.
OUTRO DESFECHO – A impressão que o encontro desperta é a de que os participantes dos atentados selvagens do dia 8 de janeiro, pela exposição que fizeram de si próprios nas imagens que produziram, contavam com um desfecho diferente do que concretamente prevaleceu. Acreditavam em uma vitória e não contavam com a derrota. Terminaram presos e processados.
A perda de qualquer perspectiva de poder, como é natural, esfria os movimentos, inclusive ilegais e destrutivos como esses que os rebeldes protagonizaram. A derrota foi total e as consequências vão se fazer sentir com a prisão dos subversivos destruidores do patrimônio público.
REUNIÃO – Na Folha de S. Paulo, edição também deste sábado, reportagem de Matheus Teixeira, Renato Machado, Vitória Azevedo e Igor Giellow, focaliza amplamente a reunião de Lula com os comandantes militares e conclui que o governo parte para reduzir a tensão e os próprios comandantes das Forças Armadas rejeitam elos de militares com golpistas.
Enquanto isso, a Polícia Federal aumenta a ofensiva para prender os golpistas e os seus financiadores, e também as investigações envolvendo Ibaneis Rocha, governador afastado de Brasília. Financiadores, proprietários de ônibus e caminhões estão sendo alvos de busca e apreensão dos veículos.
ENDIVIDAMENTO – Conforme compromisso assumido na campanha eleitoral, o governo Lula está concluindo os detalhes do programa chamado “Desenrola” que tem como objetivo o refinanciamento de dívidas dos que recebem por mês até dois salários mínimos. Hoje, o país apresenta cerca de 70 milhões de endividados com montantes somando R$ 300 bilhões.
Dois terços dessas dívidas não são com bancos, mas com cartões de crédito e financeiras que cobram juros estratosféricos. É muito forte a presença do endividamento na área dos cartões de crédito, e a esse respeito, acentuo, há uma responsabilidade também de bancos e agências financeiras que oferecem vantagens sucessivas e até irreais aos que aceitarem movimentar compras através do crédito em cartões.
Os limites de crédito vão muito além da renda mensal da maioria daqueles que os adquirem. O resultado é o endividamento progressivo e a necessidade da intervenção oficial para evitar reflexos sociais enormes. Sobre o endividamento de 70 milhões de pessoas, a reportagem é de Manoel Ventura publicada no O Globo de ontem.