Ataques diários em áreas residenciais no leste da Ucrânia levantam questões sobre o envio de militares em áreas civis, bem como a presença de informantes entre a população.
A AFP visitou várias cidades na região de Donetsk, que os russos tentam conquistar, onde áreas civis de aparente importância militar são atacadas regularmente.
Em Pokrovsk, 85 quilômetros ao sul de Kramatorsk, a principal cidade da região controlada pela Ucrânia, um ataque destruiu ou danificou uma dúzia de casas em uma única rua na semana passada.
Ataques semelhantes e muitas vezes mortais ocorreram em Kostiantynivka, Toretsk e até em Kramatorsk, mais longe da linha de frente.
Para muitos moradores, essas áreas estão sob ataque porque as tropas ucranianas foram enviadas para casas e escolas abandonadas.
A AFP não pode verificar essas alegações de forma independente.
A Human Rights Watch acusou as forças russas e ucranianas de colocar civis em perigo ao estabelecer posições em áreas residenciais.
A ONG apontou quatro casos de áreas ocupadas por forças russas e três no lado ucraniano em um relatório deste mês.
"As forças russas e ucranianas devem evitar o envio de suas tropas em áreas povoadas", disse o relatório.
"É uma guerra. É impossível evitar a destruição de infraestruturas ou casas", comentou o governador da região de Donetsk, Pavlo Kyrylenko, quando questionado pela AFP sobre o assunto.
"Nossa principal tarefa é deter o inimigo e isso pode levar à destruição da infraestrutura. É impossível travar esta guerra de outra forma", acrescentou.
- Informantes -
Em Kramatorsk, o aposentado Yevgen, de 70 anos, fuma um cigarro em frente às ruínas de uma escola, totalmente destruída por um ataque de mísseis.
O estabelecimento, que em tempos de paz ensinava 500 crianças entre sete e 17 anos, foi a segunda escola da cidade a ser reduzida a escombros.
Sete outras escolas da cidade foram danificadas desde o início da guerra, de acordo com Denis Sysoyev, funcionário local encarregado da educação.
A escola era usada desde o início da guerra como depósito de ajuda alimentar.
De acordo com Yevgen, "os russos tinham como alvo os soldados ucranianos".
"Eu não sei se eles ficavam dentro da escola, mas nós os víamos regularmente entrar e sair", conta. "E há muitas pessoas 'bem-intencionadas' por aqui que querem ajudar e informar os russos", disse ele ironicamente.
Natalia, mãe de três filhos que frequentaram esta escola, disse a mesma coisa. Ela mencionou um canal do Telegram de moradores locais no qual diz que os comentários não deixam dúvidas sobre "quem é pró-russo e quem não é".
Toda vez que há um ataque russo, a questão delicada dos informantes é levantada.
"Eu me pergunto como o inimigo sabe as coordenadas dos locais onde os militares estão localizados", disse o governador Kyrylenko.
"Uma parte da população é leal aos ocupantes e espera pelo mundo russo. Sabem que é uma traição. Eles vão se arrepender mais tarde", acrescentou.
Segundo o prefeito de Kramatorsk, Oleksandr Goncharenko, "o ódio está aumentando entre os moradores".
"Aqueles que aguardam a chegada (dos russos), a quem foi prometido muito ouro e liberdade de expressão por seus 'salvadores', são idiotas", escreveu ele no Facebook.
Galyna Prychepa, porta-voz dos serviços de inteligência nas regiões de Donetsk e Lugansk, disse que 37 informantes foram detidos na área desde que a invasão russa começou em 24 de fevereiro.
Eles são acusados de espionagem e alta traição. Há problemas semelhantes no sul da Ucrânia, onde o governador da região de Mykolaiv, sob constante bombardeio das forças russas, prometeu uma recompensa de US$ 100 para quem ajudar a identificar informantes russos.
Em seu canal Telegram, Vitali Kim pediu informações sobre "aqueles que revelam aos ocupantes a localização das tropas ucranianas" ou repassam as coordenadas de possíveis alvos.
AFP / Estado de Minas