Viagem gerou reações da China, que reivindica território
Por Sarah Wu e Yimou Lee
Taipé - A presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, deixou Taiwan nesta quarta-feira depois de ter prometido solidariedade e saudado a democracia da ilha, gerando reação da China por causa de sua breve visita à ilha autogovernada, que Pequim reivindica como parte de seu território.
Pelosi, cuja delegação fez uma parada não anunciada, mas vigiada de perto, em Taiwan, na terça-feira, após visitas a Singapura e Malásia, deve continuar sua viagem pela Ásia, agora com visitas à Coreia do Sul e ao Japão.
Seu avião decolou de um aeroporto na capital Taipé por volta das 18h (horário local, 7h em Brasília).
A China demonstrou sua indignação com a visita de mais alto nível dos EUA à ilha, em 25 anos, com uma explosão de atividade militar nas águas circundantes, convocando o embaixador dos EUA em Pequim e interrompendo várias importações agrícolas de Taiwan.
Alguns dos exercícios militares planejados da China teriam ocorrido dentro do território aéreo e marítimo de 12 milhas náuticas de Taiwan, de acordo com o Ministério da Defesa de Taiwan, um movimento sem precedentes que uma autoridade graduada de defesa descreveu a repórteres como "equivalente a um bloqueio marítimo e aéreo de Taiwan".
Pelosi chegou com uma delegação do Congresso dos EUA em sua visita não anunciada, desafiando as repetidas advertências da China, no que ela disse que mostra o compromisso inabalável dos EUA com a democracia de Taiwan.
"Nossa delegação veio a Taiwan para deixar inequivocamente claro que não abandonaremos Taiwan", disse Pelosi à presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen.
"Agora, mais do que nunca, a solidariedade da América com Taiwan é crucial, e essa é a mensagem que estamos trazendo aqui hoje", afirmou durante sua visita de cerca de 19 horas.
Crítica de longa data da China, especialmente em direitos humanos, Pelosi se encontrou com um ex-ativista da Praça da Paz Celestial, um livreiro de Hong Kong que havia sido detido pela China e um ativista de Taiwan recentemente libertado pela China.
O último presidente da Câmara dos Deputados dos EUA a ir a Taiwan havia sido o republicano Newt Gingrich, em 1997. Mas a visita de Pelosi ocorre em meio à forte deterioração das relações sino-americanas e, durante o último quarto de século, a China emergiu como uma força econômica, militar e geopolítica muito mais poderosa.
A China considera Taiwan parte de seu território e nunca renunciou ao uso da força para colocar a ilha sob seu controle. Os Estados Unidos alertaram a China contra o uso da visita como pretexto para uma ação militar contra Taiwan.
Em retaliação, o departamento de alfândega da China anunciou a suspensão das importações de frutas cítricas e carapau congelado de Taiwan, enquanto o Ministério do Comércio proibiu a exportação de areia natural para Taiwan.
Embora houvesse poucos sinais de protesto contra alvos ou bens de consumo dos EUA, havia uma presença policial significativa do lado de fora do consulado dos EUA em Xangai e o que parecia ser mais segurança do que o normal do lado de fora da embaixada em Pequim.
Reuters / Agência Brasil
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China não pode impedir que líderes viajem para Taiwan, diz Pelosi
A presidente da Câmara dos Deputados dos EUA deixou hoje a ilha
Por Doina Chiacu e Rami Ayyub
Whashington - A China não pode impedir que líderes mundiais viajem para Taiwan, disse a presidente da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, nesta quarta-feira, após concluir uma visita à ilha autogovernada.
"Infelizmente, Taiwan foi impedida de participar de reuniões globais, mais recentemente da Organização Mundial da Saúde, por causa de objeções do Partido Comunista Chinês", disse Pelosi em comunicado.
"Embora possam impedir Taiwan de enviar seus líderes a fóruns globais, não podem impedir que líderes mundiais, ou qualquer pessoa, viajem a Taiwan para homenagear sua florescente democracia, destacar seus muitos sucessos e reafirmar nosso compromisso com a colaboração contínua."
Reuters / Agência Brasil
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Em visita a Taiwan, Pelosi reafirma apoio dos EUA à ilha
Ao lado da presidente taiwanesa, chefe da Câmara americana diz que Washington não abandonará compromisso com Taiwan. Visita gerou indignação em Pequim, que considera ilha autogovernada como parte de seu território.
A presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, assegurou nesta quarta-feira (03/08) o apoio de Washington a Taiwan, durante uma visita à ilha que provocou ira no governo chinês.
"Hoje, nossa delegação veio a Taiwan para deixar inequivocamente claro: não abandonaremos nosso compromisso com Taiwan, e estamos orgulhosos de nossa amizade duradoura", afirmou Pelosi em coletiva de imprensa ao lado da presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen.
Segundo a deputada americana, "o mundo enfrenta hoje uma escolha entre democracia e autocracia", e Taiwan se apresenta como "uma das democracias mais livres do mundo, orgulhosamente liderada por uma presidente mulher".
"Agora mais do que nunca, a solidariedade dos Estados Unidos com Taiwan é crucial. E essa é a mensagem que trazemos aqui hoje", disse Pelosi.
Tsai, por sua vez, afirmou que a invasão da Ucrânia pela Rússia elevou as preocupações de segurança em relação a Taiwan. "Agressões contra uma Taiwan democrática teriam um tremendo impacto na segurança de todo o Indo-Pacífico", alertou a presidente taiwanesa.
"Enfrentando ameaças militares deliberadamente intensificadas, Taiwan não recuará. Defenderemos firmemente a soberania de nossa nação e continuaremos a manter a linha de defesa da democracia", disse Tsai. "Faremos o que for necessário para fortalecer a capacidade de autodefesa de Taiwan."
Pelosi desembarcou em Taiwan nesta terça-feira para uma visita que não havia sido confirmada até a última hora, apesar de incisivos alertas da China sobre possíveis consequências militares e diplomáticas da iniciativa. Ela é a mais alta autoridade americana a visitar a ilha em 25 anos.
Taiwan é uma ilha autogovernada, com um regime democrático e politicamente próximo de países do Ocidente, e uma importante produtora de chips eletrônicos. A ilha declarou sua independência da China em 1949, mas Pequim a considera parte de seu território e rejeita contatos oficiais entre seus parceiros diplomáticos e o governo em Taipei.
Reação da China
Como se esperava, a visita de Pelosi provocou indignação entre as autoridades chinesas. Em resposta, Pequim iniciou exercícios militares em seis áreas nas águas ao redor de Taiwan. Espera-se que eles durem até domingo e incluam exercícios de disparos de longo alcance.
As manobras são vistas como a maior demonstração de força militar da China desde a crise do Estreito de Taiwan em 1995, quando Pequim disparou mísseis sobre Taiwan, e os EUA despacharam dois grupos de porta-aviões.
Nesta quarta, o Ministério do Exterior chinês convocou o embaixador americano na China, Nicholas Burns, em protesto contra a visita de Pelosi, a qual descreveu como uma "séria provocação e violação" do princípio de "uma só China", informou o jornal estatal chinês Global Times.
Pequim enviou ainda um total de 21 aviões para a zona de identificação de defesa aérea de Taiwan somente na terça-feira, disse o Ministério da Defesa em Taipei.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse na terça que Washington espera que a China "continue a reagir em um horizonte de longo prazo, mesmo após a viagem de Pelosi".
Kirby, que enfatizou que a visita da presidente da Câmara foi "totalmente consistente com nossa política de longa data de 'uma só China'", afirmou ainda que a reação de Pequim foi "infelizmente de acordo com o que prevíamos".
"Não há razão para Pequim transformar esta visita, que é consistente com a política de longa data dos EUA, em algum tipo de crise, ou usá-la como pretexto para aumentar a agressividade e a atividade militar dentro ou ao redor do Estreito de Taiwan, agora ou depois de sua viagem", disse Kirby em coletiva de imprensa em Washington.
Diplomacia
Taiwan, com seus 23 milhões de habitantes, há tempos se considera independente. Mas a invasão russa da Ucrânia elevou os temores de que a China pudesse anexar a ilha democrática à força. As tensões em relação a Taiwan nunca estiveram tão altas desde 1990.
O presidente chinês, Xi Jinping, considera a "reunificação" com Taiwan um objetivo fundamental, e não descartou o possível uso da força para alcançar isso. Já Taiwan rejeita as reivindicações de soberania da China e diz que somente seu povo pode decidir o futuro da ilha.
Washington segue uma política de "uma só China" e reconhece diplomaticamente apenas Pequim, e não Taipei, o que significa que Taiwan não tem uma relação diplomática oficial com os Estados Unidos. No entanto, os EUA fornecem apoio político e militar considerável a Taiwan.
A China exige que os países escolham entre manter relações formais com Pequim ou com Taipei. Apenas 14 países do mundo mantêm relações diplomáticas oficiais com Taiwan.
Deutsche Welle