Rivalidade com China e Rússia diminui influência de Washington na África
Por Edoardo Pacelli*
O Departamento de Estado dos EUA anunciou, na sexta-feira, que o secretário de Estado, Antony Blinken, viajará para a África do Sul, República Democrática do Congo e Ruanda. A embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, por sua vez, irá a Gana e Uganda neste mês de agosto.
As viagens ocorrerão depois da visita do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, a quatro países: Egito, Etiópia, Uganda e República do Congo, e após a visita do presidente francês, Emmanuel Macron, ao Camarões, ao Benin e a Guiné-Bissau. Há uma reação contínua contra as políticas francesas no continente – que muitos africanos, especialmente em países outrora governados pela França, veem como neocoloniais, depois, por exemplo, do comportamento mantido pelo governo francês, de Mitterand, durante o genocídio da etnia tutsi, por parte dos hutus, em 1994.
A diplomacia dos EUA é amplamente percebida, por seus eleitores, por ser impulsionada pela rivalidade com a China e a Rússia, o que diminui a influência que Washington tem sobre os governos africanos, quando se trata de direitos humanos.
Em Ruanda, Blinken deve trazer à tona a detenção do residente permanente dos EUA, Paul Rusesabagina, crítico ferrenho do atual presidente ruandês, Paul Kagame. Rusesabagina é o protagonista do sucesso do filme Hotel Ruanda; ele foi condenado, por Kagame, a 25 anos de prisão por acusações forjadas de terrorismo.
O filme trata da situação em Ruanda, no ano de 1994, quando um conflito político entre as etnias hutus e tutsi levou à morte quase 1 milhão de pessoas em cem dias. O mundo fechou os olhos ao genocídio, mas um homem fez a diferença: Paul Rusesabagina, que era o gerente de um sofisticado hotel na capital, Kigali, quando o conflito começou. Munido apenas de coragem, e com um tímido apoio dos Capacetes Azuis da ONU, abrigou no hotel mais de 1.200 adultos e crianças que corriam sério risco de vida.
Blinken, igualmente, deve mediar a crescente disputa entre Kigali, a capital de Ruanda, e Kinshasa, no leste do Congo.
O senador norte-americano Bob Menendez, presidente do Comitê de Relações Exteriores do Senado, instou Blinken a realizar uma “revisão abrangente” do “desrespeito contínuo do governo de Ruanda pelos direitos democráticos e humanos”.
*Edoardo Pacelli é jornalista, ex-diretor de pesquisa do CNR (Itália), editor da revista Italiamiga e vice-presidente do Ideus.
Monitor Mercantil