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quarta-feira, maio 04, 2022

Catequização via internet

 




Contaminação de militares contra STF, urnas eletrônicas e vacinas de crianças é via redes sociais

Por Eliane Cantanhêde (foto)

Os militares não são um monobloco, assim como evangélicos, agricultores, sindicalistas, médicos, etc. também não, mas, se eles reagiram no início do governo contra atos golpistas que levavam bolsonaristas às portas do Planalto e o próprio presidente às do QG do Exército, a percepção é de que balançam com os ataques de Jair Bolsonaro às urnas eletrônicas e ao Supremo. Mal comparando, eles também não se deixaram ludibriar com a campanha contra as vacinas de covid para adultos, mas cederam nas de crianças.

Nos dois casos, é efeito das redes sociais e de grupos, ou bolhas, de famílias, vizinhos, escolas, igrejas e também de militares, da ativa e da reserva, que disseram não quando provocados contra vacinas e a favor de atos golpistas (para os quais o presidente até arrastou o então ministro da Defesa em helicóptero das Forças Armadas). Depois, porém, vêm baixando a guarda e sendo capturados por teses delirantes.

Essa é uma questão-chave, diante do temor crescente de que Bolsonaro planeja repetir Donald Trump, que, ao perder as eleições, atiçou sua turba para invadir o Capitólio. Aqui, não seria o Congresso, mas o Supremo, alvo preferido do bolsonarismo. Sem os militares e o Centrão, a ameaça não prospera.

Vários oficiais, de diferentes patentes, introduzem conversas assim: “Você sabe que não sou bolsonarista e não concordo com as maluquices do Bolsonaro, mas...” E engatam um discurso no sentido contrário, defendendo exatamente as maluquices contra as urnas eletrônicas, por exemplo. No fim, a resposta sobre a vacinação de filhos e netos é um tanto encabulada: “Bem...”

Os grupos, ou bolhas, se retroalimentam com as “verdades” que vêm de cima, especialmente contra o Supremo, e se enraizaram nas redes bolsonaristas e nas de colegas militares, após a reviravolta nos julgamentos do ex-presidente Lula. Ninguém lembra que Bolsonaro atuou contra as investigações e a Lava Jato.

Assim, não é exagero os ministros do STF, como o atual, o ex e o futuro presidente do TSE, saírem em defesa da democracia, do processo eleitoral e da posse do eleito, seja quem for. Essa posição é também dos presidentes da Câmara e do Senado e das Forças Armadas. Mas é preciso cuidado.

Cuidado com a massificação do discurso oposto e com o que o ministro Luís Roberto Barroso chama de “orientação” contra o processo eleitoral, que nasce no gabinete presidencial e se espalha feito erva daninha pelas redes sociais, uma terra de ninguém em que qualquer mentira vira verdade. E todo mundo sabe qual é o contrário de democracia, instituições, eleições e vacinas!

O Estado de São Paulo

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