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quarta-feira, maio 04, 2022

Manifestações frustradas - Editorial




Baixa adesão aos atos de Bolsonaro e de Lula no domingo indica que disputa presidencial permanece em aberto

As ruas mandaram um recado neste domingo, 1.º de maio. Na data em que se celebra o Dia do Trabalhador, as manifestações convocadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro e do ex-presidente Lula da Silva tiveram, em comum, a baixa adesão. A cinco meses da eleição presidencial, ficou evidente que a população preferiu permanecer em casa − ou aproveitar o domingo de sol em parques, praças, clubes ou shopping centers.

Os dois pré-candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto bem que tentaram mobilizar suas bases. E compareceram pessoalmente: Bolsonaro em Brasília, em frente ao Congresso Nacional, com direito à participação, por vídeo, em ato esvaziado na Avenida Paulista; Lula diante do Estádio do Pacaembu, em São Paulo, onde precisou esperar o show da cantora Daniela Mercury para atrair mais público. 

Em tese, motivos não faltavam para um maior comparecimento de militantes governistas e da oposição. Do lado do governo, em sua permanente cruzada antidemocrática e a favor de um clima de golpismo, seria mais um momento para bater bumbo em torno do perdão concedido por Bolsonaro ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ). Nas hostes bolsonaristas, Silveira é reverenciado como símbolo de defesa da liberdade, após ter sido condenado a 8 anos e 9 meses de prisão, pelo Supremo Tribunal Federal, por ameaçar ministros da Corte e por instigar conflito entre o Judiciário e as Forças Armadas.

Do lado petista, por sua vez, o 1.º de Maio é uma data historicamente celebrada pelas centrais sindicais. No momento em que a liderança de Lula nas pesquisas eleitorais é confrontada pelo crescimento de Bolsonaro, nada melhor do que demonstrar vigor e capacidade de mobilização. Lula, no entanto, viu-se forçado a retardar seu discurso por falta de quórum. Pior: abriu sua fala com um pedido de desculpas a policiais, depois de mais uma gafe cometida na véspera − quando, a pretexto de atacar Bolsonaro, disse que o presidente “não gosta de gente, gosta de policial”.

A baixa adesão às manifestações de domingo provavelmente teve vários motivos. Um deles, o fato de que as eleições de outubro ainda estão distantes. Não só no calendário, mas também no imaginário da população, isto é, do ponto de vista do interesse imediato de quem precisa lidar com as contingências do dia a dia. Ao contrário de cliques nas redes sociais, sair às ruas requer outro grau de engajamento. E a decisão do voto, daqui a cinco meses, permanece em aberto para muita gente.

Daí a percepção, corroborada por pesquisas, de que a disputa eleitoral deste ano tem espaço para candidaturas que sirvam de alternativa aos dois nomes até aqui apontados como favoritos. Sim, Lula e Bolsonaro lideram as intenções de voto, mas também comungam altas taxas de rejeição e tiram proveito do clima de polarização que se instalou no País. Até aí, nada de novo. Assim como não há novidade no fato de que é longa a lista de razões para que o eleitorado busque uma terceira via. Resta à classe política viabilizar o anseio de tão vasta parcela da população.

O Estado de São Paulo

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