Publicado em 15 de junho de 2021 por Tribuna da Internet
Carlos Newton
O Estado Maior do Exército rejeitou recurso para revogar o sigilo de 100 anos atribuído ao processo disciplinar contra o general Eduardo Pazuello, sobre sua participação em um ato político ao lado do presidente Jair Bolsonaro, dia 23 de maio, no Rio de Janeiro. O recurso foi apresentado com base na Lei de Acesso à Informação, mas o Estado Maior decidiu manter a proteção dos documentos que tratam da apuração.
A decisão tem sido encarada como um favorecimento ao presidente e ao ex-ministro da Saúde, como uma maneira de pôr fim às discussões, embora o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) já tenha entrado com ação popular contra o Alto Comando.
APARÊNCIAS ENGANAM – Mas o velho ditado ensina que as aparências enganam. Na política brasileira, então, nem se fale. São falsas aparências para todos os lados. Por isso, é sempre bom recorrer à tradução simultânea.
Na presente conjuntura, em que o presidente Bolsonaro e o ministro da Defesa, general Braga Netto, estão forçando uma barra para subjugar o Exército Brasileiro e criar uma situação de fato que possa dar poderes excepcionais ou até totais ao chefe do governo, a decisão de não punir Pazuello precisa ser analisada sob esse viés.
Bolsonaro tenta impor o fato de ser comandante-em-chefe das Forças Armadas como se fosse um mandato sem limites, para usar a seu bel prazer, mas o Alto Comando sabe que “isso non ecziste”, como diria o Padre Quevedo.
TRADUÇÃO SIMULTÂNEA – O sigilo centenário não tem objetivo de favorecer Bolsonaro ou Pazuello. A medida é absolutamente necessária para proteger o próprio Alto Comando.
Motivo: a decisão sobre Pazuello não foi tomada pelo comandante Paulo Sérgio Oliveira, mas pelo Alto Comando, e cada um dos 16 generais se manifestou. Se não houver sigilo, Bolsonaro ficará sabendo qual a posição dos generais sobre ele, quem apoia seus sonhos ditatoriais e quem rejeita.
Ao se proteger sob sigilo, portanto, o Alto Comando do Exército não está obedecendo a Bolsonaro. A intenção é preservar as Forças Armadas e defender a democracia brasileira, que está sob grave ameaça.