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quarta-feira, junho 09, 2021

Executivo da SinoVac cobrou fim de ataques de Bolsonaro à China para não atrasar vacina


Crédito: Evandro Rodrigues

Ilustração reproduzida da IstoÉ

Natália Portinari e Julia Lindner
O Globo

Duas semanas após o presidente Jair Bolsonaro fazer novos ataques à China, em maio deste ano, a farmacêutica SinoVac cobrou uma mudança de posicionamento do governo para garantir o envio de insumos ao Instituto Butantan para a produção da vacina CoronaVac. A informação consta em documento sigiloso do Itamaraty enviado à CPI da Covid e obtido pelo GLOBO.

O ofício reproduz uma carta enviada pela Embaixada do Brasil em Pequim ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) com o relato de uma reunião ocorrida em 19 de maio na capital chinesa entre diplomatas e representantes brasileiros com o presidente da SinoVac, Weidong Yan.

RELAÇÃO MAIS FLUIDA – O executivo, segundo o relato oficial, pediu uma mudança no posicionamento político do Brasil para que houvesse uma relação “mais fluida” entre os países e “fez questão de ressaltar a importância do apoio político para a realização das exportações, e mesmo a possibilidade de tratamento preferencial a determinados países”.

Na avaliação de integrantes da CPI da Covid, o material desmonta a tese defendida em depoimento à comissão por ministros como o titular da Saúde, Marcelo Queiroga, e o ex-chanceler Ernesto Araújo, de que as falas do presidente da República não tiveram impacto nas negociações com o país asiático para o fornecimento de imunizantes.

De acordo com o relato da embaixada brasileira, o presidente da SinoVac “disse ainda que, apesar do bom relacionamento da empresa com o Instituto Butantan e do apoio da Chancelaria à cooperação com o Brasil, poderia ser útil que o acordo entre as empresas fosse visto como uma demanda do governo brasileiro”.

NO NÍVEL POLÍTICO – O executivo chinês, ainda segundo o documento enviado ao Itamaraty, sugeriu que o Brasil enviasse uma correspondência, “no nível político”, para expressar a expectativa sobre a quantidade de insumos e o cronograma de suprimento de vacinas. “Deu a entender que esse documento poderia ajudar a empresa em suas conversações com o Waijiaobu (Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China)”.

De acordo com o documento, o encontro ocorreu na sede da SinoVac, em Pequim, e contou com a presença de outros diplomatas brasileiros e um representante do governo de São Paulo em Xangai. “O propósito da reunião foi tratar do processo de suprimento das vacinas contra a COVID-19 contratadas pelo Instituto Butantan”, diz o ofício.

No início da reunião, segundo o relato enviado ao Itamaraty, representantes brasileiros comentaram que havia frustração do governo Bolsonaro e do Instituto Butantan com a notícia de que seriam enviados apenas 3 mil litros de insumos ao Brasil naquele mês, e não 4 mil, conforme previsto.

DEMANDA EXCESSIVA – Ao ser questionado se a SinoVac conseguiria fornecer o estoque contratado com o Brasil, o presidente da farmacêutica chinesa disse que a empresa tinha dificuldades em atender “toda a demanda”, alegou que há um “processo de alocação da produção para os diversos clientes da empresa” e, logo em seguida, comentou “que seria conveniente, para o processo, que o governo brasileiro buscasse ‘desenvolver uma relação mais fluida e positiva com o governo chinês’.”

 “(O presidente da SinoVac) não chegou a afirmar categoricamente que haveria uma ingerência direta do governo na alocação de insumos, mas realçou a importância de um bom diálogo entre Brasília e Pequim. Afirmou que a questão não é meramente comercial, mas também diplomática. Citou, como exemplo, o reflexo positivo das boas relações que a Indonésia e o Chile mantêm com a China sobre o suprimento de vacinas para aqueles países”, diz o relato enviado ao Itamaraty.

Dos 12,7 milhões de doses administradas no Chile contra a Covid-19, 90% são do laboratório chinês Sinovac.

BOLSONARO INSISTE – No início de maio, catorze dias antes da reunião do diplomata brasileiro com a SinoVac, o presidente Jair Bolsonaro sugeriu que o novo coronavírus faria parte de uma “guerra química”.

— É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou por algum ser humano ingeriu um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que não estamos enfrentando uma nova guerra? — disse o presidente em evento no Palácio do Planalto, em Brasília — Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês — afirmou Bolsonaro, sem citar a China diretamente.

Na época, o diretor do Instituto Butantan afirmou que “todas as declarações neste sentido têm repercussão” — Nós já tivemos um grande problema no começo do ano e estamos enfrentando de novo esse problema — afirmou Dimas Covas, em 6 de maio.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – Errar é humano, todos sabem. Mas insistir no erro, em prejuízo de toda a nação, é coisa de jumento, digamos assim(C.N.)

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