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sábado, maio 29, 2021

Ciro precisa criticar Bolsonaro e parar de atacar Lula, diz Túlio Gadêlha, do PDT


Reprodução

Gadêlha reclama da falta de democracia no PDT

Joelmir Tavares
Folha

Filiado ao PDT desde 2007, o deputado federal Túlio Gadêlha (PE) discorda da estratégia do presidenciável do partido, Ciro Gomes, de atacar o ex-presidente Lula (PT), apostando no derretimento de Jair Bolsonaro (sem partido) e na ausência dele no segundo turno da corrida ao Planalto em 2022.

“Ciro tem que criticar Bolsonaro e parar de atacar Lula. Ciro não vai conquistar os votos de [eleitores de] Bolsonaro”, afirma o parlamentar à Folha, por telefone, do Recife.

SOMAR FORÇAS – Ciro já combatia Bolsonaro, mas passou a mirar Lula com mais afinco desde a volta do petista ao páreo, em março. Para Gadêlha, que defende soma de forças do chamado campo progressista, o caminho ideal seria o de reconciliação com o ex-presidente.

O deputado, que reclama de falta de democracia interna no PDT, teve divergências com o comando do partido nas eleições municipais de 2020 e se afastou de Ciro e do presidente da sigla, Carlos Lupi.

Eleito em 2018, após se tornar conhecido nacionalmente como namorado da apresentadora da TV Globo Fátima Bernardes, Gadêlha analisa se tentará mais um mandato. “Não sei se terei fôlego e saúde mental para aguentar mais quatro anos de Bolsonaro”, diz, revelando temor com a chance de reeleição.

Como vê a movimentação de Ciro e do PDT para 2022?
Não tenho achado que seja uma estratégia interessante os ataques ao Lula. No momento em que mais o país precisa de estadistas para vencer esta crise, vemos as nossas maiores referências entrarem em conflito. Isso tem me preocupado e me afastado desses projetos. Até o [Leonel] Brizola, para usar uma referência do PDT, dizia que o campo progressista dividido é escada para a direita conservadora subir. E é isso que está acontecendo.

Como pedetista, considera que a legenda deva ter nome? A candidatura de Ciro é legítima?
Com certeza, a candidatura de Ciro é legítima, é necessária. Acho que, [sobre] ter candidatura, cabe avaliar, discutir o momento. Tanto PDT quanto PT têm que fazer essa avaliação. Em 2018, não estávamos atravessando uma pandemia nem passando por um período de uma política genocida. Vivemos hoje um momento completamente diferente: extermínio da população brasileira, desemprego em níveis inimagináveis, a retirada de direitos da população mais carente, a destruição das políticas públicas, a entrega do Estado brasileiro, das suas riquezas naturais.

E o que propõe?
A nossa insistência é em tentar se discutir uma via desse campo progressista que seria imbatível: uma chapa construída por Lula e Ciro, ou por Ciro e Lula. Qual outro candidato hoje no cenário nacional enfrentaria essa aliança com chances reais de vencer?

As críticas concomitantes de Ciro a Bolsonaro e a Lula podem ter algum efeito prático, atraindo, por exemplo, um eleitorado mais à direita? Acho que os bolsonaristas arrependidos não são suficientes para levá-lo ao segundo turno. O bolsonarismo ainda é muito forte no país e há muitos defensores do governo, por incrível que pareça. E acreditar em um segundo turno entre Lula e Ciro é viver uma ilusão.

Qual é, então, seu pleito em relação à pré-candidatura de Ciro? Ciro tem que colocar a candidatura dele, tem que defender o projeto nacional de desenvolvimento, que nós tanto falamos, tem que dialogar com outros partidos, mas tem que criticar Bolsonaro e parar de atacar Lula. Ciro não vai conquistar os votos de [eleitores de] Bolsonaro. Ele pode conquistar os votos dos 40% de indecisos, e para isso não precisa atacar Lula.

O sr. saudou a informação de que Lula e Ciro se encontraram em 2020 e chamou o gesto de “o começo do fim do governo Bolsonaro”. Por que acha que houve essa cisão? Esse distanciamento se deu pelos olhos de ambos em pesquisas, que apontam para direções diferentes de uma aproximação. Ciro teria condições se buscasse composição com o Lula. Parece mais uma disputa de vaidade do que qualquer outra coisa. E isso é muito ruim. O Brasil perde com isso. O PT poderia fazer como foi feito na Argentina [onde a ex-presidente Cristina Kirchner concorreu como vice]: entender que existe um momento de rejeição muito grande e tentar compor com outra liderança que dialogue com as pautas que o partido defende. Lula almoçou com Fernando Henrique Cardoso [PSDB], com quem rivalizou nas últimas sete eleições. É disso que estou falando. Para vencer o bolsonarismo, precisamos unir forças. E infelizmente o que a gente tem visto é divisão.

Ciro acha que pode ser a terceira via e, por isso, acena à centro-direita e aos liberais. É o caminho?
A polarização se tornou ainda mais aguda após a volta de Lula, o que dificultaria a consolidação de uma terceira via, segundo as pesquisas. Mas uma terceira via que combine as forças de centro e um projeto progressista, para mim, é uma contradição. As forças de centro nunca foram progressistas, são conservadoras. Se Ciro está em um partido que defende um Estado robusto para combater as desigualdades do país, mas se alia a um grupo político que não entende que esse deva ser o caminho, há um erro ou na construção do programa ou na construção das alianças. Ele vai ter que ter muito jogo de cintura para responder sobre essa equação.

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