Publicado em 27 de maio de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Reportagem de Jussara Soares, O Globo desta quarta-feira, destaca que o problema da transgressão militar do ex-ministro Eduardo Pazuello se confronta com o silêncio do Exército ao que se refere à eventual punição ou advertência verbal pela participação do ex-ministro na carreata de domingo, no Rio, em meio a motociclistas, tendo, ao lado do presidente Jair Bolsonaro, discursado para os apoiadores do governo.
O comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, ainda não decidiu, ao menos aparentemente, o que fazer para superar o obstáculo e o mal estar criado pela presença de um general da ativa em uma manifestação política. Jussara Soares ouviu fontes militares, que não se identificaram, e que indicaram que o comandante do Exército terá, sem dúvida, que resolver a questão.
PRAZO – Pelo regulamento disciplinar do Exército, o espaço de tempo entre uma atitude e a outra está limitado a poucos dias. O prazo para ser exato é de três dias a partir da notificação, mas esse limite pode ser estendido a pedido do general Pazuello que terá de ser ouvido no desenrolar dos fatos; isso porque terá um prazo para apresentar sua defesa.
Inicialmente, acentua Jussara Soares, o Exército pensou em divulgar uma nota sobre a abertura do procedimento, mas ao que parece desistiu sem maiores explicações, deixando uma incógnita a ser traduzida. O general Paulo Sérgio Nogueira se reuniu na terça-feira com o ministro da Defesa Walter Braga Netto para discutir o caso. Uma semana antes da caravana de motociclistas, Braga Netto também foi criticado por certa vez ter participado de manifestação em Brasília quando manifestantes pediram o fechamento do Congresso e do STF. Entretanto, Braga Netto estava já na reserva.
Se comprovada a transgressão, Pazuello poderá ser punido com advertência, repreensão ou outras consequências previstas no regimento disciplinar do Exército. Há um mal estar reinante em meios militares. Uma corrente defende a passagem do general para a reserva, o que significa um ato de autoridade do Comando porque afasta a perspectiva do próprio Pazuello solicitar a sua reforma no posto em que se encontra.
DESGASTE – O desempenho de Pazuello está sendo examinado sob o ângulo de que qualquer decisão representará um desgaste ainda maior para o Planalto. No entanto, a política não está só no Planalto ou nos quartéis, mas em toda a sociedade brasileira que aguarda fatos que possam objetivar ações concretas do governo não só no plano de manifestações radicais, mas sobretudo na esfera administrativa e econômica.
Há casos a resolver, por exemplo na área do Meio Ambiente. Agora o ministro Ricardo Salles está sendo investigado pela Polícia Federal, com fortes indícios de ter praticado crime contra o meio ambiente , favorecendo madeireiros responsáveis pelo desmatamento da Floresta Amazônica.
BUSCA E APREENSÃO – É evidente, cada vez mais, as certezas de que Salles não tem nada a ver com o meio ambiente em matéria de conservação. O ministro Alexandre de Moraes atendeu a comunicação da PF e determinou a busca e apreensão no escritório de Salles em Brasília. Falta ainda a apreensão do celular que o ministro diz não saber onde se encontra.
Mas isso não significa o fim da questão. A posição de Salles está cada vez mais frágil, apesar de o presidente da República ter dito que a sua atuação é excepcional. Mas não, digo eu, no sentido construtivo, pois a cada semana surge um novo fato relativo ao desmatamento e às queimadas.