Publicado em 31 de maio de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
Reportagem de Igor Gielow, na Folha de São Paulo deste domingo, revela que o presidente Jair Bolsonaro na viagem que fez ao Amazonas para inaugurar uma pequena ponte, afirmou ao general Paulo Sérgio Nogueira, comandante do Exército, que não quer ver o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello sofrer punição por ter participado ao seu lado de manifestação política no Rio de Janeiro em apoio ao governo.
O comandante do Exército já havia se manifestado a favor de uma pena, por mais leve que fosse, ao general Eduardo Pazuello, da ativa, por sua presença em palanque político. Agora ou o presidente da República impõe a sua vontade colidindo com o regulamento militar ou o general Paulo Sérgio Nogueira fica com a sua autoridade esvaziada. Seja como for, o desafio está predominando diante de uma possível uma crise militar envolta na opção colocada pelo chefe do executivo.
INVESTIDAS – O problema já estava colocado em outras situações decorrentes de investidas de bolsonaristas contra o Congresso e até contra o Supremo Tribunal Federal. Além dos ataques que permanecem no ar no país, soma-se o problema da punição ou não de Pazuello.
A escolha deve ser difícil, caso contrário Bolsonaro não assumiria esse papel, colocando a sua vontade política acima do regulamento e da hierarquia militar. Portanto, a semana que hoje começa será decisiva para o rumo do regime democratico ao qual o universo político partidário tem razões para temer. Como todos já constataram, o presidente da República compareceu à manifestação em Brasília contra o Congresso e o STF.
O Supremo Tribunal Federal recentemente anulou as condenações do ex-presidente Lula habilitando-o, portanto, para concorrer às eleições presidenciais de 2022. O enigma está na bola de cristal que reflete tendências bastante nítidas. Se prevalecer a vontade de Bolsonaro, o regime e até a própria liberdade estarão expostos num caminho sem volta.
AUTORITARISMO – Se Bolsonaro em 2020 já havia iniciado a sua campanha para as urnas de 2022, claro está que sem confiar no voto democrático, o presidente da República está partindo para um final autoritário. Se o comandante do Exército mantiver a sua posição, estará deflagrada a mais grave crise transcorrida no atual governo.
Apoiadores de Bolsonaro já foram às ruas diversas vezes, como no início de maio, para anunciar a ideia voltada para a ruptura institucional do país. Se Bolsonaro vencer, tanto o STF quanto os senadores e deputados federais passam a correr o risco de uma repetição de episódios anteriores da história do país, como foi o caso de 1964 e de 1968, neste caso marcado pela outorgação do Ato Institucional nº 5. Há também outros precedentes de situações críticas: novembro de 1937 é uma delas. Vargas fechou o Congresso e impôs uma derrota à democracia.
São episódios que formam em cadeia as lutas entre o regime democratico e a face autoritária e ditatorial que já significou mais recentemente entre nós. Não vale a pena lembrar o que aconteceu, basta levar em consideração o risco que a nação enfrenta. Não há uma terceira via possível sem que um dos setores colocados frente a frente possa sair ileso do desfecho final. O Senado e a Câmara Federal estão sob grave ameaça.