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quinta-feira, abril 22, 2021

Tarde demais para Bolsonaro demitir Salles; nunca houve um ministro tão atacado


Uma imagem vale mais do que mil palavras, dizia Confúcio

Pedro do Coutto

O presidente Jair Bolsonaro até a noite de ontem não havia demitido Ricardo Salles do Ministério do Meio Ambiente e tal omissão, inevitavelmente, vai se refletir na reunião do Clima convocada pelo presidente Joe Biden exatamente para discutir e traçar planos para o combate ao aquecimento global que tanto preocupa os países da Europa, além de todas as nações civilizadas.

A ameaça do aquecimento e da poluição realmente deve sensibilizar a todos. Exceto a Ricardo Salles: nunca houve um ministro tão atacado no País quanto ele.

REAÇÃO – Reportagem publicada ontem no O Globo, de Leandro Prazeres e Jussara Soares , focalizou a forte reação de quatrocentos servidores do Ibama contra as medidas tomadas por Salles que se refletem em uma situação praticamente de conivência com os desmatadores e devastadores da Floresta Amazônica e do Pantanal do Mato Grosso do Sul.

O ministro Ricardo Salles não podia ter tomado atitude pior do que a de posar para uma fotografia publicada no O Globo, tendo ao fundo, inclusive em curta distância, toras de madeira cortadas ilegalmente por empresários que não respeitam os limites nem da lei, nem da civilidade. Cortando troncos gigantescos como os da foto, Salles, com sorriso na face, revelou tacitamente tanto um desafio quanto desprezo pela condição humana dos que habitam a Amazônia, maior produtora de oxigênio limpo do planeta.

OMISSÃO – Jair Bolsonaro até agora não tomou providência alguma em relação ao caso e não tem justificativa para tal omissão, sobretudo porque os 400 funcionários do Ibama suspenderam os trabalhos de fiscalização e publicaram documento no qual manifestam absoluto descrédito em matéria de compromisso do ministro para com o meio ambiente.

Pessoas como Ricardo Salles são capazes até de praticar ações irrecuperáveis. Basta dizer que o desmatamento é aceito sem obrigação de replantio. O jornalista André Trigueiro, especialista em meio ambiente, tem destacado o grau do atentado do ministro contra o verde e também contra a esperança de que o Brasil combata a política de prevenção contra o aquecimento do mundo. Ricardo Salles conseguiu reunir contra si próprio uma gigantesca onda de protesto e revolta. O presidente Bolsonaro vai ter que enfrentar hoje e amanhã o debate no fórum do Meio Ambiente.

GRANDES CRISES – Outro dia, conversando com o meu amigo Ruy Castro, um passageiro e mergulhador da História, focalizamos as grandes crises que marcaram e continuam marcando a história moderna do Brasil, inclusive o presente em que vivemos. Fiquei pensando nos episódios e comentarei com ele, Ruy Castro, os desfechos dramáticos envolvendo Jânio Quadros, João Goulart, Costa e Silva, Fernando Collor e Dilma Rousseff,  no segundo mandato. Na lista é indispensável acrescentar Jair Bolsonaro.

O período do presidente Michel Temer foi consequência do impeachment de sua antecessora e os fatos ocorridos , embora graves, não traumatizaram o país porque a sua permanência no Planalto era pequena. Ocorrências como os visitantes da noite, um deles sendo recebido pelo presidente da República em sua residência particular. O outro visitante da noite correu pelas ruas de São Paulo levando consigo uma mala com R$ 500 mil. Escapou da polícia, mas não da filmagem da TV Globo.

PRONUNCIAMENTOS –  Reportagem de Ricardo Della Coletta, Folha de São Paulo desta quarta-feira, focaliza bem os pronunciamentos do general Braga Netto e do general Edson Pujol na transmissão dos cargos de ministro da Defesa e comandante do Exército da pasta, no período em que Fernando Azevedo ocupou o ministério.

Enquanto Braga Netto defendia que é preciso respeitar o projeto escolhido pela maioria dos brasileiros para governar o país, o general Edson Pujol respondia que se enganam aqueles que acreditam “estarmos sobre um terreno fértil para iniciativas que possam colocar em risco a liberdade consagrada na nossa Nação. É preciso respeitar o rito democrático e o projeto escolhido pela maioria dos brasileiros para conduzir os destinos do país”.

INTERESSES NACIONAIS – Pujol acrescentou: “A sociedade atenta a essas ações pode ter a certeza de que as suas Forças Armadas estão prontas a servir aos interesses nacionais. Neste período de intensa comoção e incertezas que colocam à prova a maturidade e independência das instituições democráticas brasileiras, o Exército , a Marinha e a Força Aérea mantém o foco em suas missões constitucionais, permanecendo sempre atentas à conjuntura nacional”.

Como se constata, os pronunciamentos podem ser interpretados como um claro enigma, poema de Carlos Drummond de Andrade. Não há necessidade de qualquer outra análise.

VALE TUDO – Na edição de ontem da Folha de São Paulo, como sempre ocorre às quartas-feiras, o ex-ministro Delfim Netto publicou o seu artigo. Nele sustentou que os Poderes além de se comportarem publicamente como comentaristas oficiais da realidade brasileira, como se não houvesse nenhuma responsabilidade sobre ela, partem para um verdadeiro vale tudo de consequências econômicas e sanitárias da pandemia. A palavra pandemia a meu ver foi usada apenas para não deixar tão claro a força da frase que a antecede.

Delfim Netto, um conservador,  mas também um homem de grande cultura econômica, há muito assumiu uma parceria com a Fiesp. O empresariado preocupa-se com os rumos políticos atuais.

PLÁGIO – A professora Cláudia Mansani de Toledo, autora de tese acadêmica para assumir a direção da Capes,rebateu matéria de Paulo Saldanha, Folha de São Paulo, de que o seu trabalho reúne opiniões de diversos autores vinculados à educação, mas negou que os tenha plagiado.

Em relação ao tema, digo que citações são válidas, mas desde que identifiquem as fontes e os autores. Por essas e outras é que nos artigos que publico na Tribuna da Internet me refiro sempre às fontes e nominalmente aos autores dos textos em que me baseio para as minhas análises e versões.

RESPONSABILIDADE FISCAL – A matéria é de Fábio Pupo, também na Folha de São Paulo, na qual revela afirmações do ministro Paulo Guedes, no dia 20, dizendo que as emendas dos parlamentares aprovadas pelo Congresso não atingem e nem abalam os pontos básicos da responsabilidade fiscal relativa ao Orçamento de 2021, tampouco furam o teto programado por nós.

Paulo Guedes é mais um integrante do governo a desdizer o que disse anteriormente. Ele pediu publicamente que Jair Bolsonaro vetasse os dispositivos que agora aceita. Empenha-se assim em permanecer no cargo, representando sua corrente partidária e sua ideologia mutante.

VALE COMPRAS – Reportagem de Diogo Maia, Folha de São Paulo, assinala que os supermercados no país, especialmente os de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, resolveram criar um vale-compra para que os mais necessitados possam com ele combater a fome.

A fome realmente é um fator horrível na vida brasileira e alcança um percentual muito elevado no país, tanto assim que os dirigentes atacadistas e proprietários de supermercados decidiram criar um vale compra no valor de R$ 100. Tenho a impressão que esse vale será renovável uma vez que o valor assinalado nele é muito reduzido, embora represente uma ação diante de uma emergência efetivamente dramática.

Portanto, eu estava com a razão quando em artigo recente disse ter ficado surpreso com a afirmação do professor Marcelo Neri, diretor da Fundação Getúlio Vargas, de que o auxílio de emergência adotado pelo governo Bolsonaro  tinha livrado 10% das pessoas que se encontram em situação de miserabilidade. Deixo a questão para o próprio Marcelo Neri, se puder ou quiser, esclarecer me

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