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sábado, abril 24, 2021

Diagnosticando o “médico bolsonarista”, que se deixa contaminar por uma “doença ideológica”


Ednei Freitas

O bolsonarismo na assistência médica, além de patologia moral, virou doença intelectual e profissional. Ficou famoso o caso do enfermeiro bolsonarista Anthony Ferrari Penza, de 45 anos, que acreditou nas orientações do presidente da República e passou a defender o uso de cloroquinae outros medicamentos efeito comprovado

Tornou-se conhecido nas redes sociais por publicar vídeos com informações falsas sobre a pandemia. Em um deles, Penza chegou a desaconselhar a vacinação. No último domingo, dia 19, o enfermeiro bolsonarista morreu  vítima da covid-19, na UTI do Hospital São José, em Duque de Caxias (RJ).

UM TIPO INTRIGANTE – Na verdade, dos tipos políticos mais extravagantes encontrados no fundo desse abismo em que nos encontramos, o “médico bolsonarista” é um dos mais intrigantes.

O enigma começa com as duas palavras que o designam: ele é médico por substantivo, exerce um ofício considerado nobre em qualquer sociedade, mas é também bolsonarista, por adjetivo, portanto filiado a uma atitude que coloca o extremismo político acima da missão de tratar doentes e salvar vidas.

Assim, não se trata de um médico que também seja bolsonarista, mas apenas de um bolsonarista que ganha a vida exercendo a medicina.

CONTESTAR A CIÊNCIA – Essa distorção social e política chegou ao ponto de exibir nas redes sociais exemplos de profissionais da saúde que se autoconcederam um upgrade ao status de cientista, pois seguiam Bolsonaro e contestavam as recomendações da Organização Mundial da Saúde e das entidades profissionais que acompanham os avanços da ciência médica.

No entanto, pensar o bolsonarismo como ideologia é tentar encontrar algum método nessa loucura, uma missão impossível.

A posição antivacina, a insistência em medicamentos ainda não suficientemente testados, a negação e a minimização da doença – alguma dessas posições depende de ser de esquerda ou direita, conservador ou liberal? Nada disso, nada mesmo.

NA VIDA REAL – Para as pessoas de bom senso e equilíbrio emocional, não há a menor relação entre esse comportamento bolsonarista e a vida real, baseada nos códigos e regras estabelecidos pelos costumes sociais.

Além disso, embora muitos médicos tenham se recuperado da patologia bolsonarista, pela força do choque de realidade que acabaram tomando no transcorrer da pandemia, ainda há profissionais da saúde que seguem confundindo ciência e política, como se fosse possível misturar soro fisiológico e óleo de rícino. É lamentável.


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