Ricardo Della Coletta
Folha
Em discurso em cerimônia de promoção de oficiais-generais, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta quinta-feira (8) que o Exército representa “uma estabilidade” para o Brasil e que atua “dentro das quatro linhas da Constituição”. O presidente também voltou a usar a expressão “meu Exército”, que gerou críticas por ser interpretada como uma tentativa de politizar a instituição.
“O nosso Exército, tradição, o nosso Exército de respeito, de orgulho, bem como reconhecido por toda nossa população, representa para o nosso Brasil uma estabilidade. Nós atuamos dentro das quatro linhas da nossa Constituição. Devemos e sempre agiremos assim. Por outro lado, não podemos admitir quem porventura queira sair deste balizamento”.
“NOSSO EXÉRCITO” – “Agradeço ao meu Exército brasileiro, o qual ainda integro, ao nosso Exército brasileiro, por este momento. Temos certeza que venceremos os desafios e cada vez mais colocaremos o Brasil no local de destaque que ele bem merece”, disse Bolsonaro, em outro momento de seu pronunciamento.
A fala do mandatário ocorre na esteira da maior crise militar registrada desde a redemocratização do país.A crise foi deflagrada com a decisão de Bolsonaro de demitir Fernando Azevedo e Silva do comando do MInistério da Defesa. No lugar, Bolsonaro nomeou o ex-ministro da Casa Civil, general Walter Braga Netto.
Segundo interlocutores, o agora ex-ministro da Defesa vinha resistindo a pressões de Bolsonaro por um maior apoio das Forças Armadas na defesa de medidas do governo, principalmente na oposição a políticas de distanciamento social adotadas por governadores e prefeitos. Além do mais, Azevedo vinha bloqueando as investidas do presidente pela saída do general Edson Pujol do comando do Exército.
RESSENTIMENTO – Como resultado da demissão de Azevedo, Pujol —que participou da cerimônia desta quinta— e os comandantes da Marinha e da Aeronáutica também anunciaram que deixariam seus postos. Como mostrou a Folha nesta terça-feira, parte expressiva da cúpula do Exército ainda está ressentida com as trocas efetuadas pelo Palácio do Planalto.
A carta de demissão de Azevedo, em que ele argumenta ter preservado as Forças Armadas como “instituição de Estado, também foi interpretada como uma tentativa de Bolsonaro de aprofundar a politização dos militares, o que gerou novas críticas contra o mandatário.
“BOM E CONFORTÁVEL” – Para tentar evitar o adensamento da crise, Bolsonaro decidiu respeitar critérios de antiguidade na escolha dos novos comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Ainda em seu discurso nesta quinta-feira, Bolsonaro disse que é “muito bom e confortável” ser o “chefe supremo das Forças Armadas” tendo a seu lado os membros dessas instituições.
“Os momentos são difíceis. Vivemos uma fase um tanto quanto imprecisa, mas temos a certeza pelo nosso compromisso, pela nossa tradição, sempre teremos como lema a nossa bandeira verde e amarela; e a nossa perfeita sintonia com os desejos da nossa população. Assim agiremos”, declarou.