Publicado em 10 de abril de 2021 por Tribuna da Internet
Pedro do Coutto
O presidente Jair Bolsonaro dirigiu ontem um forte ataque contra o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), porque este concedeu medida liminar determinando ao Senado que a abertura de CPI da Pandemia para investigar a atuação do governo e apurar eventuais omissões noenfrentamento à Covid-19.
O pedido de criação da CPI foi protocolado em 15 de janeiro pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE) e Jorge Kajuru (Cidadania-GO). O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, dizia aguardar momento que fosse mais oportuno para atender a iniciativa dos senadores, porém no último mês chegou a declarar que a instalação de uma CPI no momento “seria algo contraproducente”.
CRISE – Por fim, a bancada da oposição conseguiu reunir trinta e uma assinaturas para que a CPI comece a funcionar, o que tanto incomodou o presidente da República,. A atitude de Bolsonaro agrava a crise que se desenvolve contra o seu próprio governo na medida em que ao criticar o ministro, o presidente da República leva o STF a se solidarizar com Luís Roberto Barroso, garantindo assim o despacho e fortalecendo ainda mais a iniciativa contra o Executivo.
Bolsonaro cometeu um erro duplo: vai ocasionar uma decisão em bloco do STF e colocará em maior destaque os trabalhos da CPI que ele desejava evitar. Por que evitar a CPI se ele tem a certeza de sua atuação contra a Covid-19 ? Querendo obstruir uma medida oposicionista acabou por ampliar a repercussão dos fatos.
“MEU EXÉRCITO” – A crise do governo ganha maior dimensão do que aquela que já apresentava, sobretudo porque Bolsonaro voltou a se referir ao “meu Exército”, frase que deu margem a reações contrárias por parte dos militares. O general Fernando Azevedo foi exonerado por Bolsonaro e em solidariedade ao ex-ministro, os comandantes do Exército, da Marinha e Aeronáutica também renunciaram.
O general Edson Pujol fez afirmações contrárias a qualquer manifestação política fora do texto constitucional e isso causou mal estar no Planalto. O general Braga Netto assumiu o ministério da Defesa e os representantes da Forças militares também se pronunciaram a favor da legalidade, o que era esperado.
Bolsonaro ficou mais isolado no Planalto e a crise deve ganhar ritmo mais intenso do que já vinha pontuando o panorama político brasileiro. A impressão que se tem é que dias ainda mais difíceis ocorram já a partir deste fim de semana para o presidente da República.Nada política deixa de ter consequências , portanto as afirmações de Bolsonaro acarretarão outros desdobramentos.
IMPASSE DO ORÇAMENTO – Reportagem de Julia Chaib, Gustavo Uribe e Bernardo Caram, Folha de São Paulo, revela que problema do Orçamento para 2021 também está causando desgaste e inquietação, uma vez que os deputados do Centrão e setores militares buscam desmembrar o Ministério da Economina.
Os que são a favor da desacumulação de funções argumentam que ninguém pode ser ministro da Fazenda, do Planejamento, do Trabalho e da Previdência Social, além de coordenar a privatização e empresas estatais, a exemplo da Petrobras e do Banco do Brasil. Assim, parte dos deputados que apoiam o governo desejam poder influir no preenchimento dos cargos que surgiriam em consequência do desdobramento.
JANTAR COM EMPRESÁRIOS – De outro lado, o presidente Jair Bolsonaro foi a um jantar na residência do empresário Washington Cinel, da companhia de segurança Gocil, em São Paulo, onde disparou ataques ao governador João Doria, tanto em função do programa de vacinas, e também em virtude do seu comportamento político. Bolsonaro chamou o governador de São Paulo de “vagabundo”, acrescentando um palavrão.
Não foi um lance inteligente, pois vai ampliar a reação de João Doria e acarretará choques ainda mais profundos entre o Planalto e o Palácio dos Bandeirantes. As afirmações feitas por Bolsonaro causaram perplexidade pelo conteúdo e pelo caráter ofensivo. Estiveram presentes na comitiva Paulo Guedes (Economia), Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), Marcelo Queiroga (Saúde), e Fábio Faria (Comunicação), além do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do general Augusto Heleno (chefe do Gabinete de Segurança Institucional)
ESTRATÉGIA DE LULA – Matéria de Paulo Capelli, O Globo, destaca que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dirigiu uma comunicação aos dirigentes do PT no sentido de que o partido, salvo casos excepcionais, abra mão de candidaturas dos governos nos estados em 2022, o que tem por objetivo de facilitar a sua caminhada às urnas na sucessão presidencial. Liberando acordos com partidos contrários, Lula acena com a possibilidade de aceitarem alianças com o PT em nível nacional.
O lance é plausível e revela que Lula está aprofundando as articulações para a sua candidatura. O objetivo é criar uma rede de apoio em nível nacional para combater Jair Bolsonaro na sucessão presidencial no próximo ano.