Roberto Nascimento
O grande jornalista Pedro do Coutto levantou o assunto do golpe de 1964 e muitos comentaristas se manifestaram. Alguns, de forma lamentável. Chamar Carlos Lacerda de canalha tem o mesmo sentido de dizer que João Goulart era imbecil. Vamos criticar a postura política, sem entrar na adjetivação pessoal.
Jango foi derrubado por forças conservadoras terríveis, que minaram seu governo, em movimento financiado por empresários multinacionais e empresários brasileiros, principalmente de São Paulo. A marcha com Deus pela família foi só um detalhe.
CONSPIRADORES – O embaixador americano Lincoln Gordon conspirou, com apoio de Roberto Marinho, e o adido militar Vernon Walters, que era da CIA, convenceu os militares a dar o golpe e acabar com a democracia.
Usaram o argumento falso de que Jango iria se aliar aos comunistas e criar uma República Sindicalista. Nada mais fake do que esse argumento tosco e tolo. A maioria dos brasileiros sempre foram conservadores e o presidente, também, como fazendeiro gaúcho milionário, mas profundamente preocupado com as questões sociais.
O embaixador brasileiro nos EUA, Roberto Campos, também traiu o presidente, tanto que foi logo convocado por Castelo para o ministério do Planejamento.
COSTA E SILVA, PREFERIDO – O presidente não era para ser o general Castelo Branco. O preferido da caserna era o general Costa e Silva. E o general Olímpio Mourão precipitou a derrubada de Jango ao movimentar suas tropas de Juiz de Fora em direção ao Rio de Janeiro. Ao chegar em Resende, suas tropas estiveram na iminência de um combate, com o efetivo das Agulhas Negras, mas, as pombas da paz entraram em ação e acabaram se confraternizando.
Mourão partiu para o Rio de Janeiro. Lá chegando suas tropas ficaram aquarteladas no Maracanã. Logo sem seguida ao golpe, Mourão foi afastado da cúpula de Revolução, mas o recompensaram com um cargo de ministro do Superior Tribunal Militar, que lhe dobrou os vencimentos. Morreu entristecido e decepcionado com seus pares da caserna. O poder não estava reservado para ele. Quem manda de verdade vetou seu nome.
LACERDA E JUSCELINO – O certo é, que uma conspiração brutal tirou o presidente do cargo. O líder udenista Carlos Lacerda tramou pela derrubada de Getúlio e depois pela queda de Jango. Mas, o castigo dele veio a cavalo. O regime militar cassou Lacerda e impediu que seu sonho de ser presidente fosse realizado.
Juscelino Kubitschek, assim como Carlos Lacerda, fez a aposta errada, ao apoiar o golpe, na crença pueril, de que os militares convocariam eleições em 1965. Ledo engano. Ambos foram cassados e depois perseguidos pelo regime que apoiaram. Uma terrível lição de vida para os dois políticos.
Depois, Lacerda fez a autocrítica e criou a Frente Ampla pela Democracia, com apoio de Juscelino e Jango. Foi um momento muito triste da história da nação, todos morreram decepcionados, eram os mais importantes políticos das décadas de 50/60. O sonho da presidência foi pelos ares. Quem perdeu com tudo isso foram os brasileiros, principalmente os mais pobres.
O PAÍS PIOROU – O país está muito pior, no que tange a política em todos os sentidos. Não aprendemos nada com o sofrimento da época. A memória nacional é muito curta. Precisamos avançar e não é pouca coisa não, pois o atraso é imenso, até perturbador.
Meu avô recebia Cr$ 1,2 mil de aposentadoria. Castelo Branco reduziu para Cr$ 700,00. Que tristeza esse país. Os americanos impuseram regimes ditatoriais em toda a América Latina, com medo do alinhamento dos países do Cone Sul com a URSS. Era preciso preservar o quintal para a América. Quem não se lembra da Operação Condor?
Agora, os americanos não querem que o Brasil aceite a tecnologia 5 G da China, muito mais barata e eficiente em termos científicos e inovadores. A história se repete e não é farsa.