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domingo, maio 26, 2019

Se a manifestação for um sucesso, Bolsonaro ganha força para peitar o Congresso


Imagem relacionadaAngela AfonsoFolha
Grandes manifestações são colchaS de retalhos de várias pequenas simultâneas. Foi assim em 2013, quando havia muitos movimentos, mas apartados em campos diferentes: o autonomista, focalizando novas identidades, o socialista, em torno de direitos sociais, e o patriota, com a anticorrupção. Distintos, mas lado a lado.
A história foi outra em março de 2015. O campo patriota tomou a rua sozinho e vertentes começaram a assomar. A diferenciação ficou suspensa durante a campanha “Fora Dilma”, respondida pela contrária, “Não vai ter golpe”. Esse ciclo de protestos polarizou a rua entre defesa e ataque ao impeachment, ambos os lados massudos, mas separados. Em 2013, os contrários se suportavam; em 2015, não.
NA ELEIÇÃO – A intolerância cresceu em 2018, em atos sucessivos de sentido oposto (“Ele não”, “Ele sim”) nas vésperas da eleição. Um lado levou na urna, o outro sobreviveu na rua e se reaglutinou no “Lula livre”. Mas o foco no ex-presidente limitava a adesão.
A esquerda se reinflou na rua por obra do governo, que pôs na mesa pautas transversais com capacidade de tração: educação e Previdência. O ato de 15 de maio foi vigoroso porque incidiu sobre categorias muito articuladas: professores universitários e estudantes. Nacional e coordenado, tomou 222 cidades, em todos os estados. A envergadura, contudo, variou da dúzia às centenas de milhares.
Ao contrário do prometido na hashtag “tsunami”, não repetiu a casa do milhão de 2013 e 2015. O maior evento, o paulistano, congregou 250 mil. Isso na conta da UNE, que — cabe desconto — somou 1,5 milhão no país todo. Não é pouco, mas um único ato do campo patriota em São Paulo, em 2015, reuniu perto de 1 milhão —a PM estimou, reaplique-se o desconto.
SEM NOVIDADES – A esquerda voltou sem as novidades — formas horizontais de organização, tática black bloc— que impactaram em 2013. Trouxe o estilo de protesto usual do campo socialista, com seu arsenal vermelho. Idem para os atores. Além das esperadas associações de professores, funcionários e estudantes, lá estavam os sindicatos, movimentos e partidos de esquerda.
Já o campo patriota atravessou o espelho. Queira ou não, virou governo. Sua unidade vinha do alvo comum. Com o inimigo na cadeia e o amigo no Planalto, a coesão desmanchou. Os subcampos liberal, conservador e autoritário abriram diferenciação entre si. O que o antipetismo uniu, o poder separa.
Quem chama o ato deste domingo (26) são vários movimentos conservadores, o NasRuas à frente, todo o subcampo autoritário (Direita São Paulo, Despertar Patriótico, Avança Brasil, Patriotas Lobos Brasil, São Paulo Conservador etc), mais o Clube Militar, de amplo poder de convocação, e o MC Reaça, o preferido dos Bolsonaros. Movimentos liberais, como o Vem Pra Rua e o MBL, protagonistas no “Fora Dilma”, abandonaram o evento.
A DEFINIÇÃO – Até o fim do domingo se saberá a natureza da relação governo-rua. Se o apoio pender para o subcampo liberal, que recomendou faltar, a mobilização será um fiasco e o presidente (mesmo se ausente, a simpatia é óbvia) queimará pontes.
Mas se o ato dos subcampos conservador e autoritário for expressivo, Bolsonaro se cacifará para peitar o Congresso e obrigará a oposição, para seguir viável, a levar tanto ou mais gente a sua próxima manifestação.
Ao contrário do que dizia o cronista João do Rio, a rua não tem uma só alma. Tem várias. Cedo ou tarde, uma delas tomará o corpo governamental. Seja qual for, não encantará a todos.

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