Por: Carlos Chagas
BRASÍLIA - Dizia o saudoso governador Negrão de Lima que, no Brasil, só havia um partido, o PIP. Para ele, o Partido do Interesse Pessoal. Tanto faz que múltiplas siglas se misturem na disputa pela preferência dos eleitores. Na realidade, pensam mesmo em seus interesses, os filiados às diversas legendas. Isso explica o ritmo irrefreável do troca-troca que o Tribunal Superior Eleitoral imagina regulamentar.
Imagina, apenas, porque parece difícil que esta semana a maioria dos integrantes desse tribunal venha considerar cassados os senadores flagrados desde março mudando de partido. Juridicamente o argumento é irrefutável: desde que o TSE estabeleceu pertencerem aos partidos todos os mandatos eletivos, acendeu-se a luz amarela no semáforo postado diante do Congresso. Mesmo assim, prevaleceu no raciocínio de quatro senadores o interesse pessoal. Mudaram, como outros 11 haviam mudado antes da data fatal.
Admite o Poder Judiciário a troca de partido sempre que um mandatário conclui ter havido quebra do programa partidário. O diabo, com pedidos de desculpa ao ex-PFL, está em que poucos filiados a qualquer legenda leram o respectivo programa. Ingressaram uns por idealismo, outros por raiva. Estes para poder disputar determinado cargo eletivo, aqueles para agradar os poderosos do governo da época. Todos, porém, por algum interesse material ou intelectual.
Tome-se o PT. Quantas vezes, agora no governo, quebrou seus postulados e seu programa? Era contra a redução de direitos sociais, mas votou pela taxação de aposentadorias e pensões. Rotulava-se de nacionalista, mas adota como regra as privatizações. Defendia a integridade da Amazônia, mas aprovou lei permitindo a alienação a estrangeiros de imensas glebas de floresta. Combateu as medidas provisórias, mas continua produzindo-as em cascata.
Insurgia-se contra os abusivos lucros do bancos e do sistema financeiro, mas remunera-os como nunca na História do Brasil. Pregava a renegociação de nossas dívidas, mas paga religiosamente, com juros extorsivos, os credores internos e externos. Sustentava a participação dos empregados no lucro das empresas, mas hoje quer aprovar uma reforma dita trabalhista que até as férias remuneradas e o décimo-terceiro salário pretende extinguir.
O programa do Partido dos Trabalhadores virou fumaça, mas, a não ser uma ou outra exceção, ninguém pensa em desligar-se da legenda. Ao contrário, ela incha de mês a mês, e só esvaziará diante da perspectiva de o PSDB voltar ao Palácio do Planalto. Nessa hora, para deixar de ser companheiros, os petistas não hesitarão em aderir ao programa dos tucanos. E estes, por sinal, permanecem os mesmos de quando pularam fora do PMDB, uma costela inchada? Valeria o mesmo para todos os partidos em atuação no Congresso e fora dele. Os interesses se sobrepuseram aos programas.
A volta por cima
Apenas em fevereiro, se não tiver sido condenado pelo Conselho de Ética e cassado pelo plenário, é que Renan Calheiros poderá renunciar à presidência do Senado. O problema é que, mesmo preservando seu mandato, o representante de Alagoas terminará enfraquecido. A menos... A menos que disponha de um "Plano B" capaz de preservar sua liderança. Três meses atrás, depois de explicar-se a respeito de um problema pessoal, Renan assistiu ao plenário inteiro do Senado fazer fila para cumprimentá-lo.
Abraços calorosos, tapinhas nas costas e promessas de fidelidade foram filmados e fotografados aos montes. Agora que se licenciou da presidência, são cada vez menos os colegas a visitá-lo. A volta por cima pode começar pela divulgação das imagens daquela sessão dita memorável que a maioria, hoje, pretende esquecer. E como música de fundo, o cantar do galo por três vezes.
Sarney, só por unanimidade
O ex-presidente Sarney continua negando a hipótese de candidatar-se à presidência do Senado, mas a possibilidade não parece excluída. Apenas, não pretende disputar o cargo. Mas aceitará caso as bancadas incorporadas apelem para ele. Fora daí, será guerra de foice em quarto escuro, porque no PMDB movimentam-se Gerson Camata, Garibaldi Alves, Hélio Costa, admitindo deixar o ministério e voltar ao Senado, Edison Lobão, se puder permanecer no partido. E mais quem?
Fonte: Tribuna da Imprensa
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