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quinta-feira, outubro 18, 2007

Com Lula, fim da reeleição está perto

Por: Pedro do Coutto

Na entrevista ao repórter Kennedy Alencar, "Folha de S. Paulo" de 14/10, o presidente Lula finalmente decidiu ser abertamente contra a reeleição e a favor de Aécio Neves como o candidato de uma aliança PMDB-PT às eleições de 2010. Com o governador de Minas, a vice tem que logicamente caber ao PT, preferência para a ministra Dilma Rousseff, em face de sua atuação substituindo José Dirceu.
Na matéria, Luís Inácio da Silva traçou tanto o rumo que projeta para sua sucessão quanto as regras do jogo que deseja imprimir. Mas acentuou que pode vir a ser novamente candidato em 2014 ou 2015. Com isso, fechou o raciocínio deixando entretanto no ar uma dúvida quanto à duração do novo mandato, se de 4 ou 5 anos. Sinalizou mais para 5, na medida em que considerou quatro anos pouco tempo. O mandato do sucessor seria igual ao que foi cumprido por Juscelino e àquele que Itamar Franco completou após o impeachment de Fernando Collor. Estes através de eleições diretas.
Ernesto Geisel e José Sarney permaneceram cinco anos no Planalto, mas pelo voto indireto. Médici ficou 4 anos e meio depois da morte de Costa e Silva. João Figueiredo permaneceu seis anos. Citei Itamar Franco. Pois é. Se Aécio vier a ser mesmo o candidato de Lula, Itamar ressurge no horizonte político. Ele foi, no governo de Minas, o grande eleitor de Neves, e do próprio Lula, nas eleições de 2002. Itamar, no pleito de 2006, ressaltou que seu candidato à presidência em 2010 seria exatamente Aécio, para recolocar Minas no governo do País. Itamar, o retorno, eis aí uma perspectiva interessante no quadro político.
Voltando a Lula, a importância essencial de sua entrevista, sem dúvida, foi o sinal verde que abriu para qualquer deputado ou senador apresentar projeto de emenda constitucional acabando com o sistema implantado por FHC que resultou num desastre enorme para o País. Um sistema, entretanto, do qual, ele, Luís Inácio, se beneficiou, inclusive quebrando recorde. Tornando-se o único político do mundo a disputar cinco vezes a presidência da República. A marca anterior pertencia a Roosevelt, que venceu quatro vezes, e a Mitterrand, vitorioso em duas e derrotado em outras tantas. Em 2014 ou 2015, mais provável 2015, Lula estará em condições de concorrer pela sexta vez.
Em política, claro, não se pode pensar nada a médio ou longo prazo, mas com base no quadro de hoje não se nota muitas alternativas. Em 2010, por exemplo, dificilmente o embate deixará de ser entre José Serra e Aécio Neves. Assim, em 2015, Lula poderia se transformar numa versão moderna de Montecristo, fascinante personagem de Alexandre Dumas pai. A força do retorno.
Na entrevista a Kennedy Alencar, Lula manda um recado, sobretudo aos empresários, a respeito de José Dirceu. Interessante isso. Prestem atenção às palavras: "Não acho que José Dirceu seja um traidor". "Foi (verbo no passado) um quadro político importante para o governo. Na hora em que cometeu erros, saiu." O presidente da República poderia ter dito: foi importante para minha campanha. Mas não disse. Destacou ter cometido erros e por isso saiu (do governo). Não acenou - poderia ter feito - com a hipótese de volta. Lula, neste caso, necessitaria ser traduzido? Não creio. Foi bastante claro.
Por falar em traduzir, um outro assunto. Paulo Knauss escreveu um bom artigo no caderno "Idéias", "Jornal do Brasil" de 13/10, a respeito de um livro de Ângela Castro Gomes e Jorge Ferreira, Ed. FGV, focalizando as contradições de João Goulart, antes e depois da queda em 64. São muitas as contradições e ambigüidades. A principal, para os autores, o fato de ter ele defendido a reforma agrária quando era grande proprietário rural, tanto no Brasil quanto no Uruguai e na Argentina. Ângela e Jorge colheram vários depoimentos.
O mais importante, sem dúvida, do senador Afonso Arinos de Melo Franco. Mas como provavelmente os dois escritores são jovens, suponho não testemunharam o tempo de Jango e os idos de março. Tampouco o agravamento da crise institucional em 1963. É preciso lembrar que o líder absoluto da oposição a Goulart era o governador Carlos Lacerda. Quem lidera hoje a oposição a Lula?
Porém em torno de Jango, a quem conheci razoavelmente bem, existia outro aspecto: talvez o destino. Goulart só teve onze anos no plano federal. Em 53, Vargas o nomeou ministro do Trabalho. Mal assumiu, foi tragado por uma revolta desencadeada por um manifesto de coronéis, clara insubordinação, exigindo sua saída. Getúlio cedeu e o demitiu. Helio Fernandes, a cerca de dois meses, analisou bem o episódio ao dizer que Vargas começou a perder o poder e a vida naquele instante. É verdade. O documento dos coronéis foi encabeçado por Amaury Kruel. Este foi ministro do Exército de Goulart, em 62, e o comandante do II Exército decisivo em sua derrubada dois anos depois.
Em 54, Jango, dois meses após a tragédia de agosto, perdeu as eleições para o Senado pelo Rio Grande do Sul. Mas em 55 ressurgiu como candidato a vice de JK na aliança PSD-PTB. Sua indicação deflagrou a crise da posse, logo depois da vitória nas urnas. Dois movimentos militares, 11 e 21 de agosto, foram necessários para que o resultado do pleito fosse respeitado.
A legislação da época não tinha impedimento quanto ao vice e ele foi reeleito em 60. Com a absurda renúncia de Jânio Quadros, uma terrível tempestade contra sua a posse novamente desencadeada por Carlos Lacerda. Para que assumisse, até o regime foi mudado de presidencialista para parlamentarista. Conseguiu reaver os poderes presidenciais no pleito de 63. Mas não resistiu aos ataques de Lacerda, de fora da fortaleza, e de Leonel Brizola, de dentro dela. Era demais para quem detestava confrontos e bolas divididas. Caiu. Era um conciliador, mas o destino não o interpretou assim. O mistério estaria aí? Ou nos ventos que Shakespeare imaginou como prenúncio da morte de César?
Fonte: Tribuna da Imprensa

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