PORTO ALEGRE - O senador Pedro Simon (PMDB-RS) acusou ontem, em Belo Horizonte, o governo federal de barganhar pela permanência do presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), principalmente porque tem interesse em aprovar a renovação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF).
Simon exortou os senadores a comportarem-se como juízes durante a votação da cassação de Renan, marcada para amanhã. O senador do PMDB do Rio Grande do Sul citou o processo que levou à aprovação da emenda da reeleição no primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando surgiram denúncias de compra de votos.
"Eu não sei o que vai acontecer nessa eleição, mas eles estão dispostos a tudo", afirmou, após um almoço com empresários na sede da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). "Essas pressões que existem não querem dizer que os parlamentares vão se dobrar. Mas, se se dobrarem, vou dizer que, lamentavelmente, não foi de graça."
Simon avaliou que a prorrogação da CPMF se tornou uma "questão de vida e morte" para o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Coincidentemente ou não, esse projeto deve estar saindo da Câmara e chega ao Senado para esses dias."
O senador do PMDB afirmou também que o fato de Lula viajar pelos países nórdicos não o isenta de participação da operação para salvar o mandato do presidente do Congresso. Simon observou que é de amplo conhecimento no Legislativo que o chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Walfrido dos Mares Guia, "está participando, abertamente, para conduzir a maioria".
Código Penal
Renan será julgado pela acusação de que teve despesas pessoais pagas pelo suposto lobista Cláudio Gontijo, da Construtora Mendes Júnior. Para que a perda do mandato seja aprovada, são necessários pelo menos 41 dos 81 votos. Para o senador, nesse julgamento, o termo "traição" não se aplica.
"É o Código Penal. O cara tem culpa ou não tem culpa. É uma questão de consciência. Se formos analisar como tem de ser, o Congresso Nacional transforma-se num tribunal, onde os senadores não são senadores, são ministros, são juízes. O voto tem de estar não de acordo com o seu partido, nem se é governo ou oposição, mas de acordo com sua consciência."
Simon recordou episódios em que o Senado foi "firme", como durante a votação que levou à cassação dos direitos políticos do ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) e o processo dos anões do Orçamento.
O senador peemedebista destacou que pretende subir hoje à tribuna para pedir que cada colega vote de acordo com a consciência. Simon também prometeu abrir o voto e admitiu que o "pensamento" é pela nulidade do mandato.
"Mas não posso dizer agora que esse é o meu voto. Se estou dizendo que o Senado (deve) se transformar num tribunal, tenho de esperar os últimos argumentos da defesa, que é quem fala em último lugar. Acho muito difícil que ele (Renan) possa mudar o quadro que está aí, mas eu tenho de ouvir."
Ética
O senador do Rio Grande do Sul participou pela manhã de um café na sede da Associação Comercial de Minas Gerais (AC Minas), onde falou sobre ética na política. Na Fiemg, Simon falou ao lado do ex-presidente e ex-embaixador do Brasil na Itália Itamar Franco, que também não poupou a gestão Lula.
Itamar ressaltou que não saberia responder se a ética prevalecerá na votação de amanhã, mas, sobre se a administração federal abrirá a chave do cofre, foi enfático: "Já está abrindo", afirmou, reclamando da substituição do ex-presidente de Furnas Centrais Elétricas José Pedro Rodrigues pelo ex-prefeito do Rio Luiz Paulo Conde (PMDB).
"Não é só CPMF, não apenas esse caso do presidente do Senado. O governo está, vergonhosamente, barganhando. Ele barganha o imposto da CPMF, vai tentar barganhar pelo presidente do Senado. Acabou esse episódio, as barganhas continuarão."
Fonte: Tribuna da Imprensa
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