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sexta-feira, junho 02, 2006

Palocci, Dirceu e Okamotto freqüentavam casa de bicheiro

Por: Correio da Bahia

Cozinheira do comendador Arcanjo afirma à CPI dos Bingos que amigos de Lula saíam da residência com malas de dinheiro

Depoimento de Zildete dividiu opiniões, e CPI vai pedir apuração do Ministério Público
BRASÍLIA - A cozinheira Zildete Leite dos Reis disse ontem à CPI dos Bingos que presenciou visitas dos ex-ministros Antonio Palocci e José Dirceu e do presidente do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae), Paulo Okamotto, ao ex-policial João Arcanjo Ribeiro, um bicheiro e empresário da área de jogos conhecido como comendador Arcanjo, preso desde 2002 por liderar o crime organizado em Mato Grosso.
Zildete afirmou que viu cada um dos petistas sair da casa de Arcanjo, em Cuiabá, com malas de dinheiro. A cozinheira contou ainda ter ouvido o empresário Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sombra, contar a Arcanjo que mandaria matar o prefeito de Santo André, Celso Daniel, do PT, assassinado em janeiro de 2002. Ela percebeu a descrença dos senadores que ouviam o depoimento, mas não voltou atrás nas acusações. "Estão duvidando da minha pessoa. Falo o que eu vi. Depois vão dizer: `Bem que ela falou a verdade.´ Não vou aumentar nada", disse a cozinheira, que voltará ao programa de proteção à testemunha, pelo qual já passou no ano passado.
À CPI, a cozinheira disse lembrar "muito bem" de Dirceu, Palocci e Okamotto na casa e reconheceu fotos dos três. "O Palocci era arrogante. O senhor Arcanjo dizia que Palocci era um irmão. Ele (Palocci) foi três vezes. Saiu com uma mala uma vez". Sobre Dirceu, disse que saiu da casa "uma vez com mala e duas vezes sem mala".
A respeito de Okamotto, disse não ser capaz de repetir o sobrenome, mas comentou, ao ver a foto. "É igualzinho a ele, o Paulo. Era comunicativo, gentil". Zildete diz que entrava na sala da casa para "servir petiscos e bebidas" e ouvia partes de conversas. Segundo ela, os petistas pediam dinheiro para campanha. As malas, afirmou, ficavam abertas, "com notas de dólares"".
"O dinheiro ali e a gente, pobre, olhando comprido para aquilo lá", descreveu. O relator decidiu fazer uma menção ao depoimento de Zildete no relatório final, a ser apresentado à comissão na próxima quarta-feira, mas ressalvou que seriam necessárias novas investigações para aprofundar o caso. "Se for necessário, depois farei um adendo ao relatório", disse Garibaldi.
Zildete prestou depoimento, em Mato Grosso, aos promotores de São Paulo que investigam o caso Santo André, nos dias 23 e 24 deste mês. A cozinheira contou que trabalhava em uma empresa de bufê de uma amiga de Arcanjo e que passou a ser chamada para cozinhar em festas e pequenas recepções, por ser "de confiança".
Em sua versão, a cozinheira disse que trabalhar para Arcanjo fazia parte de um plano de vingança contra o ex-policial. Zildete aponta Arcanjo como mandante do assassinato de seu irmão, Acácio Marques dos Reis, em 1994. Acácio, segundo Zildete, era "pistoleiro" de Arcanjo e foi morto quando o ex-policial descobriu que o empregado roubava bois de seu rebanho.
"Eu tinha raiva do Arcanjo e queria ter uma carta na manga contra ele. Eu ouvia (as conversas de Arcanjo) com todas as letras, ficava parada, curiosa. Quando chegava perto, eles paravam de conversar. Eu queria algo que pudesse condená-lo (Arcanjo) cada vez mais", disse a cozinheira. Na versão de Zildete, os petistas chegavam a Cuiabá em avião particular cedido por Arcanjo e eram levados à casa do criminoso por empregados da casa. "Eles (os empregados) chegavam na cozinha dizendo que tinham ido buscar um bacana. A gente ficava curioso para ver quem era, ver se era bonito", contou a cozinheira.
Os governistas da CPI se irritaram com o depoimento. "A que ponto se chega: usar essa senhora para isso. Essa oposição não vai chegar ao poder nunca. Nem vale a pena desqualificar o depoimento", reclamou o petista Tião Viana (AC). O senador tucano Álvaro Dias (PR) apresentará na terça-feira um requerimento para que seja realizada uma acareação de Zildete com Palocci, Dirceu e Okamotto.
"Diria na frente deles com todo prazer", afirmou Zildete. Dias pedirá, mais uma vez, a quebra de sigilo de Okamotto. Outro requerimento no mesmo sentido já foi aprovado, mas o Supremo Tribunal Federal (STF) impediu a CPI de ter acesso às informações.
"Não tenho motivo para não acreditar na senhora Zildete nem razão para não permitir que os acusados se defendam", afirmou Dias. Zildete não reconheceu a foto de Sombra apresentada pelo relator, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). Alegou ter se confundido porque, "na época, ele usava cavanhaque".
Disse não dar importância para datas e por isso foi imprecisa em relação ao período em que viu os petistas. Primeiro, afirmou ter sido em 2000 e 2001. Mais tarde, disse que Palocci "era ministro desse negócio de Agricultura". Acabou provocando risos na platéia, quando Garibaldi esclareceu que era "ministro da Fazenda, mas não fazenda de gado".
Quando Palocci tornou-se ministro, em janeiro de 2003, Arcanjo já estava preso. O advogado de Palocci, José Roberto Batocchio, disse que o ex-ministro esteve apenas uma vez em Cuiabá, onde ficou apenas duas horas, acompanhando um ato público com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então candidato.
Edição: 01/06/2006

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