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domingo, outubro 02, 2022

A perna curta da mentira




Fake news converteram votos dos evangélicos e inundaram a internet neste ano, mas a sociedade, mais preparada, conteve seus danos. 

Por Duda Teixeira (foto)

A disseminação de notícias falsas nestas eleições era uma tragédia anunciada que, desde o ano passado, motivou ações da Justiça eleitoral e das empresas de tecnologia. A expectativa se confirmou. Nos últimos quatro meses, foram registradas 15 mil denúncias de desinformação pelo Tribunal Superior Eleitoral, TSE, sendo 562 disparos massivos de mensagens. Como nem tudo é reportado, o total de infrações é certamente muito maior, e uma avalanche de inverdades deve ocorrer nos próximos dias. Pesquisas confirmaram que essas mensagens enganosas viraram votos em ao menos um grupo, o dos evangélicos. Mas, nos demais, as mentiras tiveram perna curta. A conscientização sobre o perigo que as fake news representam, a remoção de conteúdos pelas redes sociais, a ação rápida dos advogados dos partidos e da Justiça eleitoral e o fato de que os dois principais candidatos são figuras bem conhecidas do público evitaram um caos maior.

O dado que comprova a eficácia das fake news entre os evangélicos foi obtido pela Genial/Quaest: 34% deles acredita que Lula fechará igrejas se eleito. O número é chocante porque, em momento algum, o petista afirmou tal coisa, ou isso tampouco faria qualquer sentido. Mesmo assim, desde maio, o Datafolha apurou um aumento da intenção de voto em Bolsonaro entre os evangélicos de 39% para os atuais 50%. Em nenhum outro grupo populacional deu-se uma mudança tão perceptível. “Ao analisar as pesquisas de intenção de voto segundo vários critérios, como renda familiar ou escolaridade, não se percebe uma alteração importante. Isso só aconteceu na amostra dos evangélicos, o que nos leva a supor que as estratégias usadas por Bolsonaro drenaram muitos votos de Lula”, diz João Brant, coordenador do Desinformante, que monitora a desinformação nas redes. “Mais adiante, as pesquisas vão revelar qual foi a participação das fake news nisso, mas há indícios fortes nesse sentido.”

Oito narrativas políticas foram detectadas na mídia online evangélica pelo NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. Entre elas estão: “a esquerda tem preconceito com a nossa religião”, “Lula quer manipular os eleitores evangélicos”, “o presidente Bolsonaro é o líder da nossa nação conservadora” e “quem não apoia Bolsonaro é traidor”. Os filhos do presidente, seus aliados, religiosos e influenciadores disseminaram essas ideias, que foram compartilhadas por milhões de contas. No início de setembro, a ministra Cármen Lúcia, do Tribunal Superior Eleitoral, TSE, determinou a remoção de publicações do deputado Eduardo Bolsonaro (PL) no Twitter e no Facebook, em que ele dizia que “Lula e PT apoiam invasões de igrejas e perseguição de cristãos”. A ministra disse que a informação era “sabidamente inverídica”.

Decisões como a de Cármen Lúcia não impediram que mentiras grosseiras fossem jogadas nas redes, mas foram capazes de limitar seus impactos. “Em 2018, a Justiça estava pouco munida para enfrentar a desinformação. Mensagens sobre o kit-gay ou a mamadeira de piroca duraram muito tempo na internet e foram sendo reaproveitadas. Hoje, o arcabouço para compreender o que é desinformação melhorou muito, assim como o tempo de resposta da Justiça”, diz Alexandre Pacheco, professor na FGV Direito SP e um dos coordenadores do Observatório da Desinformação nas Eleições. Na campanha presidencial anterior, foram distribuídas mensagens dizendo que mamadeiras com bico em formato de pênis tinham sido entregues em creches pelo PT e que o candidato petista Fernando Haddad teria feito um “kit gay” para doutrinar crianças. Este ano, o grupo de Pacheco já analisou 140 decisões dos órgãos da Justiça eleitoral. Em geral, as publicações partiram de membros da coligação de Bolsonaro ou de seus apoiadores e questionavam as urnas eletrônicas ou o sistema eleitoral. Quando os tribunais solicitaram a retirada do conteúdo, as empresas de tecnologia acataram os pedidos.

Uma das conclusões do Observatório é que o Judiciário tem sido muito ágil e contundente ao identificar e punir mensagens que são inverdades óbvias. Um exemplo recente ocorreu nesta quarta, 28, quando o TSE publicou uma nota dizendo que um material publicado nas redes pelo partido do presidente, o PL, trazia informações “falsas e mentirosas, sem nenhum amparo na realidade, reunindo informações fraudulentas e atentatórias ao Estado Democrático de Direito e ao Poder Judiciário, em especial à Justiça Eleitoral”. Na nota, o TSE se referiu ao texto como um “documento” apócrifo — assim mesmo, entre aspas. O posicionamento foi ao ar no site da corte apenas três horas depois de o tal “documento” ter sido divulgado pelo PL.

Contudo, quando os conteúdos imputam um crime ao candidato, as sentenças podem ser contraditórias. Uma liminar foi dada para impedir que Lula chamasse Bolsonaro de genocida, mas a proibição caiu mais tarde, porque considerou-se que ela afetava a liberdade de expressão. No Twitter, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, acusou Bolsonaro de ser o mandante do assassinato de Benedito Cardoso, um apoiador de Lula, no Mato Grosso. O post teve de ser apagado por ordem da Justiça. Bolsonaro chamou Lula de ladrão diversas vezes, mas, nesses casos, os petistas não reclamaram nas instâncias competentes, talvez para não despertar risadas. “A Justiça ainda está aprendendo o seu caminho para lidar com esses adjetivos, mas a tendência no colegiado parece ser a de considerar essas críticas como um exercício da liberdade de expressão”, diz Pacheco, da FGV Direito SP.

Em 2022, as fake news esbarraram em uma sociedade mais preparada. Campanhas foram promovidas para educar a população. Agências de checagem, como o Comprova, parceiro da Crusoé, desmontaram histórias mal-intencionadas. Disparos de mensagens políticas para telefones celulares sem consentimento, que em 2018 ocorreram principalmente pelo WhatsApp, foram denunciados pelos que as receberam e bloqueados pelas plataformas digitais. Um canal implementado pelo WhatsApp em 2020 recolhe denúncias para suspender rapidamente as contas usadas nessas operações ilegais.

Até aqui, a organização Data Privacy, que advoga pela proteção de dados, detectou dois disparos em massa de mensagens, ambos usando outros mecanismos de mensagens que não o WhatsApp, como os antigos SMS e os RCS, que podem conter links e imagens. No primeiro caso, uma pesquisa online perguntou se as pessoas conheciam o governador de São Paulo e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia. O outro foi uma mensagem enviada por um funcionário da empresa mineira Algar Telecom com o texto: “Vai dar Bolsonaro no primeiro turno! Senão, vamos a rua para protestar! Vamos invadir o Congresso e o STF! Presidente Bolsonaro, conte com todos nós!”. Os dois casos usaram bancos de dados públicos, com números de telefones de indivíduos que não se cadastraram para receber esses textos. Investigações estão em andamento para punir os responsáveis. “As pessoas hoje sabem que é errado mandar mensagens políticas não solicitadas. Elas acham estranho, reclamam na internet, questionam. Então, o tiro pode sair pela culatra”, diz Pedro Saliba, pesquisador e líder do projeto sobre eleições, desinformação e proteção de dados na Data Privacy.

Outra surpresa deste ano foi que o Telegram, aplicativo que demorou para responder aos emails do TSE e que contratou um escritório de advocacia carioca como representante no Brasil, não foi um protagonista de peso. Ao longo dos últimos dois anos, Jair Bolsonaro, um crítico das grandes redes sociais, investiu bastante no Telegram a ponto de se tornar a pessoa mais popular na rede em todo o mundo, com 1,4 milhão de seguidores. Entre os 2.183 links com denúncias compilados pelo TSE, 1.774 eram do Youtube, 185 do Twitter, 83 do Facebook e 32 do Instagram. Apenas doze estavam no Telegram. O número irrelevante não quer dizer que essa rede, com sede em Dubai, tenha se tornado um ambiente regrado. Muito pelo contrário. É um território minado de fake news. Mas os números do TSE mostram que o Telegram não incomodou tanto os brasileiros. Uma explicação possível é que a rede serviu mais como um lugar para os usuários trocarem informações dentro de suas próprias bolhas, mas não os ajudou a alcançar um público mais amplo, chegando a eleitores indecisos ou que pensam de maneiras diferentes. As fake news, assim, circularam entre os que já acreditavam nelas.

Por fim, um fator relevante que deve ter limitado o alcance das mentiras é que esta eleição teve dois candidatos bem conhecidos disputando o primeiro lugar nas pesquisas. Tanto Lula como Bolsonaro já exerceram o cargo de presidente, o que favoreceu uma decisão célere por parte dos eleitores. Isso reduziu o espaço para as fake news proliferarem. “Em 2018, as pessoas não conheciam direito o deputado Bolsonaro ou o petista Fernando Haddad. Este ano, o cenário foi bem menos incerto”, diz João Brant, do Desinformante.

Os próximos dias serão cruciais e muita coisa ainda pode acontecer. As denúncias de fraude no sistema eleitoral, distribuídas pelos seguidores do presidente Bolsonaro, podem levar muitos brasileiros a não aceitar os resultados e a protestar. Atos de violência, uma marca triste desta campanha, podem voltar a fazer vítimas. Mesmo assim, é certo que a sociedade brasileira está mais atenta e preparada para enfrentar o problema das fake news.

Revista Crusoé

A Grande Crise da Mostarda de 2022




Os franceses desesperados têm tido que substituir a mostarda por wasabi ou tahine — a maior humilhação nacional desde que Coco Chanel virou amante do Barão Hans Günther von Dincklage, espião da Gestapo. 

Por Alexandre Soares Silva (foto)

As pessoas começam uma guerra na melhor das intenções, achando que tudo vai ser alegria, e, quando vão ver, a guerra acarreta uma crise sem precedentes de condimentos nos restaurantes franceses.

Estamos vivendo agora o que os livros de história vão chamar de A Grande Crise da Mostarda de 2022.

Se, por exemplo, você for de manhã bem cedo para a famosa moutarderie Chez Edmond Fallot em Dijon ou Beaune, vai encontrar uma fila de quinze franceses e turistas já esperando que a porta abra, todos eles com os olhos cheios de desespero e esperança, seus filhos nos seus colos chorando de fome e frio; e assim que a loja abrir você vai descobrir, pelas exclamações de “não é possível!” e “Meu Deus da França!”, que a mostarda continua a faltar naquele país.

O que acontece é uma crise na produção de mostarda no Canadá, devido à seca; em segundo e terceiro lugar na produção de sementes de mostarda estão a Rússia e a Ucrânia, e a guerra e o embargo estão impedindo a importação.

Quem imaginaria essa consequência trágica? Chefs franceses famosos estão pedindo ao público que doe ou venda seus potinhos de mostarda para os restaurantes, numa campanha pública que às vezes parece, na intensidade e emocionalidade, as campanhas para doações que acontecem depois de cheias e terremotos. E os franceses desesperados têm tido que substituir a mostarda por wasabi ou tahine — a maior humilhação nacional desde que Coco Chanel virou amante do Barão Hans Günther von Dincklage, espião da Gestapo.

Alguém pode me perguntar se não tenho nada mais importante para comentar do que uma crise da mostarda, “com tantas coisas graves acontecendo”, como se diz; mas se você não acha essa tribulação gastronômica grave e preferia que eu falasse do meme cretino dos 13 livros vermelhos, não sei o que dizer. De qualquer forma, os jornais franceses têm falado disso durante dias. Franceses depauperados vagam pelas ruas e pelos campos, como zumbis, privados há semanas de Poulet à la Moutarde, Filet Mignon au Poivre e da deliciosa Choux de Bruxelles à la Moutarde Façon Funambuline. Há dias estão reduzidos a comer molho vinaigrette sem moutarde fine.

A verdade é que nunca podemos saber todas as consequências das políticas que defendemos, e o que me surpreende é que aparentemente mesmo uma coisa tão benigna e bem-intencionada como uma guerra pode ter consequências ruins.

*

Mas imagino que queremos falar das eleições.

De modo geral, todas as escolhas que as pessoas fazem que não são as escolhas que eu faria se estivesse na situação delas me parecem obscenas, grotescas e imperdoáveis. Minha vontade é sempre romper o contato com todo mundo que não tomou o mesmo caminho que eu tomaria em todas as bifurcações que se lhe apresentaram na vida.

Se eu for confessar, a verdade é que não ser eu às vezes me parece um negócio hediondo. Há um horror metafísico em olhar pra alguma coisa que não sou eu.

Desculpe a sinceridade, mas que coisa bizarra você não ser eu. Ter escolhido ser outra pessoa que não eu me parece uma decisão absurda. Pense bem na sequência lamentável de decisões erradas que o levaram a ser você, e portanto não eu. Tire uns vinte minutos de reflexão acabrunhada.

Tendo dito isso, ok, tudo bem, fique à vontade para votar num candidato em quem eu jamais votaria. Continuamos amigos. Eu, como você, estou lutando com dificuldade (mas vencendo! ainda vencendo!) contra a minha própria intolerância natural. Parabéns pra nós dois.

Ó você quem quer que seja, leitor da Crusoé ou meu amigo de internet, uma verdade sobre eu e você é a seguinte: nosso espanto mútuo com as escolhas um do outro é provavelmente uma das únicas coisas que temos em comum, e que nos assemelhará para sempre.

*

O desejo sexual faz com que o homem olhe para uma mulher bonita e veja uma espécie de pudim ambulante, e é com esforço que ele tem que lembrar que aquele pudim tem alma, opiniões, talentos etc. Com o tempo ele aprende que o pudim fica bravo quando suas opiniões não são ouvidas, e passa a respeitar essas opiniões, até sinceramente; mas enquanto ouve as opiniões políticas do pudim está perturbado pelo jeito que a calda escorre pela sua superfície branca e porosa; sua atenção está dividida, e não de jeito igual; o pudim percebe a distração e exige que ele repita o que acabou de falar; o homem não consegue, ou consegue mais ou menos, o que é pior; o pudim está furioso; o pudim está se organizando politicamente, escrevendo colunas indignadas de jornal, citando outros pudins do movimento de libertação dos pudins; alguns homens se submetem e andam com camisetas dizendo O FUTURO É DOS PUDINS; mas todos, os respeitosos e os não respeitosos, os admiradores dos pudins e os boçais inimigos dos pudins, estão com grossos filetes de baba escorrendo pelo queixo.

Revista Crusoé

Candidatos ao Planalto dão últimas cartadas antes da eleição




Lula encerra campanha em São Paulo, depois de passar por Rio, Bahia e Ceará, e Bolsonaro faz ato em Joinville, após liderar motociatas na capital paulista e em Poços de Caldas e disseminar factoides sobre o pleito.

Por Bruno Lupion

Os principais candidatos ao Palácio do Planalto aproveitaram os últimos dias antes da eleição deste domingo (02/10), para viajar a redutos eleitorais e tentar atrair votos que podem ser decisivos para determinar se a disputa terá ou não segundo turno.

As campanhas priorizaram carretas, caminhadas e, no caso do presidente Jair Bolsonaro (PL), motociatas. A legislação eleitoral proíbe comícios nos dois dias anteriores ao pleito.

Pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira apontou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a disputa, com 50% das intenções de votos válidos, no limite de vencer no primeiro turno, contra 36% de Bolsonaro. Ciro Gomes (PDT) tem 6% e Simone Tebet (MDB), 5%.

Lula esteve no Rio, São Paulo, Bahia a Ceará

O petista participou de eventos em quatro diferentes estados em dois dias e fez as primeiras visitas de sua campanha a Bahia e Ceará, em busca de votos que possam lhe garantir uma vitória no primeiro turno e para transferir apoio a seus candidatos a governador e senador.

Neste sábado (01/10), Lula fez uma caminhada pela Rua Augusta, em São Paulo, acompanhado do seu candidato a vice e ex-governador paulista, Geraldo Alckmin, do candidato do PT ao governo do Estado, Fernando Haddad, e do candidato do PSB ao Senado, Márcio França, que também já comandou o Palácio dos Bandeirantes.

A disputa ao governo paulista deve ir para o segundo turno. Segundo pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira, Haddad tem 41% dos votos válidos, contra 31% de Tarcísio de Freitas (Republicanos) – apoiado por Bolsonaro – e 22% do atual governador Rodrigo Garcia (PSDB), que disputa a reeleição.

Na sexta-feira, Lula começou o dia dando uma entrevista coletiva no Rio de Janeiro, acompanhado de Marcelo Freixo (PSB), candidato a governador do Rio, e André Ceciliano, candidato do PT ao Senado.

A decisão sobre o governo do Rio também deve ser no segundo turno. A disputa é liderada pelo atual governador, Cláudio Castro (PL), aliado de Bolsonaro. Segundo pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira, ele tem 44% das intenções de votos válidos. Freixo vem em segundo, com 31%. Em terceiro está Rodrigo Neves (PDT), com 11%.

Em seguida, Lula foi a Salvador, onde fez uma carreata na Cidade Baixa acompanhado do governador da Bahia, Rui Costa (PT), e do candidato do PT à sua sucessão, Jerônimo Rodrigues. Também participou o senador Otto Alencar (PSD), candidato à reeleição com o apoio do PT.

No estado, Jerônimo tenta levar a disputa ao segundo turno. A pesquisa Ipec mais recente, divulgada em 23 de setembro, colocava ele em segundo, com 32%, enquanto ACM Neto, do União Brasil, pontuava 47%. O PT local esperava que a presença do ex-presidente desse impulso ao seu candidato.

Depois, Lula seguiu para Fortaleza, onde fez uma caminhada ao lado de Elmano de Freitas, candidato do PT ao governo do Ceará, e Camilo Santana, ex-governador do estado e candidato do PT ao Senado.

Pesquisa Ipec divulgada em 22 de setembro deu 30% de intenções de voto Elmano, em empate técnico com Capitão Wagner (União Brasil), com 29%. No início do mês, o petista tinha 19% das intenções de voto e Capitão Wagner, 32%, o que sugere possibilidade de virada no estado.

O Ceará é o estado de Ciro, onde PT e PDT tradicionalmente se coligavam. Neste ano, porém, houve uma cisão entre Ciro e membros de sua família e ex-aliados. Ambos os partidos lançaram candidatos ao governo. E, contra a vontade de Ciro, seus irmãos, o senador Cid Gomes e o prefeito de Sobral, Ivo Gomes, fizeram campanha para o petista Camilo Santana ao Senado.

Bolsonaro foi a Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais

O presidente encerra sua campanha neste sábado em Joinville (SC), um forte reduto bolsonarista com um colégio eleitoral relativamente pequeno. No estado que deu quase 76% dos votos para Bolsonaro em 2018, a popularidade do presidente segue em alta.

Pesquisa Ipec divulgada em 21 de setembro aponta que o presidente contava com 49% das intenções de voto totais em Santa Catarina, enquanto Lula somava apenas 27%.

No estado, quatro dos cinco candidatos mais bem colocados para conquistar o Executivo declaram apoio a Bolsonaro. O nome do partido do presidente, o PL, é o senador Jorginho Mello, que soma 29%. Ele é seguido pelo atual governador, Carlos Moisés (Republicanos), que busca a reeleição e tem 23% das intenções de voto, segundo o Ipec.

Antes de ir a Joinville, Bolsonaro fez no sábado uma motociata em São Paulo, levando na garupa da moto Tarcísio, seu candidato ao governo do estado e posicionado para ir ao segundo turno.

Na sexta-feira, o presidente foi a Poços de Caldas (MG), onde participou de uma motociata, cumprimentou eleitores em frente ao estádio municipal e fez o trajeto de volta ao aeroporto em cima de uma caminhonete.

No debate da TV Globo, na quinta-feira, o último antes do primeiro turno, Bolsonaro adotou uma postura de "vale tudo" contra Lula e chamou o petista "presidiário" e "traidor da pátria" e recorreu a teorias conspiratórias. Paralelamente, a campanha do presidente renovou seus ataques ao sistema eleitoral.

Na quarta-feira, o PL divulgou uma nota na qual afirma haver sérias falhas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que podem afetar o resultado das eleições, tendo como base auditoria feita pelo próprio partido. Pouco depois, o TSE divulgou uma nota oficial afirmando que as conclusões do PL são "falsas e mentirosas, sem nenhum amparo na realidade".

Na noite de quarta, em sua live, Bolsonaro ameaçou determinar às Forças Armadas o fechamento de seções eleitorais, com base em um factoide. O presidente insinuou que eleitores vestindo verde e amarelo seriam proibidos de votar, embora não tenha havido nenhuma decisão do TSE nesse sentido.

Ciro encerra campanha no Ceará e Tebet, em São Paulo

Assim como Lula, Ciro também foi ao Ceará na sexta-feira, e permanece no seu estado até a eleição. Segundo a última pesquisa Ipec no estado, Ciro está em terceiro lugar na disputa a presidente entre os cearenses, com 10%, atrás de Bolsonaro, com 18%, e Lula, com 63%.

No sábado, Ciro encerra sua campanha com uma carreata em Fortaleza. Na sexta, ele também comandou uma carreata em Sobral, acompanhado do candidato do PDT ao governo, Roberto Cláudio.

Simone Tebet participou neste sábado de um ato na quadra da escola de samba Caprichosos do Piqueri, na zona norte de São Paulo, mantendo a estratégia de sua campanha de priorizar o colégio eleitoral paulista, o mais numeroso do país. Em seguida, ela viaja para Campo Grande (MS), onde vota no domingo. Na sexta-feira, Tebet havia participado de uma missa na Paróquia São Luiz Gonzaga, em São Paulo.

Deutsche Welle

Diretor-geral da usina nuclear de Zaporizhzhia é preso por autoridades russas




Ihor Murashov foi detido a cainho da cidade ucraniana de Enerhodar

Por Pavel Polityukda 

O diretor-geral da usina nuclear de Zaporizhzhia, na Ucrânia, foi preso por autoridades russas, conforme anunciou neste sábado (1º), a Energoatom, agência estatal responsável pelo local.

Ihor Murashov foi detido no caminho da maior usina nuclear da Europa para a cidade de Enerhodar por volta das 16h de sexta-feira (30), em horário local, informou a empresa em comunicado.

“Ele foi retirado do carro e, com os olhos vendados, foi conduzido em uma direção desconhecida”, disse o chefe da empresa, Petro Kotin.

Kotin acrescentou que não havia notícias imediatas sobre o destino de Murashov.

A usina de Zaporizhzhia tem sido um ponto focal da invasão russa da Ucrânia por sete meses, enquanto Moscou e Kiev se acusam de bombardear a instalação, arriscando um desastre nuclear.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky pediu a desmilitarização da área ao redor da fábrica, que é composta por ucranianos.

Murashov “tem a responsabilidade principal e exclusiva pela segurança nuclear e radiológica” da usina e sua detenção “compromete a segurança da operação da Ucrânia e da maior usina nuclear da Europa”, explicou Kotin.

Ele pediu às forças russas que “parem imediatamente os atos de terrorismo nuclear contra a administração e o pessoal” da usina e liberem Murashov.

Reuters / CNN

***

Rússia prende diretor de maior usina nuclear da Europa

Diretor de usina de Zaporíjia foi detido a caminho do trabalho. Rússia não comentou a prisão, que foi confirmada pela Agência Internacional de Energia Atômica.

A Ucrânia acusou neste sábado (01/10) a Rússia de ter sequestrado o diretor da maior usina nuclear da Europa, em Zaporíjia. Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Moscou confirmou a detenção do funcionário.

A empresa estatal Energoatom, que administra as usinas nucleares ucranianas, disse que tropas russas pararam o carro de Ihor Murashov na sexta-feira à tarde, quando ele estava a caminho da usina de Zaporíjia. Após ser vendado, os militares o levaram para um local desconhecido.

"A sua detenção põe em risco a segurança da Ucrânia e da maior usina nuclear da Europa", disse o presidente da Energoatom, Petro Kotin, exigindo a liberação imediata de Murashov. Segundo ele, o diretor é o responsável pela segurança nuclear e de radiação da usina.

A Rússia não se pronunciou sobre a acusação. No entanto, a AIEA disse que foi informada por Moscou que o diretor da usina nuclear foi detido para um interrogatório. "A AIEA procurou esclarecimentos junto às autoridades russas e foi informada que o diretor-geral da usina nuclear de Zaporíjia foi detido temporariamente para responder a perguntas", disse o porta-voz da agência da ONU.

Temor de desastre nuclear

A usina de Zaporíjia tem sido um ponto central na invasão da Ucrânia pela Rússia. Ela está ocupada desde o início de março. A situação no local tem causado preocupação generalizada desde o início da guerra, com ucranianos e russos se acusando mutuamente de ataques contra o complexo, que podem causar um desastre nuclear.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, pede que a usina e o seu redor se tornem uma região desmilitarizada. A Ucrânia condenou a "detenção ilegal" do diretor. "O crime é mais um ato de terrorismo estatal da Rússia e representa uma grave violação do direito internacional. A Rússia precisa libertá-lo imediatamente", afirmou o Ministério do Exterior da Ucrânia em comunicado.

A usina nuclear fica num dos territórios ucranianos que foram ilegalmente anexados pela Rússia na sexta-feira. A medida – ilegal e duramente condenada pela comunidade internacional – marca uma escalada no conflito e dá início a uma fase imprevisível, sete meses após a invasão da Ucrânia por Moscou.

Deutsche Welle

A lição do ministro do STF




Os direitos não podem ser pautados pelas preferências políticas. 

Por Fernando Schüler (foto)

Em meio ao barulho eleitoral, uma decisão do ministro André Mendonça passou algo despercebida neste país desatento. Mas não deveria. Trata-se da matéria do UOL sobre as supostas “compras em espécie” de imóveis por parte dos Bolsonaro, censurada por um desembargador do Distrito Federal. Os argumentos do desembargador diziam que a matéria fazia “ilações”, que não era possível concluir sobre a compra dos imóveis aquilo que a matéria concluía, que ela usava dados de uma investigação anulada e que, portanto, o portal havia “excedido o direito de livre informar”. Se ficasse por isso mesmo, seria mais do mesmo. Cansei de escrever sobre o inquérito das fake news e sobre magistrados mandando censurar ou mesmo prender em nome da “verdade” e da “democracia”. Dessa vez a coisa foi diferente. Uma matéria claramente de “oposição” foi garantida por nosso ministro dito como o “mais bolsonarista” de todos, como li em um jornal. Se isso não chama a atenção de ninguém país afora, digo que deveria.

A decisão do ministro Mendonça traz uma boa e uma má notícia. Ele fundamenta sua resolução na icônica ação que, nos idos de 2009, acabou com a “lei de imprensa” no Brasil. Para quem não se lembra, a lei de imprensa era um resquício do regime militar, e foi devidamente extinta pelo STF sob a ideia de que nossa Constituição consagra “a plena liberdade de imprensa, proibitiva de qualquer tipo de censura prévia”. Palavras que hoje parecem ter se perdido na poeira da guerra política. No Brasil atual, a censura prévia corre solta e boa parte da sociedade dá de ombros. Luciano Hang, o empresário dono da Havan, está banido das redes sociais. Alguém faz ideia do porquê? Ele está “previamente” banido de seu direito à expressão. As coisas não funcionam mais como à época da ditadura, em que Chico Buarque deveria enviar previamente uma letra para aprovação do censor. Nos tornamos mais eficientes: proíbe-se que o cidadão se expresse antes da análise de qualquer coisa. É a censura prévia fast track, mais direta e eficiente.

Na parte final de sua decisão, André Mendonça dá o recado mais importante. Ele diz que, em um “estado democrático de direito”, a liberdade de expressão é devida “aos brasileiros de todos os espectros político-ideológicos”. Diz que a censura não tem respaldo na Constituição, “por melhores que sejam as intenções”, e que tudo é ainda mais grave se as restrições vierem do Poder Judiciário, que deveria zelar pelas garantias fundamentais, e não o contrário. São três ideias simples, que não deveriam causar surpresa nenhuma. Ocorre que, do jeito que andamos, elas têm um sabor amargo. Revelam que há uma divergência profunda sobre a liberdade de expressão em nosso mais alto tribunal, sendo provável que a visão do ministro Mendonça seja minoritária. É possível que os demais ministros tomassem a mesma decisão que tomou André Mendonça, mas por razões inteiramente distintas. Poderiam levantar a censura sobre essa matéria, mas não aceitar a tese apresentada por Mendonça: de que não cabe censura, nem tutela do Estado sobre a “verdade”, e que a liberdade de expressão é devida aos brasileiros, sejam eles “conservadores” ou “progressistas”, adeptos dessa ou daquela visão de mundo.

No Brasil recente, permitimos que a nossa democracia escorregasse exatamente na direção oposta dessa visão. Aceitamos que liberdades individuais muito elementares fossem danificadas a pretexto da “defesa da democracia” e do “combate às fake news”. Assistimos passivamente ao surgimento, no coração da República, do embrião de um Estado policial inteiramente estranho a nossa jovem tradição democrática. E o pior: com o respaldo de boa parte dos próprios meios de imprensa, inebriados pela polarização política. Em um país, como bem disse o mestre Sérgio Buarque, avesso às “abstrações do liberalismo” e onde a democracia “sempre foi um lamentável mal-entendido”.

Vai aí o lado obscuro de toda essa história. Ele diz respeito a como a decisão do ministro foi tratada na sociedade. Há coisa de dois meses, em uma outra decisão, dessa vez tomada pelo ministro Alexandre de Moraes, foram censurados materiais mencionando a delação premiada de Marcos Valério, com referências a uma suposta relação entre o PT e o PCC. À época, observei que aquela resolução estabelecia uma premissa: colocando-se como “juiz da verdade, nesse caso, o Estado se põe, por efeito lógico, como juiz da verdade em qualquer caso”. Foi exatamente isso que o desembargador de Brasília fez: ele julgou a “veracidade” da matéria. Exerceu seu poder de tutela, sugerindo que o portal não poderia ter feito a “ilação” que fez. No fundo, está aí o dilema brasileiro. Desejamos ou não o Estado de tutela? Ou somos apenas malandros, achando ótimo que esse poder seja exercido só contra os indesejáveis, os errados, os do “outro lado”?

Talvez seja o caso. Nesse episódio triste, grupos de imprensa e opinião que passaram os últimos anos salivando de alegria com toda sorte de censura contra os “alvos corretos”, repetindo catatonicamente que “liberdade de expressão não é um direito absoluto”, subitamente acordaram. Num passe de mágica, lembraram que a “liberdade de expressão é um dos pilares centrais da democracia”. Tudo que haviam solenemente esquecido, quando o “patrimônio imaterial representado pela liberdade de pensamento” dos outros, casualmente seus inimigos, estava escorrendo pelo ralo.

Tempos atrás li um texto provocativo de Anne Applebaum falando da guerra e das ameaças às democracias liberais mundo afora e perguntando se não relaxamos. Se não nos convencemos cedo demais de que as democracias liberais estavam consolidadas e de que não havia mais perigo relevante no horizonte. Ela conclui dizendo não haver nada “natural” em uma ordem liberal. E que teremos de “lutar ferozmente pelos valores e pelas esperanças do liberalismo se quisermos que nossas sociedades abertas continuem existindo”. O texto resume à perfeição o nosso problema: enquanto não entendermos que o mundo dos direitos não admite seletividade, não pode ser pautado pela preferência por este ou aquele lado da briga política, que não cabe ao Estado tutelar a verdade, não teremos uma República digna desse nome. Daí o aprendizado que podemos ter da decisão do ministro André Mendonça.

Por esta semana, uma matéria no The New York Times se perguntava se, a pretexto da “defesa da democracia”, não terminamos atravessando o samba no Brasil e corroendo as bases de nosso estado de direito. A matéria é gentil. Faz tempo que estamos cruzando uma linha que jamais deveríamos ter cruzado. Dando de ombros a valores que não foram dados pela natureza, que desafiam nossa passionalidade, nossa propensão ao tribalismo e à “vontade de domínio”, na expressão daquele filósofo alemão que não tinha lá grande apreço pela democracia. Valores pelos quais muita gente lutou, no passado recente, e que mesmo por isso deveríamos tratar com um pouco mais de cuidado.

*Fernando Schüler é cientista político e professor do Insper

Revista Veja

Lula retomou defesa da regulação da mídia em acenos ao PT mais radical




O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT ao Palácio do Planalto, não cumpriu a promessa de sua campanha de apresentar um plano de governo detalhado. Lula, contudo, usou a corrida eleitoral para reafirmar ideias que dialogam com obscuras propostas dos recentes governos petistas.

Em um contexto marcado por aceno às militâncias e ataques a desafetos, ele fez ao menos 11 menções à regulamentação da mídia - boa parte durante a pré-campanha e a campanha - e críticas ferozes à atuação da Operação Lava Jato.

O levantamento foi feito pela reportagem do Estadão - jornal que, em sua história de quase 150 anos sempre rechaçou tentativas oficiais, veladas ou não, de coibir a liberdade de expressão.

As pesquisas eleitorais, na véspera da votação em primeiro turno, indicam vantagem expressiva de Lula sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição. Com foco no antibolsonarismo, o petista se apresentou como um candidato conciliador, capaz de reunir em torno de si uma frente ampla democrática.

No entanto, o uso constante de referências a mandatos anteriores como garantia de sua candidatura, a resistência em condenar ditaduras de esquerda e a ausência de detalhamento de propostas tornam incerto o perfil do governo em eventual vitória nas urnas.

‘ESPOLIAÇÃO’

Em relação à regulação da mídia, em pouco mais de um ano, o petista transitou de declarações como a necessidade de um novo marco regulatório contra o que chamou de "espoliação de meia dúzia de famílias que mandam na comunicação brasileira", à garantia do "melhor direito de resposta". Falou em "convocar plenárias, congressos, palestras" para a sociedade dizer "como tem que ser feito" e terminou afirmando que essa missão caberá ao Congresso Nacional.

Em fevereiro, disse à Rádio Clube, do Recife, ser "vítima" da Rede Globo, ao passo em que defendia a proposta. Em seu plano preliminar de governo - esboço encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) -, sem dar maiores detalhes, o petista também defende a pauta, que é aplaudida, principalmente, pela militância petista.

Durante o segundo mandato de Lula na Presidência, a Secretaria de Comunicação Social, então comandada pelo jornalista Franklin Martins, elaborou um projeto para criar um marco regulatório da comunicação eletrônica no País.

O chamado anteprojeto para a Lei de Comunicação Eletrônica não chegou a ser encaminhado para o Congresso e foi engavetado na gestão de Dilma Rousseff. Entre os pontos considerados na época estava a criação de uma agência reguladora única para a comunicação social.

A regulamentação dos meios de comunicação, pouco detalhada e mencionada como um tema a ser debatido no Congresso, não é a única proposta pouco clara no programa, que promete "compromisso social", "colocar o povo no orçamento", a "restauração das condições de vida da imensa maioria da população brasileira", e o "estímulo a projetos inovadores".

O plano é chamado de "diretrizes e bases" e foi tratado como provisório por petistas. No entanto, Lula acabou não registrando um documento final com propostas mais detalhadas.

CARTEIRINHA

Grande parte da campanha lulista tem sido calcada em eventos para a militância do PT, recheados de uniformizados com camisetas do partido ou estampadas com a face do ex-presidente. Estes encontros ocupam pelo menos dois ou três dias da agenda do ex-presidente desde o início da campanha. Sempre com o mesmo roteiro. No público, apenas petistas de carteirinha. No palco, aliados da campanha que servem de "escadinha" ao petista. Tudo, sempre, transmitido pelas redes sociais de Lula, e um roteiro que intercala discursos de apoio a Lula e jingles de campanha.

Em entrevistas e atos públicos, o petista fez menções, durante a campanha, de propostas que nem sequer são citadas em seu plano de governo, como uma reforma administrativa e a desoneração da produção, em jantares e agendas com o empresariado. A eles, Lula tem repetido que sua grande garantia para ser um bom presidente são seus mandatos encerrados há mais de uma década.

O ex-presidente, que sempre se gabou de dar independência às instituições e órgãos de investigação. Petistas próximos de Lula se dividem entre defensores de que ele nomeie um aliado no comando da Procuradoria-Geral da República, uma espécie de "Augusto Aras para chamar de seu", ou alargue os critérios para além da lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República, historicamente defendida por Lula. Em mais de uma entrevista, o ex-presidente afirmou que prefere fazer "mistério" sobre como decidirá o ocupante do cargo que fará escrutínio de um eventual governo. Além de criticar duramente a Lava Jato, tem feito, também, referências a como seus governos do passado deram independência às instituições.

Questionado sobre escândalos de corrupção como o mensalão e os esquemas de propinas em contratos da Petrobras que assolaram seu governo, o ex-presidente tem relativizado a dimensão destes episódios, sem qualquer autocrítica a respeito do que ocorreu na era petista. Tem, também, sugerido que são menores do que as mazelas do governo Jair Bolsonaro. "Fizeram um tremendo Carnaval com mensalão e hoje estão aprovando um orçamento secreto, que é a maior excrescência desse País", disse, durante um evento em Brasília. Na última semana, o petista repetiu esse discurso a empresários. O PT não comentou.

Estadão / Dinheiro Rural

Enquanto Putin discursa triunfal, 'Blonde' reduz Marilyn a pedaço de carne.




O noticiário foi marcado pelo pronunciamento do presidente russo e pela repercussão do filme de Andrew Dominik. 

Por João Pereira Coutinho 

1. Missão cumprida, pensa Vladimir Putin: sete meses depois do início da invasão da Ucrânia, o Kremlin formalizou a anexação de quatro regiões do país vizinho. "São agora parte da Rússia para sempre", afirmou Putin, e a Constituição russa assim o determina: territórios adquiridos não podem ser alienados. Apenas defendidos por todos os meios disponíveis, inclusive por armas nucleares.

Eis o problema que o Ocidente democrático enfrenta: chegar a um cessar-fogo é garantir meia vitória para Putin (vitória inteira seria uma mudança de regime em Kiev). Continuar a luta é obrigar Putin a mostrar o seu jogo –e, como afirmam os melhores analistas, a romper definitivamente o acordo informal que celebrou com os russos: esqueçam a política, a democracia e outras fantasias "liberais" e o Kremlin esquece a forma como vocês vivem as vossas vidas, garantindo um mínimo de conforto para todos.

Não mais. A mobilização "parcial" já começou a reverter esse pacto. E, quanto mais a guerra durar, mais a população optará por fugir (ou, melhor ainda, resistir).

Só os ucranianos saberão o que fazer. Pessoalmente, sempre acreditei que deixar Putin à solta não compra paz nem segurança a médio prazo: o que ele fez na Ucrânia será replicado em outras ex-repúblicas soviéticas.

Apesar disso, não é de excluir que se chegue a um ponto em que a Ucrânia considere vantajoso um cessar-fogo com condições. Primeira condição: a entrada do país na Otan. Segunda condição: a entrada do país na União Europeia.

Horas depois do discurso triunfalista de Putin, parece que o presidente Zelenski submeteu a candidatura da Ucrânia à Otan. É um gesto simbólico, eu sei.

Mas o que aconteceria se Kiev estivesse disposta a trocar 20% do território por garantias efetivas de defesa e acesso ao grande mercado europeu?

Talvez esse fosse o maior dos pesadelos (e das derrotas) para Putin.

2. Julgava eu que o momento mais repugnante do cinema americano moderno acontecia no filme "The Doors", do insuportável Oliver Stone. Falo da sequência em que Jim Morrison tem um encontro sexual com a cantora Nico no elevador.

Maus momentos, todos temos. Mas é preciso ser Oliver Stone para filmar Nico, de joelhos, a reconfortar o famoso "poeta" (manter as aspas, por favor).

Há um novo registro na Netflix: o filme "Blonde", de Andrew Dominik, o neozelandês que tinha deixado uma boa impressão com "O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford" e, sobretudo, com o documentário sobre Nick Cave, "This Much I Know to Be True".

O filme, vagamente baseado no livro homônimo de Joyce Carol Oates, pretende contar a vida de Norma Jeane, conhecida por Marilyn Monroe, embora o exercício seja outro: arrastar o corpo (e a memória) de Marilyn pela sarjeta e entregá-lo na cama de John F. Kennedy, onde o presidente exige a Marilyn o mesmo tipo de serviço que Jim Morrison nem precisava pedir a Nico. Repugnante?

Não na cabeça de Dominik, que se imagina a denunciar o sistema machista que levou Marilyn Monroe à loucura e ao suicídio.

Marilyn foi "um pedaço de carne" para os homens, parece gritar Andrew Dominik, sem perceber a ironia da coisa: é ele quem reduz Marilyn a um "pedaço de carne" batido e sofrido, sem jamais respeitar a dimensão gloriosa de Marilyn como atriz. Mais ainda: como atriz que soube sublimar a matéria frágil e traumatizada de que era feita em papéis memoráveis de humor, malícia e falsa ingenuidade.

Pobre Marilyn. Eu já sabia que ela não teve sorte com os homens durante a vida. Mas lamento que o mesmo destino a acompanhe depois da morte.

Folha de São Paulo

Da Inglaterra à Itália, experiências de direita que vale a pena acompanhar




Apesar dos erros, há evolução

Por Vilma Gryzinski 

“Um conservador é um homem com duas pernas perfeitamente boas que, no entanto, nunca aprendeu a andar para a frente”, definiu sibilinamente Franklin Roosevelt, quatro vezes eleito presidente dos Estados Unidos e santo mais venerado no altar do Partido Democrata americano. Detalhe: ele perdeu aos 39 anos o uso das pernas, por uma doença devastadora que pode ter sido paralisia infantil ou a pouco conhecida à época síndrome de Guillain-Barré. Duas mulheres conservadoras, embora de correntes muito diferentes, estão desafiando neste momento a definição de Roosevelt: querem andar para a frente — mesmo que deixem um rasto de choque e espanto à sua passagem. Uma delas é Liz Truss, a nova primeira-ministra britânica. Ela sempre foi considerada pela elite conservadora como segundo time e até ridicularizada por querer imitar as roupas de Margaret Thatcher. Agora, está sendo execrada pelo pacote de medidas econômicas que simplesmente implodiu o consenso reinante sobre economia. O tsunami de cortes de impostos, desburocratização e incentivos à competitividade que o ministro da Economia de Liz Truss, Kwasi Kwarteng, anunciou levou um comentarista a escrever que precisou “se beliscar para ter certeza de que não estava sonhando, que não havia sido transportado para uma terra distante onde as pessoas realmente acreditam nos princípios econômicos de Milton Friedman e Hayek”.

É uma experiência arriscadíssima num momento de inflação alta, crise energética, desvalorização da moeda e aumento dos gastos públicos. Para os simpatizantes, é a sirene da polícia que anuncia a chegada da salvação nos minutos finais do filme. Os adversários, inclusive à direita, acham que Liz Truss, ao querer ser mais Thatcher do que Thatcher, sem a férrea disciplina fiscal da Dama idem, assinou não só a própria sentença de morte como a de todo o Partido Conservador. O que seria uma master class de liberalismo econômico de repente pendeu para uma catástrofe em câmera acelerada. Liz Truss teve as ideias certas no momento errado ou as erradas no pior momento possível?

O que acontecerá na Itália com um governo liderado por Giorgia Meloni também responderá a perguntas importantes. Poderá ela se redimir das origens neofascistas, a praga que assombra a extrema direita europeia? Existe lugar num país da Europa Ocidental para uma direita nacionalista à la Trump? Propiciará uma política econômica estatista mais parecida com as ideias de Marine Le Pen e irreconhecível para os que pensam como a quase libertária Liz Truss?

Numa coisa ela já evoluiu: saltou do bonde das simpatias da direita populista por Vladimir Putin, aclamado como um defensor de princípios tradicionais e cristãos. Foi um dos maiores erros dessa corrente política nos últimos tempos. Putin é o homem que condecorou militares que estupraram, torturaram e assassinaram civis. A Ucrânia, ao contrário, encarna valores venerados pela direita: liberdade, independência, patriotismo, bravura — e paixão por armas bem grandes. Giorgia Meloni sempre cita Roger Scruton, a face refinada do conservadorismo contemporâneo, e sua síntese do que ele significa: “As coisas boas são facilmente destruídas, mas não facilmente criadas”.

Ela e Liz Truss terão de mostrar se vieram para construir ou, involuntariamente, derrubar a casa.

Revista Veja

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