Certificado Lei geral de proteção de dados

Certificado Lei geral de proteção de dados
Certificado Lei geral de proteção de dados

quarta-feira, março 02, 2022

Últimas notícias: Torre de televisão de Kiev é atacada




Houve bombardeio de alvos civis em Kharkiv. Empresa americana de imagens de satélite revelou que veículos podem ser vistos ao longo de 60 quilômetros de Kiev. Acompanhe as últimas notícias.

    Rússia afirma que atacará alvos em Kiev e pede que moradores deixem suas casas
    Zelenski afirma que bombardeio de Kharkiv foi ato de "terror"
    Chefe da diplomacia da UE diz que houve violação das leis da guerra em Kharkiv
    Forte explosão destrói prédio da administração local de Kharkiv
    Polônia já recebeu mais de 350 mil refugiados
    China começa a tirar seus cidadãos da Ucrânia
    ONU confirma mais de 100 civis mortos na Ucrânia
    Tenista ucraniana se recusa a jogar contra russas e belarussas
    Austrália enviará 50 milhões de dólares em artigos militares à Ucrânia
    Espanha anuncia regularização de todos os ucranianos que vivem no país
    Imagens de satélite mostram enorme comboio russo se dirigindo a Kiev
    Torre de televisão de Kiev é atacada
    Ministros do Exterior da Alemanha, França e Polônia criticam Rússia
    União Europeia bane meios de comunicação estatais russos
    Canadá fecha portos para navios russos
    Apple interrompe vendas de produtos na Rússia
    Em protesto, diplomatas ignoram discurso russo na ONU
    Embaixador russo na ONU não vê "desejo da Ucrânia" para solucionar conflito
    Bélgica fecha embaixada em Kiev

As atualizações estão no horário de Brasília (para atualizar, pressione Ctrl+F5)

20:27 – UE e EUA discutem fechamento ainda maior de espaço aéreo a russos

Depois de a União Europeia, o Canadá e os Estados Unidos fecharem seus espaços aéreos para aeronaves e jatos russos, os parceiros ocidentais discutem uma expansão dessa medida.

Companhias aéreas russas já enfrentam bloqueios de larga escala em corredores de voos de leste a oeste, depois que a União Europeia passou a aplicar a restrição. Washington não descarta colocar medidas ainda mais duras em prática.

(Reuters)

20:12 – Bélgica fecha embaixada em Kiev

Em meio à invasão da Ucrânia pela Rússia, a Bélgica fechou sua embaixada na capital Kiev. Em um post no Twitter na noite desta terça-feira (01/03), o ministério das Relações Exteriores belga alegou mudanças em relação a questões de segurança.

Os funcionários da embaixada já deixaram a Ucrânia, e o apoio consular aos belgas que estão no país continuará sendo executado até a fronteira com países vizinhos.

(dpa)

19:08 – Embaixador russo na ONU não vê "desejo da Ucrânia" para solucionar conflito

Em entrevista a um canal de televisão libanês, o embaixador russo da ONU em Genebra, Gennady Gatilov, disse que não vê "nenhum desejo por parte de Ucrânia" para buscar uma soluçãoembaixa legítima e equilibrada para os problemas entre os dois países.

Gatilov disse que a Rússia "apóia a diplomacia baseada no respeito e igualdade de posições entre todos os países", mas que, por enquanto, não consegue perceber isso [por parte da Ucrânia], segundo noticiou a agência de notícias russa RIA.

Ele também disse que chegou a hora de remover as armas nucleares de países da Europa Ocidental e Central.

Além da Rússia, as outras potências nucleares europeias são França e Grã-Bretanha, que integram a OTAN junto com os Estados Unidos Estados.

(Reuters)

19:00 – Em protesto, diplomatas ignoram discurso russo na ONU

Mais de 100 diplomatas deixaram a sala onde estava sendo realizada a Conferência sobre o Desarmamento da ONU durante a fala do ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, nesta terça-feira.

A delegação brasileira permaneceu no local para ouvir o discurso, que foi transmitido por videoconferência.

18:45 – Apple interrompe vendas de produtos na Rússia

A Apple anunciou que vai interromper as vendas de seus produtos na Rússia – entre eles, os populares iPhones, computadores e acessórios.

Desta forma, a Apple é mais uma empresa estrangeira a anunciar a saída do mercado russo após a invasão russa à Ucrânia. Google e Harley-Davidson já haviam se retirado da Rússia. Também nesta terça-feira, duas das maiores companhias de transportes marítimos do mundo, a MSC e a Maersk, suspenderam os serviços na Rússia, aprofundando o isolamento do país. 

Em um comunicado, a Apple disse que está "profundamente preocupada com a invasão russa de Ucrânia e está ao lado de todas as pessoas que estão sofrendo em conseqüência da violência".

(Reuters)

18:00 – Canadá fecha portos para navios russos

Em resposta à invasão russa na Ucrânia, o Canadá vai fechar seus portos para navios russos nesta semana, informou nesta terça-feira (01/03) o ministro dos Transportes do país, Omar Alghabra.

O Canadá já havia divulgado a aplicação de sanções como o fechamento do espaço aéreo para aeronaves russas e transações financeiras do Banco Central da Rússia.

"A Rússia deve ser responsabilizada pela invasão na Ucrânia. Hoje, estamos tomando medidas para fechar águas e portos canadenses para navios de propriedade russa ou registrados como tal. Vamos seguir tomando medidas para nos posicionarmos em favor da Ucrânia", declarou Alghabra.

Nesta segunda-feira, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, proibiu as importações de petróleo da Rússia.

(Reuters)

16:55 – União Europeia bane meios de comunicação estatais russos

A União Europeia confirmou nesta terça-feira o banimento de meios de comunicação estatais russos. Desta forma, as redes RT e Sputnik estão proibidas de realizarem transmissões nos países do bloco. 

A sanção entra em vigor nesta quarta-feira (02/03), assim que for publicado o jornal oficial da UE.

(AFP)

15:45 – Triângulo de Weimar: ministros do Exterior criticam Rússia

Em um encontro nesta terça-feira (01/03), em Lodz, na Polônia, os ministros do Exterior da Alemanha, da França e da Polônia condenaram os ataques russos em várias regiões do território ucraniano. Annalena Baerbock, Jean-Yves Le Drian e Zbigniew Rau também reforçaram que apoiam a construção de laços políticos e econômicos da Ucrânia com a União Europeia.

Em conjunto, Baerbock, Le Drian e Rau divulgaram um comunicado no qual dizem que "nós, os ministros do Exterior da Alemanha, França e Polônia condenamos com as mais fortes palavras a invasão injustificada da Ucrânia pelas forças armadas da Federação Russa em uma flagrante violação da Carta das Nações Unidas. Também condenamos o envolvimento de Belarus nessa agressão e apelamos a Minsk para que cumpra suas obrigações internacionais". 

(Reuters, dpa)

14:23 – Scholz reitera apoio a Zelenski

O chanceler federal alemão, Olaf Scholz, conversou por telefone com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, e reiterou seu apoio à Ucrânia.

Segundo seu porta-voz, o chanceler voltou a condenar nos termos mais fortes a agressão russa ao país. Zelenski informou Scholz sobre os ataques russos em várias frentes.

O líder alemão, por sua vez, informou ao ucraniano as várias formas de apoio que a Alemanha vem dando à Ucrânia, assim como as inúmeras expressões de solidariedade dos cidadãos alemães.

Zelenski agradeceu ao apoio dado pela Alemanha e pela Europa durante a crise, informou o porta-voz Steffen Hebestreit, em Berlim, sem fornecer maiores detalhes.

13:52 – Torre de televisão de Kiev é atacada

A agência ucraniana de notícias Unian informou que a torre de televisão de Kiev foi alvo de um ataque. Imagens mostram uma coluna de fumaça próximo ao local. Segundo as informações, a torre teria sido atingida por dois mísseis. 

O Ministério ucraniano da Defesa confirmou o ataque e informou que alguns canais não poderão transmitir por algum tempo, O órgão alertou que o inimigo poderá se aproveitar para espalhar informações falsas, no intuito de desestabilizar a situação. 

Segundo relatos, ao menos cinco pessoas morreram no ataque, e outras cinco ficaram feridas. A torre é localizada próximo ao memorial do massacre de judeus ucranianos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Sirenes de alerta voltaram a soar na capital ucraniana durante a tarde. O prefeito, Vitali Klitschko, disse que a situação é ameaçadora. "O inimigo quer conquistar o coração de nosso país. Mas, nós vamos lutar e não desistiremos de Kiev", escreveu em mensagem no Telegram.

12:18 – UE promete 500 milhões de euros em ajuda humantária

A União Europeia prometeu enviar ao menos 500 milhões de euros em ajuda humanitária à Ucrânia e para os refugiados que tiveram de fugir para os países vizinhos, informou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von de Leyen. 

No Parlamento Europeu, os líderes do bloco das 27 nações acusaram a Rússia de "terrorismo geopolítico". Von der Leyen disse que este é um "momento da verdade para a Europa". "O destino da Ucrânia está em risco, mas nosso próprio destino também está em jogo", ressaltou.

"Não é somente a Ucrânia que está sob ataque", observou o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. "As leis internacionais, a ordem internacional baseada na lei, a democracia e a dignidade humana também estão sob ataque". "Isso é pura e simplesmente terrorismo geopolítico".

Em mensagem ao Parlamento Europeu, o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, pediu que a União Europeia dê garantias de que está do lado da Ucrânia. "Provem que estão conosco. Provem que não nos abandonarão. Provem que são verdadeiros europeus, e então, a vida prevalecerá sobre a morte e a luz derrota a escuridão", afirmou.

10:50 – Rússia afirma que atacará alvos em Kiev e pede que moradores deixem suas casas

Um porta-voz do Ministro da Defesa russo afirmou que haverá um ataque contra diversos alvos da infraestrutura dos serviços de segurança em Kiev e pediu que os moradores de regiões próximas deixem suas casas.

"Pedimos aos moradores de Kiev que moram próximo de centros de ligação que deixei as suas casas", disse o porta-voz, Igor Konashenkov.

Mais cedo, o governo ucraniano já havia alertado que forças russas estavam preparando um ataque pesado contra Kiev. Além dos ataques aéreos, há um extenso comboio militar russo se movendo em direção à capital da Ucrânia.

10:20 - Zelenski: Bombardeio de Kharkiv foi ato de "terror"

O bombardeio de alvos civis em Kharkiv, incluindo a praça central da cidade e o prédio da administração municipal, foi um ato "evidente e mal-disfarçado terror", afirmou o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski. "Ninguém irá perdoar. Ninguém irá esquecer. Este ataque em Kharkiv é um crime de guerra."

Foi a primeira vez que os militares russos atingiram o centro da cidade, que é a segunda mais populosa da Ucrânia e já estava sob ataque há alguns dias em seus bairros residenciais.

O bombardeio da praça central atingiu também uma instalação provisória que havia sido erguida para receber doações para os voluntários que decidiram se juntar à defesa da Ucrânia. Nos últimos dias, seguranças voluntários estavam ocupando o prédio da administração como parte desses esforços – há receio de que alguns deles estejam entre os mortos.

Segundo um assessor do Ministro do Interior ucraniano, pelo menos dez pessoas morreram e 35 ficaram feridas no ataque no centro da cidade.

09:45 – UE: Bombardeio em Kharkiv viola as leis da guerra 

O chefe da diplomacia externa da União Europeia, Josep Borrell, afirmou nesta terça-feira (01/03) que o bombardeio de alvos civis em Kharkiv, incluindo a praça central da cidade e o prédio da administração local, viola as leis da guerra.

"O bombardeio de infraestruturas civis ontem em Kharkiv viola as leis da guerra. A União Europeia mantém seu firme apoio ao lado da Ucrânia nestes momentos dramáticos", afirmou Borrell no Twitter.

Kharkiv é a segunda cidade mais populosa da Ucrânia, com cerca de 1,5 milhões de habitantes. Segundo um assessor do Ministro do Interior ucraniano, pelo menos dez pessoas morreram e 35 ficaram feridas no ataque no centro da cidade.

07:50 – Guerra já deixa mais de 100 civis mortos e 400 feridos, segundo ONU

A ONU afirmou nesta terça-feira que a guerra na Ucrânia já deixou, pelo menos, 136 civis mortos, incluindo 13 crianças, e 400 feridos. "O número real provavelmente é muito maior", acrescentou Liz Throssell, porta-voz do escritório de direitos humanos das Nações Unidas.

Segundo Throssell, a maioria das vítimas, 253, se encontrava em Donetsk e Lugansk.

Diante da guerra, a ONU ampliou as atividades do Programa Mundial de Alimentos na Ucrânia, onde estima oferecer ajuda a até 3,1 milhões de pessoas.

07:11 – Filarmônica de Munique demite regente russo

A Filarmônica de Munique demitiu nesta terça-feira o regente russo Valery Gergiev, após ele ter ignorado os apelos do prefeito de Munique, Dieter Reiter, para condenar a invasão da Ucrânia. O maestro é próximo do presidente russo, Vladimir Putin.

Apesar da ligação do regente com o Kremlin, Reiter esperava que Gergiev se distanciasse "de forma clara" da guerra travada por Putin. "Esperava que ele reconsiderasse sua avaliação positiva do governo russo, mas ele não fez isso", afirmou o prefeito.

Gergiev, de 68 anos, comandava a Filarmônica de Munique desde 2015.

06:40 – Ofensiva russa deixa Mariupol sem energia elétrica

A cidade de Mariupol, a segunda maior do Donbass, no leste da Ucrânia, ficou sem eletricidade após uma ofensiva russa, informou o governador da região de Donetsk, Pavlo Kirilenko. Segundo ele, a linha de energia foi cortada.

"Mariupol e Volnovakha são nossas! Ambas as cidades estão sob pressão, mas estão resistindo", escreveu Kirilenko numa mensagem publicada na sua conta no Facebook.

Com cerca de 500 mil habitantes, Mariupol está sob ataque desde o início da invasão russa na semana passada. Tanto Mariupol quanto Volnovakha estão localizadas entre as regiões ocupadas por separatistas e a península da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

'Mariupol: Cidade está sob ataque desde o início da ofensiva russa'

06:17 – Maersk suspende transporte de contêineres de e para a Rússia

O grupo dinamarquês de logística Maersk suspendeu temporariamente todo o transporte de contêineres de e para a Rússia em respostas às sanções aplicadas pelo Ocidente contra Moscou devido à invasão na Ucrânia.

Outros grupos de logística como a Ocean Network Express (ONE), a Hapag Lloyd e a MSC já haviam anunciado decisões semelhantes.

Segundo a Maersk, a suspensão abrange todos os portos russos e não inclui alimentos, suprimentos médicos e humanitários. O grupo opera rotas de transporte para São Petersburgo e Kaliningrado, no Mar Báltico, Novorossiysk, no Mar Negro, além de Vladivostok e Vostochny, na costa leste da Rússia.

A Maersk possui cerca de 500 funcionários na Rússia. Na semana passada, a empresa suspendeu temporariamente todas as escalas na Ucrânia, onde possui 60 funcionários em Odessa.

06:00 – YouTube bloqueia os canais de RT e Sputnik na Europa

O YouTube anunciou nesta terça-feira o bloqueio na Europa dos canais russos RT e Sputnik devido à guerra na Ucrânia. A decisão da plataforma, que pertence ao grupo Google, segue uma ação semelhante ao Facebook que havia restringido na União Europeia o acesso aos perfis da emissora e agência de notícias. Já o Twitter também anunciou que colocará o aviso de conteúdo de mídia controlada pelo governo russo nas postagens dos dois grupos, além de reduzir a visibilidade dos canais.

04:45 – Forte explosão em Kharkiv

Uma forte explosão foi registrada nesta terça-feira na cidade de Kharkiv, a segunda maior da Ucrânia. Um vídeo divulgado nas redes sociais e compartilhado pelo jornal ucraniano The Kyiv Independent mostra um prédio administrativo sendo atingido no centro da cidade.

Tanques e veículos blindados russos podem ser vistos por toda a cidade, informou o prefeito, Igor Terekhov, à mídia ucraniana. 

04:12 – Polônia já recebeu mais de 350 mil refugiados

Desde a invasão russa na Ucrânia, a Polônia já recebeu cerca de 350.000 pessoas, informou o vice-ministro do Interior polonês, Maciej Wasik, em entrevista a uma rádio local. 

Segundo ele, somente nas últimas 24 horas, 100.000 pessoas cruzaram a fronteira.

03:44 –​​​​​ China começa a ecavuar seus cidadãos da Ucrânia

A China começou a evacuar seus cidadãos da Ucrânia. Cerca de 600 estudantes chineses foram retirados de Kiev e da cidade portuária de Odessa, no sul, nesta segunda-feira, informou o jornal estatal Global Times, citando a embaixada chinesa na capital ucraniana.

De acordo com o jornal, eles viajaram para a Moldávia de ônibus. Outros 1.000 cidadãos chineses devem deixar a Ucrânia para a Polônia e a Eslováquia nesta terça-feira.

Segundo a China, cerca de 6.000 cidadãos chineses estão na Ucrânia a trabalho ou a estudo.

03:40  – Kiev enfrenta desabastecimento

Na capital ucraniana, Kiev, a situação do abastecimento está cada vez pior, informou o correspondente na Ucrânia da rede de televisão austríaca ORF. 

"O número de supermercados está diminuindo. A maioria das farmácias no centro também está fechada, assim como toda a vida comercial no centro", disse Christian Wehrschütz em entrevista à rede de televisão alemã ARD nesta terça-feira. 

"As pessoas compram o que ainda há". A reposição dificilmente chega. "A situação do fornecimento será completamente catastrófica em poucos dias", afirmou Wehrschütz.

03:20 – Rússia aproxima mais tropas do leste da Europa

De acordo com a agência de notícias Interfax, a Rússia está movendo tropas do extremo leste do país para mais perto da Europa. As unidades militares realizarão exercícios na província de Astrakhan, no sudoeste, na fronteira das partes asiática e europeia do país, segundo a agência, que citou uma fonte do comando militar. 

As tropas teriam como objetivo praticar principalmente a movimentação de unidades militares por longas distâncias.

02:45 – ONU confirma mais de 100 civis mortos na guerra na Ucrânia

A chefe de direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, confirmou a morte de 102 civis na guerra na Ucrânia, incluindo sete crianças, desde que a invasão russa começou na quinta-feira passada. 

Centenas de outros ficaram feridos -  e os números fornecidos provavelmente foram subestimados.  

01:53 – Tenista ucraniana se recusa a jogar contra russas e belarussas

A ucraniana Elina Svitolina, número 15 no ranking mundial da Associação de Tênis Feminino (WTA, na sigla em inglês), anunciou que não jogará contra tenistas russas e belarussas em protesto contra a invasão da Rússia à Ucrânia, que teria contado com o apoio de autoridades de Belarus.

"Gostaria de anunciar que amanhã [terça-feira] não jogarei em Monterrey e não disputarei nenhuma partida contra tenistas russas e belarussas", declarou à agencia ucraniana Ukrinform.

A tenista alegou que "a situação atual requer uma posição clara" da WTA, da Associação de Tenistas Profissionais (ATP) e da Federação Internacional de Tênis (ITF).

"Portanto, nós, ucranianos, solicitamos que sigam as recomendações do Comitê Olímpico Internacional (COI) e admitam os atletas russos e belarussos apenas como atletas neutros", argumentou.

Svitolina deixou claro que não culpa os atletas russos pela agressão ordenada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin.

"Eles não são responsáveis pela invasão à nossa pátria", frisou, ao agradecer aos atletas russos e belarussos "que se opuseram valentemente à guerra". 

'Tenista Elina Svitolina comunicou que não jogará mais contra russas'

01:10 – Austrália enviará 50 milhões de dólares em armamento à Ucrânia

 A Austrália anunciou nesta terça-feira que vai fornecer à Ucrânia 50 milhões de dólares em mísseis, munições e outros materiais militares para ajudar no combate aos invasores russos. 

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, disse que não detalharia o material a ser enviado para Ucrânia "para não dar ao governo russo um aviso sobre o que irá na sua direção". 

00:29 – Espanha anuncia regularização de todos os ucranianos que vivem no país

O presidente do Governo da Espanha, Pedro Sánchez, anunciou nesta segunda-feira a regularização de todos os ucranianos que vivem no país para que possam trabalhar legalmente e ter acesso às políticas sociais.

Sánchez, em entrevista à Televisión Española, lembrou que cerca de 100 mil ucranianos vivem na Espanha e destacou que o governo vai regularizar a sua situação.

"Vamos tomar a decisão de estender e tomar as medidas para que possam viver legalmente no nosso país, para que possam trabalhar legalmente, para que possam ter acesso à educação, saúde e políticas sociais como qualquer outro cidadão", explicou.

Ele também se dirigiu aos mais de 70 mil russos que vivem na Espanha. "Não temos nada contra a Rússia, contra seu povo, que sofre justamente a repressão e um regime absolutamente autoritário há mais de 20 anos nas mãos de Putin", acrescentou.

00:22 – Imagens de satélite mostram comboio militar russo se dirigindo a Kiev

Imagens de satélite mostram um extenso comboio militar russo, ao longo de mais de 60 quilômetros, a noroeste de Kiev, informou na noite desta segunda-feira a empresa americana de imagens de satélite Maxar.

O comboio conta com veículos blindados, tanques, artilharia e veículos de apoio e estava a cerca de 25 quilômetros da capital ucrania, se movendo lentamente. 

Segundo a Maxar, "alguns dos veículos estão muito afastados, e noutras partes do comboio o equipamento militar está posicionado a dois ou três metros de distância". 

A empresa também revelou imagens de novos destacamentos de tropas, helicópteros de ataque e veículos terrestres, em Belarus, a menos de 30 quilômetros da fronteira com a Ucrânia.

Deutsche Welle

Chega de aceitar dinheiro dos oligarcas ligados a Putin!




Residência de luxo de Putin na costa do Mar Negro

Por Eugen TheiseEugen* 

A Alemanha não vinha sendo seletiva com o dinheiro dos oligarcas russos gasto em objetos e serviços de luxo. Mas, após o ataque de Putin à Ucrânia, essas pessoas também devem ser proscritas, opina Eugen Theise.

Equipado com piscinas jacuzzi, cinema a bordo, luxuosas salas de jantar, grandes pistas de dança e, claro, o heliponto obrigatório, um iate majestoso é o símbolo de status máximo para cada oligarca. Com o gosto dos bilionários russos pelo luxo decadente, os fabricantes destes palácios flutuantes ganham bom dinheiro.

O preço de compra dos dois navios de lazer mais caros de oligarcas russos – o Eclipse, de Roman Abramovich, e o Dilbar, de Alischer Usmanov − é estimado em cerca de 1,5 bilhão de dólares. Luxo Made in Germany construído em estaleiros navais tradicionais em Hamburgo e Bremen, na Alemanha. Já em 2014, após a anexação da Crimeia pela Rússia, foi questionado na imprensa alemã e europeia se a Europa democrática não estava aceitando estes questionáveis bilhões da Rússia de forma muito fácil. Houve vozes semelhantes após o envenenamento do crítico do Kremlin Alexei Navalny. Mas nada aconteceu.

Frear os novos-ricos ligados ao Kremlin

Há duas décadas, os novos-ricos russos vêm investindo fortemente em imóveis de luxo na Europa Ocidental, fazendo compras nas butiques mais caras de Paris, Milão ou Roma. Eles gostam particularmente de desfrutar de sua riqueza no Ocidente. Não em Norilsk ou no Okrug Autônomo de Chukchi, no interior da Rússia, onde metais preciosos, petróleo e gás são extraídos em seu nome sob as condições mais adversas pelos humildes russos.

Os novos-ricos russos enviam seus filhos para escolas de elite pecaminosamente caras no Ocidente, inclusive na Alemanha. E ainda assim desprezam o ideal europeu de uma sociedade livre e democrática. Em vez disso, eles apoiam o regime cleptocrático de um ditador que está se tornando cada vez mais agressivo em seus desejos revisionistas.

O fato de não haver acesso às matérias-primas da Rússia quando não se é leal ao Kremlin deveria ter se tornado claro para todos pelo menos desde a prisão e expropriação do antigo magnata do petróleo Michail Chodorkowski, há quase 20 anos. A lealdade absoluta é recompensada com licenças de extração, grandes contratos estatais e subsídios. Na privatização das grandes indústrias e na distribuição dos cargos mais importantes − em parte apenas formalmente − nas estatais de matérias-primas ninguém da oligarquia mais dedicada de Putin foi deixado de fora.

Sanções por si só não são suficientes

Eles arrecadam bilhões de dólares e são decorados com medalhas por isso. E eles apoiam toda anexação do governante do Kremlin, aceitam todo assassinato ordenado pelo regime, todo envenenamento traiçoeiro dos críticos do regime. E agora também a sangrenta guerra contra a Ucrânia, a primeira nesta escala na Europa desde Adolf Hitler. O sangue dos ucranianos está agora também em suas mãos. O dinheiro deles é dinheiro sangrento. Mas poucos deles até agora estão na lista de sanções da União Europeia.

Mas, mesmo que constem da lista de sanções, as medidas correspondentes serão difíceis de serem aplicadas. Mesmo as contra Vladimir Putin, que também foi sancionado pessoalmente. Os cleptocratas russos, os aproveitadores cínicos do regime e provavelmente também o próprio ditador aperfeiçoaram a arte da ocultação durante as décadas no poder.

Ambições absolutistas como Luís 14

O "Palácio de Putin" na cidade de Gelendzhik, no sul da Rússia, revelado pelo crítico do regime, agora preso, Alexei Navalny, mostra uma reivindicação absolutista como a do Rei Sol, Luis 14. Mas, no papel, o prédio não pertence nem ao próprio monarca nem ao Estado, mas a empresas discretas de cujas contas bilhões fluem para o magnífico edifício. E também de forma indireta: de contas pertencentes a uma rede de empresas de propriedade de pessoas que devem sua riqueza somente ao governante no Kremlin.

Os bilhões de dólares em ativos da empresa de um violoncelista discreto e amigo de infância de Putin, Sergei Roldugin, revelados pelo Panama Papers, são outro excelente exemplo da arte russa de ocultação. Seja o próprio ditador, seus amigos de infância ou os oligarcas, todos eles conseguem permanecer absolutamente anônimos com a ajuda de empresas de fachada e testas de ferro. Que, se necessário, também contornam sanções.

Chega de luxo oligárquico na Europa Ocidental

Em resposta à guerra de Putin contra a Ucrânia, mas também para proteger a democracia na Alemanha e no continente, a Europa deve finalmente renunciar ao doce veneno do volumoso dinheiro dos bilionários leais ao Kremlin. Todos eles, sem exceção, pertencem à lista de sanções da UE.  E mais: a fim de identificar dinheiro russo questionável de todos os capangas do governante do Kremlin, a Unidade de Inteligência Financeira na Alemanha, que tem sido negligenciada até agora, deve ser reforçada.

Além de todas as medidas políticas, é crucial que não apenas Putin, mas também seus oligarcas, sejam banidos no Ocidente, sem exceção. Já a decência exige que nos abstenhamos de fazer negócios que permitam aos cúmplices de um ditador sangrento viver a vida de forma agradável. Um começo seria deixar de manter ou reparar os iates de luxo dos russos construídos na Alemanha. Semelhante ao que já aconteceu na aviação civil com as últimas sanções. Se punimos os passageiros aéreos da Rússia desta forma, por que poupamos os paus-mandados de Putin?

*O jornalista Eugen Theise é natural de Kiev e faz parte da redação em ucraniano da DW.

Deutsche Welle

O que deu errado para Putin até agora




A ameaça nuclear do presidente russo mostra o quanto vai mal sua invasão da Ucrânia. 

A invasão russa à Ucrânia não vai conforme o planejado. Em Kharkiv, a segunda maior cidade do país, as defesas ucranianas parecem ter repelido um grande ataque. No sul, as forças de Vladimir Putin tomaram território – em parte, porém, por evitar as cidades ucranianas. Na própria capital, o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, mostrou um semblante desafiador. Em contraste ao nazista viciado em drogas que Putin descreve em seus discursos, Zelenski assumiu seu lugar como líder do país, imbuído de coragem e patriotismo.

A guerra ainda está em sua primeira semana. O presidente russo pode convocar mais forças que poderia usar para cercar cidades ucranianas, incluindo Kiev, sob o terrível custo de vidas de civis e soldados de ambos os lados. Ainda se trata de uma guerra que Putin pode muito bem ganhar, na qual ele poderia impor um governo fantoche em Kiev ou Kharkiv, a capital original da Ucrânia soviética.

Ainda assim, num senso mais amplo, no momento em que Putin for obrigado a travar uma guerra de desgaste, ele já terá perdido. O espírito patriótico forjado na Ucrânia decorrente de Putin ter mirado contra as cidades e seus habitantes já garante que nenhum presidente que governe em seu nome seja considerado legítimo. E, domesticamente, ele poderá presidir uma sociedade sufocada por sanções e oprimida por seu regime repressivo.

Fissuras

Parece ainda mais evidente que a elite russa ficou estarrecida – e empobrecida – com a aventura paranoica de Putin. Quanto pior forem seus planos na Ucrânia, mais cedo começarão a aparecer fissuras em seu regime e mais russos tomarão as ruas em protesto. Se Putin quiser se manter no Kremlin, ele poderá ser obrigado a impor terror num nível que a Rússia não vê há décadas.

O primeiro erro de Putin foi subestimar o inimigo. Talvez ele acreditasse em sua própria propaganda: que a Ucrânia não é um país de verdade, mas uma nação falsa, erigida pela CIA e controlada por bandidos que são abominados pelo povo que governam. Se ele esperava que a Ucrânia entrasse em colapso na primeira mostra de força russa, não podia estar mais errado.

O segundo erro de Putin foi comandar mal suas próprias Forças Armadas. Sua Aeronáutica até agora não foi capaz de dominar os céus. Ele trabalhou para tranquilizar seu povo, afirmando que a Rússia não trava uma guerra, mas realiza, em vez disso, uma operação de “desnazificação”.

Os soldados, incertos sobre o que deveriam estar fazendo, chegaram à Ucrânia esperando ser recebidos como libertadores. Se ele ordenar aos seus militares que matem seus irmãos ucranianos em grandes números, eles poderão não obedecê-lo. Se muitos de seus soldados morrerem na tentativa de esmagar cidades ucranianas, como é provável, ele não conseguirá encobrir isso domesticamente.

E seu terceiro erro foi subestimar o Ocidente. Outra vez, talvez Putin acreditasse que o Ocidente estivesse decadente e autocentrado demais para conseguir organizar uma resposta. Como um ditador que pode achar difícil entender que a confiança das pessoas na democracia é genuína, ele quase certamente foi surpreendido pelo afloramento do apoio popular à Ucrânia – apoio que fez londrinos se levantarem em honra ao hino nacional ucraniano e iluminou o Portão de Brandemburgo, em Berlim, com o azul e o dourado da bandeira ucraniana.

Reação

Inspirados pela coragem ucraniana e instados por seus próprios cidadãos, governos ocidentais finalmente encontraram determinação para reagir. Corretamente, eles evitaram uma ação militar direta contra a Rússia, como impor uma zona de exclusão aérea. Em vez disso, em sua terceira tentativa, no sábado, eles concordaram em sanções genuinamente poderosas, contra o Banco Central da Rússia e seu sistema financeiro. Isso deverá bloquear acesso às reservas do país e minar seus bancos.

No dia seguinte, essas sanções foram afrontadas com uma furiosa resposta russa. Putin, após consultar seus comandantes militares, colocou as forças nucleares de seu país em alerta máximo. Ele equiparou sanções econômicas a guerra nuclear.

Isso não é apenas moralmente errado, mas também levanta o prospecto de uma escalada catastrófica. Isso não torna o uso de sanções pelo Ocidente um erro. A beligerância de Putin é evidência do quão perigoso ele é. Recuar com medo do que ele poderia fazer apenas convida o próximo exagero.

Em vez disso, o alerta da Rússia deve ser respondido com uma declaração clara no Conselho de Segurança da ONU e de todas as potências nucleares, incluindo China e Índia, de que ameaçar com armas nucleares é inaceitável. No mesmo momento, altos comandantes militares americanos devem manter contato próximo com seus homólogos russos, para alertá-los de que eles serão responsabilizados individualmente por suas ações. O mundo não pode permitir que Putin erre o cálculo novamente.

The Economist / O Estado de São Paulo

Putin: uma visão antiga da história e da missão divina da Nação.




Putin vê-se como o ansiado líder da Rússia pós-soviética. Enquanto nos deslumbramos com a nossa própria modernidade, Putin revive uma visão antiga da história e da missão divina da Nação. 

Por João Pinheiro da Silva e Scott Nelson   

Vladimir Putin emergiu do anonimato público, nos meados dos anos 90, como um reformista democrático que finalmente modelaria a Rússia de acordo com as formas ocidentais de governo e transferência do poder. Como John Lloyd nos lembra, mesmo antes de assumir o cargo, “os primeiros e modestos discursos de Putin foram projetados para receber aplausos ocidentais. Ele sugeriu que a Rússia se poderia juntar à NATO” e “apoiou as liberdades de imprensa e de expressão”. O apogeu dessa postura reformista e democrática ocorreu no seu discurso de posse, em maio de 2000, no qual comemorou o facto de a “Rússia se estar a tornar um estado democrático moderno” e que “pela primeira vez na história de nosso país … o poder supremo … foi passado da forma mais democrática, mais simples, pela vontade do povo, legal e pacificamente”, atestando a força do recém-nascido “sistema constitucional”.

Segundo Putin, a sua eleição era o testemunho vivo de uma nova Rússia, animada por princípios democráticos e liberais. Ainda que reconhecendo que a “construção de um Estado democrático está longe de ser concluída”, o presidente recém-eleito concluiu o seu discurso num tom esperançoso: “… muito já foi feito. Devemos valorizar as conquistas, preservar e desenvolver a democracia, para garantir que o poder eleito pelo povo trabalhe em prol dos seus interesses, defendendo o cidadão russo em todo o nosso país e no exterior, para servir ao interesse público”.

Vinte e dois anos depois, sabemos que tudo era uma fachada – uma fachada, contudo, complexa e cheia de nuances. Em dezembro de 2002, o então secretário-geral da NATO, Lord Robertson, proferiu um discurso em que defendeu “Uma Nova Revolução Russa: a Parceria com a NATO”, segundo o qual “a parceria entre a NATO e a Rússia marca o fim de um século sombrio na história da Europa”. O tom esperançoso e confiante do discurso – que reverbera a bom som o “fim da história” de Fukuyama – é um dos primeiros exemplos da total ingenuidade do Ocidente em relação à Rússia de Putin.

Assim como as cenas iniciais de um filme nos costumam dar a chave para entender toda a trama, os primeiros movimentos de Putin também foram premonições do que estava por vir: um complexo jogo – ou guerra – de desinformação. Já em 2005, Putin afirmava que o colapso do império soviético era “a maior catástrofe geopolítica do século”. E, mais recentemente, o seu boicote à organização Memorial – dedicada a preservar a memória das milhões de vítimas dos crimes soviéticos – demonstrou que a máscara democrática já foi há muito descartada.

A investida na Ucrânia é apenas o mais recente desenvolvimento de uma estratégia que Putin tem exercido desde que assumiu a presidência – uma estratégia que está imersa numa visão muito específica de mundo e da história; e que passa completamente despercebida se continuarmos a olhar apenas para a superfície das suas ações.

No seu livro de 2018, O Caminho para o Fim da Liberdade, o historiador americano Timothy Snyder argumenta que a Rússia de Putin é um exemplo perfeito da “política da eternidade”. De acordo com Snyder, “a eternidade coloca uma nação no centro de uma história cíclica de vitimização. O tempo não é mais uma linha reta para o futuro, mas um ciclo que revive incessantemente as ameaças do passado […] Os políticos da eternidade partilham a convicção de que o Estado não pode ajudar a sociedade como um todo, apenas tomar precauções contra ameaças prementes. O progresso dá lugar à condenação.”

Segundo Snyder, o cérebro por trás da “política da eternidade” de Putin é Ivan Ilyin, um filósofo russo relativamente desconhecido e decerto enigmático, cujo legado havia sido, até recentemente, completamente soterrado pelo Estado soviético. Isto porque a filosofia de Ilyin foi profundamente moldada pela Revolução Bolchevique, mais especificamente, como uma resposta contrarrevolucionária aos acontecimentos de 1917. Ilyin tornou-se “um defensor de métodos violentos contra a revolução e, com o tempo, o autor de um fascismo cristão destinado a superar o bolchevismo”. Já exilado em Berlim, “Ilyin formulou os seus escritos como uma orientação para os líderes russos que chegariam ao poder após o fim da União Soviética”. E assim aconteceu.

A filosofia de Ilyin trata a Rússia como um organismo vivo cuja “força da sua alma [vem] de Deus”. Munido de uma visão providencial – e apocalíptica – da história, Ilyin argumenta que os russos mantêm uma inocência que “não é observável aos olhos do mundo”. Por outras palavras, a Rússia de Ilyin nada mais é que a Cidade de Deus entre as cidades dos homens.

Essa sua visão organicista de nação e da sua história concretiza-se num anti-individualismo austero e inflexível. Nas palavras de Aleksandr Dugin – uma espécie de guru de Putin cujo pensamento foi também profundamente influenciado por Ilyin – “no cristianismo ortodoxo russo, uma pessoa é parte da Igreja, parte de um organismo coletivo, assim como uma perna. Então, como pode uma pessoa ser responsável por si mesma? Pode uma perna ser responsável por si mesma? É aqui que se origina a ideia de estado, o estado total… o Estado é tudo e um indivíduo não é nada.”

Seguindo a filosofia traçada por Ilyin, a nação russa deve manter a sua incorruptibilidade virginal, o seu corpo deve permanecer intacto. Como lembra Snyder, “Ilyin escreveu acerca dos “ucranianos” sempre entre aspas, pois negou a sua existência separada do organismo russo. Falar de uma Ucrânia independente correspondia a ser um inimigo mortal da Rússia. Ilyin deu como certo que uma Rússia pós-soviética incluiria a Ucrânia.”

Mais do que isso, a Rússia pós-soviética de Ilyin deveria ser guiada por um spasitelnii, uma figura redentora cujo caráter político-religioso deveria mesclar uma força de vontade intransigente com a capacidade de “derramar o sangue de terceiros para tomar o poder”. E isso explica a forma como Putin se vê: ele é o spasitelnii de Ilyin, o ansiado líder da Rússia pós-soviética.

A influência da filosofia de Ilyin em Putin é inegável: em 2005, o presidente russo exigiu que o corpo de Ilyin fosse trazido da Suíça para Moscovo; Ilyin é frequentemente citado por Alexander Dugin e outras figuras proeminentes no Kremlin; no “início de 2014, o Kremlin ofereceu aos membros do partido de Putin e a todos os funcionários públicos da Rússia uma coleção das publicações políticas de Ilyin”; e, em 2017, “a televisão russa comemorou o centésimo aniversário da Revolução Bolchevique com um filme que apresentava Ilyin como uma autoridade moral”.

Uma vez que entendemos a influência profunda de Ilyin na atual administração do Kremlin, fica mais clara a importância da Ucrânia para o projeto político de Putin. Afinal de contas, o organismo russo não pode contemplar a falta de uma das suas partes vitais.

Quando Lionel Barber, então editor do Financial Times, se encontrou com Putin em 2019, observou que “uma imponente estátua de bronze de um czar paira sobre a mesa de cerimónias do gabinete presidencial”. Esta nada mais é que uma estátua de Pedro, o Grande, a forma arquetípica do spasitelnii de Ilyin, o principal responsável pela expansão territorial do Império Russo. Em vez dos usuais retratos presidenciais, Putin decidiu forrar o Kremlin com referências ao czar do século XVIII. Estamos, mais uma vez, perante a “política da eternidade”.

Enquanto nos deslumbramos com a nossa própria modernidade, Putin revive uma visão antiga – quiçá arcaica – da história, que tem raízes numa visão muito específica de Nação e da sua missão divina. Isso é perfeitamente exemplificado no ensaio de 5000 palavras que o próprio presidente Putin – reza a história – publicou há alguns meses no site do Kremlin intitulado Sobre a Unidade Histórica dos Russos e dos Ucranianos. A influência de Ilyin é inquestionável.

De acordo com Putin, russos, ucranianos e bielorrussos são, na verdade, um mesmo povo, os “descendentes da antiga Rus’”. Sendo assim, a ideia do “povo ucraniano como uma nação separada dos russos”, segundo Putin, “não tem base histórica”. Ben Wallace, o atual secretário de defesa britânico, respondeu com um ensaio no qual argumenta que, na verdade, as alegações de Putin é que não têm base histórica real: “ao longo da sua história, a Ucrânia esteve separada da Rússia muito mais tempo do que alguma vez esteve unida”; e “os povos da Bielorrússia, Rússia e Ucrânia […] partilham, na melhor das hipóteses, descendência, jamais a mesma identidade”. No entanto, pouco importa o quão ponderado ou correto esteja Wallace. O ensaio de Putin não está realmente interessado em minúcias históricas ou na exatidão de sua tese: é uma narrativa, o mito fundador que lhe justifica as suas ações na Ucrânia. Os argumentos académicos desmoronam-se diante da dialética do poder.

No que concerne às relações Russas com a Ucrânia, estamos longe do reino dos factos. A análise que Snyder faz da influência de Ilyin é muito esclarecedora, mas não conta a história toda. Ilyin era um exilado soviético, enquanto Putin é, de certo modo, um nostálgico soviético. Afinal de contas, Putin considera a queda do Império Soviético “a maior catástrofe geopolítica do século”. Como Martim Vasques da Cunha nos lembra num importante ensaio, jamais podemos esquecer que Putin é um ex-KGB: as táticas de desinformação e as técnicas de guerra assimétrica que caracterizavam a inteligência soviética jamais o abandonaram.

Os recentes acontecimentos na Ucrânia são um exemplo perfeito dessa síntese macabra da filosofia de Ilyin com a desinformação soviética. Enquanto Ilyin forneceu a teoria, foi na KGB que Putin aprendeu a colocá-la em prática. Desde o princípio, as relações entre a Rússia e a recém-independente Ucrânia foram marcadas por desinformação e falsas promessas. Enquanto o Ocidente desejava que a Ucrânia aceitasse o sistema democrático e eventualmente se juntasse à UE – um processo que foi adiado reiteradamente desde a adição de dez novos membros em 2004 – os russos instigavam para que o seu candidato, Víktor Yanukóvytch, fosse eleito para a presidência ucraniana. A posição russa sempre foi caracterizada pela dissimulação e pela ameaça iminente. Enquanto permitiam que a Ucrânia se aproximasse dos padrões europeus quando se tratava de normas políticas e económicas, jamais lhes deram a mesma liberdade no que tocava ao envolvimento nas políticas de defesa do Ocidente.

Todas as concessões mascaravam a verdadeira intenção de Putin: dominar totalmente o país. Como o seu recente ensaio deixa claro, Putin vê, a par de Ilyin, a independência da Ucrânia como uma anomalia histórica insustentável.

Assim, quando em 2014, a Rússia invadiu e anexou a Crimeia, podíamos adivinhar o que estava por vir. No momento em que escrevo, a Rússia invadiu a Ucrânia. E, tal como em 2014, a história parece repetir-se, desta vez não só enquanto tragédia, mas também como farsa. David Patrikarakos, um jornalista que esteve presente na Ucrânia durante a invasão de 2014, narra uma situação arrepiantemente similar à atual: “Há quase oito anos atrás, sentei-me nos escritórios do governo de Kyev enquanto os políticos fumavam ininterruptamente e se perguntavam quando o tão prometido apoio do Ocidente viria. Agachei-me na neve com soldados que me perguntaram por que o Ocidente não podia simplesmente fornecer alguns sistemas de mísseis guiados antitanque para impedir que tantos de seus camaradas morressem em vão. Eventualmente, os mísseis chegaram, mas só depois de anos de dolorosa diplomacia, pressão internacional e o ex-presidente Barack Obama ter deixado a presidência. Quando Trump finalmente deu luz verde, centenas de ucranianos haviam morrido. O que tornou tudo isso pior foi que – em cada estágio da crise – os ucranianos foram levados a acreditar que a ajuda estava a chegar; que os EUA, a Alemanha ou a Grã-Bretanha finalmente concretizariam as suas ameaças…”.

Mas parece que a atenção ocidental não estava para aí virada. Nos idos de 2013, toda a preocupação do Ocidente em relação à Rússia foi direcionada para uma lei que proibia “propaganda gay para menores”. Na verdade, essa lei, aliada ao decreto de prisão do Pussy Riot, parece ter dado origem a um burburinho maior do que a própria tomada da Crimeia. E isso só foi possível porque Putin sabe perfeitamente como capturar a imaginação ocidental. Putin sabe que, enquanto habitamos o imediatismo dos tweets e gastamos a nossa atenção com o novo escândalo diário, pode continuar a alimentar a sua “política da eternidade”. Putin sabe que, enquanto invade um país, uma parte da intelligentsia ocidental se vai dedicar a denunciar “ilegalidades internacionais”. Putin sabe que enquanto age no mundo real, nos vamos continuar a aconchegar em abstrações ideológicas. Porque embora o Ocidente não entenda Putin, Putin entende o Ocidente.

Observador (PT)

Guerra na Ucrânia: invasão russa aumenta chance de China atacar Taiwan?




Quais as chances de a China buscar conquistar Taiwan de volta?

Por Edison Veiga, De Bled (Eslovênia) 

Pelo cenário atual, analistas ouvidos pela BBC Brasil avaliam que não, que na verdade as peças movimentadas por Vladimir Putin nesse tabuleiro de xadrez global tornam mais distantes o velho sonho chinês de "reanexar" ilha que se proclamou república independente em 1911 e se estabeleceu como uma democracia.

A possibilidade de invasão chinesa tem sido levantada nos últimos dias, principalmente pelo fato de que a China é aliada histórica de Putin. Mas será que esse arroubo bélico da Rússia contra a Ucrânia pode servir de exemplo para o governo chinês?

"O episódio da invasão da Ucrânia pela Rússia nos últimos dias suscita importantes reflexões acerca da possibilidade de que a China faça o mesmo com Taiwan num futuro próximo. Um dos principais objetivos internacionais da República Popular da China é retomar o controle da ilha de Formosa, Taiwan, que juntamente com Hong Kong e Macau, Pequim considera parte indissociável do seu território", comenta o jurista e cientista político Enrique Carlos Natalino, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG).

Em sua avaliação, o principal, porém, está nas relações internacionais.

"Embora a Rússia e China sejam potências mundiais, não estão isentas de elevados custos políticos e econômicos embutidos na agressão a territórios vizinhos. Nesse sentido, creio que as reações globais contra a Rússia, especialmente no estabelecimento de sanções no campo econômico, demonstram que os custos de uma possível invasão de Taiwan não seriam desprezíveis para a China e para o mundo", pondera Natalino.

Ele também ressalta que "a economia de Taiwan é muito maior do que a da Ucrânia" — cerca de cinco vezes maior, sendo Taiwan com PIB estimado em US$ 750 bilhões (metade do brasileiro) e a Ucrânia, em US$ 150 bilhões, segundo dados mais recentes do Banco Mundial e dos governos locais.

"O país possui ainda laços econômicos muito mais estreitos com o Ocidente, com a China e com o Japão. Embora a história do século 20 demonstre que os laços econômicos e o comércio internacional não sejam suficientes para evitar a ameaça de guerras, Taiwan possui um importante elemento dissuasório que a Ucrânia não possui: o seu imenso parque industrial e a sua inserção internacional como grande fornecedor de semicondutores, inclusive para a China", afirma ele.

Segundo Natalino, uma guerra entre China e Taiwan poderia levar à interrupção brusca desse comércio, com consequências inclusive para a economia chinesa, altamente dependente desses componentes para a sua indústria de alta tecnologia e para as suas exportações.

É o que jornalista Craig Addison chama de "escudo de silício" em seu livro "Escudo de Silício: A Proteção de Taiwan contra Ataque Chinês". Para ele, o preço do impacto da guerra na produção de chips semicondutores seria alto demais para a China a ponto de inviabilizar sua intenção de invadir Taiwan. Um elemento de dissuasão que ele compara ao conceito de MAD (destruição mútua assegurada) entre potências nucleares que teoricamente não se atacam porque se destruiriam.

Para Luís Fernando Baracho, professor direito internacional e de relações internacionais da Universidade São Judas Tadeu e um dos editores do blog Fora da Cadência — sobre política internacional — a crise bélica atual escancara duas situações que precisam ser consideradas na análise da situação chinesa.

"Primeiro, a relação de médio e longo prazo da parceria sino-russa. Outra questão é o retorno do compartilhamento de interesses, principalmente por parte de Washington, Londres e Bruxelas, com relação à Otan", aponta ele, citando como Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia novamente estão alinhados no fortalecimento da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

'A China é aliada histórica de Vladimir Putin'

No caso da parceria entre Rússia e China, Baracho ressalta que ela é calcada em "interesses desiguais", uma vez que enquanto a China "é maior e tem tecnologia para entregar", a Rússia "é um país com queda constante na população, em um território enorme" e "altamente dependente de commodities que desde 2013 está em processo de deterioração econômica".

E avançar sobre Taiwan teria um custo político muito grande para Pequim, avalia Baracho.

"Desde 1991, Pequim tem a seguinte posição: concordamos em discordar sobre o status da China ao todo como um país", comenta ele. "Mas Taiwan não é Macau, não é Hong Kong."

Ele ressalta que a ilha carrega uma importância econômica única por ser "um grande centro de produção de semicondutores", com "mais de 50% da produção do mundo".

"Isso é um insumo estratégico para cadeias globais de várias áreas", frisa. "Um ativo em termos de globalização econômica que interessa a todo o mundo."

E se as sanções impostas à Rússia já são enormes, a China pode esperar que algo ainda maior seria imposto a ela, avalia Baracho.

Otan fortalecida

Além disso, Baracho pontua que a atual guerra reavivou o papel da Otan, que nas últimas duas décadas estava em segundo plano na lógica política internacional.

Um ataque à Taiwan "elevaria o papel da Otan na região do Pacífico", o que "não interessaria para a China".

'Avançar sobre Taiwan teria um custo político muito grande para Pequim, segundo especialista'

"Japão, Austrália, talvez Nova Zelândia, além de Mongólia, Coreia do Sul e outros mais alinhados à Otan tomariam posições enfáticas com relação a Pequim", acredita.

Um cenário assim deixaria a China, hoje "altamente inserida na economia internacional", em uma "posição de muita debilidade", segundo o analista.

"A China hoje ganha muito participando do sistema econômico internacional. Ela teria muito a perder se buscasse um exercício exagerado de soberania nacional", diz Baracho.

"Acredito que a China teria a ganhar muito pouco diante do que poderia perder", resume ele.

Coordenador da pós-graduação em relações institucionais e governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília e ex-diretor da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), o cientista político Márcio Coimbra acredita que, apesar de todas as dificuldades inerentes a um processo desses, a China acompanha os desdobramentos da guerra russa pensando em sua situação com Taiwan.

"As forças internacionais podem estar focadas na questão da Ucrânia e a China aproveitar esse corredor de oportunidade", avalia ele.

"Mas é preciso estar ciente que a 'proteção' que os Estados Unidos dá a Taiwan torna essa possibilidade muito difícil, muito mais do que para a Rússia penetrar a Ucrânia."

Proteção internacional

Natalino também ressalta como primordial essa rede de proteção.

"Ao contrário da Ucrânia, que não possui laços formais militares com os países ocidentais, Taiwan é historicamente assistida pelos Estados Unidos na defesa do seu território. Embora Washington deixado de reconhecer diplomaticamente o governo de Taiwan, mantém relações econômicas intensas com o país", lembra ele.

O professor cita o Ato de Relações com Taiwan, uma lei de 1979, que estabeleceu o compromisso dos Estados Unidos de fornecimento de armamentos ao país, como aviões, navios, mísseis, baterias antiaéreas e tanques.

"Acredito que a China observa com atenção os acontecimentos na Ucrânia e a reação dos países ocidentais à Rússia diante do conflito", prossegue Natalino. 5

"Tanto a Rússia quanto a China são hoje governadas por regimes autocráticos que buscam rever o papel de seus respectivos países na ordem internacional no século 21."

"Essa atitude se desdobra em uma política externa revisionista que desafia o apoio militar das potências ocidentais a países do Leste Europeu e do Leste Asiático. Os dois países se mostram cada vez mais dispostos a afirmar sua hegemonia nas suas respetivas áreas de influência geopolítica", acrescenta ele.

"Enquanto Vladimir Putin tentar retomar a influência que a Rússia exercia sobre as ex-repúblicas soviéticas do Leste Europeu e do Cáucaso, Xi Jinping almeja consolidar a hegemonia chinesa na região da Ásia-Pacífico, com crescentes investimentos militares no Mar do Sul da China e uma retórica cada vez mais agressiva contra Taiwan."

Além disso, se Putin vem experimentando mais dificuldades do que vislumbrava, o governo chinês pode entender que, no mundo globalizado do século 21, travar uma guerra que pretende conquistar um território é mais complicado na prática.

"Se os russos tivessem vencido essa guerra em dois dias, certamente a China estaria pensando mais seriamente", diz Coimbra.

"Certa vez, na China, eles me disseram que enquanto nós ocidentais não conseguimos planejar os próximos 7 anos, eles têm os próximos 70 anos planejados. Isso significa que eles têm, sim, os planos de invasão a Taiwan muito bem desenhados, em vários cenários, e vão esperar a melhor oportunidade para fazer esse movimento", acredita o cientista político.

Há uma parceria entre os dois países, mas tal amizade, contudo, parece um pouco distante no atual conflito.

"O que se observa nesta crise da invasão da Ucrânia é que a China tem sido muito cautelosa em demonstrar o seu apoio à Rússia. Ao contrário da Rússia, que se mostra uma potência decadente e altamente vulnerável do ponto de vista econômico, a China vem galgando patamares muito mais elevados na cena internacional nas últimas décadas", explica Natalino.

Ele também reforça que "os custos de uma guerra que oponha" a China aos Estados Unidos, à Europa e ao Japão "podem ser muito maiores do que aqueles envolvidos na Ucrânia".

E isso poderia "mergulhar o mundo numa guerra de dimensões econômicas catastróficas".

"Enfim, as perdas econômicas russas na Guerra da Ucrânia, o desgaste político-diplomático, as baixas militares, as críticas aos ataques a alvos civis e enorme crise humanitária causada na Europa podem sinalizar para Pequim que uma invasão de Taiwan para a anexação à República Popular da China não seria um simples passeio de barco", vaticina Natalino.

Poderio militar chinês é muito superior ao de Taiwan

Seja pelas dificuldades maiores, seja porque uma reação internacional não seria conveniente para os interesses chineses, os discursos até agora procuram tirar qualquer indício de que a China estaria considerando "resolver" a questão taiwanesa.

Principal parceiro comercial da Rússia, a China vem, por meio de porta-vozes, repetindo nos últimos dias que não interfere e nem incentiva qualquer interferência em questões de outras nações. A China inclusive absteve-se do voto do Conselho de Segurança da ONU que condenaria, na semana passada, a invasão russa da Ucrânia — contrariando as previsões de alguns analistas, que imaginavam que Pequim se posicionaria de modo favorável a Moscou.

Outra pista veio do diplomata chinês Liu Xiamong, voz considerada forte dentro da cúpula do governo chinês. Ele postou em sua conta no Twitter que a China "nunca invadiu outros países", sinalizando que o compromisso de sua nação visa a um caminho de paz (mas de reunificação com Taiwan). Afinal, Taiwan é considerada pela China como uma província rebelde, que será totalmente reintegrada um dia à China, sob a perspectiva de Uma China.

Mas as dificuldades militares também seriam maiores, em um cenário hipotético de guerra. De acordo com dados da organização Stockholm International Peace Research Institute, enquanto a capacidade militar de Taiwan é próxima da capacidade militar da Ucrânia, o orçamento destinado às forças militares chinesas é maior do que o da Rússia.

A diferença do orçamento entre China e Taiwan é de 20 vezes, enquanto a distância entre Rússia e Ucrânia é de aproximadamente 10 vezes. A China só fica atrás dos EUA em gastos militares.

Segundo levantamento do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), a China tem um contingente de 965 mil combatentes do Exército e Taiwan, 163 mil. No caso da Força Aérea, a China conta com 395 mil homens e Taiwan, com 35 mil.

Na hipótese de um conflito aberto, uma análise do professor e pesquisador Michael Hunzeker, da George Mason University e do Centro de Estudos de Políticas de Segurança, aponta que Taiwan conseguiria no máximo retardar um ataque chinês, tentando prevenir um desembarque de forças anfíbias em sua costa e contra-atacando com guerrilhas enquanto aguarda uma eventual ajuda estrangeira (dos EUA, basicamente). A ilha de quase 24 milhões de habitantes fica localizada a cerca de 160 km do litoral chinês.

Mas pesa a favor de Taiwan a questão internacional. "Há um cordão de defesa marítimo, com aviação embarcada, com bases em Singapura, Filipinas, Japão, Austrália, Guam, entre outras", explica o analisa Baracho.

Desta forma, ao contrário do caso ucraniano em que a comunidade internacional no começo buscou sanções verbais e financeiras para só agora começar a enviar ajuda bélica, em um caso de guerra sino-taiwanesa é de se esperar uma ação imediata. 

BBC Brasil

Guerra na Ucrânia tira o fantasma da Terceira Guerra Mundial da aposentadoria


por Igor Gielow | Folhapress

Guerra na Ucrânia tira o fantasma da Terceira Guerra Mundial da aposentadoria
Foto: Reprodução Redes Sociais

O fantasma da Terceira Guerra Mundial, aquele conflito que fez Albert Einstein imaginar que a Quarta seria travada com paus e pedras, volta a assombrar o Ocidente 30 anos após aquele que parecia seu exorcismo final.
 

Tudo cortesia do embate subjacente à guerra que se desenrola na Ucrânia: a disputa entre Moscou e o conglomerado Estados Unidos/Otan, centrada no desenho das fronteiras de segurança do Leste Europeu. O Kremlin vê a expansão a leste de estruturas ocidentais como inaceitável.
 

Nesta terça (1º), o ministro da Defesa russo, Serguei Choigu, colocou em termos claros acerca do que é o "casus belli" do ataque à Ucrânia. "A principal coisa para nós é proteger a Rússia da ameaça militar dos países ocidentais, que estão usando o povo ucraniano na luta contra o nosso país", afirmou à agência RIA-Novosti.
 

Os coitados que de fato sofrem com a insegurança do Donbass, as supostas "armas nucleares que Kiev quer" e outros temas ficaram de lado.
 

Putin é um manipulador eficaz. No dia da declaração da guerra, quinta passada (24), ele sugeriu que usaria armas nucleares se o Ocidente se metesse em sua operação. No domingo, ante uma saraivada de sanções, decretou alerta máximo das forças estratégicas russas que havia exibido num exercício uma semana antes.
 

A lógica diz que ele está apenas ganhando manchetes, por assim dizer, enquanto apanha por todos os lados. E que fala grosso para seu próprio público, além de riscar no chão um limite se for em frente no recrudescimento dos ataques ao vizinho.
 

Com efeito, não faltam analistas especulando despreocupadamente se ele usaria na Ucrânia uma bomba atômica tática, de baixa potência (ou seja, igual à de Hiroshima ou à de Nagasaki). Lógica não tem sido boa conselheira nessa crise, mas isso parece demais.
 

Seja como for, o tema da Terceira Guerra Mundial passou a frequentar todas as entrevistas coletivas de autoridades do outro lado com uma desassombrada naturalidade.
 

Qualquer um que tenha crescido entre os anos 1950 e 1980 sabe o que é viver com a ideia da aniquilação nuclear, mesmo que o risco fosse exagerado muitas vezes em favor do embate ideológico. Mesmo a crise dos mísseis de Cuba (1962) poderia resultar na obliteração dos soviéticos, mas não dos americanos, muito mais fortes à época, por exemplo.
 

Desde o desmantelamento da União Soviética, em 1991, o fantasma contudo tirou férias. As bombas, não, ainda que o arsenal nuclear mundial tenha caído de 70 mil ogivas para cerca de 13 mil, 90% nas mãos de Moscou e de Washington. Diferentemente de líderes do Ocidente, contudo, Putin fala sobre o espectro sem nenhum pudor.
 

É o que tem a fazer, para garantir que a ajuda militar da Otan não se torne mais do que imagens de comboios com munição, para desespero da Ucrânia.
 

O país, aliás, tem pedido insistentemente a intervenção direta da aliança militar ocidental no conflito. Tem recebidos os devidos nãos, justamente pelo temor de uma confrontação imprevisível com a Rússia. Na segunda (28), requisitou a implantação de uma zona de exclusão aérea sobre o país.
 

Além da admissão clara de perda de controle sobre os céus sobre seu país, o governo de Volodimir Zelenski ainda jogou ele mesmo com a carta da escalada inevitável. "Hoje é a Ucrânia, amanhã será a Otan", disse o chanceler Dmitro Kuleba.
 

Por ora, ajuda militar será isso, ajuda, e restrita. Mesmo a promessa europeia de enviar caças para Kiev parece algo delirante, exceto que pilotos poloneses decolem para fazer entrega in loco de modelos MiG-29 que ucranianos operam —e arrisquem a Terceira Guerra.
 

Numa cena correlata na Estônia, o secretário-geral da Otan e o premiê britânico estiveram na base militar multinacional comandada por forças de Londres na pequena ex-república soviética, cuja entrada na Otan com suas irmãs bálticas Lituânia e Letônia em 2004 é o maior calo geopolítico de Putin, então um jovem presidente em primeiro mandato ensaiando boas relações com o Ocidente.
 

Um tanque Challenger 2 britânico e blindados de combate CV90 estonianos enfeitavam a cena, mas as autoridades ficaram nos floreios acerca da resistência ucraniana e em como a Otan irá se defender sempre e unida. Questões sobre ações contra a Rússia eram respondidas com evasivas usuais: a aliança é defensiva, não queremos brigar com o russos.
 

Coube à anfitriã, a primeira-ministra Kaja Kallas, tratar de realismo. "Ainda que a Ucrânia perca temporariamente o controle sobre suas cidades, isso será algo difícil de manter [para Putin]", afirmou.
 

Mas há provocações outras no ar. Sempre um ente à parte na estrutura da Otan, a autossuficiente França tem adotado uma retórica mais dura, com seu ministro das finanças falando que irá "destruir a economia russa" e lutar "uma guerra econômica total" contra Moscou.
 

Foi admoestado pelo ex-queridinho Dmitri Medvedev, que encantava americanos com seu jeitão de liberal quando fingiu ser presidente sob o premiê Putin de 2008 a 2012, e que hoje está encostado como número 2 do Conselho de Segurança do país. "Meçam as palavras, senhores! E não esqueçam que, na história humana, guerras econômicas costumam virar reais", postou no Twitter.
 

Se o fantasma dava sinais de vida nas preliminares da guerra, fazendo as potências nucleares assinarem uma promessa de nunca atacarem com armas atômicas, agora ele está no "novo normal" de que Jens Soltenberg (Otan) fala dia sim, dia sim.


Bahia Notícias

Em destaque

Líderes europeus sobem tom e se unem contra interferências de ‘reacionário’ Elon Musk

  Foto: Reprodução/Instagram O bilionário Elon Musk 06 de janeiro de 2025 | 19:15 Líderes europeus sobem tom e se unem contra interferências...

Mais visitadas