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terça-feira, março 01, 2022

Guerra na Ucrânia: 'Este é o maior desafio para a Europa desde a 2ª Guerra Mundial', diz historiador




Timothy Snyder é professor de história na Universidade de Yale, nos EUA, e autor de livros sobre a Rússia, Ucrânia e Segunda Guerra Mundial

Por Gerardo Lissardy

Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, surgiram questões inevitáveis: o que isso significa para a Europa? Quais são as intenções do presidente russo, Vladimir Putin? Existe o risco de uma terceira guerra mundial?

"É um momento semelhante a 1938 ou 1939", adverte o renomado historiador americano Timothy Snyder, especializado em Europa Central e Oriental, em entrevista à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, na qual respondeu a estas e outras perguntas.

A seguir, um resumo da conversa por telefone com Snyder, professor de história da Universidade de Yale, nos EUA, e autor de livros sobre a Rússia, Ucrânia e Segunda Guerra Mundial, como Terras de Sangue - A Europa Entre Hitler e Stalin.

BBC News Mundo - Como você definiria este momento para a Europa em termos históricos?

Timothy Snyder - É um momento semelhante a 1938 ou 1939. É um momento de ser ou não ser. Você tem ou não tem um sistema? Você tem regras ou não tem regras? Tudo é possível ou nem tudo é possível?

A forma como os europeus pensaram em si mesmos foi em oposição à Segunda Guerra Mundial. Acho que, de certa forma, isso acabou.

'Os europeus, se quiserem cooperar e ter algum tipo de sistema bem-sucedido, creio que pensarão neste momento nas próximas décadas'.

BBC News Mundo - Você concorda com a ideia de que esta é a "hora mais sombria da Europa" desde a Segunda Guerra Mundial, como disse o primeiro-ministro da Bélgica?

Snyder - Certamente há muitas coisas terríveis que aconteceram a muitos povos da Europa desde 1945. E muitas destas coisas terríveis aconteceram dentro da União Soviética: deportações em massa para o Gulag, por exemplo, ou deportações de grupos nacionais inteiros. Todas estas coisas aconteceram na União Soviética após a Segunda Guerra Mundial.

E, claro, a invasão da Hungria em 1956, e a invasão da Tchecoslováquia em 1968, também pela União Soviética, são bastante sombrias. Quero lembrar que tudo isso também é Europa.

Dito isto, acredito que este é o maior desafio para a Europa como um todo desde a Segunda Guerra Mundial.

BBC News Mundo - Por quê?

Snyder - Primeiro, não houve uma tentativa tão cínica de abusar da linguagem da ética europeia e do passado europeu, acho que nunca.

A noção de invadir um país com um presidente judeu democraticamente eleito e chamar de "desnazificação" é um ataque direto à maneira como tentamos usar o passado para guiar nossa ética política.

'O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou na semana passada a invasão da Ucrânia'

E sabemos que a Rússia, sob a atual liderança de Putin, não visa apenas a Ucrânia. Sabemos que a Ucrânia é o seu ponto mais sensível, mas que tem precisamente em mente minar a democracia e o Estado de direito por todos os lados.

BBC News Mundo - Neste sentido, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, falou de "uma disputa entre democracia e autocracia". Você concorda?

Snyder - Acho que é uma maneira muito boa de colocar isso, especificamente porque a preocupação declarada e explícita de Putin é derrubar um governo democraticamente eleito e instalar um governo autoritário sob seu domínio.

Biden disse de forma diferente, Putin disse do ângulo oposto.

BBC News Mundo - Então, este conflito poderia definir novas linhas para a democracia na Europa?

Snyder - Acho que sim, de uma forma positiva.

Os ucranianos são os únicos que morreram pela Europa no sentido da União Europeia: isso aconteceu em 2014, as únicas pessoas que morreram carregando a bandeira da União Europeia, durante os protestos de Maidan na Ucrânia.

Agora ucranianos, soldados e civis, estão morrendo em uma guerra que visa diretamente a Europa.

O peso moral disso é algo que espero que outras pessoas apreciem e assimilem com o tempo.

Também gostaria de pensar que este momento em que algumas velhas divergências entre países ocidentais e mesmo dentro de países foram superadas, pelo menos temporariamente, é um momento que as pessoas lembrarão como um momento de cooperação e solidariedade.

Um momento em que lembramos o valor da democracia em si, que é melhor viver em um país livre e que países livres podem realmente perceber o quão importante é viver em um país livre e fazer algo a respeito.

Acho que é uma maneira justa de caracterizar a cooperação das democracias ocidentais atualmente.

BBC News Mundo - Muitos se perguntam sobre as motivações de Putin. A história oferece alguma pista para responder?

Snyder - O problema é que quanto mais próximo você chegar de um regime tirânico perfeito, mais imprevisível ele será, já que depende mais de uma única pessoa. Platão escreve sobre isso em A República e também foi tema de Shakespeare.

Aqui temos um homem que envelhece agarrado ao poder e que está isolado há dois anos devido à covid. E olhando para seus escritos, parece que ele está muito menos preocupado com os interesses russos, estratégia ou algo assim, e muito mais interessado em sua reputação histórica, em que tipo de marca ele deixará e em ser lembrado como um grande líder russo.

Esses tipos de considerações são essencialmente imponderáveis ​​para o resto de nós.

BBC News Mundo - Você diria, como Biden, que Putin quer "restabelecer a antiga União Soviética"?

Snyder - Acho que todas estas comparações são verdadeiras e falsas.

O que acontece com Putin é que ele meio que mistura os momentos do passado, ele pega o que gosta do período medieval, do Império Russo e da União Soviética, junta tudo e chama de Rússia.

'Biden questionou fortemente a invasão russa, mas deixou claro que não enviará tropas americanas para a Ucrânia'

Acho que ele gostaria de controlar o mesmo território que a União Soviética controlava. Mas ele também gostaria de imaginar que é o chefe de um império. E, ao mesmo tempo, ele gostaria de imaginar que a Rússia que ele governa remonta a 1.000 anos, o que, claro, é muita tolice.

Portanto, não discordo do que o presidente Biden disse. Só não acho que a mente de Putin esteja limitada apenas à União Soviética. Acho que também tem outros tipos de fantasias e modelos históricos.

BBC News Mundo - Você vê o Ocidente reagindo suficientemente unido, dadas as circunstâncias?

Snyder - Acho que, independentemente do que façamos, temos que pensar primeiro nos ucranianos. Independentemente das sanções que anunciamos, devemos também anunciar o que estamos fazendo pelos ucranianos: os refugiados, os deslocados internamente, o Estado ucraniano, seu Exército.

Acho impressionante como o Ocidente tem sido unido. Se temos uma fraqueza é que tendemos a focar a conversa apenas no que estamos fazendo sobre o regime de Putin e não pensamos de forma criativa o suficiente nas maneiras pelas quais poderíamos ajudar os ucranianos.

Porque agora eles estão sofrendo, mas também é muito importante como eles vão se lembrar disso.

BBC News Mundo - O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que eles estão "sozinhos" e que "as forças mais poderosas do mundo estão observando de longe". Como você vê isso?

Snyder - Em primeiro lugar, quero destacar a coragem pessoal de Volodymyr Zelensky.

Na minha opinião, ele pode dizer o que quiser sobre os líderes distantes, porque ele está bem ali em Kiev e sabe que é o alvo desta guerra. É muito possível que ele seja capturado e morto. E ainda está lá. Então ganhou o direito de fazer essas críticas.

'O governo de Zelensky está na mira de Moscou'

Acho que o que ele diz é natural. Sempre que você se encontrar nesta situação, você vai se sentir sozinho. Se você é um país pequeno invadido por um país grande, se você é um país com um exército pequeno invadido por um país com um exército enorme e não tem aliados militares vindo para ajudá-lo, é claro que você se sentirá sozinho. Acho que isso é normal.

BBC News Mundo - Você já respondeu à forma como Putin justificou suas ações dizendo que é necessário "desnazificar" a Ucrânia. Mas ele também negou a condição de Estado da Ucrânia e alegou que os residentes de língua russa na região de Donbas, no leste da Ucrânia, estão sendo submetidos ao genocídio, sem fornecer nenhuma evidência disso. Como você interpreta estas palavras, que também lembram a retórica da Segunda Guerra Mundial?

Snyder - Estes são os temas de 1938 e 1939.

Quando nos lembramos de Hitler, tendemos a recordar a própria guerra e o Holocausto, que é muito importante. E Putin profanou esse vocabulário.

Mas em 1938 e 1939, na também muito importante preparação para a guerra, Hitler deu o seguinte argumento: um estado democrático vizinho é uma criação artificial, não tem o direito de existir. A mesma coisa que Putin diz sobre a Ucrânia, Hitler disse sobre a Tchecoslováquia.

Hitler usou o argumento, novamente totalmente fictício, de que seus compatriotas no exterior estavam sofrendo terrivelmente e precisavam ser resgatados. De maneira muito semelhante, Putin fala de sofrimentos fictícios de russófonos em Donbas.

Ambos fazem um gesto falso em direção à diplomacia e depois invadem.

Então é surpreendente como o padrão se repete, a ponto de quase parecer plágio.

BBC News Mundo - Muito antes desta crise, Putin disse que a Rússia e a Ucrânia são "um só povo". Existe alguma verdade nisso em termos históricos?

Snyder - Posso falar da história, mas o principal é perguntar aos ucranianos. Pesquisas foram feitas, e a grande maioria dos ucranianos diz que a Ucrânia é uma nação separada da Rússia.

O mais importante é o que o próprio povo pensa. Porque mesmo que Putin tenha uma interpretação histórica terrível e eu tenha uma decente, nem sequer isso é mais importante do que o que o povo pensa de si mesmo.

'Nos últimos anos, houve um aumento da população crítica à Rússia na Ucrânia'

Como historiador, posso dizer que as nações são formadas de forma complexa, conectadas com outras nações, isso é normal. O surgimento da nação austríaca, belga ou até mesmo italiana é complicado, assim como a história das nações escandinavas, todas ligadas entre si, mas que, por fim, resultaram em sociedades diferentes.

A Ucrânia e a Rússia estão conectadas, assim como a Ucrânia e a Polônia, ou a Ucrânia e a Lituânia e Belarus estão conectadas historicamente.

Há todos os tipos de vínculos desde a Idade Média até o presente, mas também todos os tipos de diferenças entre a Ucrânia e a Rússia.

Territorialmente, a Rússia é um país enorme, majoritariamente asiático, algo que a Ucrânia não é. A Ucrânia teve uma conexão com todas as grandes tendências europeias, como o Renascimento e a Reforma, algo que a Rússia não teve.

No século 17, já se falava de uma espécie de nação ucraniana, coisa que não aconteceu na Rússia. Houve um movimento nacional ucraniano no século 19; e não houve nada semelhante na Rússia.

Mas o mais importante é como o povo imagina seu futuro. Uma nação parece se tratar do passado, mas na verdade é sobre o futuro: como um coletivo de pessoas vê o que farão juntas. E, neste sentido, está absolutamente claro que a Ucrânia é uma nação separada.

BBC News Mundo - Você vê aqui um risco de escalada até a beira de uma nova Guerra Mundial?

Snyder - Claro, quero dizer, historicamente falando, todos se sentem mais cômodos com a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria, mas isso parece um pouco mais com o início da Primeira Guerra Mundial. Pode-se pensar que a Rússia é como a Sérvia, fazendo uma apropriação de terras que afeta a ordem circundante. Ou você pode mudar a analogia e pensar que a Rússia é como a Áustria, e a China como a Alemanha, e que a Rússia está atraindo uma potência maior para um conflito mundial.

Acho que, portanto, existe um risco de escalada. Tem que haver esse risco: cada vez que uma grande guerra é iniciada no meio da Europa, se arrisca algo. E a responsabilidade desse risco recai sobre os ombros de um homem: Vladimir Putin.

Mas, ao mesmo tempo, fiquei impressionado com a maneira como os americanos foram tão moderados em sua resposta.

Acho que o governo Biden, de maneira única entre os presidentes americanos nos últimos 30 anos, reconheceu que podemos fazer algumas coisas, mas não podemos fazer tudo. E pensou de antemão sobre as coisas que não vai fazer porque são muito arriscadas.

Essa reflexão do governo Biden é algo que me faz sentir melhor sobre os riscos de escalada.

BBC News Mundo - Claro que uma grande diferença, sobretudo em relação à Primeira Guerra Mundial, são as armas nucleares, por isso o risco é ainda maior para todo o planeta, certo?

Snyder - Não quero minimizar as dezenas de milhões de mortes das duas guerras mundiais, mas é claro que isso é verdade.

Ao mesmo tempo, isso não significa que todos os países que possuem armas nucleares possam dizer aos demais o que fazer só por causa de suas armas nucleares. Esse tampouco seria um mundo tolerável.

BBC Brasil

Calote russo é “muito provável” se crise com Ucrânia piorar, diz grupo ligado a sistema bancário mundial




Metade das reservas estrangeiras da Rússia são mantidas em países que impuseram congelamentos de seus ativos

É muito provável que a Rússia dê um calote em sua dívida externa e sua economia sofrerá uma contração de dois dígitos este ano depois que o Ocidente lançou sanções sem precedentes em escala e coordenação, disse um grupo de lobby do setor bancário global nesta segunda-feira.

O Instituto de Finanças Internacionais (IIF) estimou que metade das reservas estrangeiras do Banco Central da Rússia são mantidas em países que impuseram congelamentos de seus ativos, reduzindo severamente o poder de fogo do banco na formulação de políticas.

O Banco Central, que na segunda-feira elevou as taxas de juros e introduziu controles de capital, priorizaria a proteção de poupadores domésticos com investidores estrangeiros sendo colocados como “um dos últimos da lista”, disse o IIF.

“Se ficarmos aqui e isso (a crise) aumentar, o default e a reestruturação são prováveis”, disse Elina Ribakova, vice-economista-chefe do grupo de lobby, a repórteres durante uma teleconferência.

Segundo ela, o calote seria “extremamente provável”, embora o tamanho relativamente pequeno das participações estrangeiras – em torno de 60 bilhões de dólares – na dívida russa limitaria as consequências.

A inadimplência em títulos no mercado interno era muito menos provável, acrescentou.

O Banco Central da Rússia e o Ministério das Finanças russo não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.

A Rússia invadiu a Ucrânia na semana passada, levando o Ocidente a impor uma série de sanções. Entre elas, o congelamento dos ativos do Banco Central russo, a remoção de muitos bancos russos do sistema global de pagamentos SWIFT e uma lista de indivíduos e entidades com ativos bloqueados no exterior. A Rússia chama sua ação militar na Ucrânia de “operação especial”.

As sanções fizeram com que o rublo despencasse para mínimas recordes na segunda-feira, e os investidores ocidentais estão lutando para se livrar de ativos russos à medida que o país se encontra cada vez mais isolado.

Ribakova, do IIF, disse que as medidas, que ainda podem vir a ser mais duras, são “as sanções econômicas mais severas já impostas a um país” e colocariam a economia russa em queda livre, com uma contração de dois dígitos neste ano e a inflação subindo para um percentual de dois dígitos também.

Ela disse que a conversão das participações cambiais domésticas russas em rublos também está na mesa, embora o banco central esteja relutante em implantá-la inicialmente, pois tenta poupar os poupadores domésticos prejudicados.

O banco central mantém ferramentas para tentar acalmar os mercados, incluindo aumentar ainda mais as taxas de juros, fornecer liquidez aos bancos domésticos e limitar os fluxos de capital. Também pode ser forçado a impor feriados bancários para impedir uma corrida aos bancos, disse o IIF em um relatório divulgado na segunda-feira e escrito antes das últimas sanções.

Ribakova disse que cerca de 10 bilhões de dólares foram retirados de bancos russos apenas na sexta-feira.

As sanções podem ficar mais duras, incluindo impedir que entidades americanas e europeias negociem dívidas governamentais russas existentes, expandindo a lista de instituições banidas do SWIFT e removendo exclusões comerciais relacionadas à energia.

Tais medidas ampliariam os riscos financeiros, comerciais e de contágio também para a economia global, e especialmente para a Europa, acrescentou Ribakova.

Em seu relatório anterior, o IIF disse que se os maiores credores da Rússia, Sberbank e VTB, forem expulsos do SWIFT, espera-se “uma desestabilização fundamental de todo o sistema financeiro, com profundas implicações para a economia real”.

Reuters / InfoMoney

Guerra na Ucrânia: sanções financeiras à Rússia podem levar mundo à recessão?




Fila para usar caixa eletrônico em São Petersburgo, na Rússia, no último domingo

A nova rodada de sanções financeiras à Rússia pode levar o mundo de volta à recessão menos de dois anos após a contração da economia global resultante da pandemia de covid-19?

Analistas avaliam neste momento que não. Mas acreditam que as retaliações econômicas à invasão da Ucrânia por Vladimir Putin devem ter consequências negativas aos próprios países que estão impondo as sanções e à economia global como um todo.

Sob forte estresse, o sistema financeiro russo pode não ser capaz de honrar suas obrigações, alertou o banco J.P. Morgan em relatório nesta segunda-feira (28/2). Isso teria consequência sobre instituições financeiras de outros países, credores de dívidas russas.

Além disso, a nova rodada de sanções mantém a pressão sobre o preço de commodities como petróleo, gás natural, trigo e milho, com impacto adicional sobre uma inflação global que já vinha muito pressionada pelos efeitos da pandemia.

Segundo Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, esse cenário pode levar os bancos centrais de todo o mundo a elevar juros de forma mais rápida, numa tentativa de conter uma escalada inflacionária.

Com mais juros, a economia global tende a crescer menos do que os 4% a 4,5% anteriormente esperados por organismos internacionais como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.

No Brasil, as exportações podem ser afetadas caso esse cenário todo resulte em um crescimento menor na China, avalia Vale.

E, com as pressões inflacionárias adicionais, o Banco Central do Brasil pode ser levado a elevar a Selic (taxa básica de juros da economia brasileira) acima dos 12,25% esperados atualmente, ampliando as chances de recessão em 2022 para um PIB que já era esperado próximo de zero.

As sanções financeiras impostas à Rússia

União Europeia, Estados Unidos, Reino Unido e outros países anunciaram no fim de semana um conjunto sem precedentes de sanções financeiras à Rússia, em resposta à invasão do país à Ucrânia.

Entre as medidas estão a exclusão de bancos russos do sistema de transferências financeira internacionais Swift e o congelamento de boa parte das reservas do Banco Central da Rússia mantidas no exterior.

'As sanções que têm sido aplicadas á Rússia têm o objetivo levar a economia do país à recessão, frisam especialistas'

As sanções têm por objetivo levar a economia russa à recessão, pressionando a opinião pública contra a ação militar de Putin no país vizinho.

Como consequência da nova leva de retaliações econômicas, o rublo russo desabou nesta segunda-feira (28/2), chegando a perder 30% do valor em relação ao dólar. Para conter a queda, a autoridade monetária russa elevou a taxa básica de juros local de 9,5% para 20%.

Diante do temor de restrições aos saques, filas se formaram em bancos e caixas eletrônicos na Rússia. O Banco Central Russo, no entanto, pediu calma e disse ter "os recursos necessários e ferramentas para manter a estabilidade financeira".

"Este conjunto de sanções está atingindo os russos comuns de uma forma que as sanções anteriores não atingiram e as pessoas agora estão se conscientizando disso", diz Chris Weafer, executivo-chefe da consultoria Micro-Advisory, baseado em Moscou.

"As pessoas estão com muito mais medo. Já se fala que algumas empresas terão que reduzir o horário de trabalho ou até suspender a produção porque não conseguem acessar partes importantes do Ocidente devido a sanções ou limitações comerciais, então há uma grande preocupação nas ruas", relata o analista.

Possíveis impactos das sanções

Por Simon Jack

Banir os bancos russos do sistema de transferências internacionais Swift pode ter efeitos colaterais para empresas e instituições financeiras que têm dinheiro a receber de contrapartes russas.

Em 2018, os Estados Unidos impuseram restrições ao uso do sistema Swift por bancos iranianos, mas tratava-se de uma economia muito menor do que a russa e, na ocasião, a medida enfrentou oposição de diversos governos europeus.

'Desde o começo da guerra na Ucrânia, países da União Europeia estão adotando sanções contra os russos'

A Alemanha está em posição particularmente sensível no cenário atual, pois depende da Rússia para obter cerca de dois terços das suas necessidades de gás natural. Assim, o país impôs um sacrifício a si mesmo, ao suspender a certificação do gasoduto Nord Stream 2, construído para transportar gás da Rússia à Alemanha.

Autoridades nos Estados Unidos, Europa e Reino Unido esperam minimizar os efeitos das sanções sobre suas próprias economias permitindo a continuidade de transações financeiras internacionais russas ligadas ao setor de energia e alimentos. Mas como essa filtragem será feita, ainda não está claro.

Apesar de a exclusão do sistema Swift provavelmente ter forte impacto para a Rússia, há um sistema alternativo chamado SPFS (sigla para Sistema para Transferência de Mensagens Financeiras), criado pela Rússia após a crise da Crimeia em 2014.

A China também possui um sistema secundário chamado CIPS, ou Sistema de Pagamento Interbancário Transfronteiriço.

Efeitos sobre a inflação, economia mundial e Brasil

Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o principal risco da "guerra econômica" contra a Rússia continua sendo o de uma maior pressão inflacionária que leve os bancos centrais de todo o mundo a uma alta de juros mais enérgica.

"São sanções em cima de um país que tem um peso econômico frágil, mas que tem um peso em commodities relevante", observa Vale.

Nesta segunda-feira, os contratos futuros de trigo na bolsa de Chicago chegaram a subir 3,7%, os de milho 3% e os de soja, 2,5%. Rússia e Ucrânia respondem por cerca de 29% das exportações globais de trigo, 19% da oferta de milho e 80% das vendas mundiais de óleo de girassol, que compete com o óleo de soja.

Já o petróleo do tipo Brent chegou a superar os US$ 105 por barril no início das negociações nesta segunda-feira, posteriormente amortizando a alta para US$ 101. O petróleo WTI, referência para o mercado americano, bateu em US$ 99 o barril, depois indo a US$ 95.

'Russos e ucranianos disputam controle de Kharkiv'

"Estamos colocando um choque inflacionário em cima de uma inflação já muito pressionada no Brasil, Estados Unidos e Europa. Isso coloca dificuldades importante para a condução da política monetária", avalia o analista.

Para Vale, a asfixia econômica de instituições financeiras russas via exclusão do sistema Swift pode resultar em calotes e quebra de bancos, mas o impacto disso para a economia mundial é limitado.

"A asfixia rápida e intensa pode matar vários dos bancos russos, porque foi usada uma 'arma nuclear' que é o sistema Swift. Mas não estamos falando de China, EUA ou Europa, não há impacto para gerar uma recessão mundial", afirma.

Segundo o analista, uma outra consequência pode ser uma busca mais ativa dos países europeus pela transição energética, visando uma menor dependência do petróleo e gás natural e das exportações russas.

Para Vale, a possibilidade de uma recessão global só se tornaria mais palpável caso o conflito se generalize, deixando a esfera restrita da Ucrânia, caso a Rússia se sinta empoderada a estender sua ação rumo a outros países.

Mas, diante da resposta dos países à invasão da Ucrânia e do poder de advertência das graves sanções financeiras impostas, o economista avalia que essa escalada é por ora improvável.

"A guerra da Ucrânia pode tirar pontos de crescimento [da economia mundial em 2022], por conta desse impacto de inflação e juros. É provável que a gente escorregue para um crescimento que fique abaixo dos 4% a 4,5% estimados pelo FMI e Banco Mundial, para algo mais próximo de 3% a 3,5%. Mas precisaremos ver ainda os impactos adicionais." 

BBC Brasil

Guerra na Ucrânia: Putin pode apertar o botão nuclear?




O presidente da Rússia, Vladimir Putin, acaba de colocar as forças nucleares de seu país em alerta "especial"

Por Steve Rosenberg, em Moscou

Deixe-me começar com uma confissão. Muitas vezes no passado, eu já pensei: "Putin nunca faria isso". Mas daí ele vai lá e faz.

"Ele nunca anexaria a Crimeia, certo?" Ele anexou.

"Ele nunca começaria uma guerra em Donbas, no leste da Ucrânia." Ele começou.

"Ele nunca lançaria uma invasão em grande escala da Ucrânia." Ele lançou.

Minha conclusão é que a frase "ele nunca faria" não se aplica a Vladimir Putin.

E isso levanta uma questão desconfortável:

"Ele nunca seria o primeiro a apertar o botão nuclear depois da Segunda Guerra. Não é?"

Não se trata de uma questão teórica. O líder da Rússia colocou no domingo (27/02) as forças nucleares de seu país em alerta "especial", em protesto contra "declarações agressivas" sobre a Ucrânia por líderes da Otan (aliança militar liderada pelos Estados Unidos) e contra sanções econômicas aplicadas contra a Rússia.

Ouça atentamente o que o presidente Putin tem dito. No dia 24/02, quando Putin anunciou na TV sua "operação militar especial" (na realidade, uma invasão em grande escala da Ucrânia), ele fez um aviso assustador: "Para qualquer um de fora que considere interferir — se o fizer, enfrentará consequências maiores do que qualquer outra que já se enfrentou na história."

"As palavras de Putin soam como uma ameaça direta de guerra nuclear", acredita o Prêmio Nobel da Paz Dmitry Muratov, editor-chefe do jornal Novaya Gazeta. "Nesse discurso de TV, Putin não estava agindo como o dono do Kremlin, mas o dono do planeta; da mesma forma que o dono de um carrão fica se exibindo girando seu chaveiro no dedo, Putin estava girando a bomba nuclear. Ele disse muitas vezes: se não existisse a Rússia, por que precisaríamos do planeta? Ninguém prestou atenção. Mas isso é uma ameaça de que, se a Rússia não for tratada como ele quer, tudo será destruído."

'Putin, fotografado assistindo ao lançamento de um míssil em 2005, pode recorrer a medidas mais desesperadas se sua guerra na Ucrânia for percebida como um fracasso'

Em um documentário de 2018, o presidente Putin comentou que "se alguém decidir aniquilar a Rússia, temos o direito legal de responder. Sim, será uma catástrofe para a humanidade e para o mundo. Mas sou um cidadão da Rússia e seu chefe de Estado. Por que precisamos de um mundo sem a Rússia nele?"

Agora voltemos para 2022. Putin lançou uma guerra em grande escala contra a Ucrânia, mas as forças armadas ucranianas estão resistindo duramente. Nações como EUA e países europeus — para surpresa do Kremlin — se uniram para impor sanções econômicas e financeiras que podem estrangular Moscou. A própria existência do "sistema Putin" pode estar em xeque.

"Putin está em apuros", acredita Pavel Felgenhauer, analista de defesa de Moscou. "Ele não terá muitas opções depois que o Ocidente congelar os ativos do Banco Central russo e o sistema financeiro da Rússia implodir de verdade. Isso tornará o sistema inviável."

"Uma opção para ele é cortar o fornecimento de gás para a Europa, esperando que isso faça os europeus cederem. Outra opção é explodir uma arma nuclear em algum lugar sobre o Mar do Norte entre o Reino Unido e a Dinamarca e ver o que acontece."

Se Vladimir Putin escolhesse a opção nuclear, alguém em seu círculo próximo tentaria dissuadi-lo? Ou impedi-lo?

"As elites políticas da Rússia nunca estão com o povo", diz Muratov. "Elas sempre ficam do lado do governante."

E na Rússia de Vladimir Putin o governante é todo-poderoso. Este é um país com poucos freios e contrapesos; é o Kremlin quem dá as ordens.

"Ninguém está pronto para enfrentar Putin", diz Felgenhauer. "Estamos em um ponto perigoso."

"Putin disse que qualquer interferência externa no conflito, ou qualquer ação contra a Rússia, gerariam uma resposta forte. Nas entrelinhas, há uma ameaça nuclear", diz Alexander Lanoszka, professor de Relações Internacionais da Universidade de Waterloo (Canadá) e especialista em segurança nuclear. "Mas há um interesse comum de todas as partes de restringir esse conflito à Ucrânia. Então, eu ficaria muito surpreso se armas nucleares fossem usadas neste momento".

Segundo Vicente Ferraro Jr., cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos da Ásia da Universidade de São Paulo (USP), mesmo no caso de um ataque russo contra outras ex-repúblicas soviéticas que hoje fazem parte da Otan, como a Estônia, Letônia e Lituânia, é possível que as duas partes prefiram minimizar os riscos. "Assim como o Ocidente e a Otan evitam conflito direto na Ucrânia, Rússia também evitaria um confronto no restante do Leste Europeu", afirma.

Para Andrew Futter, professor de política internacional da Universidade de Leicester (Reino Unido), também não há qualquer indicação de que Moscou pretenda usar suas armas nucleares contra a Ucrânia. "Não vejo nenhuma razão pela qual Moscou usaria armas nucleares contra a Ucrânia. Não apenas porque qualquer material radioativo tão perto de sua fronteira pode ser perigoso, mas também porque eles provavelmente não querem destruir o país e a população ucraniana, já que seu plano parece ser incorporar o território à Rússia."

Larlecianne Piccolli, pesquisadora especializa em armas estratégicas e política de segurança e defesa da Rússia e diretora do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (Isape), escreveu em seu perfil no Twitter que a elevação do alerta feita por Putin visa principalmente intimidar a Ucrânia e forçá-la à mesa de negociações, algo que já está em andamento. Mas os termos em negociação ainda não foram divulgados oficialmente.

De qualquer forma, a guerra na Ucrânia é a guerra de Vladimir Putin. Se o líder do Kremlin atingir seus objetivos militares, o futuro da Ucrânia como nação soberana estará em dúvida. Se for percebido que ele está falhando e sofrer baixas pesadas, o medo é que isso possa levar o Kremlin a adotar medidas mais desesperadas.

Especialmente considerando que "ele nunca faria isso" é algo que não se aplica a Putin.

BBC Brasil

Por que guerra na Ucrânia é um grande desafio para China

 




Na recente Olimpíada de Inverno em Pequim, Putin e Xi deram mostras de sua proximidade

Por Stephen McDonell, em Pequim

Horas antes de o presidente russo, Vladimir Putin, anunciar uma operação militar no leste da Ucrânia, os Estados Unidos acusaram Rússia e China de combinarem a criação de uma ordem mundial "profundamente iliberal".

A crise entre Rússia e Ucrânia apresenta um grande desafio para a China em várias frentes.

A relação diplomática entre Moscou e Pequim, que tem ficado cada vez mais próxima, pôde ser vista na Olimpíada de Inverno, na capital chinesa, com Putin sendo um dos poucos líderes mundiais presentes no evento.

Num gesto significativo, Putin esperou até pouco depois do encerramento dos Jogos para reconhecer a independência das duas regiões separatistas da Ucrânia e enviar tropas para apoiá-las.

Em seus pronunciamentos públicos, o governo chinês pediu que todos os lados do conflito diminuam as tenções na Ucrânia. Mas, agora que a Rússia abandonou toda moderação, e a crise se agrava, como fica a posição oficial da China?

O governo chinês acredita não poder ser visto como apoiador de uma guerra na Europa, mas também quer fortalecer seus laços militares e estratégicos com Moscou.

O maior parceiro comercial da Ucrânia é a China, e Pequim gostaria, idealmente, de manter boas relações com Kiev. Isso, porém, pode ser algo difícil de sustentar, quando a China está tão claramente alinhada com o governo que está enviando tropas para o território ucraniano.

Também existe o potencial de um abalo nas relações comerciais entre a Europa Ocidental e a China, se os europeus avaliarem que Pequim está apoiando a agressão russa.

Mudança na política externa chinesa?

Uma mensagem repetida constantemente pelos líderes chineses é a de que o país não interfere em assuntos internos de outros e que outras nações não deveriam interferir em suas questões internas.

Em uma postagem na rede social Twitter, o proeminente diplomata chinês Liu Xiamong reiterou que a China nunca "invadiu outros países [ou] engajou-se em guerras por procuração", acrescentando que o país estava comprometido com o caminho da paz.

Na semana passada, num gesto considerado surpreendente, a China absteve-se do voto do Conselho de Segurança da ONU condenando a invasão russa da Ucrânia.

Alguns analistas haviam esperado que Pequim se juntasse à Rússia votando contra a moção, mas o fato de que optou pela abstenção foi descrito como uma "vitória do Ocidente" — e é um sinal de ausência de interferência por parte de Pequim.

Entretanto, a China está longe de condenar a situação, com Wang Wenbin, porta-voz do Ministério do Exterior chinês, recusando-se a referir-se ao que está acontecendo na Ucrânia como uma "invasão".

Também há relatos não confirmados de que Pequim estava ciente da situação e que decidiu fazer vista grossa. Segundo uma reportagem do jornal americano The New York Times, citando oficiais americanos não identificados, os EUA pediram repetidamente à China, nos últimos meses, que interviesse e convencesse a Rússia a não invadir a Ucrânia.

O jornal, no entanto, acrescentou que os oficiais depois descobriram que Pequim havia compartilhado essa informação com Moscou, dizendo que os EUA estavam tentando semear discórdia e que a China não tentaria impedir os planos russos.

Paralelos com Taiwan

Para o Partido Comunista Chinês, o que preocupa mais é como a atual crise poderá impactar seu próprio povo e sua visão de mundo.

Por esse motivo, está manipulando e controlando as informações sobre a situação na Ucrânia na sua imprensa e mídias sociais.

Não demorou muito para Taiwan ser envolvida no meio da crise. A ilha é considerada pelo Partido Comunista como essencialmente uma província dissidente que precisa ser reunificada ao território continental chinês.

No Weibo, uma espécie de Twitter chinês, nacionalistas chineses usaram a invasão russa da Ucrânia para convocar seu país a seguir o exemplo, com comentários como: "É a melhor oportunidade para retomar Taiwan agora!".

Quando o governo chinês rejeitou a imposição de sanções contra a Rússia, nos últimos dias, sabia que poderia receber tratamento semelhante se decidir tomar Taiwan à força, no que seria uma operação custosa e sangrenta.

Durante um encontro regular com a imprensa em Pequim, Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, disse que a China nunca acreditou que sanções eram a melhor forma de resolver problemas entre nações.

'Xi e outros líderes chineses sempre condenaram interferências em assuntos internos'

Entretanto, se cidadãos chineses começarem a ligar os pontos com as justificativas da Rússia para invadir a Ucrânia e as aplicarem para seu próprio país, isso pode abalar toda a explicação do governo chinês para suas próprias fronteiras atuais.

Censura e críticas nas redes sociais

Vladimir Putin diz, com a invasão da Ucrânia, estar libertando cidadãos dentro da Ucrânia que falam russo e têm ligação com a Rússia. Então, o que dizer daqueles com ligações étnicas com a Mongólia, a Coreia, o Quirguistão e outros que são hoje parte da China? Ainda mais potencialmente explosivo para Pequim, o que dizer caso tibetanos ou uigures renovem seus pedidos por maior autonomia ou mesmo independência?

Garantir que isso não aconteça é mais importante para o governo de Xi Jinping do que qualquer outra coisa.

Conseguido isso, com base nas declarações nas redes sociais chineses é preciso ver em que direção a mídia do Partido Comunista está levando a população em termos da forma com que os chineses deveriam ver os movimentos de Putin no Leste Europeu.

Na segunda-feira, dia 28, o jornal Beijing Daily, ligado ao Estado chinês, republicou uma declaração da embaixada russa em Pequim em que pedia ao mundo que não ajudasse o governo "neonazista" de Kiev.

Nas mídias sociais chinesas, comentários sobre Ucrânia e Rússia também são controlados de perto. Entre o conteúdo postado, podem ser encontrados frases como: "Putin é incrível!"; "Eu apoio a Rússia, me oponho aos EUA. É tudo que quero dizer"; "Os americanos sempre querem bagunçar o mundo!".

Claramente ainda existe, porém, um certo cuidado por parte da China. O governo voltou atrás numa numa proclamação inicial em que a embaixada chinesa em Kiev inicialmente aconselhou cidadãos chineses a exibir bandeiras chinesas em seus carros, para ajudar uns aos outros, ao mesmo tempo que "mostravam a força da China".

'China e Rússia fizeram exercícios militars conjuntos, como o que envolveu suas Marinhas em 2021'

Depois de alguns dias de guerra, isso mudou para uma recomendação para que as pessoas não "revelem intencionalmente sua identidade ou exibam sinais que as identifiquem".

Alguns especularam que essa mudança deveu-se ao fato de que os chineses poderiam correr risco, com a chegada à Ucrânia de notícias sobre a mídia do Partido Comunista Chinês promovendo apoio às ações de Vladimir Putin.

Tem havido, no entanto, críticos que ainda conseguem se pronunciar. Durante o fim de semana, cinco acadêmicos chineses de destaque escreveram uma carta aberta denunciando as ações da Rússia.

"Isso é uma invasão. Como diz o ditado chinês: 'Você não pode chamar um veado de cavalo'", disse o historiador Xu Guoqi, secundo um relato da agências de notícias Reuters. Horas depois de ser publicada, a carta foi tirada do ar por censores que agem na internet.

É difícil ter uma verdadeira ideia de quantas pessoas na China estão pedindo por paz, quando não se sabe quantas postagens na internet foram censuradas - e quantas postagens criticando os EUA foram promovidas.

Um usuário de redes sociais escreveu: "Eu não entendo por que tanta gente apoia a Rússia e Putin. Invasão deve ser vista como justiça? Nós deveríamos nos opor a qualquer forma de guerra!".

Segundo outro usuário: "Putin reconhece a independência de regiões separatistas da Ucrânia, o que é obviamente uma interferência nos assuntos internos de um outro país".

Essa última postagem expressa precisamente a conclusão a que Pequim não quer que sua população chegue. É a essência do campo minado sobre o qual o governo chinês está andando.

Questionado se o que está acontecendo agora na Ucrânia representa uma invasão, a porta-voz Hua Chunying disse numa entrevista coletiva que "o contexto histórico é complicado" e que a atual situação é "causada por uma série de fatores".

Há uma grande turbulência se desenrolando na Europa. e Xi Jinping tem escolhas importantes a fazer sobre como seu país lidará com ela.

BBC Brasil

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